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Após a ressurreição, todas as coisas estavam sob o domínio de Jesus. No entanto, os cristãos da época da escrita da carta aos Hebreus ainda não haviam plenamente compreendido isso. O autor da carta aborda essa falta de compreensão como um problema a ser esclarecido. Apesar de não perceberem totalmente que Jesus tinha autoridade sobre tudo, isso não alterava a realidade dos acontecimentos. De fato, é uma verdade incontestável: todas as coisas estão sujeitas a Cristo!


O Criador de todas as coisas

Hebreus 1 – O testemunho de Deus acerca do seu Filho

Introdução

O capítulo 1 da epístola aos Hebreus desempenha um papel crucial ao esclarecer várias questões sobre a posição de Jesus à direita da Majestade nas alturas. No entanto, é somente no capítulo 2 que encontramos a essência da exortação do escritor.

Antes de prosseguir, é crucial destacar a estrutura principal do texto, que se revela ao retirar a comparação que destaca a superioridade de Cristo em relação à condição de mensageiros dos profetas da Antiga Aliança.

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho… Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles… Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido…” ( Hebreus 1:1, 4 e 2:1-4).

Os versículos 2 a 3 do capítulo 1 da epístola aos Hebreus destacam a posição de Cristo ao se assentar à direita do Pai, enquanto os versículos 5 a 14 demonstram a superioridade de Cristo em relação aos mensageiros da Antiga Aliança.

“A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” (Hebreus 1:2-3);

“Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, E ele me será por Filho? E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. 7 E, quanto aos anjos, diz: Faz dos seus anjos espíritos, E de seus ministros labareda de fogo. Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de equidade é o cetro do teu reino. 9 Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, te ungiu Com óleo de alegria mais do que a teus companheiros. E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, E os céus são obra de tuas mãos. 11 Eles perecerão, mas tu permanecerás; E todos eles, como roupa, envelhecerão, 12 E como um manto os enrolarás, e serão mudados. Mas tu és o mesmo, E os teus anos não acabarão. E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha destra, Até que ponha a teus inimigos por escabelo de teus pés? 14 Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” (Hebreus 1:5-14).

No capítulo 1, versos 1 a 4, e no capítulo 2, verso 1 em diante, o escritor da carta aos Hebreus apresenta o tema central da mensagem anunciada por Deus através de seu Filho. Ele enfatiza que, enquanto Deus falou aos pais (israelitas) por meio de diversos profetas em tempos passados, agora Ele falou de maneira definitiva e completa por meio de Jesus Cristo. Isso requer dos ouvintes um compromisso mais profundo e sério com o evangelho, a mensagem que foi proclamada.

Portanto, o tema em destaque na carta aos Hebreus é a superioridade e a plenitude da mensagem revelada por Deus através de Jesus Cristo, comparada às revelações anteriores feitas aos profetas. Essa ideia permeia toda a carta, enfatizando a importância e a urgência de ouvir e responder ao evangelho de Cristo com plena certeza de fé.

 

Atentar com mais diligência para a mensagem 

1 Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. 2 Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, 3 Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; 4 Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?

O verso inicial do segundo capítulo da carta aos Hebreus introduz uma conjunção conclusiva, “Portanto…”, que deriva do argumento apresentado no capítulo anterior, especialmente nos versículos 1, 2 e 4.

O autor relembra aos seus leitores que Deus, em tempos antigos, falou repetidamente e de várias maneiras aos antepassados por meio dos profetas, mas nos últimos tempos Ele falou por meio de Seu próprio Filho. Esta mudança de enviar mensageiros no passado para enviar Seu próprio Filho agora sublinha a magnitude e a importância da mensagem proclamada.

“Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito, até hoje, enviei-vos todos os meus servos, os profetas, todos os dias madrugando e enviando-os.” (Jeremias 7:25).

Apesar de os filhos de Israel terem sido uma causa de rebeldia, Deus nunca renunciaria ao cumprimento da boa palavra anunciada a Abraão, pois Ele é imutável e incapaz de mentir (Tito 1:2). Por amor ao Seu nome, Deus salvou os filhos de Israel para manifestar o Seu poder, mesmo sendo uma casa rebelde. Ao cumprir a promessa feita a Abraão, Deus exaltou a Sua palavra acima de todo nome, considerando o Seu propósito eterno e a graça concedida em Cristo desde a eternidade.

“Não obstante, ele os salvou por amor do seu nome, para fazer conhecido o seu poder.” (Salmos 106:8);

“Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome.” (Salmos 138:2);

“Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos;” (2 Timóteo 1:9).

Ao destacar que o próprio Filho trouxe a mensagem do Pai, o autor de Hebreus apresenta argumentos de extrema seriedade para os cristãos não seguirem o exemplo de desobediência dos israelitas, que foram rebeldes em relação ao que Deus comunicou por meio de Seus servos e profetas. Agora que os cristãos ouviram diretamente a mensagem de Deus através de Seu Filho, é crucial que prestem atenção cuidadosa às coisas que foram transmitidas a eles.

“Portanto, procuremos entrar naquele descanso, para que ninguém caia pelo mesmo exemplo de desobediência.” (Hebreus 4:11)

A conclusão do escritor é uma exortação clara: “… convém-nos atentar com mais diligência…”. É essencial para os cristãos prestarem cuidadosa atenção às coisas que já ouviram, a fim de nunca se desviarem do evangelho.

Considerando que Deus falou repetidamente e de diversas maneiras ao povo no Antigo Testamento, e muitos pereceram por não terem dado atenção à mensagem, o cristão deve aprender com esse exemplo histórico de Israel. Portanto, é imperativo que ele seja diligente em atentar para o que já recebeu e ouviu, garantindo assim sua firmeza no evangelho.

Os dois adendos explicativos sobre a glória do Cristo ressurreto (Hebreus 1:1-2) e as referências à pessoa de Jesus com seus diversos títulos (Hebreus 1:5-14) foram inseridos antes da argumentação do capítulo 2 com dois objetivos claros:

Primeiro, para fortalecer a argumentação apresentada nos versículos 2 a 4 do capítulo 2.
Segundo, para enfatizar que a mensagem foi anunciada pelo Filho de Deus, que após ter sido glorificado, é a imagem perfeita do Deus invisível.

A força da argumentação se baseia em diversos fatores: se a palavra dos profetas, que são servos de Deus, teve consequências severas para toda transgressão e desobediência, o que dizer então da palavra do Filho, que é a expressão exata do Deus invisível?

A exortação é clara: o cristão deve prestar atenção ao que foi ensinado, para nunca se desviar do que foi anunciado. É importante notar que há um risco real de desviar-se da palavra anunciada, conforme o próprio escritor da carta indica ao incluir-se entre aqueles que devem atentar diligentemente para a mensagem do evangelho, usando a primeira pessoa do plural “nós”.

Ao declarar “Portanto, convém-nos…”, o escritor da carta evidencia que ele próprio estaria sujeito a riscos caso não prestasse atenção diligente ao que Deus já comunicou por meio de Seu Filho.

O escritor jamais descarta o poder, a imutabilidade e a fidelidade de Deus. Apesar da infidelidade humana, Deus permanece fiel e é poderoso para salvar (Romanos 9:6).

“Palavra fiel é esta: que, se morrermos com ele, também com ele viveremos; Se sofrermos, também com ele reinaremos; se o negarmos, também ele nos negará; Se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo.” (2 Timóteo 2:11-13).

Longe de nós questionar a segurança da salvação em Cristo; no entanto, pertencer à adoção não é determinado apenas pela frequência em uma igreja evangélica, assim como nem todos em Israel eram verdadeiramente israelitas.

O cristão deve compreender que a palavra falada por Deus é fundamentada em Sua fidelidade e imutabilidade; ela não volta atrás. Esta é a garantia da salvação daqueles que creem: a fidelidade e imutabilidade de Deus. Contudo, é crucial lembrar que, assim como o homem é salvo pela fidelidade de Deus, também é necessário compreender que Deus trará ira sobre todo coração impenitente.

“Como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo;” (2 Tessalonicenses 1:8).

Deus não revoga Sua palavra, mas o homem, por sua própria vontade, pode negligenciar o que já ouviu e se desviar do que Deus propõe através do evangelho de Cristo. É possível que alguém ouça a mensagem do evangelho, não a compreenda nem preste atenção ao que foi dito, permitindo assim que o maligno venha e arrebate o que foi semeado (Mateus 13:19).

 

Como fugir da ira futura?

“E, vendo ele muitos dos fariseus e dos saduceus, que vinham ao seu batismo, dizia-lhes: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura?” (Mateus 3:7).

A pergunta pertinente do escritor aos Hebreus ressoa: “Como escaparemos nós se não atentarmos para uma tão grande salvação?” (Hebreus 2:3). Em outras palavras, estar atento com diligência ao que já foi ouvido equivale a dar a devida importância à grande salvação revelada em Cristo.

Essa “tão grande salvação” começou a ser proclamada por Jesus, o Senhor. Se os cristãos não prestarem cuidadosa atenção ao que ouviram, existe o risco de se desviarem das palavras de Cristo, que são espírito e vida.

É impossível para o homem ser salvo sem prestar atenção ao que foi anunciado por Cristo e Seus apóstolos (Hebreus 12:2; Efésios 1:13; Romanos 1:16). O que foi anunciado por Jesus também foi confirmado por aqueles que O ouviram, e Deus testificou isso por meio de sinais e milagres (versículo 4).

O tema central da carta aos Hebreus é a supremacia da mensagem revelada por Deus através de Seu Filho em relação à antiga revelação por meio dos profetas. Os versículos mencionados de Hebreus traçam um tema central que destaca a progressão da revelação divina e a responsabilidade humana diante dela:

  1. Antiga Revelação pelos Profetas: No passado, Deus falou aos antepassados por meio dos profetas (Hebreus 1:1) e a palavra deles permaneceu firme (Hebreus 2:2).
  2. Nova e Definitiva Revelação por Meio do Filho: Nos últimos dias, Deus falou por meio de Seu Filho (Hebreus 1:2), estabelecendo uma revelação superior e final.
  3. Exortação à Atenção e Obediência: Os crentes são exortados a prestar atenção com diligência ao que já ouviram (Hebreus 2:1) e a não negligenciar tão grande salvação anunciada por Jesus (Hebreus 2:3).
  4. Confirmação e Testemunho de Deus: Deus confirmou a mensagem de Jesus com sinais, prodígios e milagres (Hebreus 2:4), validando assim a veracidade e a importância da mensagem divina revelada em Cristo.

O tema central que emerge desses versículos é a progressão da revelação divina culminando em Cristo, daí a exortação à obediência e a séria advertência sobre as consequências de negligenciar a mensagem de salvação proclamada por Ele.

A análise detalhada da carta aos Hebreus revela um tema central: a supremacia da mensagem revelada por Deus através de Seu Filho em comparação com a antiga revelação pelos profetas. O desenvolvimento desse tema ao longo dos capítulos mostra como Deus tem sido fiel à Sua palavra ao longo dos tempos.

O contexto da epístola é profundamente exortativo, como evidenciado na passagem: “convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido” (Hebreus 2:1). O escritor enfatiza a importância da atitude dos cristãos diante da palavra de Deus, que foi anunciada pelos profetas no passado e, nos últimos dias, foi proclamada pelo próprio Filho.

Assim, a carta aos Hebreus não apenas ressalta a superioridade da revelação em Cristo, mas também exorta os crentes a permanecerem firmes na fé, atentos à mensagem divina transmitida ao longo da história da redenção.

 

Jesus Cristo-homem e os mensageiros de Deus

5 Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. 6 Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? 7 Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, De glória e de honra o coroaste, E o constituíste sobre as obras de tuas mãos; 8 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos todas as coisas sujeitas a ele. 9 Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. 10 Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. 11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. 13 E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.

No capítulo 2 de Hebreus, os versículos 5 a 18 introduzem um adendo que transforma a abordagem do texto, mudando de uma postura exortativa para uma argumentativa e/ou explicativa.

Anteriormente, o autor enfatizou que todos os mensageiros da Antiga Aliança são servos enviados por Deus para beneficiar aqueles destinados à salvação (Hebreus 1:14). Ele destacou também a imutabilidade da palavra proferida por esses mensageiros (Hebreus 2:2), o que demonstra a fidelidade e constância de Deus em garantir a veracidade das mensagens transmitidas por Seus ministros. A natureza inabalável da palavra profética serve como uma validação da autoridade do profeta.

O texto de Hebreus apresenta uma distinção clara entre os profetas da Antiga Aliança e Jesus Cristo, o Filho de Deus. Inicialmente, os profetas são mencionados como mensageiros de Deus, cujas palavras foram firmes e confiáveis (Hebreus 1:1-7). Cristo, por outro lado, é exaltado acima dos profetas e de todos os seres criados, sendo reconhecido pelo próprio Deus como superior (Hebreus 1:4-14).

No capítulo 2 de Hebreus, o autor continua a desenvolver sua argumentação sobre a supremacia de Cristo em relação aos profetas da Antiga Aliança. Ele destaca que o mundo futuro não foi sujeito aos profetas, mas sim a Cristo (Hebreus 2:5). Isso significa que, enquanto os profetas foram comissionados por Deus como mensageiros e ministros, a missão deles não incluía o direito de governar sobre o mundo vindouro. Em contrapartida, Cristo, sendo o Descendente de Abraão e o Filho de Deus, é quem exerce autoridade sobre esse reino vindouro.

O Salmo 2 fala do Messias sendo proclamado por Deus como Rei sobre Sião, e essa promessa é cumprida em Jesus Cristo. Portanto, o mundo futuro é legado ao Filho, não aos profetas, mostrando a supremacia e o papel único de Cristo tanto na redenção quanto no governo de toda a criação.

“Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.” (Salmos 2:6-8).

Recapitulando, inicialmente, o autor referiu-se aos videntes de Israel pelo seu título: profetas (Hebreus 1:1), e destacou a excelência de Cristo tanto pelo que Ele é quanto pelo nome que alcançou (Hebreus 1:4). Em seguida, ele cita o que as Escrituras dizem sobre Cristo (Hebreus 1:5-6, 8-13) e sobre os profetas (Hebreus 1:7). Com essa abordagem, o autor deixa claro que os profetas são ministros de Deus e que suas palavras permaneceram firmes. No entanto, ele também expõe que o mundo futuro do qual falava não foi sujeito aos profetas (Hebreus 2:5).

A missão dada por Deus aos profetas da Antiga Aliança, como ministros e mensageiros em favor dos homens, não lhes conferiu o direito de governar o mundo futuro. Deus sujeitou o mundo vindouro a Cristo, o Descendente de Abraão, de modo que se faz necessário diferenciar a autoridade pertinente à descendência de Abraão, da autoridade de alguém, que mesmo pertencente à linhagem de Abraão, foi comissionado para uma missão. Os profetas foram comissionados como mensageiros, mas não exercerão domínio no mundo vindouro, mas Cristo por sua vez, além de ser mensageiro, é servo o Servo do Senhor, um encargo especifico (Isaías 42:1 e 19).

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3:16).

Devido à complexidade do assunto, o autor apresentou vários versículos no capítulo 1 da carta aos Hebreus que sustentam sua argumentação, o que dá peso ao ao motivo apresentado no versículo cinco do capítulo 2.

“Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos.” (Hebreus 2:5).

Enquanto dos mensageiros de Deus é dito que devem adorar a Cristo (Salmo 97:7) ou explicitado o uso que Deus faz deles (Salmo 104:4), de Cristo é apresentado textos que afirmam a sua posição de domínio sobre todas as coisas, evidenciando que Ele é Senhor no mundo vindouro. Os ministros da Antiga Aliança não tiveram que se humilharem a si mesmos até a morte, diferente de Cristo que, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte, e morte de cruz, para ser exaltado soberanamente pelo Pai (Filipenses 2:8).

Ao citar um trecho do Salmo 8, o autor da carta demonstra que a mensagem defendida por ele não é fruto de uma interpretação particular ou invenções de uma mente carnal. Com essa citação, ele reforça que suas palavras e argumentações possuem o peso das Escrituras. Os cristãos devem apegar-se firmemente às verdades que ouviram, pois há um mundo vindouro no qual todos os que creem em Cristo exercerão domínio juntamente com Ele. Esse mundo não será sujeito aos profetas, como fica claro na argumentação apresentada antes da explicação do Salmo 8.

“Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés:” (Salmo 8:4-6; Hebreus 2:6-8).

O Salmo 8, entre outros, utiliza enigmas para revelar aspectos da pessoa e do ministério do Messias. Através desse  Salmo, podemos compreender mais sobre a natureza divina de Cristo, o Verbo que se fez carne. Ao citar o Antigo Testamento, é crucial analisar de forma o texto citado se relaciona com a argumentação do autor da carta, se tem o objetivo de ilustrar ou se é para dar suporte a linha de raciocínio.

Por exemplo, o Salmo 8 começa com um louvor ao Senhor, cujo nome é exaltado em toda a terra:

“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus!” (Salmo 8:1).

Este mesmo Senhor é identificado em outros salmos, como no Salmo 45, onde Ele é descrito como o fundador da terra desde o princípio: “Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra…” (Salmo 45:6), e também no Salmo 110, onde é proclamado que Ele se assenta à direita de Deus:

“DISSE o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita…” (Salmo 110:1).

O autor de Hebreus explora essas conexões, mostrando como esses salmos se referem claramente à pessoa do Filho:

“E: Tu, Senhor, no princípio fundaste a terra, e os céus são obras de tuas mãos.” (Hebreus 1:10).

O versículo 2 do Salmo 8 foi citado por Jesus em Mateus 21:16, quando os principais dos sacerdotes e escribas ficaram indignados com as crianças que estavam louvando a Jesus. Eles esperavam que Jesus repreendesse as crianças, mas ele respondeu citando o Salmo 8:2:

“E disseram-lhe: Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?” (Mateus 21:16).

Isso demonstra que Jesus é identificado como o Senhor mencionado no versículo 1 do Salmo 8 e é digno do louvor até mesmo das crianças:

“Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador.” (Salmo 8:2).

Assim como as crianças, o salmista também se sente compelido a louvar ao ver as obras das mãos de Cristo: “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste” (Salmo 8:3). Este sentimento culmina no estribilho do Salmo:

“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!” (Salmo 8:9).

O salmista, ao perguntar ‘que é o homem mortal…’, mostra seu interesse em compreender qual é o papel que o homem desempenha na criação. Da mesma forma, ele também antecipa a figura do Filho do homem, embora sem compreender completamente quem seria ou como seria, e profetiza:

“Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares” ( Salmos 8:5 -8).

O salmista, ao profetizar sobre o Filho do homem, não tinha pleno entendimento dos eventos futuros. No entanto, o escritor aos Hebreus esclarece esses mistérios ao responder às perguntas: “Que é o homem?” e “Quem é o Filho do homem?” Para o escritor, é claro que os homens em Cristo são aqueles aos quais Deus sujeitou o mundo vindouro (Gálatas 3:9; Romanos 8:17). E quanto ao Filho do homem, ele é identificado como Cristo, o Filho de Deus e herdeiro de todas as coisas, conforme já demonstrado anteriormente na carta aos Hebreus.

“Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: ‘Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites?’” (Hebreus 2:6).

O homem não é esquecido por Deus porque é chamado ao propósito eterno, e o Filho do homem é visitado por Deus porque nele Deus estabeleceu o seu eterno propósito. O Filho do homem é alçado a condição de primogênito quando o homem é salvo por meio do evangelho e predestinado a ser conforme a imagem de Cristo.

As indagações do salmista estão alinhadas com o escopo delineado pelo apóstolo Pedro acerca dos profetas.

“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.” (1 Pedro 1:10-11).

Cristo foi feito “menor que os profetas” porque eles eram ministros, e Cristo, por sua vez, o Servo do Senhor. Na condição de servo, Jesus se tornou opróbrio dos homens e desprezo do povo. Essa condição menor se assemelha ao reclame do apóstolo Paulo:

“Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens.” (1 Coríntios 4:9);
“Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que o visites? Contudo, pouco menor o fizeste do que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos; todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés.” (Hebreus 2:6-8, citando Salmo 8:4-6);

“Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.” (Salmos 22:6);

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:6-8).

O escritor aos Hebreus explica os versículos 4 a 6 do Salmo 8 ao destacar a posição exaltada concedida ao Filho do homem por Deus, apesar de sua aparente insignificância.

Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos todas as coisas sujeitas a ele. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos.” (Hebreus 2:8b-11).

O escritor aos Hebreus demonstra que, assim como Jesus foi apresentado no Salmo em uma posição um pouco menor (servo)que os anjos (Salmo 8:5), que são mensageiros e servos de Deus, o mesmo Salmo também apresenta Jesus como aquele para quem são todas as coisas e mediante quem tudo existe (Salmo 8:1).

O escritor aos Hebreus e os cristãos da época viam Cristo de forma diferente da visão completa de sua glória e domínio celestiais. Enquanto Cristo está coroado de glória e honra, essa majestade não era visível de maneira terrena.

A imagem nítida que estava na memória dos cristãos era a da vida terrena de Cristo, sua humilhação, seu sofrimento e sua morte na cruz. Eles testemunharam sua humanidade, suas obras milagrosas, seus ensinamentos poderosos e seu sacrifício redentor. Essa era a imagem de Cristo que estava fresca em suas mentes e corações.

No entanto, o escritor aos Hebreus também os encoraja a olhar além dessa imagem terrena e entender que, apesar de não verem ainda todas as coisas sujeitas a Cristo de forma evidente, isso não muda a realidade espiritual e celestial. Cristo, exaltado à destra de Deus, possui autoridade sobre todas as coisas (Hebreus 2:8).

Os cristãos da época frequentemente ainda tinham em mente a imagem de Cristo como homem, o que indicava que não estavam totalmente atentos ao que já lhes fora ensinado. Muitos ainda não haviam alcançado uma compreensão plena da pessoa de Cristo. No entanto, o escritor da carta aos Hebreus busca demonstrar que todas as coisas estão sujeitas a Cristo.

As Escrituras do Antigo Testamento já indicavam que todas as coisas estariam sujeitas a Cristo, e os cristãos precisavam perceber isso através das Escrituras. Jesus foi coroado de glória e honra após sua ressurreição dentre os mortos.

A posição de Jesus como homem neste mundo traz implicações profundas, muitas das quais são exploradas ao longo da carta aos Hebreus. Uma dessas considerações é que Jesus, ao ser introduzido neste mundo, foi feito um pouco menor que os mensageiros de Deus, porque precisava passar pela experiência da paixão e morte. A primeira ideia que surge após a leitura do texto é que, dado a natureza dos seres celestiais, Jesus foi feito menor que eles porque precisava enfrentar a morte. No entanto, Cristo assumiu uma posição inferior à dos profetas porque Ele voluntariamente se submeteu ao cálice que o Pai lhe deu como servo obediente, ao contrário dos profetas, aos quais Deus não impôs essa condição.

Essa comparação ressalta a humildade e a obediência de Cristo, que aceitou sua missão de redenção da humanidade através do sacrifício de si mesmo. Enquanto os profetas foram mensageiros escolhidos por Deus para transmitir sua palavra, Cristo desempenhou um papel único e supremo ao se entregar completamente à vontade do Pai, mesmo até a morte na cruz.

 

A natureza de Jesus ressurreto transcende os limites da percepção humana

“Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.” (2 Coríntios 5:16).

No capítulo 1, o autor da carta faz um acréscimo explicativo sobre a pessoa de Cristo, enfatizando sua divindade. Ele destaca que aquele homem que esteve entre os discípulos, conhecido por muitos pessoalmente, é na verdade descrito como “o resplendor da glória de Deus”, “a imagem expressa da divindade”, e Ele “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder.” (Hebreus 1:3).

No capítulo 2, o adendo serve para esclarecer a natureza daquele que sustenta tudo pela sua palavra. Também contrasta sua humanidade ao mencionar que Ele se esvaziou de sua glória para habitar entre os homens, e sua glorificação como o resplendor da glória de Deus (1 João 1:1; João 17:5).

Observe:

“8 Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. 9 Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. 10 Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. 11 Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, 12 Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. 13 E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.” (Hebreus 2:8-18).

Os cristãos devem considerar que Deus sujeitou todas as coisas debaixo dos pés de Cristo (Efésios 1:23). Se Deus assim fez, nada foi deixado sem sujeição a Ele, incluindo tronos, dominações, principados e potestades (Colossenses 1:16). Apesar de todas as coisas estarem agora sujeitas a Cristo, muitos cristãos ainda não reconhecem plenamente essa realidade. No entanto, cada cristão deve contemplar a magnificência de Cristo, que está coroado de honra e glória, assim como  Estevão visualizou.

“Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus; E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus.” (Atos 7:55-56).

Quando o Salmo menciona que Cristo foi feito menor, o escritor aos Hebreus transliterou o texto hebraico usando o verbo grego ἐλαττόω (elattoó), que sugere a ideia de ser inferior em dignidade, autoridade e popularidade. Esse termo não implica em uma inferioridade na natureza de Cristo em relação aos seres celestiais ou aos demais homens. Não é esse o objetivo do escritor, estabelecer uma comparação entre a natureza humana de Cristo e a natureza espiritual dos seres angelicais. Comparar a glória de um ser celestial com a condição humana é inadequado devido à completa disparidade entre essas duas naturezas, assim como é inadequado comparar a diferença entre a glória do sol e a glória da lua (1 Coríntios 15:41).

O adjetivo grego βραχύς (brachus), que significa “por pouco tempo”, indica que Cristo assumiu uma função temporariamente inferior à dos profetas. Isso significa que, ao ser introduzido no mundo, dada a missão de Cristo, Ele foi temporariamente colocado em uma posição inferior em relação aos אֱלֹהִים (elohim), termo hebraico que pode se referir a deuses, anjos, nobres, juízes, poderosos, governantes e outros.

Analisando o contexto, percebemos que o escritor não está estabelecendo uma gradação entre Cristo e os seres angelicais. Ele está destacando que Cristo assumiu uma posição de humildade e submissão ao se tornar humano para cumprir a vontade de Deus, uma missão única e incomparável com a dos demais, incluindo os profetas.

תְּחַסְּרֵ֣הוּ מְּ֭עַט מֵאֱלֹהִ֑ים וְכָבֹ֖וד וְהָדָ֣ר תְּעַטְּרֵֽהוּ׃ Psalm 8:5 – Hebrew Study Bible

Portanto, Cristo foi feito “um pouco menor” não na sua natureza essencial, mas em relação à missão que Ele veio desempenhar, o que é diferente dos demais homens, incluindo os profetas. Isso ressalta o aspecto da encarnação de Cristo, onde Ele voluntariamente assumiu uma posição de serviço e humildade para cumprir o plano redentor de Deus para a humanidade.

“E eu vos digo que, entre os nascidos de mulheres, não há maior profeta do que João o Batista; mas o menor no reino de Deus é maior do que ele.” (Lucas 7:28).

Embora Cristo tenha assumido uma missão que o colocou em uma posição aparentemente menor, Ele é digno de honra e glória, e até mesmo os seres celestiais devem render-lhe adoração (Salmos 8:5; Hebreus 1:6).

O Filho Unigênito de Deus, ao ser introduzido no mundo (Hebreus 1:6; Provérbios 30:4), apesar de ter assumido um corpo carnal (2 Coríntios 5:16), possui desde a eternidade o domínio sobre as obras do Pai. Muitos cristãos na época do autor de Hebreus careciam do entendimento de que tudo está sob o domínio de Cristo, pois ainda viam Jesus Cristo apenas como um homem. O escritor aos Hebreus estava esclarecendo aos cristãos uma dúvida semelhante à de Felipe (João 14:9).

Embora todas as coisas estejam sujeitas a Cristo, muitos cristãos não compreendiam isso (cf. Hebreus 2:8b). O apóstolo Paulo também alertou que, embora os cristãos tenham conhecido Cristo segundo a carne, agora não o conhecem mais dessa forma (2 Coríntios 5:16).

Após ouvirem o evangelho de Cristo, os cristãos deveriam contemplar Cristo coroado de honra e glória, abandonando a visão que tinham de um Jesus feito um pouco menor que os profetas por causa da sua paixão e morte. Cristo executou uma missão que o tornou opróbrio dos homens, e mesmo os filhos de Israel o reputaram por aflito, ferido de Deus, e oprimido (Isaías 53:4).

“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:8).

Eles também deveriam ter em mente que Cristo já havia sido glorificado com a glória que possuía antes da criação do mundo (João 17:5) e que agora estava assentado à direita do Pai nas alturas (Hebreus 1:13; 8:1; Salmo 110:1).

O escritor enfatiza que era necessário para Cristo sofrer, embora todas as coisas pertencessem a Ele e existissem por meio Dele. Através de Suas aflições, Cristo foi consagrado como o príncipe redentor que conduziu muitos filhos a Deus. A morte na cruz foi o meio pelo qual o Filho Unigênito de Deus foi consagrado como o Primogênito de Deus, tendo a primazia entre os filhos de Deus (Hebreus 2:10; Colossenses 1:18).

O sacrifício de Cristo na cruz tornou tanto Ele, o Santificador, quanto aqueles que são santificados (a igreja) propriedade exclusiva de Deus. Todos pertencem a Deus! Cristo, o Filho Unigênito de Deus, conduziu à glória aqueles que creram, conferindo-lhes a mesma glória que Ele recebeu, tornando-os assim filhos de Deus e permitindo-lhes ser legitimamente chamados de irmãos (Hebreus 2:11; João 17:22).

Por meio dessa explicação, o escritor desejava que os cristãos contemplassem a glória do Filho, que antes se apresentava a Deus como servo.

“Pai, quero que, onde eu estiver, também estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória, a qual me deste; porque me amaste antes da fundação do mundo” (João 17:24).

O apóstolo João, ao falar da filiação divina concedida aos cristãos, também os exorta a visualizar o que lhes foi dado:

“Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai: que fôssemos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1 João 3:1).

Em suma, escrever aos cristãos convertidos entre os Hebreus sobre a pessoa de Cristo é uma tarefa extremamente desafiadora. Como explicar claramente que aquele homem, conhecido por muitos através de seus pais terrenos José e Maria, e da cidade de Nazaré, na verdade existia desde antes da criação do mundo na eternidade como o Verbo eterno, que estava com Deus e participou da criação de tudo (João 1:1-3)? Agora, esse mesmo homem, o Verbo eterno despido de sua glória e poder, ressuscitou dentre os mortos e foi exaltado à posição de “Semelhante à do Altíssimo”, uma nova categoria de seres que ocupa uma posição hierárquica superior em toda a criação, abaixo somente de Deus.

No verso 2 do capítulo 1, o escritor aos Hebreus refere-se ao Filho como aquele a quem Deus designou herdeiro de tudo, por meio de quem também criou o mundo. Essa condição de herdeiro lhe foi conferida após a ressurreição, quando Cristo foi proclamado Filho de Deus com poder (Romanos 1:5). O fato de Deus ter criado o mundo por meio dele confirma sua divindade antes de sua encarnação como o Verbo eterno (João 1:1-3; Colossenses 1:16-17). No verso 3, o escritor descreve Cristo após a sua ressurreição e glorificação, como a imagem exata de Deus, que no mundo realizou a redenção da humanidade e agora está assentado à direita de Deus, esperando até que seus inimigos sejam subjugados (Salmo 110:1).

Portanto, era crucial para o escritor aos Hebreus distinguir Cristo dos profetas (ou anjos), enfatizando que as Escrituras atribuem a ele qualidades superiores, enquanto aos anjos (ou profetas), apenas missões são designadas (Hebreus 1:5-14).

No capítulo 2, o escritor ressalta que o futuro domínio do mundo não foi dado aos profetas, conforme registrado em Hebreus 2:5, citando o Salmo 8 para fundamentar seu argumento. No Salmo, é afirmado que, embora o Filho do homem tenha sido temporariamente feito menor, Deus o coroou com glória e honra, dando-lhe domínio sobre todas as obras de suas mãos, sujeitando todas as coisas a ele (Hebreus 2:6-8).

É crucial para os cristãos compreenderem claramente que, quando Deus sujeitou todas as coisas ao Filho do homem, isso não admite exceção alguma. O escritor continua argumentando que, mesmo que atualmente não seja visível para os cristãos todas as coisas estarem sujeitas a Cristo, eles devem contemplar Jesus coroado de glória e honra. Embora Jesus tenha sido temporariamente colocado em uma posição inferior à dos profetas — conforme descrito pelo profeta Isaías, que menciona sua falta de beleza e atratividade aos olhos dos homens, a ponto de não ser desejado (Isaías 53:2) — essa humilhação foi necessária para a redenção da humanidade. Pela graça de Deus, ele experimentou a morte por todos os homens.

“E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um vermezinho!” (Jó 25:6);

“Em ti confiaram nossos pais; confiaram, e tu os livraste. A ti clamaram e escaparam; em ti confiaram, e não foram confundidos. Mas eu sou verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.” (Salmos 22:4-6).

Essencialmente Cristo foi feito menor que os “anjos” porque eles clamara e foram socorridos, confiaram e não foram confundidos, mas diferentemente que os pais, Jesus se posiciona como “verme”, o opróbio dos homem e o desprezo do seu povo. O termo hebraico תּוֹלָע (tolā) é usado para descrever a insignificância ou a pequenez de algo em relação a outra coisa dependendo do contexto.

“Não temas, tu verme de Jacó, povozinho de Israel; eu te ajudo, diz o SENHOR, e o teu redentor é o Santo de Israel.” (Isaías 41:14).

 

Muitos filhos para a glória de Deus

“Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles.” (Hebreus 2:10).

Era necessário que Jesus Cristo, por quem e para quem todas as coisas existem, trouxesse muitos filhos à glória de Deus porque este era o propósito eterno de Deus, estabelecido muito antes da criação do homem: reunir em Cristo todas as coisas, tanto as do céu quanto as da terra. Esse evento não poderia ocorrer na eternidade antes da criação nem após a ressurreição de Cristo e sua glorificação. Ao invés, isso aconteceu na plenitude dos tempos, quando Jesus se tornou plenamente humano.

“De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;” (Efésios 1:10).

O propósito estabelecido por Deus desde a eternidade é que Cristo tenha preeminência em todas as coisas. Para cumprir esse propósito, Ele precisava ser a cabeça de um corpo, e por isso se tornou o primogênito dentre os mortos. Quando Cristo foi introduzido no mundo, Ele era o unigênito de Deus. No entanto, ao ressurgir dentre os mortos, Ele se tornou o primogênito de Deus entre muitos irmãos, pois todos os que são batizados na morte de Cristo ressurgem como novas criaturas, participantes dessa vocação celestial. Nessa vocação, Cristo é o cabeça do corpo e os salvos em Cristo são membros desse corpo (Romanos 6:6).

“E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Colossenses 1:18).

A fala de Deus registrada no Gênesis deve ser entendida como expressão de Sua vontade. Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, sendo Cristo a expressa imagem do Deus invisível, o Verbo que se fez carne. Aqui reside um grande mistério, pois o homem terreno, Adão, foi criado à imagem daquele Cristo que haveria de vir ao mundo. Na criação do homem terreno, foi dado o primeiro passo para que Deus realizasse Sua vontade de fazer o homem conforme Sua imagem e semelhança.

Com relação aos bens futuros da nova criação, Jesus mesmo disse:

“E Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.” (João 5:17);

“Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação,” (Hebreus 9:11).

Devemos discernir claramente a existência de duas criações distintas. A primeira obra da criação foi concluída no sétimo dia, quando Deus criou o homem à Sua imagem, conforme aquilo que Cristo, o segundo Adão, viria a ser (Romanos 5:14). Após isso, Ele descansou de todas as Suas obras.

No entanto, a segunda obra de criação envolve um processo contínuo em que Deus se propôs a fazer o homem conforme Sua imagem e semelhança (Gênesis 1:26). Esta obra inclui o trabalho conjunto do Pai e do Filho, e será finalizada na manifestação dos filhos de Deus (Romanos 8:19-23). A conclusão desta segunda criação, na qual toda a criação geme, ocorrerá quando Cristo se manifestar e todos os Seus irmãos forem manifestados com Ele em glória (Colossenses 3:4; 1 João 3:2).

Portanto, enquanto a primeira criação foi concluída na semana da criação descrita em Gênesis, a segunda criação está em andamento, culminando na revelação e glorificação dos filhos de Deus na vinda de Cristo.

“ASSIM os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. E havendo Deus acabado no dia sétimo a obra que fizera, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera.” (Gênesis 2:1-3);

Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então também vós vos manifestareis com ele em glória.” (Colossenses 3:4);

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; (…) E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:26-27).

Considerando a premissa: “Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual.” (1 Coríntios 15:46), a narrativa do Gênesis aborda principalmente o aspecto natural da criação, enquanto o Salmo 8 revela uma perspectiva espiritual mais profunda.

Enquanto o Gênesis descreve a criação das coisas naturais, o Salmista Davi, inspirado pelo Espírito Santo, profetiza sobre o Criador e Seu glorioso nome, o responsável por toda a criação:

“Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra, pois puseste a tua glória sobre os céus! Tu ordenaste força da boca das crianças e dos que mamam, por causa dos teus inimigos, para fazer calar ao inimigo e ao vingador. Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste; Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites?” (Salmo 8:1-4).

Enquanto no Gênesis é concedido domínio ao homem sobre a natureza, o Salmo 8 aponta para Cristo, o Filho do homem, como nosso Senhor e Criador de todas as coisas.

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. ” (Gênesis 1:26).

“Que é o homem mortal para que te lembres dele? e o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, As aves dos céus, e os peixes do mar, e tudo o que passa pelas veredas dos mares. Ó SENHOR, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!” (Salmo 8:4-9).

Assim como foi dado a Cristo o domínio sobre todas as obras das mãos de Deus, por semelhança foi dado a Adão, que é uma figura de Cristo, o domínio sobre toda a terra. É importante reconhecer que Cristo é o resplendor da glória de Deus e a expressa imagem de Deus (Hebreus 1:3), portanto a imagem de Deus, que é Cristo, criou todas as coisas, fazendo de Adão a sua figura.

“E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1:27).

Mas, assim como foi dito no princípio, “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”, Deus revelou em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, o resplendor da Sua glória, tornando-o a expressa imagem da Sua pessoa. A expressa imagem e semelhança de Deus pertencem unicamente ao Filho, porém todos os que são regenerados em Cristo através da palavra de Deus, que é incorruptível, são agora parte da geração eleita e serão conformados à expressa imagem de Cristo, semelhantes ao Altíssimo em todas as coisas.

Um dos grandes temas das Escrituras é a correlação entre a imagem do homem e a imagem divina, mas muitas vezes suas implicações são pouco analisadas. A salvação é a redenção do homem, e a imagem de Deus concedida ao homem é a riqueza da glória, como está escrito:

“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o SENHOR, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial.” (1 Coríntios 15:45-49)

A concretude da nova criação se revela em novas substâncias e imagens espirituais, que promovem a semelhança com o Altíssimo, através do último Adão. De maneira similar à primeira criação, onde as substâncias das coisas criadas eram naturais e terrenas, a imagem de todos os descendentes de Adão era conforme o homem da terra. No entanto, convinha ao Criador consagrar, pela aflição, o Príncipe da salvação daqueles que seriam alçados à posição de filhos de Deus, ou seja, a igreja.

“Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles.” (Hebreus 2:10).

 

Jesus Cristo-homem: participante de carne e sangue

“Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade.” (1 João 5:6).

Além de explicar a natureza de Cristo antes de ser encarnado (Verbo eterno) e após a ressurreição (Expressa imagem do Deus invisível), o escritor demonstra através das Escrituras quem era Jesus, resultado da encarnação (Homem pleno).

Ao consagrar a Cristo pelas aflições, aquele que santifica, como o Príncipe da salvação, e ao conduzir como filhos à gloria de Deus aqueles que são santificados, todos são pertencentes a Deus. Pertencem a Deus aquele que santifica (Jesus) e os que são santificados (a igreja), e modo que Jesus não se envergonha de chama-los irmãos, membros da família (Efésios 2:19; 3:15; Lucas 8:21).

Para dar peso à declaração de que Jesus não se envergonha de chamar os que creem n’Ele de irmãos, o escritor aos Hebreus cita dois versículos dos Salmos e um do profeta Isaías:

“Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos, dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu.” (Hebreus 2:11-13);

Então declararei o teu nome aos meus irmãos; louvar-te-ei no meio da congregação.” (Salmos 22:22);

Em Deus louvarei a sua palavra; Em Deus ponho a minha confiança, não terei medo: Que me pode fazer a carne?” (Salmos 56:3);

“Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor DEUS, para anunciar todas as tuas obras.” (Salmos 73:28);

Eis-me aqui, com os filhos que me deu o SENHOR, por sinais e por maravilhas em Israel, da parte do SENHOR dos Exércitos, que habita no monte de Sião.” (Isaías 8:18).

Além de demonstrar o vínculo de filiação divina entre aqueles que são santificados e aquele que os santifica, o escritor aos Hebreus cita versículos que evidenciam o ministério terreno de Cristo ao proclamar o nome de Deus entre seus concidadãos (vinculados por carne e sangue) com ênfase na congregação (Salmos 22:22). Como homem, Cristo se sujeitou a Deus, confiando plenamente nele (salmos 56:3; 73:28), e se apresentou na plenitude dos tempos junto com os filhos que Deus lhe concederia (Isaías 8:18).

O objetivo de Cristo em tornar-se participante de carne e sangue decorre da necessidade da filiação surgir desses elementos. Para que Cristo pudesse chamar os homens de irmãos, ele precisou compartilhar da mesma natureza humana (carne e sangue). Nesse sentido, o apóstolo João declara que Jesus veio por água e sangue: a água representa a Palavra de Deus anunciada pelos profetas desde tempos antigos, e o sangue simboliza o vínculo de Cristo com Abraão e Davi, sendo o Descendente prometido.

A justiça de Deus exigia uma substituição de atos: onde a desobediência de um único homem, que era santo, justo e bom, trouxe pecado para todos, a obediência de Jesus Cristo, que também era santo, justo e bom, trouxe justiça para muitos. Assim, por um único ato de justiça — a obediência de Jesus — muitos são feitos justos diante de Deus.

“Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos.” (Romanos 5:18-19).

Ao se tornar plenamente homem, da mesma forma que Adão, o Verbo eterno, despojado de sua glória e poder, incorporou em si as condições necessárias para derrotar o diabo, aquele que tinha o poder da morte. Somente a morte física de Jesus, em obediência ao Pai, poderia libertar todos aqueles que estavam sujeitos à escravidão do pecado e do medo da morte, que é o seu aguilhão. Isso contrasta com a morte espiritual de Adão, que ocorreu devido à desobediência ao mandamento no Éden. Adão violou um mandamento que foi dado para preservar sua vida, enquanto Jesus, o último Adão, por sua vez, teve que obedecer ao Pai até o ponto de sacrificar sua própria vida.

Somente através da morte de Cristo houve a abertura da prisão para os prisioneiros (Isaías 42:7; Isaías 61:1). Cristo trouxe liberdade a todos que estavam sob o domínio do pecado, sujeitos às consequências da lei que pronunciava a sentença: “Certamente morrerás” (Gênesis 2:17), que dava força ao pecado.

“O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei.” (1 Coríntios 15:56).

 

Jesus Cristo-homem: a descendência de Abraão

“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua descendência, que é Cristo.” (Gálatas 3:16).

Ao ler o versículo 16, de Hebreus 2: “Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão.”, o leitor deve considerar a promessa feita a Abraão e à descendência d’Ele, que é única: Cristo.

Quando Deus disse a Abraão: “E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra. (Gênesis 12:3), certo é que em Isaque a descendência de Abraão ainda seria chamada:

“Porém Deus disse a Abraão: Não te pareça mal aos teus olhos acerca do moço e acerca da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz; porque em Isaque será chamada a tua descendência.” (Gênesis 21:12; Romanos 9:7; Hebreus 11:18).

Ao explicar por que Jesus se tornou participante de carne e sangue, o escritor destaca que Deus não escolheu profetas para libertar aqueles que estavam sujeitos à morte, mas sim a descendência de Abraão, em particular Cristo. Por isso, Jesus, como descendente de Abraão, precisava ser semelhante em tudo aos seus irmãos. Ele veio com a missão de expiar os pecados do povo e, como misericordioso e fiel sumo sacerdote, foi capacitado para socorrer os que são tentados, pois ele mesmo, sendo tentado, sofreu.

Nenhum profeta ou ser angelical poderia mediar entre Deus e os homens; somente aquele que é eterno e assumiu a forma de servo pode fazê-lo. Além de ser misericordioso, era essencial que ele fosse um fiel sumo sacerdote, capaz de oferecer os sacrifícios exigidos por Deus e fazer expiação pelos pecados do mundo. Cristo é misericordioso ao se compadecer dos pecadores e é sumo sacerdote porque foi escolhido por Deus para esta função. Ele ofereceu um sacrifício perfeito, santo e aceitável a Deus: seu próprio corpo (Hebreus 2:3; 7:28; 10:10).

Como o Filho resistiu à tentação e sofreu conforme as Escrituras, agora ele pode auxiliar aqueles que são tentados (Hebreus 2:18).

Hebreus 3 – Jesus é superior a Moisés

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

3 thoughts on “Hebreus 2 – O Criador de todas as coisas

  • maravilhoso! leio a biblia a muito tempo e sinceramente nunca consegui entender muito o livro de hebreus ate esse momento.

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  • Um estudo rico de conhecimento ,compreensível e abençoador para minha vida.

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  • Agora entendo como a Bíblia é viva e eficaz. É preciso humildade para compreendê-la. Uma pessoas que acha que sabe tudo, jamais vai ser tocada pela Espírito no entendimento da mensagem em cada livro. É necessária maturidade! Reconhecer a dependência de Deus para nos instruir em sua Palavra. Daí flui o aprendizado que é a base da vida cristã. Agradeço a Deus as etapas que já passei e hoje consigo dar aulas na EBD para adultos. E dessa forma, na busca do aprendizado para entregar aos alunos, aprendo e apreendo muito além do que tudo que já vivi. A Deus toda honra e glória. AMEI O CONTEÚDO EXPOSTO PELO IRMÃO NA FÉ. OBRIGADA!

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