Interpretação bíblica

Paralelismo e a Poesia Hebraica

O paralelismo sintético não é superior ao sinonímico pelo fato de a segunda frase acrescentar uma ideia nova ao texto, e nem o sinonímico é superior ao sintético. Cada qual tem o seu valor dentro do contexto empregado. Quando o segundo verso apresenta uma ideia equivalente ao primeiro, temos aí o princípio da identidade, que afirma que uma proposição é sempre verdadeira quando se refere a si mesma, ou seja, A é A, um conceito caro à lógica.


Paralelismo e a Poesia Hebraica

Preservação da ideia do texto através do Paralelismo

Na poesia hebraica, o paralelismo sinônimo se destaca como um recurso literário que privilegia a ideia através da correspondência mútua de frases ou cláusulas em uma oração, diferentemente das poesias das nações ocidentais que privilegiam a métrica, a rima e o ritmo. Mais do que um mero ornamento estético, o paralelismo sinônimo serve como uma ferramenta poderosa que impede que o texto e a ideia sejam distorcidos. A repetição de ideias com palavras ou frases diferentes proporciona uma trava lógica, de modo que, se uma palavra ou frase é alterada, a oração perde o sentido ou apresenta uma clara contradição.

A Bíblia, por ser a reunião de diversos livros, contém diversos tipos de textos, podendo ser narrativo, descritivo, dissertativo, argumentativo, epistolar, etc. Contudo, quando há uma verdade a ser preservada, geralmente o texto se utiliza do paralelismo. O paralelismo é essencial para a preservação textual e, consequentemente, das profecias. As citações dos Salmos no Novo Testamento como eventos que se cumpriram em conformidade com as Escrituras demonstram a importância da sua preservação. No entanto, os Salmos são pouco compreendidos, e leitores desatentos inferem outras questões das várias asserções paralelas que defendem uma única ideia, simplesmente por desconhecerem a estrutura da poesia hebraica.

Trava lógica

Um exemplo encontra-se na repreensão de Samuel a Saul, registrada no livro de Samuel, que apresenta um diálogo entre ambos. Enquanto o diálogo entre Samuel e Saul envolvia acusação e defesa, o escritor utiliza uma redação narrativa. Mas, quando Samuel fala uma verdade, o estilo do texto muda e o escritor registra a fala do profeta através de um paralelismo:

“Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor do que a gordura de carneiros.” (1 Samuel 15:22).

O profeta Samuel faz uma pergunta que oferece duas respostas: ou Deus tem prazer em holocaustos e sacrifícios, ou Deus tem prazer em que obedeçam a Sua palavra, e as respostas são excludentes. Em seguida, ele mesmo dá a resposta, uma verdade expressa através de um paralelismo:

“Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor do que a gordura de carneiros.”

A última frase repete a ideia da primeira, mas faz uso de termos diferentes. Os elementos da frase escrita com paralelismo possuem uma função lógica que correlaciona os elementos da oração, de modo que “obedecer” equivale a “atender” e “sacrificar” equivale a “gordura de carneiros”. A oração foi construída através de paralelismo sinônimo ou cognato, onde a mesma ideia é repetida com palavras diferentes. A trava lógica construída com o paralelismo impede que a mensagem seja corrompida, visto que a pergunta contextualiza o que foi dito e a resposta possui duas asserções que se confirmam.

Auxílio na tradução

Além disso, o paralelismo serve de recurso ao intérprete ou tradutor quando quer identificar o significado do termo em determinado contexto. Por exemplo, no texto abaixo, o termo “temor” assume dois significados:

“E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a fim de que não pequeis.” (Êxodo 20:20).

O verbo hebraico יָרֵא (yare’) traduzido por “temer” tem o sentido denotativo de “medo” ou “terror”, enquanto o substantivo יִרְאָה (yirah) tem o sentido conotativo de “palavra” ou “mandamento”, o que só é possível determinar através de outro paralelismo equivalente:

“Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti.” (Salmos 119:11).

Não pecar são elementos iguais em ambos os versículos, de modo que “a tua palavra no coração” e “o seu temor esteja diante de vós” assumem valor equivalente. Nesse sentido, lê-se o substantivo “temor” como “palavra” e vice-versa. Através do paralelismo, era possível aos leitores do hebraico antigo, que não tinha as vogais e sinais de pontuação, determinar com precisão qual palavra estava sendo utilizada na frase, uma vez que o paralelismo constrói um contexto.

Embora a métrica esteja presente na poesia hebraica, ela não se torna um entrave à tradução para outras línguas. Como a poesia hebraica é um construto de ideias encadeadas, é facilmente traduzida sem perder a essência e a graça poética. O estudo do paralelismo na poesia hebraica desenvolvido pelo bispo Robert Lowth, em 1750, dividiu o paralelismo em três tipos: sinonímico, sintético e antitético. Estudiosos como Kugel, Alter e Longman contestam essa divisão, pois entendem que o segundo verso sempre acrescenta um significado ao primeiro.

A discussão sobre os tipos de paralelismo não acrescenta muito, mas é bom destacar que o paralelismo sinonímico tem uma função didática importante na introdução da leitura e interpretação dos textos bíblicos. Quando as frases e termos introduzem a mesma ideia, permitindo a comparação da ideia e leitura do termo em outros textos, permite ao leitor compreender textos mais complexos. Mesmo quando se considera que a segunda frase não acrescenta nada à primeira, fica evidenciada a trava lógica.

O paralelismo sintético não é superior ao sinonímico pelo fato de a segunda frase acrescentar uma ideia nova ao texto, e nem o sinonímico é superior ao sintético. Cada qual tem o seu valor dentro do contexto empregado. Quando o segundo verso apresenta uma ideia equivalente ao primeiro, temos aí o princípio da identidade, que afirma que uma proposição é sempre verdadeira quando se refere a si mesma, ou seja, A é A, um conceito caro à lógica.

Quando uma passagem exibe significados bastante semelhantes, ou o segundo verso apresenta uma nuance quase imperceptível e, em outras, uma grande parcela de significado é acrescentada ao primeiro, o paralelismo trabalha os outros dois princípios da lógica: Princípio da não contradição e o Princípio do terceiro excluído.

O Princípio da não contradição estabelece que duas afirmações contraditórias não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Ou uma delas é verdadeira e a outra é falsa, ou seja, as duas não podem ser verdadeiras simultaneamente. “X é Y” e “X não é Y”, de modo que, ou é ou não é.

O Princípio do terceiro excluído é um complemento da lei da não contradição. Ele estabelece que, para qualquer proposição, há duas possibilidades: ou ela é verdadeira ou a sua negação é verdadeira. Duas proposições contraditórias só são possíveis se uma delas é verdadeira e a outra é falsa. Ambas não podem ser verdadeiras, e nem ambas podem ser falsas.

Deste modo, o paralelismo se dá entre os versos, bem como entre palavras, quando transmitem uma ideia. Da mesma forma que uma frase assume um só valor ao considerar a que a antecede, um termo dentro de um contexto só pode assumir um determinado valor. O verbo “temer” e o substantivo “temor” possuem significado específico: medo. Entretanto, dentro de um paralelismo, assumem outra conotação, porém específica, de modo que “temer” significa obedecer, e “temor” significa mandamento.

“Então entenderás o temor do SENHOR, e acharás o conhecimento de Deus.” (Provérbios 2:5);

“Então os gentios temerão o nome do SENHOR, e todos os reis da terra a tua glória.” (Salmos 102:15);

“Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal.” (Provérbios 3:7).

Provérbios contêm a chave dos segredos do paralelismo

Para compreendermos a essência dos paralelismos como recurso literário ou dispositivo específico da poesia hebraica, é necessário recorrer ao Livro dos Provérbios. Os escritos bíblicos utilizam metáforas, símiles, parábolas, aliterações, hipérboles e alegorias para transmitir uma mensagem, e o Pregador apresenta a essência de sua obra:

“PROVÉRBIOS de Salomão, filho de Davi, rei de Israel; Para se conhecer a sabedoria e a instrução; para se entenderem as palavras da prudência. Para se receber a instrução do entendimento, a justiça, o juízo e a equidade; Para dar aos simples, prudência, e aos moços, conhecimento e bom siso; O sábio ouvirá e crescerá em conhecimento, e o entendido adquirirá sábios conselhos; Para entender os provérbios e sua interpretação; as palavras dos sábios e as suas proposições.” (Provérbios 1:1-6).

Compreendendo a essência da obra de Salomão, o leitor estará apto a ler os demais livros da Bíblia, visto que estes utilizam as mesmas figuras, adágios e enigmas em sua composição. A figura da mulher adúltera é utilizada pelos profetas e no Livro do Apocalipse, e o Livro dos Provérbios dá o seu significado:

“Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela que estava cheia de retidão! A justiça habitava nela, mas agora homicidas.” (Isaías 1:21);

“E vi que, por causa de tudo isto, por ter cometido adultério a rebelde Israel, a despedi, e lhe dei a sua carta de divórcio, que a aleivosa Judá, sua irmã, não temeu; mas se foi e também ela mesma se prostituiu.” (Jeremias 3:8);

“E entraram a ela, como quem entra a uma prostituta; assim entraram a Aolá e a Aolibá, mulheres infames.” (Ezequiel 23:44);

“E VEIO um dos sete anjos que tinham as sete taças, e falou comigo, dizendo-me: Vem, mostrar-te-ei a condenação da grande prostituta que está assentada sobre muitas águas; com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição.” (Apocalipse 17:1-2).

No Livro dos Provérbios, temos a prostituta:

“E eis que uma mulher lhe saiu ao encontro com enfeites de prostituta, e astúcia de coração. (…) Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos.” (Provérbios 7:10 e 14);

“Para te afastar da mulher estranha, sim, da estranha que lisonjeia com suas palavras; que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus; porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para os mortos.” (Provérbios 2:16-18).

O leitor que não percebe que a mulher prostituta se refere à cidade de Jerusalém e a Israel com seus moradores, na verdade, não compreendeu a mais básica das figuras.

“E disse o SENHOR a Moisés: Eis que dormirás com teus pais; e este povo se levantará e se prostituirá indo após os deuses estranhos na terra, para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a minha aliança que tenho feito com ele.” (Deuteronômio 31:16).

O intérprete que desconhece que a prostituta assentada sobre a besta do Apocalipse se trata da nação de Israel não tem condições de ler as figuras e parábolas da Bíblia. A prostituta não são os caldeus ou a Igreja Católica. Também não é a Igreja Universal (IURD).

Poemas e Canções Hebraicas

No Antigo e Novo Testamento encontramos diversos cânticos hebraicos que fazem uso do paralelismo. No Antigo Testamento temos a canção de Moisés (Deuteronômio 32), a canção de Miriam (Êxodo 15:20-21), a canção de Débora (Juízes 5), a canção de Ana (1 Samuel 2:1-10), a canção de Ezequias (Isaías 38:10-20) e a oração de Habacuque (Habacuque 3). No Novo Testamento temos a canção de Maria (Lucas 1:46-56), o cântico de Zacarias (Lucas 1:69-79), o cântico de Simeão (Lucas 2:29-32), entre outros.

As poesias hebraicas podem seguir a ordem do alfabeto, ou seja, cada palavra inicial do respectivo verso começa com as letras do alfabeto, como em Provérbios 31:10-31; Lamentações 1; 2; 3; 4; Salmos 25; 34; 37; 145; e Salmo 119. Podem conter repetições de uma frase em intervalos, como se fosse um refrão, enfatizando uma ideia (Salmo 42; 107; Isaías 9:8 – 10:4; Amós 1:3, 6, 9, 11, 13; 2:1, 4, 6). Existem também poemas em que o pensamento de um verso é retomado em outro, o que se chama gradação (Salmo 121).

A Importância das Lições Sublinhadas através do Paralelismo

Um paralelismo sinônimo na poesia hebraica destaca a importância da mensagem. Através do paralelismo, a ideia é realçada, demonstrando sua relevância ao leitor. Esse recurso convida o leitor a considerar outras passagens onde a ideia é abordada, o que exige comparar textos diferentes, evitando interpretações dúbias ou que o leitor presuma algo de si mesmo. O paralelismo convida o leitor a examinar as Escrituras para não incorrer no mesmo erro do rei Davi, que desconhecia como a arca do Senhor devia ser conduzida.

“E temeu Davi ao SENHOR naquele dia; e disse: Como virá a mim a arca do SENHOR?” (2 Samuel 6:9).

Davi “temeu” ao Senhor quando se perguntou como a arca deveria ser conduzida e foi verificar na lei o que Deus ordenou a Moisés:

“Porquanto vós não a levastes na primeira vez, o SENHOR nosso Deus fez rotura em nós, porque não o buscamos segundo a ordenança. Santificaram-se, pois, os sacerdotes e os levitas, para fazerem subir a arca do SENHOR Deus de Israel. E os filhos dos levitas trouxeram a arca de Deus sobre os seus ombros, pelas varas que nela havia, como Moisés tinha ordenado conforme a palavra do SENHOR.” (1 Crônicas 15:13-15).

Paralelismo Sinonímico

O “paralelismo sinonímico” ou “cognato” ocorre quando o segundo verso repete o primeiro com palavras diferentes, acrescentando pouco ou nenhum significado. O recurso envolve a repetição da mesma ideia com palavras semelhantes.

Esse recurso poético consiste em duas linhas nas quais a mesma ideia é afirmada duas vezes, mas de duas maneiras diferentes, formando um dístico. “Sinônimo” está relacionado ao que é “semelhante” e, como o paralelismo sinônimo envolve a mesma ideia, o uso de sinônimos ou de termos que remetem ao mesmo significado é preponderante na construção.

Exemplo:

“Salva-me, Senhor, dos lábios mentirosos e das línguas enganosas.” (Salmo 120:2);

“Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.” (Salmo 24:1).

A ideia de que ao SENHOR pertence todas as coisas é essencial para as duas frases, e a ideia da terra em sua plenitude equivale ao mundo e tudo o que ele contém.

O recurso ainda permite que a mesma ideia seja apresentada em duas sentenças, sendo uma na forma de afirmação e a outra na forma de negação. Também é possível que a mesma ideia seja expressa em duas ou mais sentenças, ou que a primeira e segunda sentença tenham correspondência com a terceira e quarta.

Paralelismo Antitético

No “paralelismo antitético”, a ideia da segunda sentença é o inverso da primeira, proporcionando um contraste, um construto comum na poesia gnômica ou proverbial.

Exemplo:

“A integridade dos retos os guia, mas a falsidade dos infiéis os destrói.” (Provérbios 11:3);

“Porque os malfeitores serão desarraigados; mas aqueles que esperam no SENHOR herdarão a terra.” (Salmo 37:9).

A composição das frases estabelece uma perspectiva de contraponto e contraste, frequentemente usada para opor aqueles que servem a Deus e os que não servem.

Paralelismo Sintético

O paralelismo sintético, também conhecido como construtivo ou composto, é caracterizado pela soma das sentenças para defender uma ideia única.

Exemplo:

“O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é entendimento.” (Provérbios 9:10);

“A lei do SENHOR é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do SENHOR é fiel, e dá sabedoria aos simples. Os preceitos do SENHOR são retos e alegram o coração; o mandamento do SENHOR é puro, e ilumina os olhos. O temor do SENHOR é limpo, e permanece eternamente; os juízos do SENHOR são verdadeiros e justos juntamente.” (Salmo 19:7-9).

As frases apresentam informações que parecem complementares, mas essencialmente se referem ao mesmo tema. No exemplo, o temor se refere ao mandamento de Deus que é o princípio da sabedoria, e o conhecimento é o que o temor proporciona se o homem se deixar instruir.

Paralelismo Emblemático

O paralelismo emblemático faz uso de uma figura de linguagem ou imagem na primeira linha, e as frases subsequentes explicam a imagem apresentada, dando vivacidade à figura. No entanto, trata-se de um paralelismo antitético, pois a ideia da segunda sentença é o inverso da primeira, formando um contraste.

“Os lábios dos justos alimentam muitos, mas os insensatos morrem por falta de entendimento.” (Provérbios 10:21).

Estrutura de Alguns Paralelismos

Considerando a seguinte declaração divina expressa através de um paralelismo: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10), temos um “paralelismo sinonímico” ou “cognato” semelhante ao verso: “Do SENHOR é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam.” (Salmo 24:1).

Entretanto, o versículo de Deuteronômio possui uma diferença do Salmo na composição do paralelismo. A diferença está na semântica das orações e suas frases, especificamente na conjunção “e”, palavra invariável que relaciona as duas orações da mesma frase do versículo em Deuteronômio.

Compare:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10);

“O Senhor se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia.” (Salmo 147:11).

Os dois versículos apresentam a mesma ideia; os termos utilizados, embora diferentes, têm significados equivalentes. Considerando os dois versículos, certo é que Deus faz misericórdia àqueles de quem Ele se agrada, e vice-versa. Quando Deus se agrada de alguém, concede a Sua misericórdia.

Nos dois versículos, quatro quesitos são apresentados: a) os que amam; b) os que guardam os mandamentos; c) os que temem; d) os que esperam na misericórdia. A condição a ser satisfeita é única. Temer, guardar, amar e esperar são ações equivalentes, ou seja, o homem não precisa executar quatro ações distintas.

Embora os textos sejam diferentes, a ideia apresentada na primeira oração é confirmada pela ideia da segunda, que na estrutura da poesia hebraica denomina-se paralelismo sinônimo. Quem teme é porque espera, e vice-versa, ou quem ama é porque guarda. Através do paralelismo sintético, a segunda frase de ambas orações expande ou explica a ideia apresentada na primeira frase.

Nos dois versículos, a conjunção “e” serve mais ao propósito do paralelismo da poesia hebraica do que a uma função semântica. A função que o “e” desempenha na oração dá-se o nome de paralelismo semântico que coordena a correspondência de valores existentes no discurso, diferentemente do paralelismo sintático, ou paralelismo gramatical, que coordena a ligação existente entre as funções sintáticas ou morfológicas dos elementos da oração.

Observe que o termo ágape, traduzido por “amor” no Novo Testamento, assume o valor de “obediência” em contextos que sugerem sujeição a um senhor. Através do versículo de Deuteronômio, é possível determinar que “amar” é “obedecer” e “guardar”:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.” (Deuteronômio 5:10);

“Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.” (João 14:21);

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” (Mateus 6:24).

A conjunção “e” coordena a ideia das duas frases que formam o paralelismo, enfatizando que sujeitar-se a Deus como Senhor é “amar” e “guardar”.

Algo semelhante ocorre no seguinte verso:

“Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Marcos 12:29-30; Mateus 22:37).

Amar a Deus envolve todo o ser do crente, ou seja, coração, alma, entendimento e força. Na sua plenitude, o homem deve amar a Deus; não há como amar com o entendimento se não amar com o coração.

“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR; e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.” (Salmo 103:1).

Compreender essas nuances dos versículos evita que, após o crente obedecer ao evangelho crendo em Cristo para salvação, que é amar, temer, guardar, não seja surpreendido com encargos outros sob o pretexto de que o cristão deve dar o melhor a Deus como evidência do amor.

“Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias:” (Atos 15:28);

“Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” (Colossenses 2:18-23).

Crer em Cristo é fazer a vontade de Deus. O mandamento de Deus é que o homem creia em Cristo, e quem creu em Cristo amou, temeu, guardou e obedeceu a Deus.

“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”, perguntou ele. Então olhou para os que estavam assentados ao seu redor e disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos! Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.” (Marcos 3:33-35);

“Porque a vontade de meu Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (João 6:40);

“E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.” (1 João 2:17).

A vontade de Deus é específica e está expressa no evangelho, a palavra que permanece para sempre.

“Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre. Porque toda a carne é como a erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor; Mas a palavra do Senhor permanece para sempre. E esta é a palavra que entre vós foi evangelizada.” (1 Pedro 1:23-25).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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