Salmos I

Salmo 8 – O Senhor criador dos céus e da terra

Compartilhar:

Cristo foi “feito menor que os profetas” não porque Sua natureza fosse inferior, mas devido à humilhação voluntária que Ele enfrentou após assumir a forma humana e sofrer por nossa salvação.


Salmo 8 – O Senhor criador dos céus e da terra

“1 Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus! 2 Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador. 3 Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; 4 Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? 5 Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. 6 Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: 7 Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, 8 As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares. 9 Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!” (Salmo 8:1-9).

 

Introdução

Inicialmente, o Salmo 8 parece ser um hino de louvor a Deus por Sua grandeza e majestade reveladas através da criação. Contudo, ao considerarmos que Davi era um profeta inspirado por Deus, que também falava sobre eventos futuros como a vinda de seu descendente prometido, o Cristo, o Salmo adquire novos significados e dimensões.

“Sendo, pois, ele (Davi) profeta, e sabendo que Deus lhe havia prometido com juramento que do fruto de seus lombos, segundo a carne, levantaria o Cristo, para o assentar sobre o seu trono,” (Atos 2:30).

O fato de o rei Davi ser um profeta altera profundamente a nossa perspectiva sobre os Salmos, incluindo especialmente o Salmo 8. Além disso, é crucial considerar o que Jesus disse sobre as Escrituras em diferentes contextos.

“Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam;” (João 5:39);

“E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas e nos Salmos.” (Lucas 24:44).

O Salmo 8 é mencionado duas vezes no Novo Testamento: primeiro, quando as crianças no templo cantaram “Hosana ao Filho de Davi” e, segundo, na Epístola aos Hebreus, onde é enfatizado que Deus não entregou o mundo futuro aos anjos (Mateus 21:15; Hebreus 2:6-8). Além disso, há paralelos entre versículos do Salmo 8 e Gênesis 1:26.

Com essas informações, podemos agora explorar os mistérios contidos no Salmo 8.

O Senhor cujo nome é admirável em toda a terra

“1 Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” (Salmos 8:1).

Considerando o Salmo 110, onde Davi ouve o Senhor dizer ao seu Senhor para se assentar à Sua direita, surge a questão de qual “Senhor” o salmista está tratando no Salmo 8. É certo que Davi não se refere a si mesmo, conforme está escrito:

“Porque Davi não subiu aos céus, mas ele próprio diz: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,” (Atos 2:34).

Da mesma forma, Jesus confrontou os escribas e fariseus sobre o Cristo, especialmente sobre quem é o Filho de quem. Os fariseus afirmaram que o Cristo é Filho de Davi, conforme testemunhado pelas Escrituras (2 Samuel 7:14). Jesus então os questionou, levantando o ponto de que se o Cristo é filho de Davi, por que Davi, inspirado pelo Espírito, o chama de Senhor. Ao citar o Salmo 110:1, Jesus deixou claro que este versículo especificamente testifica que o Cristo é Senhor até mesmo de Davi.

“E, estando reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus, dizendo: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi. Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés? Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho? E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo.” (Mateus 22:41-46).

Sabemos que Cristo é o Senhor exaltado acima das nações e até mesmo dos céus (Salmo 113:4; Hebreus 1:4; Filipenses 2:9-10). Nosso objetivo é verificar se o Salmo 8 se refere ao Altíssimo ou a Cristo, o Verbo que se fez carne.

O perfeito louvor na boca das criancinhas

“2 Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador.” (Salmo 8:2).

Certa feita Jesus entrou no templo de Salomão e expulsou aqueles que estavam comprando e vendendo, citando as Escrituras para repreendê-los:

“Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” (Isaías 56:7; Jeremias 7:11).

Logo após, diversas pessoas enfermas chegaram e Jesus as curou. Os principais sacerdotes e os fariseus, vendo os milagres de Jesus e ouvindo as crianças clamando “Hosana ao Filho de Davi”, ficaram indignados e pediram para que Jesus as repreendesse.

Jesus, porém, confirmou que ouvia as crianças clamando Hosana e questionou os líderes se não haviam lido nas Escrituras que “Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor” (Mateus 21:12-16).

Pelo contexto, Jesus se identifica como o Senhor mencionado pelo salmista, aquele que ordenou força na boca das criancinhas e dos que mamam, isto é, da boca dos pequeninos Ele inspirou o perfeito louvor. Esse louvor é tão poderoso que pode silenciar o inimigo e o vingador. É um clamor por socorro, uma petição de ajuda àquele que veio em nome do Senhor: Jesus Cristo, o Filho de Davi!

O Senhor cujo nome é admirável em toda a terra, e que colocou a sua glória sobre os céus, diz do Verbo eterno que se fez carne e veio em nome do Senhor. As criancinhas ao cantarem “Hosanas ao filho de Davi” produziam o perfeito louvor!

Ao invocarem a Cristo como aquele que veio em nome do Senhor, as criancinhas estavam invocando o nome do Senhor, ou seja, oferecendo sacrifícios de louvor.

“Oferecer-te-ei sacrifícios de louvor, e invocarei o nome do SENHOR.” (Salmos 116:17);

“Hosana ao Filho de Davi” é o fruto dos lábios (confissão) que admite que Jesus de Nazaré é o Filho de Deus, o perfeito sacrifício de louvor. Reconhecer Jesus de Nazaré como o Filho de Deus e o perfeito sacrifício de louvor, a adoração genuína proveniente dos lábios.

“Portanto, ofereçamos sempre por ele a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome.” (Hebreus 13:15).

O criador dos céus e da terra

“3 Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste;” (Salmo 8:3).

O salmista Davi, ao mencionar que o Senhor suscita força da boca das criancinhas, em espírito estava profetizando sobre o Verbo eterno que criou todas as coisas.

As perguntas do versículo seguinte só encontram resposta quando se compreende que Jesus é o Verbo encarnado, que desde a eternidade estava junto ao Pai e participou na criação de todas as coisas.

“NO princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.” (João 1:1-3);

“O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele.” (Colossenses 1:15-17);

“HAVENDO Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” (Hebreus 1:1-3).

O escritor aos Hebreus citou o Salmo 102, especificamente os versículos 25 a 27, demonstrando que Cristo é o Senhor que fundou a terra e os céus, que são obras de suas mãos. Essa passagem é interpretada como referência ao Filho de Deus, que é o Criador dos céus e da terra antes de sua encarnação.

Isso enfatiza a preexistência de Cristo e sua participação ativa na criação do universo, evidenciando sua divindade e soberania desde antes da sua manifestação humana.

“E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, E os céus são obra de tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; E todos eles, como roupa, envelhecerão, e como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, E os teus anos não acabarão.” (Hebreus 1:10-12; Salmos 102:25-27).

 

O homem mortal e o Filho do homem

“4 Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?” (Salmo 8:4).

Dada a sua aparente insignificância, qual é a posição do homem mortal para merecer a lembrança do Senhor, cujo nome é glorioso sobre a terra? No entanto, o homem mortal é essencial para o eterno propósito que Deus estabeleceu em Cristo desde tempos imemoriais. A criação do homem remonta à eternidade, quando Deus, segundo o conselho e a vontade benevolente de Si mesmo, determinou reunir todas as coisas em Cristo na plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra (cf. Efésios 1:9-10).

Para concretizar esse plano divino de reunir todas as coisas em Cristo, foi do agrado da divindade exaltá-lo grandemente, conferindo-lhe supremacia sobre todos os principados, potestades, domínios e sobre todo nome que se possa nomear, não apenas no presente, mas também no futuro (Efésios 1:21).

Em suma, Deus decretou que todas as coisas estivessem sujeitas a Cristo, que é a cabeça da igreja, seu corpo (Efésios 1:22). Para compreender a sublime posição de Cristo como a cabeça da igreja, é relevante destacar que abaixo da igreja estão todas as demais coisas, tais como principados, potestades, domínios e todo nome que se nomeie, enquanto acima da igreja, para ter preeminência em tudo, está Jesus Cristo ressurreto.

“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Colossenses 1:18).

Para que Cristo possa ter ascendência sobre todas as coisas, exceto a própria divindade, é necessário que haja alguém que seja semelhante a Ele. Esta questão será plenamente resolvida no dia do arrebatamento da igreja, quando Cristo se manifestará em toda a Sua glória, e os salvos serão transformados à Sua imagem gloriosa. Neste dia, os redimidos serão semelhantes a Ele, cumprindo assim o propósito de Deus de reunir todas as coisas em Cristo, tanto no céu como na terra.

“Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” (Colossenses 3:4);

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.” (1 João 3:2).

Apenas aqueles que são nascidos de novo da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, são chamados com uma santa vocação para o propósito eterno, no qual Cristo é exaltado como o mais sublime entre os sublimes, o primogênito entre muitos irmãos.

Assim, aqueles que são regenerados pela palavra de Deus tornam-se eleitos de Deus para serem santos e irrepreensíveis, predestinados a serem conformados à imagem de Cristo. Dessa forma, Cristo será o primogênito entre muitos irmãos que são semelhantes a Ele.

“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:28).

Através da benção da predestinação, realiza-se o que foi declarado pelo apóstolo Paulo sobre o tipo de corpo que aqueles que ressuscitam dos mortos terão, e que características ele possuirá:

“Assim também a ressurreição dentre os mortos. Semeia-se o corpo em corrupção; ressuscitará em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com poder. Semeia-se corpo natural, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. (…) O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.” (1 Coríntios 15:42-44 e 47-49).

Este é o cumprimento da promessa de que aqueles que são predestinados serão transformados à imagem gloriosa de Cristo, recebendo um corpo incorruptível, glorioso, poderoso e espiritual na ressurreição.

Mas, para que existam homens espirituais, revestidos de incorruptibilidade e imortalidade, foi primeiro necessário que Deus criasse o homem terreno, ou seja, o homem mortal. Sem o homem mortal, que é natural, não seria possível a existência dos homens espirituais, como mencionado pelo apóstolo Paulo:

“Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual.” (1 Coríntios 15:46).

É necessário que haja homens mortais para que Deus, através do evangelho, possa gerar homens espirituais, pois Ele usa a mesma humanidade (massa) que foi moldada para ser vasos de desonra para também criar vasos de honra, como ensinado pelo apóstolo Paulo em Romanos 9:21.

É em virtude do propósito eterno estabelecido em Cristo de torná-Lo preeminente em tudo, como o primogênito entre muitos irmãos, que Deus, ao criar o homem mortal no Jardim do Éden, expressou Sua vontade: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança;” (Gênesis 1:26), que se concretiza em Cristo, que é a imagem perfeita do Deus invisível.

Somente Cristo ressurreto, que é o resplendor da glória de Deus, e os muitos filhos que Ele conduziu à glória de Deus, são feitos à expressa imagem e semelhança de Deus. Assim, o propósito da criação foi estabelecido por Deus antes da criação do homem mortal.

O livro de Gênesis registra que Deus criou o homem mortal à Sua imagem, formando o primeiro homem, Adão, do barro (Gênesis 1:27). No entanto, é importante notar que Deus criou todas as coisas através do Verbo eterno, e portanto, o homem mortal foi criado à imagem do Filho do Homem que haveria de vir. Esta criação do homem mortal é significativamente distinta de ser gerado de novo e revestido da expressa imagem e semelhança do Deus invisível.

“No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir.” (Romanos 5:14).

“Aquele que havia de vir”, do qual Adão é uma figura, refere-se ao Filho do Homem, e Adão foi criado à imagem que o Verbo eterno haveria de assumir entre os homens mortais. Ao moldar o barro do qual Adão foi feito, o Verbo eterno, que criou todas as coisas, predestinou todos os nascidos de mulher, inclusive Cristo, que foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, a serem conformados à imagem do homem terreno.

Desde a criação de Adão, Deus planejou e predestinou que a humanidade, incluindo Cristo como um homem entre os homens, refletiria a imagem e a natureza do homem terreno. Com relação aos bens futuros, Deus predestinou em Cristo que todos os homens salvos por meio do evangelho, que é o poder de Deus para a salvação daqueles que creem, serão conformados à expressa imagem de Cristo.

Originalmente, o homem e a mulher foram criados para o propósito de Deus estabelecido em Cristo (Efésios 3:11). No entanto, com a desobediência de Adão, a humanidade falhou em permanecer no padrão estabelecido por Deus, que é ser participante da natureza divina. Assim como um fruto que não atende ao padrão estabelecido para o consumo é considerado impróprio, todos os descendentes de Adão pecaram porque a consequência do pecado, que é a morte, passou a todos os homens, tornando-os inadequados para o propósito de Deus em Cristo.

“Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.” (Romanos 5:12).

Embora a humanidade tenha caído sob o domínio do pecado e permanece presa às cadeias da morte, por causa do propósito eterno estabelecido em Cristo, Deus não se esqueceu do homem mortal; pelo contrário, Ele providenciou a salvação através de Cristo, o Cordeiro de Deus conhecido antes da fundação do mundo.

O pecado afetou toda a humanidade, deixando todos os homens em um estado de separação de Deus e incapazes de serem utilizados para o propósito de Deus. No entanto, através de Cristo e da obra do evangelho, Deus providenciou o caminho para restaurar a comunhão perdida daqueles que creem. Agora, mediante Cristo, os crentes podem ser transformados à imagem de Seu Filho para cumprir Seu propósito eterno.

“Mas fostes resgatados pelo precioso sangue de Cristo, como de Cordeiro sem mácula ou defeito algum, conhecido, de fato, antes da criação do mundo, porém revelado nestes últimos tempos em vosso favor.” (1 Pedro 1:19-20).

Deus providenciou uma salvação poderosa na casa de Davi, conforme prometido a Abraão. Todos aqueles que creem em Cristo, segundo a mensagem do evangelho, são batizados em Sua morte e sepultados com Ele, ressurgindo assim como uma nova criatura juntamente com Cristo. Esta nova criatura é santa e irrepreensível, participante da geração eleita e predestinada a ser conformada à imagem de Cristo, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.

O título “Filho do Homem” é uma das designações do Messias utilizadas pelos profetas e pelo próprio Jesus, que responde a pergunta: Que é o Filho do homem para que ele seja nomeado/visites?

Ao perguntar aos Seus discípulos o que as pessoas diziam sobre Ele, Jesus empregou a expressão “Filho do Homem” para se referir a Si mesmo.

“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista; outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mateus 16:13-16).

O título “Filho do Homem” nas Escrituras remonta à promessa feita no Éden, onde foi profetizado que a semente da mulher iria esmagar a cabeça da serpente (Gênesis 3:15). O Verbo eterno, despojado de Sua glória e poder, veio a ser conhecido como o Filho do Homem. Por outro lado, o Filho do Homem, revestido de Sua glória desde antes da criação do mundo, é a expressa imagem do Deus invisível.

“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” (João 17:5).

O Verbo eterno, ao despir-se de Sua glória, foi introduzido no mundo pelo Espírito Santo e passou a existir como homem, sob a proteção do Altíssimo (conforme referido em Salmo 91:1).

“Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.” (Salmo 22:9-10);

“O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. O sol não te molestará de dia nem a lua de noite. O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.” (Salmo 121:5-8).

As promessas dos Salmos se referem ao Filho do Homem, que esteve sob a proteção divina. O Pai tornou-se como a sombra à direita do Filho do Homem, guardando Sua entrada no mundo dos homens e Sua saída quando Ele entregou Seu espírito ao Pai.

 

Menor que os anjos

“5 Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste.” (Salmo 8:5).

O Salmo 8 aborda tanto os homens mortais quanto o Filho do Homem. Quando o Unigênito de Deus foi introduzido no mundo, Ele se tornou completamente semelhante aos homens, participando da carne e do sangue e sujeitando-se às mesmas fraquezas e tentações (Hebreus 2:14, 18; 4:15).

O versículo 5 do Salmo 8 apresenta duas condições contrastantes em relação ao Filho do Homem: Ele é descrito como um pouco inferior aos anjos por um período, e ao mesmo tempo, é exaltado com glória e honra.

“Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu parecer estava tão desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua figura mais do que a dos outros filhos dos homens.” (Isaías 52:13-14).

A coroação de Cristo com glória e honra ocorreu quando Ele se assentou à direita da Majestade nas alturas, conforme convidado por Deus. Após completar a obra que o Pai lhe confiou, Jesus mesmo pediu ao Pai que lhe concedesse essa honra: ser glorificado com a mesma glória que Ele tinha antes da existência do mundo.

“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse.” (João 17:5);

“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Hebreus 2:8).

Para analisar o verso 5 do Salmo 8, que diz: “Pois pouco menor o fizeste do que os anjos”, é importante considerar três elementos principais da frase. Analisaremos o Salmo 8:5 e sua relação com a epístola aos Hebreus, considerando os elementos mencionados:

מְעַט (meh-at’) – “pouco”: Este termo hebraico pode ser traduzido como “pouco” ou “por um pequeno momento”. No contexto do Salmo 8 e da citação em Hebreus, sugere que Cristo assumiu uma função temporária ou uma posição inferior por um período breve.

חָסֵר (chaser) – “menor”: Este termo hebraico implica em tornar algo inferior. O escritor aos Hebreus expressou isso através do verbo grego ἐλαττόω (elattoó), que significa ser inferior em dignidade, autoridade ou posição.

אֱלֹהִים (elohim) – “anjos”: Este termo hebraico pode referir-se a divindades, anjos, juízes ou outros seres poderosos. No contexto de Hebreus, o escritor utilizou o termo grego ἄγγελος (aggelos), que significa “anjo” ou “mensageiro”.

Analisando o versículo, a parte “b”, “ser coroado de honra e glória’, é consequência da parte “a”, “ter sido feito por pouco tempo menor que os profetas”.

תְּחַסְּרֵ֣הוּ מְּ֭עַט מֵאֱלֹהִ֑ים וְכָבֹ֖וד וְהָדָ֣ר תְּעַטְּרֵֽהוּ׃ Psalm 8:5 – Hebrew Study Bible

ηλαττωσας αυτον βραχυ τι παρ αγγελους δοξη και τιμη εστεφανωσας αυτον και κατεστησας αυτον επι τα εργα των χειρων σου Hebreus 2:7 – Scrivener’s Textus Receptus (1894)

Após citar o Salmo 8, verso 5, o escritor dá a seguinte explicação:

“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Hebreus 2:9).

A ideia expressa pelo escritor aos Hebreus não se alinha à noção de que Jesus foi feito ligeiramente inferior aos seres angelicais ao encarnar como homem. O objetivo é destacar que, ao se tornar homem, Jesus assumiu temporariamente uma posição inferior à dos profetas ao se humilhar. Ser “feito um pouco menor que os anjos” refere-se ao fato de que, ao assumir a forma humana, Cristo se humilhou a Si mesmo, sendo obediente até a morte. Isso não implica que quando Ele se esvaziou e tomou a forma de servo se fez menor que os anjos, pois no ato de se esvaziar apenas se tornou semelhante aos homens.

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; No entanto, após Sua morte e ressurreição, Ele foi exaltado e coroado com glória e honra, colocando todas as coisas debaixo de Seus pés.” (Filipenses 2:6-10).

Analisando a abordagem do escritor aos Hebreus, percebe-se que ele demonstrou que a palavra anunciada pelos profetas aos pais permaneceu firme e recebeu a justa punição, missão que não foi dada aos seres angelicais (Hebreus 1:1 e 2:2). As citações dos Salmos no capítulo 1 da epístola aos Hebreus referem-se aos profetas da Antiga Aliança como mensageiros e ministros, como é descrito em outras passagens bíblicas.

“Logo, para que é a lei? Foi ordenada por causa das transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinha sido feita; e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro.” (Gálatas 3:19);

“Vós, que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes.” (Atos 7: 53).

Observe que a lei foi entregue ao povo de Israel por intermédio de Moisés, que era um mensageiro de Deus, e não por seres celestiais.

O “culto dos anjos” não passa de uma forma de honrar os profetas da Antiga Aliança, já que os seguidores do judaísmo não praticavam idolatria nesse sentido. Na verdade, os escribas e fariseus demonstravam sua reverência pelos profetas construindo túmulos e ornamentando sepulturas, o que pode ser visto como uma forma de “culto”.

“Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão,” (Colossenses 2:18).

Nesse sentido, quando algumas pessoas leem “para as quais coisas os anjos desejaram atentar”, podem interpretar que os anjos desejavam pregar o evangelho. No entanto, na verdade, os profetas da Antiga Aliança somente não compreendiam completamente a mensagem que anunciavam, e eles desejavam entender mais profundamente as coisas que ministravam.

“Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar.” (1 Pedro 1:12).

A menção no Salmo sobre Cristo ser “feito menor” implica que Ele foi considerado inferior em dignidade, autoridade e popularidade ao desempenhar missão na qualidade de o “menor no reino dos céus”. Essa descrição não se refere à natureza humana de Cristo sendo inferior à dos seres angelicais ou dos demais homens. O Salmo não compara a natureza humana de Jesus Cristo com a natureza espiritual dos seres celestiais.

Cristo foi feito “um pouco menor” que os profetas devido à missão única que Ele veio cumprir, que era diferente da dos demais homens, incluindo os profetas. Ele veio para realizar uma obra que O colocaria como objeto de desprezo entre os homens, conforme profetizado por Isaías, que descreveu Cristo como alguém desprovido de beleza e atratividade aos olhos humanos, e que foi rejeitado pelo seu próprio povo (Isaías 53:2-3).

Essencialmente, Cristo foi considerado inferior aos “anjos” (profetas) porque, enquanto os anjos (profetas) clamaram por salvação e foram socorridos, confiando e não sendo confundidos, Cristo assumiu a posição de um “verme”, sujeito ao opróbrio dos homens e ao desprezo de seu próprio povo.

Portanto, Cristo foi “feito menor que os anjos” não porque Sua natureza fosse inferior, mas devido à humilhação voluntária que Ele enfrentou após assumir a forma humana e sofrer por nossa salvação.

“E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.” (Lucas 7:28).

“E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um vermezinho!” (Jó 25:6);

“Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.” (Salmos 22:4-6).

“Não temas, tu verme de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o SENHOR, e o teu redentor é o Santo de Israel.” (Isaías 41:14).

O adjetivo grego βραχύς (brachus), que significa “por pouco tempo”, indica que Cristo assumiu uma função temporariamente inferior à dos profetas. Isso significa que, ao ser introduzido no mundo com a missão que lhe foi atribuída, Cristo foi temporariamente colocado em uma posição inferior em relação aos profetas (אֱלֹהִים / elohim), um termo hebraico que pode se referir a deuses, anjos, nobres, juízes, poderosos, governantes e outros.

 

Domínio sobre todas as coisas

“6 Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: 7 Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, 8 As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares.” (Salmo 8:6-8).

No Gênesis, Deus abençoou o homem terreno, Adão, capacitando-o a reproduzir e povoar a terra, e lhe deu autoridade para dominar sobre os animais, peixes e aves.

“E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.” (Gênesis 1:28).

Muito tempo depois, o Salmista Davi, inspirado pelo Espírito, profetizou sobre o Filho do homem a quem seria concedido o domínio sobre as obras das mãos de Deus, com tudo sendo posto debaixo de seus pés. Esse domínio de Cristo abrange todas as coisas, pois nada está excluído de sua autoridade, diferentemente do domínio dado a Adão no Éden.

“Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito.” (Hebreus 2:8).

Com relação ao Filho de Deus, essas são as promessas:

“E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído.” (Daniel 7:14);

“O teu reino é um reino eterno; o teu domínio dura em todas as gerações.” (Salmos 145:13);

“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.” (Mateus 28:18).

“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja,” (Efésios 1:20-22).

O nome admirável sobre toda terra

“9 Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!” (Salmo 8:9).

Jesus, por sua obediência até a morte, alcançou um nome glorioso que é exaltado sobre toda a terra. Ele foi soberanamente exaltado pelo Pai, recebendo um nome que está acima de todo nome.

“Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2:9-11).

Ao obedecer integralmente ao Pai como Servo do Senhor, Cristo foi exaltado e elevado grandemente por Deus.

“Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime.” (Isaías 52:13);

“Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra.” (Salmos 89:27).

Por ter sido assentado à direita do Onipotente nas alturas, Cristo alcançou um nome glorioso que é admirado sobre toda a terra.

“Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés.” (Salmo 110:1);

“O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências.” (1 Pedro 3:22).

A máxima posição de exaltação de Cristo foi assumir o papel de cabeça do corpo, que é a igreja. Entre muitos irmãos semelhantes a Ele, Ele é reconhecido como o primogênito, uma posição de preeminência entre semelhantes.

“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Colossenses 1:18).

Como está escrito: “Tudo puseste debaixo de seus pés”, nada fica excluído, e é por isso que Ele é a cabeça do corpo.

“E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade;” (Colossenses 2:10);

“Que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro; E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.” (Efésios 1:20-23).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *