Interpretação bíblicaJustificação

Quando se deu a justificação de Abraão?

Embora as Escrituras destaquem que Abraão creu em Deus e que essa fé foi imputada como justiça, a plenitude dessa crença se revelou de maneira marcante somente quando Isaque foi colocado sobre o altar.


Quando se deu a justificação de Abraão?

“E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.” (Tiago 2:23).

Introdução

No Novo Testamento, diversas profecias se concretizaram, e várias passagens ressaltam que “a Escritura se cumpriu”. O irmão Tiago, por sua vez, destaca uma profecia cumprida no passado, relacionada ao patriarca Abraão:

No livro de Gênesis, encontramos o seguinte relato sobre Abraão:

“E Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” (Gênesis 15:6).

Ao examinarmos a ênfase de Tiago, torna-se imperativo analisar a passagem de Gênesis 15 e compreender como a Escritura se concretizou no caso de Abraão.

 

A promessa de um herdeiro

Tendo por base essa promessa, Abraão creu em Deus, e o fato de Ele ter crido no que fora dito, foi-lhe imputado por justiça.

Após a vitória de Abraão na guerra entre quatro reis e cinco, na qual Deus se revelou como sua proteção e recompensa (Gênesis 15:1), Abraão, ainda conhecido como Abrão, expressou sua preocupação por não ter descendência. Ele mencionou seu mordomo, Eliezer, como o único nascido em sua casa que poderia herdar seus bens.

Deus esclareceu que Eliezer não seria o herdeiro, mas prometeu a Abraão um filho gerado por ele mesmo (Gênesis 15:2-3). Conduzindo Abraão para fora da tenda, Deus desafiou-o a contar as estrelas no céu, uma tarefa aparentemente impossível. Em seguida, Deus declarou:

“Assim será a tua descendência” (Gênesis 15:6).

Com base nessa promessa extraordinária, Abraão depositou sua fé em Deus, acreditando no aparentemente inacreditável. Esse ato de fé, a confiança inabalável nas palavras divinas, foi considerado por Deus como um ato de justiça por parte de Abraão. Assim, a fé de Abraão na promessa de Deus foi imputada como justiça, destacando a profunda relação de confiança entre o patriarca e seu Senhor.

 

O nascimento de Isaque e a prova de Abraão

Após muitos anos, quando Sara atingiu a idade de 91 anos, ela miraculosamente deu à luz um filho a Abraão, ao qual deram o nome de Isaque.

A surpresa desse evento foi evidente na reação de Abraão, que caiu com o rosto em terra e, incrédulo, riu consigo mesmo, questionando como seria possível que um homem de cem anos pudesse ter um filho, e Sara, aos noventa, pudesse dar à luz.

“Então caiu Abraão sobre o seu rosto, e riu-se, e disse no seu coração: A um homem de cem anos há de nascer um filho? E dará à luz Sara da idade de noventa anos?” (Gênesis 17:17 e 21:5).

Posteriormente, seguindo a instrução de Sara, Abraão tomou a decisão difícil de enviar Agar e Ismael, a serva e seu filho, para longe.

Sara explicou a Abraão:

“E disse a Abraão: Ponha fora esta serva e o seu filho; porque o filho desta serva não herdará com Isaque, meu filho.” (Gênesis 21:10).

Apesar da relutância de Abraão em abrir mão de Ismael, uma vez que era seu filho (Gênesis 21:11), ele, em concordância com a garantia divina de que a descendência de Abraão seria chamada por meio de Isaque, finalmente confirmou a decisão de Sara e despediu tanto a serva quanto seu filho (Gênesis 21:12).

Após estabelecer uma aliança com Abimeleque e peregrinar extensivamente pela terra dos filisteus (Gênesis 21:30 e 34), Deus surpreendentemente ordenou a Abraão que sacrificasse seu único filho em holocausto (Gênesis 22:2).

Abraão, longe de hesitar, prontamente se levantou na manhã seguinte, dirigindo-se ao local designado com seu filho e dois servos (Gênesis 22:3). Embora Deus, sendo onisciente, soubesse de antemão a escolha de Abraão, a ordem foi dada sem interferência na liberdade de decisão humana, e Abraão obedeceu.

Este evento destaca que Deus não manipula as ações e decisões dos seres humanos. A noção de presciência, que sugere que Deus escolhe previamente aqueles que responderão ao Seu chamado, é desafiada por essa narrativa. A interpretação da presciência como uma escolha antecipada por Deus mina a onisciência divina e perturba a essência da justiça divina.

 

Abraão foi justificado porque obedeceu

Tiago apresenta a argumentação de que a promessa feita a Abraão no capítulo 15 do Livro de Gênesis foi plenamente cumprida quando o patriarca demonstrou sua fé ao oferecer seu filho Isaque sobre o altar.

É importante ressaltar o contexto em que Tiago está se dirigindo a seus interlocutores, muitos dos quais eram judeus convertidos ao cristianismo (Tiago 1:1), mas ainda mantinham uma forte ligação com os preceitos judaicos (Tiago 1:26-27). Esses convertidos, embora afirmassem a crença em um único Deus, ainda permaneciam arraigados em práticas judaicas, revelando uma inclinação mais judaizante do que cristã (Tiago 2:8-10).

Tiago, ao confrontar esses adeptos, questiona a validade de sua fé ao enfatizar que a crença desprovida de obras é ineficaz e, portanto, “morta” (Tiago 2:20). Ele não está, contudo, contestando a fé genuína dos verdadeiros cristãos. Não se trata de sugerir que a fé em Cristo de algum modo possa ser considerada morta. O texto não sugere que crer em Cristo se tratar de uma fé morta.

Para ilustrar a ineficácia de afirmar a crença em Deus sem a correspondente obediência, Tiago recorre ao exemplo de Abraão. Abraão foi justificado não apenas por acreditar na promessa divina, mas também por sua prontidão em obedecer, exemplificado pelo ato de oferecer seu filho Isaque sobre o altar. Nesse contexto, a obediência se converte em uma obra tangível – Isaque sobre o altar – que evidencia a genuína fé de Abraão na palavra divina. Portanto, Tiago destaca que a verdadeira fé não é meramente uma confissão de crença em Deus, mas se manifesta em ações obedientes que corroboram a convicção interior.

“Assim será a tua descendência.” (Gênesis 15:6).

A ação de Abraão, ao oferecer seu filho Isaque sobre o altar, torna-se uma evidência concreta de sua crença (fé) na palavra de Deus. Sua prontidão em oferecer seu descendente reflete a convicção profunda de que a promessa divina sobre sua descendência incontável, comparável às estrelas dos céus, era plenamente factível. Essa atitude de Abraão ilustra sua fé, ou seja, sua confiança inabalável na fidelidade de Deus.

Da mesma forma, um cristão que verdadeiramente crê que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus bendito, deve refletir essa convicção em suas ações. A mensagem central do evangelho inclui a visão de bem-aventurança para todas as famílias da terra. Portanto, o agir do cristão não deveria incluir qualquer forma de discriminação ou favoritismo, uma vez que a essência do evangelho promove a inclusão e a bênção para toda a humanidade.

Assim como Abraão expressou sua fé mediante uma obra tangível, ao oferecer seu filho, os cristãos convertidos dentre o judaísmo são desafiados por Tiago a viverem sua crença em Cristo de maneira prática. Abster-se de fazer acepção de pessoas é uma resposta coerente à compreensão do evangelho e à convicção de que em Cristo, todas as famílias da terra são abençoadas. Essa congruência entre fé e ação é fundamental para refletir a autenticidade da crença cristã.

“Meus irmãos (às doze tribos que andam dispersas), que aproveita se alguém disser que tem fé, e não tiver as obras? Porventura a fé pode salvá-lo?” (Tiago 2:14).

Embora as Escrituras destaquem que Abraão creu em Deus e que essa fé foi imputada como justiça, a plenitude dessa crença se revelou de maneira marcante somente quando Isaque foi colocado sobre o altar. Foi nesse momento crucial, quando Abraão permaneceu firme com o cutelo erguido, que a profundidade e a sinceridade de sua fé foram totalmente evidenciadas.

Ao ressaltar esse episódio específico, as Escrituras enfatizam não apenas que Abraão creu na palavra de Deus, mas também a expressão prática e tangível dessa fé no momento de extrema provação. Sua disposição em obedecer a Deus, mesmo diante do sacrifício de seu próprio filho, destaca não apenas a confiança na promessa divina, mas também a submissão total à vontade de Deus.

Assim, a narrativa não apenas valida a fé de Abraão como justiça, mas destaca a plenitude e a maturidade dessa fé quando confrontada com circunstâncias desafiadoras. O momento no qual Abraão se manteve pronto para sacrificar Isaque é emblemático de completa confiança e obediência a Deus, revelando, assim, a verdadeira natureza de sua fé imputada como justiça.

“Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” (Tiago 2:20-24).

A obra realidade por Abraão tinha por base o “firme fundamento do que se espera” e a “prova do que não se vê”, ou seja, o mandamento de Deus, a fé dada aos santos (Judas 1:3; Filipenses 1:27). Se Deus deu a ordem, Abraão considerou que Deus era poderoso para trazer o seu filho dentre os mortos, crendo contra a esperança, pois Deus, que não pode mentir, é poderoso para fazer o que prometeu por intermédio de Isaque.

A ação concretizada por Abraão tinha como alicerce o “firme fundamento do que se espera” e a “prova do que não se vê”, ou seja, o mandamento divino, a fé confiada aos santos (Hebreus 11:1; Judas 1:3; Filipenses 1:27). Ao receber a ordem de Deus, Abraão reconheceu a capacidade divina de cumprir suas promessas, mesmo diante de circunstâncias aparentemente impossíveis.

A palavra de Deus (fé), que transcende a expectativa humana, levou Abraão a acreditar contra todas as probabilidades, confiando que Deus, que é incapaz de mentir, também era poderoso para ressuscitar seu filho, e então, cumprir a boa palavra anunciada através da sua descendência.

Essa passagem bíblica ressalta não apenas a confiança inabalável de Abraão na fidelidade divina, mas também sua disposição em agir de acordo com a palavra de Deus, independentemente das aparências contrárias. Essa mesma disposição vemos em Tamar, nora de Judá, que para prover descendência ao seu marido morto Er, justamente para que se cumprisse a promessa feita a Abraão, adotou a improvável estratégia de disfarçar-se como prostituta e deitou-se com seu sogro (Gênesis 38:25-26).

“Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; E daí também em figura ele o recobrou.” (Hebreus 11:17-19)

“(Como está escrito: Por pai de muitas nações te constituí) perante aquele no qual creu, a saber, Deus, o qual vivifica os mortos, e chama as coisas que não são como se já fossem. O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. E não enfraquecendo na fé, não atentou para o seu próprio corpo já amortecido, pois era já de quase cem anos, nem tampouco para o amortecimento do ventre de Sara. E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer. Assim isso lhe foi também imputado como justiça.” (Romanos 4:17-22).

É relevante observar que o apóstolo Paulo, o escritor aos Hebreus e Tiago analisaram diferentes momentos da vida de Abraão, enfocando eventos distintos. Paulo destaca o episódio em que Abraão precisou crer na palavra de Deus, enquanto Tiago e o autor de Hebreus enfatizam a oferta de Isaque sobre o altar.

No relato ressaltado por Paulo, a ênfase recai sobre a necessidade de Abraão confiar na promessa divina. Por outro lado, tanto Tiago quanto o escritor de Hebreus concentram-se na ação de Abraão em obedecer ao sacrificar Isaque. Esta dualidade de abordagens destaca a complexidade da fé de Abraão, que não se limitou apenas à aceitação intelectual da promessa, mas também se manifestou por meio de uma obediência ativa.

A ação de Abraão reflete sua convicção e aderência contínua à palavra de Deus, especialmente à promessa de que sua descendência seria numerosa. Ele não apenas creu na fidelidade da palavra divina, mas também permaneceu nela, reconhecendo-a como digna de total aceitação. Esta confiança profunda é fundamentada na fidelidade infalível de Deus, cuja palavra é verdadeira, e cuja natureza é imutável e poderosa, como afirmado em passagens bíblicas como 1 Timóteo 1:15, Hebreus 6:18 e 11:18.

A Escritura destacada por Tiago cumpriu-se com a seguinte promessa sob juramento:

“E disse: Por mim mesmo jurei, diz o SENHOR: Porquanto fizeste esta ação, e não me negaste o teu filho, o teu único filho, que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos; e em tua descendência serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz.” (Gênesis 22:16-18).

Verificar quando a palavra de Deus se cumpre, como observado por Tiago, é crucial porque fornece não apenas uma confirmação da fidelidade divina, mas também serve como um guia para a compreensão da relação entre fé e obediência. Examinar os momentos em que as promessas divinas são cumpridas ajuda a estabelecer uma base sólida para a confiança na palavra de Deus e demonstra como a obediência é vital para receber as bênçãos prometidas.

A análise do caso do rei Saul, um personagem bíblico agraciado com o reino, destaca a importância da obediência diante das promessas divinas. Embora tenha sido abençoado com o reinado, a desobediência de Saul às instruções claras de Deus resultou na perda do reino. Seu caso ilustra que a obediência é uma parte fundamental da resposta à graça e às bênçãos divinas.

Ao ser ungido, Saul recebeu sinais específicos de Deus, e a desobediência em um deles, o último, levou a consequências significativas. Sua decisão de não esperar por Samuel em Gilgal para oferecer sacrifício revelou não apenas uma quebra de confiança, mas também uma atitude de rebelião e idolatria (1 Samuel 10:2-8).

Portanto, a análise desses eventos bíblicos destaca a necessidade de não apenas afirmar que acredita em Deus, mas também de expressá-la através da obediência. A história de Saul adverte sobre os perigos da desobediência, mesmo para aqueles que receberam bênçãos notáveis, reforçando a ideia de que a verdadeira fé se manifesta na obediência sincera e confiante à palavra de Deus.

“ENTÃO tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e beijou-o, e disse: Porventura não te ungiu o SENHOR por capitão sobre a sua herança?” (1 Samuel 10:1);

“Por que, pois, não deste ouvidos à voz do SENHOR, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que parecia mau aos olhos do SENHOR? Então disse Saul a Samuel: Antes dei ouvidos à voz do SENHOR, e caminhei no caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente; Mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao SENHOR teu Deus em Gilgal. Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (1 Samuel 15:19-23).

Os filhos de Eli também eram alvos da promessa de Deus sobre a casa de Levi, mas por desobedecerem a Deus, ambos foram reprovados.

“Portanto, diz o SENHOR Deus de Israel: Na verdade tinha falado eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém agora diz o SENHOR: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão desprezados.” (1 Samuel 2:30).

Se Abraão não tivesse obedecido a ordem de Deus, ele não poderia ser honrado por Deus. Isto porque a palavra de Deus é clara:

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos.” (Êxodo 20:6);

“Saberás, pois, que o SENHOR teu Deus, ele é Deus, o Deus fiel, que guarda a aliança e a misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus mandamentos.” (Deuteronômio 7:9).

Abraão creu e guardou o mandamento de Deus, e como Deus é fiel, Ele tem guardado a aliança e a misericórdia que fez com Abraão até mil gerações, visto que ele amou a Deus, guardando os seus mandamentos.

“Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis.” (Gênesis 26:5).

 

Perseverar até o fim

“Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” (Mateus 24:13).

A temática da epístola de Tiago é a obediência. Logo no início, ele destaca a necessidade de perseverança, a obra completa da fé!

“Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações; sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência. Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma.” (Tiago 1:2-3).

A prova da fé (crença) de Abraão operou a perseverança, e o cristão precisa alcançar a perseverança, a obra perfeita da crença (fé).

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:23);

“Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.” (1 Pedro 5:9);

“Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.” (Colossenses 1:23);

“Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5:2).

Daí a observação de Tiago com relação ao evangelho:

“Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas. Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas. E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” (Tiago 1:18-25).

Tiago demonstra que o evangelho, a palavra da verdade, é o poder de Deus (semente) para regeneração (gerou) do homem. A mensagem de Tiago insta seus ouvintes a rejeitarem o judaísmo, identificado aqui como imundície e excesso de malícia, e a acolherem o evangelho com submissão e mansidão, reconhecendo-o como a palavra implantada capaz de salvar (conforme Efésios 1:13).

A ênfase de Tiago reside na necessidade de seus ouvintes não apenas ouvirem passivamente, mas obedecerem (cumprir) ativamente ao evangelho (palavra), evitando serem enganados por discursos falsos. A analogia do espelho ilustra que ser apenas ouvinte, sem a correspondente obediência, é como alguém que se observa no espelho e, logo em seguida, esquece a imagem que viu.

Em conclusão, Tiago recorre à vida de Abraão como exemplo, destacando a importância de atentar para a lei perfeita, a da liberdade, e perseverar nela, diferentemente dos preceitos de homens. A exortação é clara: a aplicação prática das ordens é fundamental, não bastando apenas ouvir. A ênfase recai na ação, reforçando a ideia de que a verdadeira obediência é cumprir o ordenado por Deus.

“E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza. E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra.” (Ezequiel 33:31-32).

Daí a parábola dos dois jovens:

“Mas, que vos parece? Um homem tinha dois filhos, e, dirigindo-se ao primeiro, disse: Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. Ele, porém, respondendo, disse: Não quero. Mas depois, arrependendo-se, foi. E, dirigindo-se ao segundo, falou-lhe de igual modo; e, respondendo ele, disse: Eu vou, senhor; e não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus. Porque João veio a vós no caminho da justiça, e não o crestes, mas os publicanos e as meretrizes o creram; vós, porém, vendo isto, nem depois vos arrependestes para o crer.” (Mateus 21:28-32).

Colocar por obras é obedecer. Quando Tiago destaca que “a fé sem obras é morta”, a obra sublinhada não se refere as obras da lei, mas sim à obra de obedecer à lei da fé. Confundir as obras destacada por Tiago com as obras da lei já é um despautério, mas quando se destaca as obras de Tiago como boas ações, aí é maldade com o texto bíblico. O exemplo de Abraão e Tamar, segundo a moral humana, não se classificam como boas ações.

O propósito de Tiago é evidente: ele busca ressaltar que assim como ser meramente um ouvinte da lei não resulta em justiça, também é crucial não se limitar a ouvir o evangelho, mas, de maneira essencial, é necessário aplicar ativamente a palavra de Deus na prática: crer em Cristo e não fazer acepção de pessoas.

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.” (1 João 3:23);

“Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados.” (Romanos 2:13).

A confusão entre as obras da lei e a obediência à lei da fé é um erro, pois Tiago destaca a importância de uma fé viva e ativa que se manifesta na obediência prática à palavra divina. Essa ênfase não se reduz a meras boas ações, até porque a ação de Abraão não era uma “boa ação” segundo a moral humana, mas abrange uma resposta diligente e obediente à vontade de Deus.

A abordagem de Tiago é feita pelo apóstolo Paulo nos mesmos termos quando escreve a Tito:

“Confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda a boa obra.” (Tito 1:16).

A conclusão de Tiago tem os mesmos elementos destacados pelo apóstolo Paulo:

“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma.” (Tiago 2:17).

Tiago está dizendo que confessar (dizer) conhecer a Deus, ou seja, que tem fé, mas negá-lo com as obras, é algo sem vida. Os seguidores de Moisés confessavam crer em Deus, mas obedeciam mandamentos de homens; eram dados a ouvir a lei, mas não praticavam.

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29 : 13)

O evangelista João também destaca essa verdade:

“Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.” (1 João 3:18).

Abraão não se limitava a palavras; sua vida era marcada por ações concretas, exemplificadas quando ele ofereceu Isaque como holocausto. Da mesma forma, Raabe destacou-se por suas obras, acolhendo os espias em sua casa e reunindo sua família no momento apropriado conforme foi orientada pelos espias (conforme Tiago 2:21 e 25).

 

Conclusão

A epístola de Tiago coloca a obediência no centro de sua mensagem. Desde o início, Tiago enfatiza a importância da perseverança, destacando a necessidade de ações conforme a fé em Cristo. Ele aborda a ideia de que a verdadeira fé não se manifesta apenas em palavras, mas obediência, que resulta em obras concretas.

Ao mencionar a “obra completa da fé”, Tiago destaca que a verdadeira fé vai além das meras declarações verbais; ela se traduz em ações consistentes com as convicções e princípios professados.

A ênfase na perseverança sugere uma fé que se mantém firme mesmo diante de desafios e provações, demonstrando a autenticidade e a solidez dessa confiança.

Portanto, a temática central de Tiago gira em torno da importância da obediência prática como expressão genuína da fé. A obra completa da fé, conforme destacada por Tiago, implica não apenas crer, mas também agir de acordo com essa crença, resultando em uma vida de obediência e perseverança diante das adversidades decorrentes da perseguição por causa do evangelho (1 Pedro 5:9).

Outro aspecto da epístola de Tiago são os exemplos utilizados, que para enfatizar a justificação pelas “obras”, não comporta o padrão de “boas ações”. Do ponto de vista da moral humana convencional, os exemplos de Abraão, Raabe ou Tamar podem ser considerados complexos e desafiadores, fugindo às tradicionais noções de boas ações.

No caso de Abraão, a disposição para oferecer seu próprio filho como sacrifício pode parecer, à primeira vista, moralmente ambígua. No entanto, à luz do contexto bíblico, essa ação é interpretada como uma demonstração radical de fé e obediência a Deus.

A narrativa de Raabe na Bíblia apresenta uma figura complexa e desafia as noções convencionais de moralidade. Raabe, inicialmente conhecida como uma prostituta, desempenha um papel notável ao esconder os espias enviados por Josué para espionar Jericó.

Embora a profissão de Raabe seja muitas vezes considerada moralmente reprovável na sociedade, sua ação de esconder os espias está em consonância com a narrativa bíblica que destaca sua coragem e fé. Raabe escolheu agir de maneira contrária ao seu povo e, ao fazer isso, demonstrou confiança na promessa do Deus de Israel.

A avaliação moral de suas ações pode variar, dependendo da perspectiva. Enquanto a prostituição é muitas vezes considerada imoral, a narrativa de Raabe enfatiza sua mudança de atitude e a decisão de se alinhar com o Deus de Israel. A Bíblia apresenta Raabe como uma mulher cujas ações surpreendentes transcendem as expectativas sociais e demonstram uma fé notável, mesmo em circunstâncias difíceis.

No que diz respeito a Tamar, disfarçar-se de prostituta para garantir descendência pode ser percebido como uma estratégia moralmente questionável. No entanto, dentro do contexto cultural e histórico da narrativa bíblica, essa ação é compreendida como uma tentativa corajosa de assegurar a continuidade da linhagem de seu falecido marido, cumprindo um papel crucial na trama da redenção.

Portanto, esses exemplos desafiam as noções convencionais de boas ações, destacando a complexidade e a profundidade das narrativas bíblicas, que muitas vezes transcendem as categorias morais humanas comuns. Eles ilustram como a compreensão dessas ações requer uma perspectiva mais ampla, considerando o contexto cultural, histórico e teológico em que ocorreram.

A fé (acreditar) de Abraão, combinada com sua obediência aos mandamentos de Deus, tinha uma base sólida, a fidelidade divina. Deus, em Sua fidelidade incomparável, tem mantido a aliança e a misericórdia que estabeleceu com Abraão ao longo de inúmeras gerações. Essa constância divina é um testemunho da relação especial que Abraão cultivou com Deus, fundamentada em seu amor e na diligência em obedecer aos mandamentos divinos.

“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade.” (Lamentações 3:22-23).

O compromisso duradouro de Deus com a aliança e a misericórdia, que remonta a Abraão, reflete não apenas a grandeza do amor de Deus, mas também a reciprocidade desse amor por parte de Abraão, evidenciada em sua obediência aos mandamentos divinos. O ato de amar a Deus ao observar fielmente Seus mandamentos selou uma aliança indissolúvel, firmado na imutabilidade e fidelidade de Deus.

Assim, a história de Abraão não é apenas um relato do passado, mas uma narrativa viva que ressoa através das gerações, demonstrando como a fé, o amor e a obediência formam os alicerces de uma aliança duradoura com o Deus fiel. Essa promessa se estende a mil gerações, destacando a natureza atemporal e imutável do compromisso divino com aqueles que, como Abraão, amam a Deus ao guardar os Seus mandamentos: alcançou os descendentes de Abraão segundo a carne, e trouxe bem-aventurança a todas famílias da terra.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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