Somente os que primeiro ‘conheceram’ a Deus por intermédio do evangelho são predestinados à filiação divina. Mas, como ainda ‘não é manifesto o que havemos de ser’, uma coisa é certa, toda a criação está numa ardente expectação esperando a manifestação dos filhos de Deus “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” ( Rm 8:19 ).
Descubra o que poucos cristãos sabem sobre salvação e filiação divina
Conteúdo do artigo
“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” ( Ef 1:13 )
Nova Criatura
Após ouvir a mensagem do evangelho (fé) e crer em Cristo os cristãos passaram a estar em Cristo “É nele que vós também estais…” (v. 1 ), ou seja, após ouvir e crer no evangelho da salvação todos os cristãos efetivamente passara a ser uma nova criatura ( 2Co 5:17 ).
O apóstolo Paulo é categórico ao afirmar: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é” ( 2Co 5:17 ). Qualquer que está em Cristo, ou seja, que é uma nova criatura goza de uma nova condição. O que motivou o apóstolo dos gentios a bendizer a Deus no verso 3 “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” ( Ef 1:3 ).
Ao que parece, os cristãos em Éfeso desconheciam que estar em Cristo, ou seja, ser uma nova criatura, lhes concedia nova condição, pois o apóstolo teve que afirma de modo contundente que eles também estavam em Cristo após ouvir e crer na mensagem do evangelho.
Esta abordagem incisiva do apóstolo dos gentios deixa evidente o contexto do capítulo 1 da carta aos Efésios. Ele estava tratando especificamente das benesses pertinentes à nova criatura, posição recém adquirida pelos cristãos por estarem em Cristo.
Quem foi abençoado com todas as bênçãos espirituais? Os cristãos! Quem estava assentado nas regiões celestiais? Os cristãos!
E porque os cristãos foram abençoados com todas as bênçãos e gozavam de um lugar de descanso (assentados)? Porque estavam em Cristo, porque eram novas criaturas, ou seja, o apóstolo estava abordando questões especificas à nova criatura.
Ao dizer: ‘É nele que vós também estais…’, o apóstolo procura demonstrar que:
a) Eles foram abençoados com todas as bênçãos, e;
b) que estavam assentados nas regiões celestiais, porque foram gerados de novo e eram novas criaturas.
Faz-se necessário destacar que no Capítulo 1 da carta aos Efésios em momento algum o apóstolo dos gentios faz referencia ao homem sem Cristo. Todas as bênçãos espirituais pertencem aos que estão em Cristo! Somente os que são novas criaturas descansaram de todas as suas obras, ou seja, estão assentados!
Somente aqueles que ouviram a mensagem do evangelho e creram em Cristo, ou seja, que estão n’Ele, e que, portanto, são novas criaturas, são os eleitos de Deus. Observe que o apóstolo está tratando de questões pertinentes à nova criatura: “… nos elegeu n’Ele…”, ou seja, antes da fundação do mundo Deus determinou que, aqueles que estariam em Cristo, ou seja, que seriam novas criaturas, haveriam se ser santos e irrepreensíveis.
Deus escolheu a nova criatura para ser santa e irrepreensível diante d’Ele. Para ser eleito de Deus é necessário estar em Cristo, ou seja, é necessário ouvir e crer na mensagem do evangelho. Quando não se está em Cristo é impossível ser eleito de Deus. Como a posição de eleito é pertinente somente à nova criatura, segue-se que o pecador não preenche o quesito da eleição, pois jamais a velha criatura, alguém que ainda não está em Cristo, seria eleita para ser santa e irrepreensível.
Quando o apóstolo Paulo trata da eleição, ele diz da nova criatura, pois o pecador, o velho homem, a natureza pecaminosa não é escolhida por Deus. Como Deus elege o homem em pecado para ser santo e irrepreensível se ele precisa ser desfeito para surgir uma nova criatura? ( Rm 6;6 ). Deus não elege o homem sob o domínio do pecado porque o velho homem precisa morrer para Deus possa criar o novo homem em Cristo Jesus.
Como Deus escolheria o homem em pecado, se Deus elege o homem somente quando se está em Cristo? Se Deus “… nos elegeu n’Ele…”, acaso Cristo é ministro do pecado? Não! O homem em pecado não foi escolhido para ser santo e irrepreensível, antes, a nova criatura, aquele que está em Cristo, é a escolhida para ser santa e irrepreensível.
Jamais Deus elegeria ou predestinaria os homens sob o pecado, pois antes de ser servo da justiça o velho homem precisa ser crucificado e sepultado com Cristo. Se o velho homem é destruído para que o cristão tenha um encontro com Deus, como o homem em pecado pode ser escolhido ou predestinado?
A relação de equivalência na asserção:
a) ‘…se alguém está em Cristo…’, e;
b) ‘… nova criatura é’,
A relação a=b e b=a possibilita substituir no capítulo 1 da carta aos Efésios o ‘estar em Cristo’ por ‘nova criatura’.
Com a substituição teríamos a seguinte abordagem:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais por sermos uma nova criatura; Como também nos elegeu por sermos uma nova criatura antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele por sermos novas criaturas; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si por sermos novas criaturas. Por sermos novas criaturas temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça (…) novas criaturas vocês também são, depois que ouvistes a palavra da verdade…”.
O apóstolo procurou demonstrar aos cristãos em Éfeso que as benesses de Deus são pertinentes à nova criatura. Quando se admiti que, só após ser uma nova criatura é que se está de posse da redenção pelo sangue e da remissão das ofensas, tem-se que admitir também que só o homem em Cristo (nova criatura) assume a condição para a qual é eleito: santo e irrepreensível.
Tudo que foi demonstrado pelo apóstolo Paulo no capítulo 1 de Efésios refere-se aqueles que, primeiro esperaram em Cristo “… nós os que primeiro esperamos em Cristo” ( Ef 1:12 ).
Quando o apóstolo Paulo menciona ‘… os que primeiro esperamos em Cristo’, não se refere aos apóstolos ou aos pais da igreja, antes diz daqueles que receberam as bênçãos porque ‘primeiramente’ creram em Cristo. Quando o homem crê em Cristo passa a ‘conhecer a Deus, ou antes, é conhecido d’Ele’. Primeiro é necessário ao homem crer em Cristo (esperar, permanecer na palavra, ser discípulo), para depois conhecê-lo “Então, conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” ( Jo 8:32 ).
Quem foi abençoado com todas as bênçãos espirituais? Os cristãos! ‘Nos abençoou’, ou seja, o pronome na primeira pessoa do plural ‘nós’ demonstra que Deus abençoou ‘os que primeiro esperamos em Cristo’. Quem foi assentado nas regiões celestiais? ‘Nós’, ou seja, aqueles que foram feitos novas criaturas. Quem são os eleitos? ‘Nós’, ou seja, os que creram em Cristo! Quem é predestinado a ser filhos por adoção? ‘Nós’, os que esperamos em Cristo!
Segundo a riqueza da sua graça, Deus concedeu:
- Sabedoria e prudência aos cristãos;
- Revelou a sua vontade;
- Foram feitos herdeiros, e;
- Constituem-se louvor à Sua glória.
A quem Deus concedeu estas bênçãos? Aos que primeiramente esperaram em Cristo, ou seja, aos cristãos! Em momento algum o apóstolo Paulo faz referencia aos não cristãos.
No capítulo 1 da epístola aos Efésios, o apóstolo Paulo deixa registrado tudo o que é pertinente à nova criatura, ou seja, ele faz alusão à nova condição pertinente aos cristãos, aqueles que esperam em Cristo, e que, apesar de desconhecer as benesses desta nova condição, também eram nova criaturas e necessitavam se conscientizar do que receberam após crer no evangelho ( Ef 1:13 ).
Tudo que o apóstolo dos gentios demonstra tem por sujeito os cristãos, sendo utilizada a primeira pessoa do plural (nós) para fazer referencia a tudo quanto os cristãos receberam após estarem em Cristo.
O que o apóstolo faz é lançar luz aos olhos do entendimento dos cristãos, para que eles soubessem o montante (todas) de benesses que receberam ao aceitar o chamado do Senhor segundo o evangelho ( Ef 1:18 ). O apóstolo assim o faz porque os cristãos de Éfeso desconheciam a riqueza da glória da herança de Deus nos santos.
Eles deviam saber que, o poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos foi o mesmo que operou sobre os cristãos por terem crido na mensagem do evangelho ( Ef 1:20 ), e que o mesmo Deus que fez o Senhor Jesus assentar a sua direita, também fez com que os cristãos assentassem nas regiões celestiais ( Ef 2:6 ).
O apóstolo Paulo escreveu aos santos e fiéis em Cristo, ou seja, escreveu àqueles que são novas criaturas, que estão assentados nas regiões celestiais, que são herdeiros e herança, selados com o espírito santo da promessa, redimidos do pecado, gerados de novo para serem filhos por adoção (predestinados) e de posse da irrepreensibilidade e santidade que só é próprio aos de novo gerados em Cristo (eleitos).
Deus escolheu de antemão todos os que seriam gerados de novo para serem irrepreensíveis e santos. Deus predestinou todos os que seriam gerados de novo, segundo Cristo, para serem filhos de Deus por adoção.
Nenhuma destas benesses é pertinente aos filhos de Adão. Os filhos de Adão são imundos e infiéis. Não são eleitos e nem predestinados. Foram amaldiçoados e são cansados e oprimidos, ou seja, não encontraram descanso. Não são herança e nem herdeiros de Deus.
Como Cristo foi eleito para conduzir muitos filhos a Deus ( Hb 2:10 ), e antes mesmo da fundação do mundo fora ofertado como cordeiro imaculado ( Ap 13:8 ), de antemão Deus elegeu (escolheu) os descendentes do último Adão, que é Cristo, para serem santos e irrepreensíveis, ou seja, elegeu aqueles que primeiro esperam em Cristo.
De igual modo, Deus estabeleceu os descendentes do Descendente, que é Cristo, como sua herança peculiar e os predestinou para serem filhos por adoção “… com o fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo” ( Ef 1:12 e Ef 1:5 ).
A condição de filhos por adoção é para louvor e glória da sua graça, uma vez que os cristãos foram feitos agradáveis a Deus por esperarem em Cristo, ou seja, primeiro crerem na mensagem do evangelho e foram de novo criados, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade, ou seja, irrepreensíveis e santos ( Ef 4:24 ). Ao crer na mensagem do evangelho, os cristãos receberam poder para serem feitos filhos de Deus, tornando-se agradáveis a Deus através do Amado Senhor Jesus Cristo ( Jo 1:12 ).
Velha Criatura
No capítulo 1 da epístola aos Efésios, o apóstolo Paulo trata somente do que é pertinente aos cristãos. No capítulo 2, o apóstolo trás a lembrança dos cristãos qual era a condição deles antes de crer no evangelho de Cristo.
Após demonstrar aos cristãos que eles eram obras realizadas por Deus, criados em Cristo Jesus “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” ( Ef 2:10 ), o apóstolo Paulo fez com que lembrassem que, houve um tempo em que todos não tinham esperança “Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados incircuncisão pelos que na carne se chamam circuncisão feita pela mão dos homens; Que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” ( Ef 2:11 -12).
Ora, se noutro tempo os cristãos não tinham esperança, segue-se que nenhum deles era eleito ou predestinado à salvação aos moldes do que foi alardeado pelos reformadores, pois, se assim fosse, todos eles tinham uma esperança.
Como nova criaturas, os cristãos vivem um novo tempo de justiça, e paz e alegria no Espírito Santo ( Rm 14:17 ). Após ser gerado de novo, o calendário de medição do tempo do novo homem também muda. Ao fazer referencia a antiga condição, o apóstolo Paulo diz: “Noutro tempo”, ou “outrora”.
Quando os cristãos estavam sem Cristo eram estranhos à aliança da promessa, não tinham esperança, estavam sem Deus, e, por natureza, eram filhos da ira ( Ef 2:12 e Ef 2:2 -3).
Todos os homens gerados de Adão são filhos da desobediência, e, portanto, filhos da ira. Não têm esperança, pois entraram por uma porta larga que os conduz à perdição. Todos quantos querem ser salvos, precisam entrar pela porta estreita, que é Cristo, ou seja, precisam nascer de novo.
O último Adão é a porta estreita (por onde os homens entram e são conduzidos à salvação), e o primeiro Adão a porta larga (por onde os homens entram e são conduzidos à perdição).
Se a eleição e a predestinação fossem aos moldes da doutrina calvinista ou arminianista contrariaria o exposto pelo apóstolo Paulo, uma vez que alguns homens sempre estiveram de posse de uma garantia. Estes seriam filhos da desobediência, porém, não seriam filhos da ira. Nunca seriam perdidos de fato, pois antes mesmo de serem gerados já estavam destinados a salvação.
Mas, não é assim a verdade do evangelho, visto que, quanto ao trato passado (condição), todos os cristãos estavam efetivamente mortos, e, portanto, perdidos ( 1Co 15:22 ). A salvação se da através das boas novas do evangelho, ou seja, alguém anuncia as boas novas do evangelho e os que ouvem precisam crer ( 1Co 15:2 ; Rm 10:14 ).
A salvação em Cristo não se dá pela eleição e nem pela predestinação, como apregoam os que dizem que a soberania divina não coaduna com o livre arbítrio do homem. Para justificar este posicionamento, perguntam: Se o homem está morto, como poderia decidir servir a Deus? Esquecem do alerta de Cristo que diz: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” ( Jo 11:25 ).
A condição do homem não é causa de impedimento para que se possa crer em Cristo, visto que, ainda que esteja morto, ao crer em Cristo, viverá.
Para que os cristãos alcançassem as benesses pelas quais o apóstolo Paulo bendiz a Deus no capítulo 1, foi necessário Deus vivificá-los, pois estavam todos mortos ( Ef 2:1 ). Para vivificar os cristãos, Deus ressuscitou-os juntamente com Cristo e os fez assentar nas regiões celestiais ( Ef 2:6 ).
O apóstolo Paulo aponta dois tempos e duas condições específicas na vida dos cristãos: outrora éreis trevas, agora sois luz no Senhor (no Senhor=em Cristo=nova criatura), ou seja, sois luz por ser nova criatura “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no SENHOR” ( Ef 5:8 ).
Mas, como os cristãos se tornaram luz? Foram escolhidos dentre os perdidos para serem luz? Foram predestinados para serem luz? Não!
O apóstolo João é claro ao repetir as palavras de Cristo: “Enquanto tendes luz, crede na luz, para que sejais filhos da luz. Estas coisas disse Jesus e, retirando-se, escondeu-se deles” ( Jo 12:36 ). Ou seja, é necessário ao homem crer na luz para ser filho de Deus. Qualquer que recebe a Cristo, ou seja, crê na mensagem do evangelho, recebe de Deus poder para ser feito filho de Deus ( Jo 1:12 ).
Deixar de considerar que o apóstolo Paulo faz referencia a dois tempos, duas condições e dois tipos de criaturas no capítulo 1 da carta aos efésios, faz com que surja e se perpetue alguns erros de interpretação.
Os reformadores erraram:
- Ao estabelecer como finalidade da eleição e da predestinação a salvação, e;
- Por não levar em conta que o apóstolo Paulo faz referência a dois tipos de criaturas.
Erraram ao estabelecer que Deus elegeu e predestinou dentre os filhos da desobediência de Adão alguns para serem salvos. Deixaram de observar que a eleição refere-se à santidade e irrepreensibilidade, e que a predestinação refere-se a filiação.
Após observar que há os filhos da ira e os filhos da luz, e que, para ser filho da luz é necessário crer na luz, conclui-se que, antes da fundação do mundo Deus estabeleceu que, os que cressem na mensagem do evangelho, receberiam poder para serem feitos filhos de Deus ( Jo 1:12 ), e na condição de eleitos de Deus são santos e irrepreensíveis ( Tt 1:1 ).
Isto que dizer que, de antemão Deus estabeleceu um único destino (predestinou) aos que haveriam de crer em Cristo: seriam salvos da condenação estabelecida em Adão e seriam filhos por adoção.
Quando o apóstolo escreve aos cristãos em Éfeso, capítulo 1, ele trata única e exclusivamente das bênçãos que Deus concede aos cristãos na condição de novas criaturas. Para fazer alusão às bênçãos concedidas por Deus, o apóstolo utiliza os verbos no pretérito perfeito (elegeu, predestinou, deu, derramou, desvendou, etc.), tendo por sujeito dos verbos no pretérito perfeito, os cristãos (nos), e não aqueles que são filhos da ira e da desobediência.
Deste modo não há contradição alguma entre a soberania e o livre-arbítrio do homem, pois os filhos da ira são provenientes de uma geração e os filhos da luz proveniente de outra geração. A geração dos ímpios é segundo o sangue, a vontade da carne e a vontade do varão, e a geração dos justos segundo a vontade de Deus.
A geração dos ímpios jamais foi eleita, pois a eleição é pertinente a geração dos justos, como se lê: “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” ( 1Pe 2:9 ).
Os cristãos são geração eleita, pois a geração segundo a carne foi rejeitada. Como os cristãos alcançaram a eleição? Deus os chamou através do evangelho das trevas para a luz, ou seja, não foram predestinados e nem eleitos. Foram chamados!
Salvação e a filiação
No capítulo 1 da carta aos Efésios o apóstolo Paulo faz alusão ao propósito eterno de Deus. Qual o propósito eterno de Deus? Ora, o propósito eterno não se refere à salvação do homem, pois apesar de Deus querer e salvar os homens, há um tempo pré-determinado para a obra redentora ser encerrada.
A salvação é eterna, porém, Deus não continuara salvando os homens por toda a eternidade, portanto, a obra redentora de Deus não se refere ao propósito eterno.
O propósito eterno diz de algo que nunca terá fim, ou seja, o único evento que nunca terá fim é a preeminência de Cristo, pois ela perdurará pela eternidade ( Ef 1:10 ).
É propósito eterno de Deus:
- Que a multiforme sabedoria de Deus seja revelada aos principados e potestades nas regiões celestiais;
- Que Cristo tenha a preeminência em tudo;
- Que Cristo seja o primogênito de toda criação;
- Que Cristo seja o primogênito dentre os mortos, e;
- Que Cristo seja o primogênito entre muitos irmãos.
Através da igreja, que é o corpo de Cristo, Deus concretizou o seu propósito eterno!
Em todos os tempos os homens são salvos por Deus mediante a fé, porém, a condição dos membros do corpo de Cristo é diferente da condição dos outros salvos que existiram ao longo da história da humanidade. Como?
Ora, os homens são salvos em todos os tempos pela fé em Deus, pois Deus salvou e salvará:
- Antes da lei de Moisés;
- Durante o período da lei de Moisés;
- Durante o período das boas novas do evangelho;
- No período da grande tribulação, e;
- Durante o milênio.
Porém, diferente dos outros salvos, que continuarão na posição de homens, a igreja de Cristo foi elevada a categoria de ‘semelhantes a Deus’, posição superior a dos anjos, uma vez que serão semelhantes a Cristo ( 1Jo 3:2 ). Observe a tabela abaixo:
Hierarquia dos seres antes da constituição da Igreja |
Hierarquia dos seres depois da constituição da Igreja |
|
Criador |
Deus |
Deus |
Criaturas |
—————- |
Semelhantes a Deus |
Anjos |
Anjos |
|
Homens |
Homens |
Aos salvos que não são membros do corpo de Cristo, que é a igreja, não será dado a autonomia de julgar os anjos ( 1Co 6:3 ), mas a igreja julgará o mundo e os anjos ( 1Co 6:2 -3).
Diferentemente dos salvos de outras épocas, a igreja foi participante da morte de Cristo e passou a ser semelhante a Ele na ressurreição “Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição” ( Rm 6:5 ; Cl 3:1 -3).
O mesmo poder que foi manifesto em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, também operou sobre os membros do corpo de Cristo, a igreja ( Ef 1:19 ). Cristo é o primogênito dentre os mortos, e o seu corpo, também nomeado de a universal assembleia, é a igreja dos primogênitos ( Hb 12:23 ).
Cristo é Filho e herdeiro de todas as coisas, e os membros do seu corpo, filhos e co-herdeiros, pois é certo que os cristãos com Ele morreram (padecemos) para com Ele serem glorificados (ressurgir) ( Rm 8:17 ; Cl 3:3 ).
Tal qual Cristo é, é a sua igreja aqui neste mundo ( 1Jo 4:17 ). A igreja possui a imagem de Cristo, pois qual o Celestial, tais também os celestiais ( 1Co 15:47 -48). Esta condição é efetiva hoje, agora, não diz de algo para o futuro ( Ef 5:8 ).
Conclui-se que, todos os salvos de todas as épocas são filhos de Deus, porém, nem todos os salvos são qual o último Adão, que é Cristo. Há muitos filhos, mas somente a igreja é conforme a imagem de Cristo. Há muitos salvos, porém, somente através da igreja Cristo tornou-se primogênito dentre os mortos e primogênito entre muitos irmãos ( Rm 8:29 ).
O apóstolo João e o apóstolo Paulo anunciaram que todos os cristãos receberam da plenitude de Cristo ( Jo 1:16 ; Cl 2:10 -11), ou seja, todos são participantes da natureza divina, pois a semente de Deus permanece neles ( 2Pe 1:4 ; 1Jo 3:9 ).
A condição da igreja é tão diferenciada da dos outros salvos que os profetas estavam cientes que a graça que seria concedida à igreja não era igual a que lhes pertencia ( 1Pe 1:12 ).
As potestades e principados, por sua vez, desconheciam qual a multiforme sabedoria que foi revelada na igreja ( Ef 3:10 ), e assim como os profetas da antiga aliança também desejaram compreende-la “… para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” ( 1Pe 1:12 b).
Este verso tem causado inúmeros equívocos, visto que os anjos não desejaram anunciar o evangelho como muitos apregoam, antes eles desejavam atentar para as mesmas coisas que os profetas desejavam compreender “Aos quais foi revelado que, não para si mesmos, mas para nós, eles ministravam estas coisas que agora vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho; para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” ( 1Pe 1:12 ).
Sabemos que Cristo é mais sublime que os céus, e que a igreja será semelhante a Ele, ou seja, possuidores de uma glória superior a própria ‘habitação’ do Altíssimo ( Hb 7:26 ; 1Jo 3:2 ).
Mas, como ainda ‘não é manifesto o que havemos de ser’, uma coisa é certa, toda a criação está numa ardente expectação esperando a manifestação dos filhos de Deus “Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus” ( Rm 8:19 ).
No entanto, a manifestação dos filhos de Deus somente se dará quando Cristo se manifestar, e, então, a igreja será manifesta com Cristo em glória, ou seja, semelhantes a Ele ( Cl 2:11 ; 2Co 5:4 ; 1Co 15:53 -54).
Deus levou a efeito o seu propósito eterno quando adquiriu um povo, gerado segundo a palavra da verdade, constituído sacerdócio real e nação santa para que Cristo tenha a preeminência em tudo. Como? Através da igreja Cristo é o mais sublime entre os sublimes. Ele é o primogênito entre muitos irmãos! “Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime” ( Is 52:13 ).
Somente através da igreja, o Servo do Senhor, o Filho do Altíssimo, é exaltado, elevado e mui sublime.
Conheceu e Predestinou
“Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).
Após alertar que as aflições do tempo presente não se comparam com a glória que há de ser revelada, e lembrar a expectativa da criação quanto a revelação dos filhos de Deus ( Rm 8:18 -22), o apóstolo Paulo demonstrou estar ansioso quanto a redenção do corpo ( Rm 8:23 ).
Ele reitera o que os cristãos deviam saber: que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus ( Rm 8:28 ), ou seja, os ‘que amam a Deus’ são aqueles que foram ‘chamados segundo o seu propósito’.
Quem são os chamados? Todos os que ouvem a mensagem do evangelho. Quem são os que amam a Deus? Todos que atenderam o chamado contido no evangelho.
Ora, somente as ‘boas novas’ do evangelho promove o propósito de Deus, pois todos os que foram ‘conhecidos’ de Deus, também foram predestinados a serem conforme a imagem de Cristo ( Rm 8:29 ).
Deste verso surgem algumas perguntas essenciais a compreensão:
- O que é conhecer a Deus?
- O ‘dantes’ refere-se a que?
- Foram predestinados a que?
- Com que propósito Deus chama os homens através do evangelho?
Conhecer a Deus – “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ) – ‘Conhecer’ a Deus não é ter ‘ciência’, ‘saber’ ou ‘conhecimento acerca de’ Deus, antes, ‘conhecer’ é tornar-se um só corpo e um só espírito com o Pai e o Filho ( Ef 4:4 ), ou seja, refere-se a comunhão intima ( 1Co 1:9 ). Assim como o homem torna-se um só corpo ao ‘conhecer’ a mulher, conhecer a Deus, ou antes, ser conhecido d’Ele, diz de comunhão intima. Conhecer a Deus é algo pertinente ao tempo presente dos cristãos “Mas, agora…” ( Gl 4:9 ).
Dantes conheceu – A que tempo refere o ‘dantes’? O que ‘dantes conheceu’ é o mesmo que ‘… primeiro esperamos em Cristo’ ( Ef 1:12 ). Os que primeiro esperaram em Cristo são os que conheceram a Deus, ou antes, foram conhecidos d’Ele. Os que ‘dantes’, ou os que ‘primeiro’ conheceram a Deus, por esperar em Cristo, são os que foram feitos herança e predestinados segundo o propósito de Deus ( Ef 1:11 -12). ‘Dantes conheceu’ remete a mesma ideia que o apóstolo Paulo expôs aos cristãos da região da Galácia: conhecendo a Deus, ou ANTES, sendo conhecido d’Ele ( Gl 4:9 ). Este ‘dantes’ não tem relação com a ‘pré-ciência’ de Deus.
Predestinados a quê? – Deus predestinou os que ‘dantes’, ou seja, que em primeiro lugar O conheceram ao crer no evangelho para serem conformes à imagem de seu Filho. Observe que ninguém é predestinado a salvação! Antes de ser predestinado a ser conforme a imagem do Filho é necessário ao homem ‘conhecer’ a Deus, ou antes, ser ‘conhecido’ d’Ele.
O evangelho do propósito eterno – A oferta de salvação em Cristo, além da redenção do homem, faz parte do propósito eterno de Deus, que é tornar o Unigênito Filho de Deus no Primogênito de Deus entre muitos irmãos. Para tanto, todos os que creem no evangelho, além de salvos, são predestinados a serem conforme a imagem de Cristo.
Somente os que primeiro ‘conheceram’ a Deus por intermédio do evangelho são predestinados à filiação divina. Ninguém é predestinado a ‘conhecer’ a Deus, ou seja, ninguém é predestinado a salvação, antes, é necessário primeiramente (dantes) crer em Cristo, que o homem terá o seu destino definido conforme o que foi proposto na eternidade: será conforme a imagem de Cristo “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” ( Rm 8:29 ).
E qual o propósito de Deus ao conceder filiação aos remidos segundo a graça demonstrada no evangelho? Que o Unigênito Filho de Deus, que foi morto e ressurgiu, seja o primogênito dentre os mortos com muitos irmãos.