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Observe que o publicano não listou os seus erros cometidos, o que entendem por confissão de pecados, antes reconheceu que era pecador e que carecia da misericórdia de Deus.


Confissão de Pecados

“E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.” (Mateus 3:6).

Confissão para Salvação

A confissão bíblica é a admissão pública de uma verdade essencial. Por exemplo, admitir publicamente que Jesus é o Filho de Deus é uma confissão. Nesse sentido, o apóstolo Pedro fez a seguinte declaração:

“Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.’” (Mateus 16:16).

O verbo grego traduzido por “confessar” é ἐξομολογέω (exomologeó), que significa admitir, reconhecer e declarar abertamente algo verdadeiro.

O apóstolo Paulo, ao falar da salvação, apresenta dois requisitos necessários: crer com o coração (mente) e confessar com a boca.

“A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” (Romanos 10:9-10).

“Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 10:32).

Crer é condição indispensável para a salvação, pois crer é obedecer ao mandamento de Deus para a salvação, que, à semelhança de Abraão, resulta em justiça (Romanos 4:5). Já a admissão pública (confissão) é evidência da mudança de pensamento (arrependimento) e resulta em salvação.

Ao crer com o coração, o pecador morre com Cristo, de modo que a justiça de Deus se estabelece, visto que só é justificado do pecado aquele que morreu. A confissão é o ato da nova criatura, que ressurgiu com Cristo e é declarada justa por Deus.

“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” (Romanos 4:25).

“Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Romanos 6:7).

A confissão é própria dos nascidos de novo da semente incorruptível, que é a palavra de Deus (1 Pedro 1:3 e 23). Somente os regenerados em Cristo podem produzir a verdadeira confissão, que é o fruto dos lábios que admitem que Cristo é Senhor (Hebreus 13:15).

A confissão é o fruto dos lábios que contêm a preciosíssima semente incorruptível, a palavra de Deus, que traz à existência árvores de justiça, que dão fruto para que Deus seja glorificado (João 15:4-8).

 

A Boa Confissão

Acerca da confissão, o escritor aos Hebreus e o apóstolo Paulo fizeram os seguintes comentários:

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:23).

“Por isso, irmãos santos, participantes da vocação celestial, considerai a Jesus Cristo, apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão. (…)  Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão.” (Hebreus 3.1 e 4:14).

“Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” (1 Timóteo 6:12).

Após obedecer ao evangelho, que é o mandamento de Deus, resumido em crer em Cristo com o coração e confessá-Lo publicamente, o cristão deve perseverar crendo, sem se demover da esperança proposta.

“Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação?” (Romanos 10:16).

“Com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.” (2 Tessalonicenses 1:8).

Reter firme a confissão acerca da salvação em Cristo é não se demover da verdade do evangelho. É o mesmo que permanecer firme na fé, no Senhor, no evangelho, etc. (1 Coríntios 16:13; 1 Pedro 5:9; Filipenses 4:1; Gálatas 5:1; Tito 1:9).

Se alguém deixa de confessar a Cristo como Senhor, na verdade, negou a fé (evangelho, doutrina). É o mesmo que deixar de obedecer à verdade do evangelho (1 Timóteo 4:1), deixando de ser servo da justiça.

“Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade, a vós, perante os olhos de quem Jesus Cristo foi evidenciado, crucificado, entre vós?” (Gálatas 3:1).

 

Confessando Pecados

Durante o exercício do seu ministério como precursor do Messias, João Batista apregoava no deserto da Judéia a necessidade de arrependimento (Mateus 3:3). A mensagem era simples:

“E dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus.” (Mateus 3:2).

A mudança de mente (arrependimento) que a mensagem de João Batista exigia tinha em vista a “chegada do reino dos céus”, ou seja, o Cristo de Deus. Os ouvintes de João Batista não estavam sendo convocados a mudarem seus comportamentos ou a se arrependerem de algum erro de conduta. A mudança exigida tinha um motivo único: a chegada do Cristo.

Diante da mensagem de João, as pessoas que residiam na Judéia e nas províncias adjacentes ao Jordão vinham ao batismo e confessavam seus pecados.

“E eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados.” (Mateus 3:6).

O que ocorria às margens do Jordão não equivale ao sacramento da confissão estabelecido na tradição católica, onde a pessoa faz um exame de consciência e relata seus erros a um sacerdote, esperando uma absolvição e uma penitência a ser cumprida.

As pessoas que eram batizadas por João Batista eram predominantemente judias e, na verdade, admitiam que eram pecadoras, um requisito essencial para reconhecerem que precisavam de Cristo, o reino dos céus entre os homens. Embora as pessoas que ouviam João Batista fossem seguidoras do judaísmo, foram impactadas pela mensagem e reconheceram sua miserabilidade.

Isso significa que aquelas pessoas se conscientizaram da seguinte verdade:

“Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus.” (Romanos 3:23-24).

Em função da mensagem de João Batista, aqueles judeus entenderam que não eram melhores que os gentios, pois ambos os povos são pecadores, e que de nada adiantava invocar Abraão por pai.

“Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado.” (Mateus 3:9).

Os saduceus e fariseus, por sua vez, foram ao batismo, mas não mudaram de concepção, pois continuavam confessando que tinham por pai a Abraão, ou seja, que a chegada do reino dos céus não tinha a devida importância.

 

O fruto digno de arrependimento

Os saduceus e fariseus deveriam produzir frutos dignos de arrependimento, ou seja, mudar de concepção acerca de como serem salvos e confessar que necessitavam do Messias. A ideia de que a salvação vinha por ser descendente de Abraão deveria ser abandonada para alcançarem o reino dos céus, o Cristo.

Através da confissão dos escribas e fariseus, João Batista identificou que eles não produziam o fruto da mudança de entendimento (metanoia/arrependimento). O que Jesus ensinou acerca do fruto, João Batista aplicou aos fariseus e saduceus:

“Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7:15-20).

Os fariseus e os saduceus pensavam que bastava ter Abraão como pai para serem salvos, mas estavam enganados. É Deus quem cria filhos para si, e Ele detém o poder de fazer filhos mesmo das pedras.

“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão. E também agora está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo.” (Mateus 3:7-10).

Os seguidores do judaísmo eram resistentes em reconhecer Jesus como o Salvador do mundo, tanto que alguns judeus seguidores de Jesus, quando foram informados que precisavam ser libertos, argumentaram que, por descenderem de Abraão, nunca foram escravos de ninguém.

“Jesus dizia, pois, aos judeus que criam nele: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará. Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” (João 8:31-33).

A confissão de pecados daqueles que vieram ao batismo de João Batista era uma admissão pública de que precisavam ser libertos do pecado. Ao admitirem seus pecados, reconheceram que eram servos do pecado e que precisavam de um redentor: Jesus de Nazaré, o reino dos céus.

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é servo do pecado.” (João 8:34).

Erros de Conduta, Confissão e Penitência

Quando se fala de confissão, é difícil desvincular a ideia de pecado e arrependimento.

Considerando o instituto da confissão da Igreja Católica, que se arroga o poder de julgar os seus penitentes, percebe-se que houve um erro de leitura dos termos arrependimento e confissão, principalmente quanto ao objeto.

A Bíblia fala em arrependimento à vista da chegada do reino dos céus, e a Igreja Católica vê o arrependimento à vista dos erros de conduta. Tanto que, no passado, o verbo grego traduzido por arrependimento (μετανοέω) era traduzido para a Vulgata latina por ‘paenitentia’, em lugar de mudança de pensamento. Em vez de lerem “Mudem de concepção”, passou-se a ler: “Façam penitência” – ‘Pœnitentiam agite: appropinquavit enim regnum cælorum’.

O termo ‘paenitentia’ refletia melhor a concepção católica de que a salvação podia ser obtida através de atos de caridade, doações, indulgências, etc. Com o advento da Reforma Protestante, alguns tradutores ingleses passaram a utilizar os verbos correspondentes ‘repent’ e o substantivo ‘repentance’ no lugar de ‘paenitentia’.

A primeira questão a considerar é que o pecado decorre da ofensa de Adão, que trouxe a morte a todos os homens. Como a morte passou a todos os descendentes de Adão, é dito que todos pecaram. Pecado é uma condição atrelada à natureza humana caída, e não uma questão de ordem moral.

“Porque assim como a morte veio por um homem, também a ressurreição dos mortos veio por um homem.” (1 Coríntios 15:21);

“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” (Romanos 5:12).

Confessar erros de conduta não muda o fato de que o homem está morto para Deus e vivo para o pecado. A única forma de se livrar do pecado é morrendo com Cristo, e para isso é necessário crer que Ele é o Filho de Deus e confessá-Lo abertamente.

“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6:3-4).

A segunda questão refere-se à confissão de erros, que não salva. A confissão que provê salvação é confessar a Cristo como salvador. Admitir uma falha moral ou um crime diante de um sacerdote não muda a condição do indivíduo diante de Deus. O exame de consciência, ficar triste, rezar e refletir sobre os erros não é o arrependimento bíblico. Arrepender-se dos erros cometidos e estabelecer o propósito de não os cometer novamente não é o arrependimento exigido por Cristo.

A terceira questão é a penitência, quesito final do sacramento da confissão, que se dá após admitir os erros perante uma autoridade eclesiástica, que analisa e impõe a penitência a ser cumprida pelo penitente, que pode ser rezas, indulgências, esmolas, etc.

Analisando a Didaquê, escrito cristão datado do I século da era cristã, chamada de “A instrução dos doze apóstolos”, há um capítulo dedicado à confissão dos pecados, que expressa a ideia da confissão católica de pecados, que diz:

“Confesse seus pecados na reunião dos fiéis e não comece a orar estando com má consciência. Este é o caminho da vida.” (Didaquê IV,14).

Os escritos da Didaquê são eivados de imprecisões, e dentre elas destaca-se o instituto da confissão de pecados, que contraria alguns elementos da doutrina cristã. A Bíblia é clara ao declarar que Jesus é o caminho da vida, e que devemos confessá-Lo para ser salvo, ideia completamente diferente de confessar erros de conduta (João 14:6).

A Bíblia demonstra que, geralmente, quem tem a consciência má são aqueles que buscam a Deus através de um ascetismo pessoal, diferentemente dos cristãos que, por terem a consciência purificada e o corpo lavado com água limpa, são concitados a se apresentarem a Deus retendo firmemente a confissão de fé em Cristo.

“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;” (1 Timóteo 4:1-3);

“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?” (Hebreus 9:14);

“Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa. Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:22-23).

 

Quem precisa confessar pecado

A perspectiva cristã acerca da confissão de pecados é que ela ocorre uma única vez, no momento em que a pessoa crê em Cristo. Obedecer ao evangelho é evidência de confissão de pecado, equivalente a lançar mão da misericórdia divina.

Entretanto, uma leitura equivocada de uma passagem bíblica na primeira epístola de João faz com que pastores imponham aos membros do corpo de Cristo a necessidade de confessar erros pessoais.

“Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1 João 1:8-10).

Esses versículos não se referem aos cristãos, mas àqueles que, ao ouvirem o evangelho, rejeitam Cristo, alegando não terem pecado. Para ilustrar isso, basta lembrar da passagem em que Jesus diz a alguns judeus que criam nele que, se permanecessem em seu ensino, conheceriam a verdade e seriam libertos.

Quando os judeus responderam: “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém,” estavam, na verdade, dizendo que não tinham pecado. Eles estavam enganados e eram mentirosos, tanto na declaração quanto na condição diante de Deus (Romanos 3:4).

Se eles admitissem que eram pecadores, Deus seria fiel e justo para perdoar os pecados e purificá-los de toda injustiça. Mas, como diziam que não pecavam, faziam-No mentiroso, evidenciando que a palavra de Deus não estava neles.

De modo similar, quando os fariseus não reconheceram que eram cegos, permaneceram pecadores e enganavam a si mesmos. Se reconhecessem que eram cegos, Deus seria fiel e justo para perdoá-los e purificá-los, mas rejeitaram a Cristo.

“Disse-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece.” (João 9:41);

A essência do que o evangelista João abordou era que algumas pessoas precisavam se arrepender, reconhecendo que estavam doentes, enquanto muitos negavam estar doentes, julgando-se justos aos próprios olhos.

“E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.” (Marcos 2:17);

“E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros:” (Lucas 18:9).

Não identificar o público-alvo da mensagem ocasiona má interpretação. Quando Jesus anunciou aos seus ouvintes que Deus é luz e que não há trevas nele, essa mensagem era direcionada aos discípulos antes de se tornarem crentes e passou a ser a mensagem que anunciaram após a conversão.

“E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas.” (1 João 1:5).

Se essa passagem do apóstolo João fosse condescendente com a ideia de confissão de pecados, a doutrina dos apóstolos Paulo e João não teria sentido, como se lê:

“Quem comete o pecado é do diabo; porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.” (1 João 3:8);

“Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.” (Romanos 6:6);

“Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:11).

Qualquer que peca pertence ao diabo e ainda vive para o pecado, visto que ainda serve ao pecado. Nesse sentido, o apóstolo Paulo alerta que, se buscamos ser justificados em Cristo e ainda permanecemos pecadores, Cristo seria ministro do pecado.

“Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma.” (Gálatas 2:17).

É por isso que o evangelista João alertava seus filhinhos, pois sobre essas questões não podiam errar.

“MEUS filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis;” (1 João 2:1a).

O que João escreveu era para evitar que seus filhinhos se afastassem da comunhão e se associassem com aqueles que não reconheciam que tinham pecado, com aqueles que abandonaram a comunhão ou que negavam que Jesus veio em carne (1 João 2:19 e 22).

Mas, mesmo que alguém errasse seguindo os desvarios dos judaizantes, abandonasse a comunhão ou dissesse que Jesus não veio em carne, bastava reconsiderar, visto que temos um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo.

“… e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo.” (1 João 2:1b).

Em momento algum o evangelista João instituiu a confissão de erros como essencial ao perdão divino, antes destacou que o perdão dos pecados ocorre através do nome de Jesus.

“Filhinhos, escrevo-vos, porque pelo seu nome vos são perdoados os pecados.” (1 João 2:12).

A confissão do publicano

“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado.” (Lucas 18:13-14).

Ficar ao longe do altar, andar cabisbaixo, bater no peito, tirar o chapéu, limpar os pés, tirar os sapatos, e outros, não proporciona justificação.

Mas, quando o homem admite (confessa) que precisa da misericórdia divina por causa da sua condição miserável de sujeição ao pecado, alcança o favor de Deus.

Observe que o publicano não listou os seus erros cometidos, antes reconheceu que era pecador e que carecia da misericórdia de Deus.

Essa confissão do publicano é única, ou seja, ele foi justificado por Deus, portanto, não precisaria, daquele momento em diante, continuar batendo no peito e se dizendo pecador. Deveria, a partir de então, permanecer crendo na misericórdia de Deus, que é fiel e prometeu salvar qualquer um que O invocar.

“Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo.” (Romanos 10:13).

 

As confissões do rei Davi

Muitos dos argumentos utilizados em favor da confissão de pecados decorrem de uma má leitura dos Salmos. A interpretação que muitos fazem dos Salmos é que os cânticos tratam de questões pessoais do salmista, esquecendo-se de que os salmos são profecias que tratam do Messias ou que instruem os leitores acerca de questões celestiais.

Ao ler os Salmos, o intérprete não deve considerar os erros de conduta do rei Davi, mas analisar o texto como profecias. A análise deve se ater à perspectiva do profeta Davi, que profetizou acerca dos bens futuros e arregimentou instrumentistas para profetizarem sob sua ordem.

“E Davi, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, e de Hemã, e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos, e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério: Dos filhos de Asafe: Zacur, José, Netanias, e Asarela, filhos de Asafe; a cargo de Asafe, que profetizava debaixo das ordens do rei Davi. Quanto a Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias, e Matitias, seis, a cargo de seu pai, Jedutum, o qual profetizava com a harpa, louvando e dando graças ao Senhor.” (1 Crônicas 25:1-3).

A análise dos Salmos deve partir da seguinte premissa: se o rei Davi era profeta, os salmos escritos por ele são profecias que tratam das mazelas do dia a dia dele ou referem-se a outra pessoa? Certamente, os salmos tratam da pessoa de Cristo, como é próprio a todo profeta.

“Homens irmãos, seja-me lícito dizer-vos livremente acerca do patriarca Davi, que ele morreu e foi sepultado, e entre nós está até hoje a sua sepultura. Sendo, pois, ele profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono. Nesta previsão, disse da ressurreição de Cristo, que a sua alma não foi deixada no inferno, nem a sua carne viu a corrupção.” (Atos 2:29-31).

Na previsão do Salmo 16, Davi falou da ressurreição de Cristo. E na previsão dos Salmos 32 e 51, será que o rei Davi falou acerca de si mesmo? Observe que essa era a dúvida do eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, quando questionou Filipe sobre o que foi profetizado por Isaías:

“E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; e quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus.” (Atos 8:32-35).

As profecias dos Salmos 32 e 51 são instruções aos homens sobre como alcançar as bem-aventuranças prometidas a Abraão, destinadas a todas as famílias da terra. Nenhuma profecia deve ser interpretada a partir da visão do leitor. Antes, busca-se ensinar, redarguir, corrigir e instruir a todos em justiça.

“Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação.” (2 Pedro 1:20);

“Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;” (2 Timóteo 3:16).

A confissão dos Salmos 32 e 51 refere-se à condição do homem sob o domínio do pecado, pelo fato de ter sido formado em iniquidade e concebido em pecado.

“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.” (Salmo 51:5).

A profecia destaca que o salmista foi concebido em pecado pela mãe, enquanto os fariseus e saduceus mencionavam o nome do pai Abraão. Se considerassem os Salmos como profecias para instruir em justiça, e não como um desabafo do salmista, entenderiam que ser concebido de mulher os mantinha sob o domínio do pecado, e que ser descendente de Abraão não os livrava da condenação do Éden.

A profecia ensina que, pela misericórdia de Deus, o homem é purificado, bastando obedecer a Deus, que, por sua vez, cria uma nova criatura, concedendo um novo coração e um novo espírito (Salmo 51:7-10).

 

Adão, Eva e a confissão de pecados

Ao pecar, o casal no Éden trouxe condenação sobre si mesmos e sobre todos os seus descendentes. A condenação estabeleceu uma barreira de separação entre Deus e os homens, que passaram à condição de mortos para Deus.

E se o casal tivesse confessado o pecado e pedido misericórdia? Eles alcançariam misericórdia apenas para si, mas não mudariam a condição dos seus descendentes.

Assim como Esaú não achou lugar de arrependimento na questão da primogenitura, ainda que com lágrimas a buscou, igualmente Adão não conseguiria remediar a condição dos seus descendentes por não haver lugar de arrependimento.

“Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.” (Hebreus 12:17).

Como cabeça da raça humana, Adão não teria lugar de arrependimento, pois as consequências do seu ato tornaram-se irrevogáveis, visto que Deus é fiel à sua palavra. A palavra que dizia: “certamente morrerás” (Gênesis 2:17), tornou a morte o aguilhão do pecado por força da lei (1 Coríntios 15:56).

O ato de ofensa de Adão precisou ser substituído por um ato de justiça por alguém semelhante em tudo a Adão antes de pecar. É através da obediência de Cristo, um ato de justiça realizado por Jesus Cristo-homem, semelhante a Adão, que a ofensa de Adão é expiada pela fé em Cristo.

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” (Romanos 5:18-19).

Se Adão e Eva tivessem reconhecido seu ato como ofensa contra Deus e se arrependido, isso não mudaria a condição deles diante de Deus. Mas ao crerem na promessa estabelecida por Deus através do descendente da mulher (Gênesis 3:15), alcançariam o favor de Deus, que tem misericórdia de todos que O obedecem.

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10).

 

Os cristãos tropeçam, mas não são servos do pecado

“Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo. Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.” (Tiago 3:1-3).

Tiago afirma que todos os cristãos tropeçam em muitas coisas, evidenciando que, mesmo sendo salvos, justos e santos por serem uma nova criatura, erros, falhas e equívocos são constantes na vida dos cristãos.

O cristão pode tropeçar em muitas coisas, mas a única questão que não comporta tropeço é a palavra da verdade. Um tropeço na palavra da verdade pode levar à apostasia e, consequentemente, à perdição.

Erros conceituais, erros de conduta ou falhas morais não são elementos que separam o homem de Cristo, mas deixar de crer na verdade do evangelho é cair da graça.

A disposição do cristão, quando se transforma pela renovação do entendimento, é se portar de modo honesto em tudo, o que se entende como ornamento da doutrina de Cristo, e não como algo essencial à salvação.

“Orai por nós, porque confiamos que temos boa consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente.” (Hebreus 13:18);

“Pois zelamos do que é honesto, não só diante do Senhor, mas também diante dos homens.” (2 Coríntios 8:21);

“Tendo o vosso viver honesto entre os gentios; para que, naquilo em que falam mal de vós, como de malfeitores, glorifiquem a Deus no dia da visitação, pelas boas obras que em vós observem.” (1 Pedro 2:12);

“Não defraudando, antes mostrando toda a boa lealdade, para que em tudo sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador.” (Tito 2:10).

Quando um cristão comete uma falta, assim como qualquer ser humano com consciência, deve se arrepender no sentido estrito da palavra, que é diferente da metania (arrependimento bíblico), que é mudança de entendimento.

Se a falta envolve terceiros, deve se desculpar com quem foi ofendido, retratando-se ou reparando o dano. Nesse caso, pedir perdão a Deus ou arrepender-se da falta não traz benefício ao cristão nem ao ofendido.

Semelhantemente, é inócuo narrar tal falta a um sacerdote achando que se trata de uma confissão bíblica, pois a confissão verdadeira segundo as Escrituras é professar a Cristo como Senhor, e não relatar uma falta a terceiros.

Também não é de valor algum se martirizar, penitenciar ou prantear quando se comete uma falta. O que deve ser feito é reconhecer o erro e desculpar-se com quem foi ofendido.

A Bíblia também ensina que, se depender do cristão, este deve procurar ter paz com todos os homens, mas se não for possível, isso não deve ser considerado uma falha pessoal.

“Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens.” (Romanos 12:18).

Em caso de um cristão ser ofendido por alguém da comunidade, a orientação de Cristo aos discípulos é tratar a questão em particular, objetivando que o outro acate a repreensão e seja acolhido. Certas questões requerem testemunhas e, caso a questão não seja resolvida, a comunidade deve ser cientificada.

“Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano.” (Mateus 18:15-17).

Entretanto, o cristão deve considerar que perdoar o seu irmão em Cristo não deve ser algo delimitado em quantidade. A questão é perdoar sempre, e não considerar os eventos negativos praticados pelo irmão.

“Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse: Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete.” (Mateus 18:21-22).

Destacamos esses pontos para evidenciar que todos os cristãos estão sujeitos a cometerem erros, mas isto não está relacionado ao pecado que separa o homem de Deus.

Pecado, do ponto de vista bíblico, é um senhor que exerce domínio sobre seus servos, que por sua vez, pecam. Os cristãos, por serem servos da justiça, não podem pecar por serem gerados de Deus e a sua semente permanece neles.

“Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus.” (1 João 3:9).

Um filho de Deus não pode pecar porque não é servo do pecado, visto que só pecam os nascidos da semente corruptível de Adão. Se o crente é liberto do pecado pelo Filho de Deus, verdadeiramente é livre, portanto, servo da justiça.

“E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça.” (Romanos 6:18);

“Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.” (João 8:36).

Por que é necessária essa exposição? Por causa de comentários bíblicos que são imprecisos, como o que se segue:

“Não há nada mais consolador do que confessar o pecado e deixá-lo definitivamente, pois assim encontraremos descanso para a alma. Todo esse processo de confissão e abandono de pecado revela a eficácia do ministério da reconciliação de Deus por meio de Jesus Cristo (2Co 5.18).” Lições Bíblicas CPAD Adultos, 2º Trimestre de 2024, Título: A carreira que nos está proposta — O caminho da salvação, santidade e perseverança para chegar ao céu, Comentarista: Osiel Gomes.

O comentarista Osiel diz que confessar o pecado e deixa-lo promove descanso para alma, entretanto, Jesus afirmou que para encontrar descanso para a alma é necessário tomar o jugo de Cristo e aprender d’Ele. Diferentemente do que escreveu Osiel, sujeitar-se a Cristo é o que traz descanso, ou seja, confessar a Cristo como Senhor. Confessar pecado não traz o descanso prometido por Cristo e nem abandonar condutas errôneas. Esse tipo de interpretação extensiva, ou seja, que não se atém ao que está escrito, não deve ser aceita.

“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus 11:29-30).

Além do mais é impossível ao homem confessar e deixar o pecado, pois só é possível se desvencilhar do pecado quando se é batizado na morte com Cristo. Abandonar o pecado não é abandonar uma prática, antes é crucificar o velho homem para que o corpo o qual o pecado tem domínio seja desfeito, o único modo de não mais servir ao pecado (Romanos 6:6).

O processo de confissão e abandono de uma conduta não evidencia a eficácia do ministério da reconciliação de Deus por Cristo, como aduz o comentarista. A eficácia do ministério da reconciliação está em Cristo que estabeleceu a paz entre Deus e os homens. A eficácia decorre da fidelidade de Deus, que através do evangelho assegura a reconciliação dos homens com Deus.

“Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te.” (2 Timóteo 3:5);

“E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente.” (Colossenses 1:29).

 

O temor e a misericórdia

Mas, à luz das Escrituras, como interpretar esses dois versos do Livro dos Provérbios:

“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. Bem-aventurado o homem que continuamente teme; mas o que endurece o seu coração cairá no mal.” (Provérbios 28:13).

Deus falou ao povo de Israel que faz misericórdia aos que o amam, ou seja, que guardam os seus mandamentos. Essa mensagem é repetida diversas vezes e de muitas maneiras pelos profetas, incluindo os Salmos.
Compare esses dois versículos:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10);

“O Senhor se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia.” (Salmos 147:11).

Nos dois versos, do ponto de vista semântico, temos a conjunção “e”, palavra invariável que relacionam as duas orações da mesma frase. Entretanto, considerando que essas frases foram construídas a partir de um recurso linguístico próprio à poesia hebraica, o paralelismo, a conjunção “e” serve muito mais ao propósito de correlacionar as ideias das orações contidas na frase, do que coordenar as orações.

Quando o Salmo diz que “O Senhor se agrada dos que o temem”, significa que “O Senhor se agrada dos que esperam na sua misericórdia”. Isso significa que não existe duas condições a serem satisfeitas: temer e esperar. Quem teme é porque espera e vice versa, de modo que através do paralelismo sintético a segunda oração expande ou explica a ideia apresentada na primeira oração.

A ideia apresentada na primeira oração é confirmada pela ideia da segunda oração, que na estrutura da poesia hebraica denomina-se paralelismo sinônimo. A conjunção ‘e’ serve mais ao propósito do paralelismo da poesia hebraica, e não especificamente à função semântica.

O mesmo ocorre com a passagem de Deuteronômio, que contém a declaração divina, outra frase que contém um paralelismo sinônimo, no qual a ideia da segunda oração, através da repetição, complementa ou enfatiza a ideia da primeira oração.

Deus faz misericórdia a milhares dos que O amam, o que significa que Ele faz misericórdia a milhares que guardam os seus mandamentos. Quem ama ao Senhor guarda os seus mandamentos e vice-versa, portanto, não se trata de duas ações: “amar” e “guardar”:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10);

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.” (João 14:21).

Observe que o termo ágape, traduzido por amor no Novo Testamento, assume o valor de ‘obediência’ em contextos que sugerem sujeição a um senhor.

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus 6:24).

De posse dessas informações acerca do paralelismo da poesia hebraica, é possível analisar melhor o provérbio destacado. Inicialmente, analisaremos o verso 14 e depois o 13. Observe:

O verso 14 de Provérbios 28 é um paralelismo antitético, no qual a segunda oração expressa um pensamento contrastante ou oposto ao da primeira linha, de modo que a bem-aventurança é alcançada por aqueles que perseveram em obedecer (temer); mas, se alguém é recalcitrante, o seu coração será enlaçado pelo mal.

“Bem-aventurado o homem que continuamente teme; mas o que endurece o seu coração cairá no mal.” (Provérbios 28:14).

Complementando, a bem-aventurança é resultado da misericórdia, e temer é obedecer. Considerando o verso 13, percebe-se a mesma temática do verso 14, de modo que os dois versículos formam um paralelismo maior, de modo que o verso 14 amplia e explica a verdade do verso 13.

“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” (Provérbios 28:13).

Encobrir as transgressões é o mesmo que endurecer o coração, o que resultará no mal, ou melhor, em desventura. Mas, quem obedece (teme) e confessa, pela misericórdia concedida, é bem-aventurado.

O versículo 13 propõe uma única ideia através de um paralelismo antitético, que estabeleceu um senso de equilíbrio e contraste, pois a segunda oração expressa um pensamento contrastante ou oposto ao da primeira linha.

Após entender a estrutura da poesia, falta determinar qual o tipo de transgressão que não se deve esconder, ou seja, que deve ser confessada para se alcançar misericórdia.

A parábola do fariseu e o publicano explicam a essência do provérbio, visto que o fariseu escondeu a sua condição de transgressor praticando quesitos da lei, e o publicano, por sua vez, rogou por misericórdia confessando (admitindo) ser pecador.

O publicano encobriu a sua condição (transgressor) e não foi justificado (prosperar), e o publicano, ao admitir (confessar) que era pecador, alcançou misericórdia (desceu justificado).

“O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano.” (Lucas 18:11);

“O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador!” (Lucas 18:13).

A linguagem utilizada no provérbio é emblemática, pois se utiliza de adágios, enigmas e símiles. Em uma primeira leitura, o provérbio parece tratar de questões comportamentais ou de erros cotidianos. Porém, sabendo que a lei foi dada por causa da transgressão, ao destacar que não se deve encobrir as transgressões, a leitura correta é que se trata de uma condição e não de condutas censuráveis do ponto de vista da moral humana.

“Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro.” (Gálatas 3:19).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

2 thoughts on “Confissão de Pecados

  • A Paz irmão,se arrependimento se refere a mudança de entendimento nao erro de conduta ou moral porque joão Batista repreendia o rei herodes por estar em um relacionamento com a mulher do irmão dele ?

    Resposta
    • Olá, Leonardo..
      Questão pertinente..

      A repreensão que João Batista fez a Herodes não tinha relação com a missão de precursor do Messias. Como profeta podia fazê-lo, mas essa não era a sua missão.

      A perspectiva dos homens mudam ao sabor do momento e das influencias diárias, e repreender Herodes não contribuiu para a sua missão. A permanência na prisão evidenciou o desejo de João Batista ver mudanças significativas na sua nação, o que não aconteceu após Cristo exercer o seu ministério. Tanto que João mandou os seus discípulos perguntarem se Jesus era o que havia de vir, ou se tinha que esperar outro.

      A conduta de Herodes como príncipe do povo contrariava flagrantemente a lei mosaica, daí ele sentiu no dever de repreender o rei. Mas, com relação ao evangelho, a missão dele era específica: arrependei-vos porque é chegado o reino dos céus. A grande questão dos judeus: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? (Atos 1:6), não era a temática do ministério de João. A repressão a Herodes e a pergunta feita pelos discípulos de João no cárcere evidenciam que João Batista queria evidencias físicas de restauração do reino de Israel, e ele possivelmente tentou fomentar essa mudança repreendendo Herodes.

      “E João, ouvindo no cárcere falar dos feitos de Cristo, enviou dois dos seus discípulos
      3 a dizer-lhe: És tu aquele que havia de vir ou esperamos outro?
      4 E Jesus, respondendo, disse-lhe: Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes:
      5 Os cegos veem, e os coxos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho.
      6 E bem-aventurado é aquele que se não escandalizar em mim.
      7 E, partindo eles, começou Jesus a dizer às turbas a respeito de João: Que fostes ver no deserto? Uma cana agitada pelo vento?
      8 Sim, que fostes ver? Um homem ricamente vestido? Os que se trajam ricamente estão nas casas dos reis.
      9 Mas, então, que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta;
      10 porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho.” (Mateus 11:2-10).

      Att.

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