A alegoria que remete as duas alianças, Sara e Agar, destaca que aqueles que desejam estar debaixo da lei são comparados ao filho da escrava, e não herdarão com a igreja de Cristo.
Gálatas 4 – As alegorias das duas alianças
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Gálatas 4 – A plenitude dos tempos
Conhecendo a Deus, ou melhor, tornando-se um com Ele
Após afirmar que os cristãos eram reconhecidos como filhos de Deus, o apóstolo Paulo volta no tempo e enfatiza que antes de encontrarem Cristo, eles não “conheciam” a Deus (Gálatas 4:6).
“Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que por natureza não o são.” (Gálatas 4:8).
Esta realidade também foi demonstrada aos cristãos em Éfeso:
“E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” (Efésios 2:1-3).
Após receberem a filiação divina, os cristãos passaram a ter comunhão íntima com Deus (Gálatas 4:5). O termo “conhecer” neste contexto bíblico não se refere apenas ao conhecimento intelectual, mas sim a uma união íntima semelhante à que um homem tem com sua esposa, indicando que os cristãos agora desfrutam de comunhão íntima com Deus.
“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21).
Sobre este “conhecimento” que envolve marido e mulher, Cristo e a igreja, o apóstolo Paulo declara que é um grande mistério:
“Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” (Efésios 5:32).
O mistério não reside simplesmente na ordem de Deus de que o homem deve deixar pai e mãe e unir-se (conhecer) à sua mulher, tornando-se ambos uma só carne. O verdadeiro mistério desta ordem diz respeito à igreja, pois ao tornarem-se filhos de Deus, cada cristão torna-se membro do corpo de Cristo, sendo parte da sua carne e dos seus ossos. Como está escrito:
“Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos. Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe, e se unirá a sua mulher; e serão dois numa carne” (Efésios 5:30-31).
Antes de experimentarem a comunhão íntima com Deus, a maioria dos cristãos eram idolatras, adorando deuses vazios de significado.
9 Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?
O apóstolo Paulo demonstra profundo descontentamento com a situação dos cristãos da Galácia que estão inclinados a se submeter novamente à lei.
Como poderiam essas pessoas, depois de terem “conhecido” a Deus, voltar a se sujeitar aos preceitos da lei? Como alguém que é qualificado para receber a herança dos santos poderia desejar voltar à condição de tutelado? Como uma pessoa idônea poderia aceitar estar novamente sob os cuidados de outrem?
Era de se estranhar que os cristãos quisessem voltar a estar debaixo dos rudimentos fracos e pobres da lei após terem “conhecido” a Deus, ou antes, serem ‘conhecidos’ por Ele. É surpreendente que esses cristãos, que já haviam desfrutado da comunhão com Cristo, agora desejassem submeter-se novamente aos rudimentos frágeis e pobres da lei.
Eles eram conhecidos por Deus por terem se tornado membros do corpo de Cristo, que é a verdadeira manifestação de Deus e a fonte da vida eterna. No entanto, estavam regredindo ao se agarrarem novamente aos rudimentos fracos e pobres.
10 Guardais dias, e meses, e tempos, e anos.
A essência dos rudimentos fracos e pobres da lei residia na observância rigorosa de dias, meses, tempos e anos. Embora o povo de Israel se dedicasse a cumprir esses rituais, isso não era algo que agradasse a Deus, pois não promovia comunhão intima com Ele.
“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29:13).
Os cristãos da Galácia estavam sendo influenciados por ensinamentos judaizantes que os levavam a rejeitar a plena suficiência de Cristo que proveu redenção através do sacrifício na cruz. Paulo, ao escrever para os Gálatas, expressa sua surpresa e desapontamento com eles por abandonarem o evangelho da graça em favor da observância da lei judaica. Eles estavam sendo persuadidos por alguns que a salvação não era apenas pela fé em Cristo, mas também pela obediência à lei, incluindo práticas como a circuncisão e o cumprimento de certas festas e rituais.
Essa influência judaizante os levava a rejeitar a mensagem central do evangelho, que é a morte e ressurreição de Cristo como o único meio de reconciliação com Deus. Ao invés de confiar na obra consumada de Cristo na cruz, estavam voltando a confiar em práticas segundo a lei.
11 Receio de vós, que não haja trabalhado em vão para convosco.
O apóstolo Paulo demonstra estar preocupado com o comportamento dos cristãos em relação ao evangelho de Cristo, mas ao mesmo tempo nutre a esperança de que seu trabalho não tenha sido em vão.
12 Irmãos, rogo-vos que sejais como eu, porque também eu sou como vós; nenhum mal me fizestes.
O apóstolo Paulo, apesar da propagação de um pseudo-evangelho entre os cristãos da Galácia, não guardava rancor. Ele não sentia que a atitude deles fosse uma afronta pessoal nem que lhe tivessem causado dano direto. Pelo contrário, Paulo estava preocupado com o impacto que esse desvio do verdadeiro evangelho teria sobre eles próprios.
Ao invocar um sentimento de fraternidade, Paulo expressava sua profunda preocupação com o bem-estar espiritual dos cristãos, mesmo que estivessem sendo influenciados por ensinamentos distorcidos. Ele via a apostasia deles como algo que poderia trazer sérias consequências espirituais para suas vidas.
Assim, o apóstolo Paulo não se concentrava em questões pessoais de ofensa ou ressentimento, mas sim na necessidade de corrigir e restaurar a fé dos irmãos na Galácia.
O evangelho, a fé comum a todos
13 E vós sabeis que primeiro vos anunciei o evangelho estando em fraqueza da carne; 14 E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne, antes me recebestes como um anjo de Deus, como Jesus Cristo mesmo.
O apóstolo Paulo faz referência a uma enfermidade que afetava seu corpo, porém não é possível determinar exatamente qual era essa enfermidade. Como suas cartas eram direcionadas a públicos específicos e possuíam um caráter pessoal, apenas os cristãos contemporâneos de Paulo conheceram detalhes sobre seus problemas de saúde. Especular sobre a natureza da “fraqueza da carne” que ele menciona não oferece esclarecimentos concretos sobre a enfermidade que ele sofria. Além disso, mesmo que soubéssemos, isso não teria impacto direto no entendimento ou na propagação do evangelho.
Apesar de estar enfermo, Paulo foi bem recebido pelos cristãos da Galácia como um mensageiro de Deus, assim como o próprio Senhor Jesus. Isso sugere que os cristãos da Galácia demonstraram maturidade espiritual ao acolherem Paulo, mesmo vendo sua condição de saúde debilitada. No entanto, Paulo questiona por que, então, esses mesmos cristãos estavam retrocedendo aos rudimentos fracos e pobres.
Se estivessem ainda presos aos rudimentos legais, como leis cerimoniais ou práticas externas, é possível que não tivessem acolhido Paulo dessa maneira, considerando que ele poderia ser visto como impuro ou contaminado. A recepção calorosa de Paulo entre eles, apesar de sua enfermidade, ressalta a ironia de seu retrocesso espiritual em retornar a práticas que não deveriam mais ser relevantes após o entendimento do evangelho da graça e liberdade em Cristo.
15 Qual é, logo, a vossa bem-aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os vossos olhos, e mos daríeis.
A pergunta específica que é colocada é: “Qual é a vossa bem-aventurança?” Em outras palavras, qual é a vossa fonte de alegria? Onde está o entusiasmo que antes existia? A alegria dos cristãos não deveria ser o próprio Senhor Jesus? Eles não eram bem-aventurados por crerem somente em Cristo (Gálatas 3:6)?
Isso fica evidente quando consideramos que, após receberem a alegria da salvação ao ouvirem o evangelho pregado pelo próprio apóstolo, mesmo enquanto ele estava enfermo, os cristãos da Galácia demonstraram um profundo entusiasmo. Se fosse possível, teriam dado a Paulo até mesmo seus próprios olhos. Estavam dispostos a sacrificar o que tinham de mais precioso em favor do apóstolo dos gentios, tamanho era o entusiasmo com que receberam a mensagem do evangelho.
16 Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?
O argumento do apóstolo Paulo é claro e persuasivo: aquele que fala a verdade se torna um amigo, não um inimigo. Ao proclamar o evangelho, que é a verdade revelada por Deus, e ao demonstrar a invalidade dos rudimentos fracos e pobres, Paulo estava se revelando como um amigo e irmão espiritual para aqueles aos quais ele escrevia.
17 Eles têm zelo por vós, não como convém; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles.
Os judaizantes mostravam zelo pelos cristãos, mas esse zelo era baseado em falsidade. Na realidade, eles buscavam excluir os cristãos da verdadeira comunhão do evangelho, esperando que os cristãos passassem a mostrar zelo por eles.
O apóstolo Paulo alertou que esse papel dos judaizantes logo se inverteria. Inicialmente, parecia que os judaizantes estavam demonstrando zelo pelos cristãos, mas eventualmente eles passariam a exigir que os cristãos mostrassem zelo por eles, impondo-lhes os rudimentos da lei.
18 É bom ser zeloso, mas sempre do bem, e não somente quando estou presente convosco.
O apóstolo Paulo demonstra que é recomendável ter zelo, mas esse zelo deve ser direcionado para o bem, não para interesses pessoais. O verdadeiro zelo deve estar centrado no evangelho, preservando-o exatamente como foi anunciado pelo apóstolo. Esse zelo pelo bem deve ser constante, não apenas quando o apóstolo Paulo estava presente.
19 Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós; 20 Eu bem quisera agora estar presente convosco, e mudar a minha voz; porque estou perplexo a vosso respeito.
O apóstolo Paulo, com uma abordagem paternal, chama os cristãos de ‘meus filhinhos’. Ao perceber que estavam sendo perturbados e alguns estavam se submetendo aos rudimentos da lei, Paulo sentiu-se angustiado, como se estivesse em trabalho de parto, até que Cristo fosse formado neles.
Paulo não desejava escrever repreensões. Ele ansiava estar presente com os cristãos das regiões da Galácia e ter uma conversa de tom diferente. Ele estava perplexo com a decisão daqueles que queriam voltar a estar debaixo da lei.
21 Dizei-me, os que quereis estar debaixo da lei, não ouvis vós a lei?
O público-alvo da carta se torna mais específico, não abrangendo mais todos os cristãos da comunidade, mas focando apenas nos simpatizantes do judaísmo. Esses são convidados a responder às questões levantadas pelo apóstolo Paulo.
Aqueles que desejavam voltar a estar sob a lei parecem não ter compreendido o verdadeiro propósito da lei. Os que estavam se desviando do evangelho nunca entenderam qual era a verdadeira intenção da lei.
As duas alianças representadas através de alegorias
22 Porque está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava, e outro da livre.
Aqueles que buscavam justificar-se pela lei não entenderam a passagem das Escrituras que menciona a origem dos dois filhos de Abraão: um filho da escrava e outro da livre. Se tivessem realmente ouvido a lei, teriam percebido o contraste entre o filho da escrava e o filho da livre.
Através da exposição do apóstolo dos gentios, fica evidente o contraste entre:
- Lei x evangelho;
- Carne x Espírito;
- Sara x Agar;
- Isaque x Ismael;
- Escrava x livre, etc.
23 Todavia, o que era da escrava nasceu segundo a carne, mas, o que era da livre, por promessa.
O apóstolo Paulo convoca aqueles que desejam viver segundo a lei a observarem e entenderem o ensinamento das Escrituras.
Abraão teve dois filhos, mas um foi gerado e nasceu segundo a carne, enquanto o outro, o filho da livre, foi resultado da promessa.
O que os judaizantes teriam a dizer sobre esses dois filhos de Abraão? Será que eles realmente ouviram e compreenderam o que a lei ensina? Através deste contraste, o apóstolo Paulo busca demonstrar que Isaque nasceu segundo a promessa, destacando assim a fidelidade e o poder de Deus, em contraste com o filho da escrava.
Essas pessoas não consideravam que o Descendente prometido a Abraão vem através do filho da livre? Que o evangelho anunciado primeiramente a Abraão se refere ao filho da livre?
Da mesma forma, os cristãos também são gerados segundo a promessa feita a Abraão, que declara: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3). Deus é fiel e ao conceder Sua Palavra, que tem poder para fazer com que todos os que creem sejam feitos filhos de Deus (João 1:12; Romanos 1:16).
24 O que se entende por alegoria; porque estas são as duas alianças; uma, do monte Sinai, gerando filhos para a servidão, que é Agar.
O apóstolo Paulo utiliza Sara e Agar como uma ilustração ou alegoria para representar o que ocorre ao longo da história de Israel e o advento do tempo dos gentios com a igreja de Cristo.
Sara e Agar simbolizam as duas alianças: a lei e a graça. Embora o filho de Sara tenha nascido por último, a graça é anterior à lei, pois a promessa foi feita muito antes da lei, quando foi dito: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3).
Agar, uma das servas de Sara, representa o monte Sinai e gera filhos para a escravidão. Agar simboliza o povo de Israel e a aliança estabelecida no monte Sinai.
25 Ora, esta Agar é Sinai, um monte da Arábia, que corresponde à Jerusalém que agora existe, pois é escrava com seus filhos.
O apóstolo Paulo explora como Agar representa o monte Sinai, que é associado à Jerusalém terrena, a qual existe atualmente. Agar e seu filho eram escravos, simbolizando que Jerusalém e seus habitantes permanecem sob o jugo da escravidão, pois todos são descendentes da carne de Abraão, Isaque e Jacó.
Os descendentes da carne, não importa se descendentes de Ismael ou se descendentes de Isaque, estão sujeitos à escravidão. Nesse contexto, Esaú, irmão de Jacó, foi rejeitado mesmo sendo descendente segundo a carne, enquanto Jacó foi aceito, tornando-se a linhagem na qual o descendente seria chamado.
“Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência.“ (Gênesis 21:12).
Todos os descendentes da carne de Abraão permanecem sob a servidão do pecado por serem descendentes de Adão, o primeiro pai da humanidade (Isaías 43:27).
26 Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é mãe de todos nós.
O apóstolo Paulo apresenta a Jerusalém celestial, que contrasta com a Jerusalém terrena atual. A Jerusalém celestial é descrita como sendo do alto, livre e mãe de todos os que são salvos em Cristo.
A Jerusalém celestial é a mãe espiritual daqueles que confiam em Deus pela fé em Cristo. Para ser um filho da Jerusalém celestial, é necessário ter a mesma fé que Abraão teve, que é diferente de ser apenas um descendente físico de Abraão.
Aqueles que são gerados da carne são comparados a escravos, enquanto os que são gerados da fé de Abraão são considerados livres (Romanos 9:8).
27 Porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; Esforça-te e clama, tu que não estás de parto; Porque os filhos da solitária são mais do que os da que tem marido.
O apóstolo Paulo cita o profeta Isaías para ilustrar as diferenças entre as duas alianças:
“Canta, ó estéril, que não deste à luz; exulta de prazer com alegre canto, e exclama, tu que nunca tiveste dores de parto, porque mais são os filhos da desolada do que os da casada, diz o Senhor” (Isaías 54:1).
Este verso de Isaías é citado como resposta ao verso 26:
“A Jerusalém que é de cima é livre e é mãe de todos nós; porque está escrito: Alegra-te, estéril, que não dás à luz; exulta com alegria, tu que não estás de parto; porque mais são os filhos da desolada do que da que tem marido” (Gálatas 4:26-27).
Agar foi a primeira a cantar e se alegrar ao conceber um filho de Abraão (Gênesis 16:4). A afronta que Agar representou para Sara é semelhante à afronta que os cristãos na Galácia estavam sofrendo dos judaizantes. Sara já era desprezada pela sociedade da época por não ter dado à luz um filho, mas sua situação piorou quando sua serva, que concebeu um filho, a desprezou.
O profeta Isaías, ao falar da igreja, faz referência ao evento envolvendo Sara e Agar. Sara, que era estéril e nunca deu à luz, é encorajada a cantar e exultar de alegria. Embora nunca tenha experimentado as dores do parto, ela deveria se alegrar.
Sara, a desprezada por não poder conceber e ter filhos naturalmente, é encorajada a entoar cânticos por causa da promessa do Senhor registrada em Isaías 54:1: “… mais são os filhos da desolada do que os da casada, diz o Senhor.”
A “desolada” ou “desprezada”, que não pôde conceber naturalmente, precisou confiar na promessa de que seus filhos não seriam em menor número do que os daquela que concebeu naturalmente (teve marido). O apóstolo Paulo usa essa profecia de Isaías para ilustrar que os filhos da promessa, que são através de Cristo o Descendente, são em maior número do que os filhos da escrava.
28 Mas nós, irmãos, somos filhos da promessa como Isaque.
O apóstolo Paulo destaca que os cristãos são filhos da promessa, assim como Isaque foi. Através de Cristo, o Descendente prometido, todos aqueles que creem alcançam a bem-aventurança prometida a Abraão, ou seja, recebem a filiação divina.
29 Mas, como então aquele que era gerado segundo a carne perseguia o que o era segundo o Espírito, assim é também agora.
A Bíblia mostra que o filho de Abraão gerado segundo a carne, Ismael, perseguia o filho de Abraão gerado segundo a promessa, Isaque. O apóstolo Paulo reitera que a perseguição que ocorria dentro da igreja derivava desse conflito histórico entre Ismael e Isaque, que representa a luta entre a carne e o espírito.
O conflito descrito pelo apóstolo Paulo, conforme apresentado na Escritura, não aconteceu dentro de Isaque. A batalha entre a carne e o espírito ocorre fora do homem. A perseguição descrita é consequência da luta entre aqueles que são gerados segundo a carne e aqueles que são gerados segundo a promessa de Deus, e a perseguição continua até os dias atuais.
No contexto específico deste versículo, quando o apóstolo Paulo se refere a “gerado segundo a carne”, ele está se referindo aos descendentes físicos de Abraão, como Ismael. Já ser “gerado segundo o espírito” se refere ao nascimento milagroso de Isaque, que foi resultado da promessa de Deus e não de meios naturais. Portanto, a distinção entre “carne” e “espírito” neste contexto é que os descendentes da “carne” são aqueles que nascem de maneira natural, como Ismael, enquanto os descendentes “do espírito” são aqueles que nascem de maneira sobrenatural ou através da promessa de Deus, como Isaque.
30 Mas que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu filho, porque de modo algum o filho da escrava herdará com o filho da livre.
Considerando o contexto de Gálatas 4:21, a pergunta “Mas que diz a Escritura?” é feita por Paulo aos que desejavam estar sob a lei, abordando um tema que reflete conceitos antigos de herança e legitimidade. Naquela época, um filho ilegítimo não herdaria o que era direito do filho legítimo. Paulo usa esse conceito para ilustrar espiritualmente que, assim como na lei antiga um filho da escrava (Ismael) não herdaria com o filho da livre (Isaque), da mesma forma aqueles que voltam à lei não herdarão com os filhos da promessa, que são a igreja de Cristo.
Portanto, o versículo destaca que aqueles que desejam estar debaixo da lei são comparados ao filho da escrava, Ismael, e não herdarão com a igreja de Cristo “… de modo algum…” ( v. 30), que representa os filhos da promessa, os verdadeiros herdeiros da graça e da promessa de Deus.
31 De maneira que, irmãos, somos filhos, não da escrava, mas da livre.
O apóstolo Paulo conclui seu pensamento enfatizando que os cristãos são filhos da livre, ou seja, são filhos da promessa através de Cristo Jesus. Essa promessa remonta às palavras ditas a Abraão, onde Deus prometeu que em sua descendência todas as famílias da terra seriam abençoadas (Gênesis 28:14). Paulo cita também que a Escritura previu que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciando primeiro o evangelho a Abraão com a promessa de que todas as nações seriam abençoadas nele (Gálatas 3:8).
Paulo argumenta contra a ideia de que os cristãos possuem duas naturezas, explicando que o novo homem em Cristo Jesus é exclusivamente filho da livre e não da escrava. Como pode o novo homem em Cristo ter duas naturezas se não pode ser simultaneamente filho da escrava e da livre? Ele é filho ou da escrava ou da livre. Essa distinção é simbólica, indicando que os cristãos são herdeiros da promessa de Deus através da fé em Cristo, não mais sujeitos à escravidão da lei ou à descendência segundo a carne.
Portanto, os cristãos são exortados a permanecerem como filhos da livre, guardando-se de qualquer tentativa de voltar à condição de filhos da escrava. Através da promessa contida no evangelho, todos que creem no Descendente, que é Cristo, recebem poder de Deus para serem feitos seus filhos espirituais (João 1:12).
Para saber mais: A alegoria de Sara e Agar