A resposta para a pergunta: “Deus virou as costas para o Seu Filho na cruz?” está claramente revelada no Salmo 22:24, que afirma: “Pois Ele não desprezou nem abominou a aflição do aflito.” Portanto, Deus não desamparou Seu Filho em seu sofrimento, mas permaneceu atento e presente em meio àquela aflição.
Deus abandonou Jesus na cruz?
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“Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação.” (Salmo 91:15-16).
A recente leitura do artigo “Dois Paradoxos na Morte de Cristo”, escrito pelo pastor e conferencista John Piper, deixou-me perplexo pela forma como os argumentos são dispostos e pela conclusão a que ele chega em relação a nuances cruciais da morte de Cristo.
A afirmação de que Cristo experimentou a maldição do Pai pode ser vista como uma interpretação comum no meio evangélico, o que, até certo ponto, é compreensível. No entanto, o uso da passagem de Gálatas 3:13 — “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro” — para justificar essa compreensão é, no mínimo, inquietante.
A ideia de que Deus amaldiçoou Seu próprio Filho pelo fato de Ele ser o autor da lei é teologicamente inconsistente e biblicamente infundada. Tal argumento carece de uma leitura mais cuidadosa das Escrituras. Dentre todas as reflexões apresentadas no artigo “Dois Paradoxos na Morte de Cristo”, a maior aberração, no entanto, reside na seguinte declaração:
“Portanto, a morte de Cristo pelo nosso pecado e por nossa transgressão da lei foi a experiência da maldição do Pai. É por essa razão que Jesus disse, ‘E perto da hora nona exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamá sabactâni; isto é, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?’ (Mt 27:46) (…) Na morte de Cristo, Deus lançou sobre ele os pecados do seu povo (Isaías 53.6), os quais odiava. E em ódio por esse pecado, Deus deu as costas a seu Filho carregado de pecados, e o entregou para sofrer todo o poder da morte e da maldição…” Piper, John, Artigo: Dois paradoxos na morte de Cristo – grifo nosso <https://voltemosaoevangelho.com/blog/2011/04/morte-por-amor-deus-pode-morrer-dois-paradoxos-na-morte-de-cristo/>.
Ao longo de sua análise, Piper parece se afastar daquilo que as Escrituras verdadeiramente ensinam, deturpando o significado profundo do sacrifício de Cristo e sua relação com a maldição da lei. O texto apresenta imprecisões em sua interpretação bíblica e reflete um consenso distorcido e afastado da verdade. Uma releitura cuidadosa das últimas palavras de Cristo na cruz revela claramente que não há paradoxo na morte de Cristo, tampouco qualquer indicação de que Deus tenha amaldiçoado Seu Filho.
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Embora a crucificação fosse uma prática comum na Roma antiga, usada para infligir sofrimento extremo e humilhação pública, a crucificação de Cristo transcendeu o caráter ordinário desse castigo. Esse episódio destaca a profundidade do impacto da crucificação, mesmo em uma época e entre uma população acostumada com esse brutal método de punição. O centurião, um observador experiente dessas execuções, reconheceu algo excepcional ao declarar: “Na verdade, este homem era justo.” (Lucas 23:47). Esse reconhecimento revela que havia algo singular na morte de Cristo, algo que deixou uma marca profunda não só na multidão que testemunhou o evento, mas também naqueles, como o centurião, que provavelmente já haviam presenciado várias execuções semelhantes.
Ao comparar essa crucificação com tantas outras, a reação do povo – que voltou batendo no peito – sugere que a crucificação de Jesus transcendeu as meras dimensões de um castigo físico e legal (Lucas 23:48).
Cristo, sendo o Mestre por excelência, utilizou a crucificação como um cenário para uma aula magistral de interpretação bíblica, além de ser o momento decisivo em que se consumou a vitória da humanidade sobre a maldição do pecado. Conhecido por ensinar as multidões em grego ‘koine’, a língua comum da época, Cristo surpreende ao proferir na cruz uma única frase em aramaico, fato que chamou a atenção dos evangelistas. Ao clamar: “Eli, Eli, lamá sabactâni”, houve confusão entre os presentes, com alguns interpretando erroneamente que Ele estaria invocando o profeta Elias (Mateus 27:47).
Os evangelistas, por sua vez, prontamente traduziram as palavras de Jesus para o grego, registrando a frase: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. No entanto, é fundamental entender que, naquele momento doloroso, Jesus não estava lamentando um abandono por parte de Deus. Em vez disso, Ele estava citando as Escrituras, especificamente o Salmo 22, de maneira que os ouvintes mais tarde poderiam compreender a relação direta entre a crucificação e a profecia messiânica desse salmo.
Assim como fez quando leu o trecho de Isaías na sinagoga e declarou: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (Lucas 4:21), ao bradar “Eli, Eli, lamá sabactâni”, Jesus estava novamente afirmando: “Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos”. A citação do primeiro verso do Salmo 22 tinha o propósito de remeter os ouvintes a todo o contexto dessa profecia messiânica.
O Salmo 22, composto de 31 versos, é amplamente reconhecido como uma profecia sobre o Messias. Ao citar o primeiro versículo, Jesus convidava os que o escutavam a refletirem sobre o cumprimento de cada aspecto daquela profecia. Sabemos que muitos salmos são profecias messiânicas, pois, conforme afirma 1 Crônicas 25:1, podemos concluir que os salmistas, sendo profetas, não falavam de si mesmos, mas do Cristo.
Neste salmo, encontramos a mesma verdade proclamada por Isaías: “Não tinha beleza nem formosura; e, olhando nós para Ele, não havia boa aparência, para que o desejássemos… E nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido” (Isaías 53:2). Jesus, ao citar o Salmo 22 na cruz, estava reafirmando essa verdade profética, demonstrando que Sua morte era o cumprimento dos desígnios divinos, não uma manifestação de abandono, mas o ápice do plano de redenção.
Qualquer pessoa que olhasse para Cristo durante a crucificação teria a impressão de que Ele estava sendo afligido, ferido e oprimido por Deus. O Salmo 22:1-8 descreve com detalhes o fim da vida de Cristo entre os homens e o desprezo que Ele sofreu de seus concidadãos e algozes.
A expressão “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” reforça a percepção que os presentes na crucificação tiveram: que Cristo estava sendo afligido por Deus. No entanto, essa impressão não refletia a realidade espiritual do evento, mas sim a interpretação limitada daqueles que testemunharam a cena. Nos primeiros oito versos do Salmo 22, é profetizada essa visão que os homens teriam de Cristo — que Ele era “verme, e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo.” (Salmo 22:5-6). O contraste entre Cristo e os outros homens era evidente, pois, enquanto muitos clamaram a Deus e foram atendidos, Cristo clamou no Getsêmani para que o cálice passasse d’Ele, mas não foi atendido. Ele bebeu o cálice que o Pai lhe deu, cumprindo sua missão redentora, e durante a crucificação, as pessoas zombavam: “Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama” (Mateus 27:43). Contudo, o livramento de Deus estava além da morte, algo que os homens ao redor não podiam compreender.
As Escrituras, porém, previam esse livramento:
“Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” (Salmo 16:10);
“Para que viva para sempre, e não veja corrupção.” (Salmo 49:9).
A confiança de Cristo no Pai é confirmada nos versos seguintes do Salmo 22, onde Ele recorda que desde o ventre materno foi sustentado por Deus (Salmo 22:9-10). Aqueles que compreendem as Escrituras sabem que a morte de Cristo foi Sua vitória e, simultaneamente, a vitória da humanidade. A crucificação é o ponto de decisão que revela quem verdadeiramente crê na salvação providenciada por Deus, como Paulo afirma:
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos.” (1 Coríntios 1:23).
A aparente petição de desamparo no verso 1 do Salmo 22 é esclarecida à luz do verso 11, que expressa a confiança de Cristo de que o Pai estava com Ele, mesmo na angústia:
“Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude.” (Salmo 22:11).
O Salmo 22 prescreve como Cristo, em meio à Sua aflição, deveria clamar ao Pai:
“Invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás.” (Salmo 50:15).
Esse clamor não era uma expressão de dúvida, mas sim uma forma de glorificar o Pai, mesmo no momento de maior sofrimento. Como diz o Salmo 66:14,17, Cristo clamou ao Pai em meio à angústia e, por isso, Deus foi exaltado.
“Os quais pronunciaram os meus lábios, e falou a minha boca, quando estava na angústia (…) A ele clamei com a minha boca, e ele foi exaltado pela minha língua” ( Sl 66:14 e 17).
A profecia também revela a confiança inabalável do Filho no Pai. Mesmo na aflição extrema, Cristo sabia que o Pai estava com Ele e o auxiliaria. “Não te alongues de mim, pois a angústia está perto, e não há quem ajude” ( Sl 22:11 ) não é um grito de desespero, mas uma afirmação de confiança em Deus, que poderia sustentá-lo durante o vale da sombra da morte. Assim como o Salmo 91:15 prediz: “Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei”, o Filho invocou o Pai, conforme está registrado no Salmo 22:1 e 11. Essa confiança mostra que, embora Cristo passasse pelo sofrimento, Ele sabia que o Pai estava presente, cumprindo Seu propósito redentor.
Nos versos 12 a 21 do Salmo 22, são descritos vários eventos diretamente ligados à crucificação de Cristo, trazendo uma narrativa que detalha Seu sofrimento físico e espiritual. No entanto, a partir do verso 23, o salmista passa a profetizar uma vitória sublime em meio ao sofrimento, revelando o verdadeiro propósito da aflição:
“Porque não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu” (Salmo 22:24).
Este verso torna evidente que Deus não desprezou nem abominou a aflição de Cristo. Ele não escondeu Seu rosto do Filho durante o sofrimento na cruz, contrariando a interpretação amplamente difundida em muitos púlpitos, de que Deus teria “virado as costas” para Jesus devido ao pecado da humanidade. O Salmo 22:24 deixa claro: “Quando ele clamou, o ouviu.” Deus esteve presente com Cristo em Sua aflição, cumprindo a promessa expressa em outras passagens como o Salmo 91:15:
“Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei.” (Salmo 91:15; 56:13; 20:6).
Cristo, embora tenha suportado a aflição e a agonia, não foi desprezado nem visto como abominação aos olhos de Deus. Pelo contrário, o sacrifício de Cristo foi aceito com grande prazer por Deus, como um sacrifício perfeito, sem mancha e sem mácula. A ideia de que Deus teria se afastado de Cristo no momento crucial é contraditória às Escrituras, que afirmam o contrário:
“E não escondas o teu rosto do teu servo, porque estou angustiado; ouve-me depressa (…) Deram-me fel por mantimento, e na minha sede me deram a beber vinagre.” (Salmo 69:17-21).
A pergunta fundamental aqui é: como Deus poderia esconder Seu rosto do sacrifício perfeito? Cristo é o Cordeiro imaculado, oferecido desde a fundação do mundo, sem mancha e segundo a vontade do Pai. Seu sacrifício foi um “cheiro suave” diante de Deus:
“E andai em amor, como também Cristo vos amou, e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave.” (Efésios 5:2).
Ao citar o primeiro verso do Salmo 22 na cruz, Cristo não estava expressando um sentimento de abandono, mas sim provocando uma reflexão profunda entre os que presenciavam Sua morte. Ele estava chamando a atenção para o cumprimento profético das Escrituras. Aqueles que ouviram Suas palavras e, posteriormente, consultassem o Salmo, perceberiam que tudo o que fora descrito se cumpria exatamente na crucificação de Cristo. Assim, o que parecia ser um momento de derrota, na verdade, era a consumação da obra redentora, e Cristo glorificava o Pai ao completar Sua missão:
“Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” (João 17:4).
Portanto, a interpretação de que Deus abandonou Cristo na cruz não se sustenta à luz das Escrituras. O sacrifício de Cristo foi perfeito e aceito por Deus, e Suas palavras na cruz revelaram a conexão profunda entre as profecias do Antigo Testamento e a obra redentora consumada naquele momento.
A maldição da lei
“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” (Gálatas 3:13).
O apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, deixa claro que Cristo nos resgatou da maldição da lei, afirmando: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gálatas 3:13). Essa passagem revela a profundidade da obra de Cristo em assumir a maldição que nos era destinada, cumprindo assim a justiça de Deus. No entanto, em sua tentativa de estabelecer um paradoxo, John Piper faz a seguinte pergunta: “A maldição de quem?” Em seguida, ele desenvolve o argumento, sugerindo que a maldição que Cristo suportou seria, de algum modo, a maldição do próprio Deus.
“A maldição de quem? Poder-se-ia suavizar a questão, dizendo, “a maldição da lei.” Mas a lei não é uma pessoa para que possa amaldiçoar. Uma maldição só é uma maldição de fato se houver alguém que amaldiçoe. A pessoa que amaldiçoa por meio da lei é Deus, que escreveu a lei. Portanto, a morte de Cristo pelo nosso pecado e por nossa transgressão da lei foi a experiência da maldição do Pai.” Idem.
Esse raciocínio, embora comum em algumas interpretações evangélicas, carece de um exame mais cuidadoso à luz das Escrituras. Piper parece sugerir que Deus amaldiçoou diretamente Seu Filho, o que implica uma distorção teológica perigosa. A maldição referida por Paulo não era uma maldição de Deus contra Cristo, mas sim a maldição da lei que recaía sobre todos os pecadores. Cristo, como nosso substituto, voluntariamente tomou sobre Si essa maldição ao se deixar crucificar para nos resgatar, mas em nenhum momento isso significa que Deus tenha “amaldiçoado” Seu próprio Filho.
A própria natureza da missão de Cristo contradiz a ideia de que Ele teria sido alvo da maldição do Pai. O sacrifício de Cristo foi um ato de perfeita obediência a Deus, e, como afirmado anteriormente no Salmo 22:24, Deus nunca escondeu Seu rosto de Cristo, nem o abandonou. O plano redentor decorre de substituição de ato, a obediência de Cristo, o último Adão em lugar da desobediência de Adão, não por uma condenação de Deus sobre o Seu Filho.
Portanto, o argumento de Piper, que busca estabelecer esse paradoxo, falha ao não considerar plenamente o caráter do relacionamento entre o Pai e o Filho, e a verdadeira natureza da maldição que Cristo suportou — não uma maldição vinda de Deus, mas a maldição do pecado e da lei, da qual Ele nos resgatou por Sua morte substitutiva na cruz.
A análise de Piper sobre a maldição, ao sugerir que para haver maldição deve haver alguém que a pronuncie, falha ao não discernir o papel do transgressor como o verdadeiro causador dessa maldição. A Bíblia é clara ao afirmar que a maldição é consequência dos atos do transgressor, como em Provérbios 26:2:
“Como ao pássaro o vaguear, como à andorinha o voar, assim a maldição sem causa não virá.”
A maldição não se origina da lei em si, visto que a lei é santa, justa e boa. A maldição advém do ato do primeiro homem, Adão, ao transgredir a lei de Deus, pois “Deus a ninguém tenta” (Tiago 1:13). Paulo explica isso em Romanos 5:19:
“Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos.”
A mesma argumentação que Piper usa para interpretar essa maldição é frequentemente empregada por ateus ao analisar a ordem de Deus a Adão no Éden. No entanto, as Escrituras esclarecem que Deus não amaldiçoou Adão diretamente. A determinação dada no Éden era um ato de cuidado, alertando Adão sobre as consequências de desobedecer e se tornar participante do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Foi a própria transgressão de Adão que trouxe maldição sobre ele e toda a humanidade, visto que a penalidade pela violação do mandamento de Deus era clara: “certamente morrerás.” (Gênesis 2:17).
Não foi Deus quem amaldiçoou Adão, antes foi Adão que buscou e lançou maldição sobre si e sobre toda a sua descendência em virtude da força da penalidade que havia na transgressão do mandamento: certamente morrerás. O que Deus deu a Adão foi uma lei santa, justa e boa, pois foi instituída para preservar-lhe a vida, porém, na lei estava explícita uma maldição ao transgressor e, quando Adão comeu do fruto, o pecado que é excessivamente maligno achou ocasião na força da lei santa, justa e boa que dizia: dela não comerás.
Portanto, a maldição que Adão lançou sobre si mesmo e sua descendência não foi imposta por Deus, mas da sua própria desobediência à lei santa, justa e boa que Deus lhe deu para preservar a vida. A lei continha uma advertência explícita ao transgressor, e, ao comer do fruto, Adão experimentou a consequência do pecado, que “é excessivamente maligno” e encontrou ocasião na força da lei (Romanos 7:13).
Quando Paulo diz que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós.” (Gálatas 3:13), ele está apresentando a base legal dessa maldição: “Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro.” A maldição que Cristo veio remover não é meramente a maldição da lei mosaica, mas a maldição original do Éden, decorrente da desobediência de Adão. A lei mosaica foi dada aos judeus para conduzi-los a Cristo (Gálatas 3:24), mas os gentios, que não tinham essa lei (Romanos 2:14; Efésios 2:12), também estavam debaixo da maldição herdada de Adão. Portanto, a maldição que Cristo assumiu refere-se à desobediência ao mandamento original no Éden, não à específica maldição da lei mosaica.
A lei mosaica, em Deuteronômio 21:22-23, estipulava que alguém condenado ao madeiro não poderia permanecer pendurado até o outro dia, pois o pendurado era considerado maldito. Essa determinação, no entanto, estava intrinsecamente ligada ao plano redentor de Deus, prefigurando a morte e ressurreição de Cristo. Assim como a serpente foi levantada no deserto para trazer cura ao povo (João 3:14), Cristo também foi levantado na cruz para a redenção da humanidade. No entanto, era necessário que Cristo fosse sepultado no mesmo dia da Sua morte, conforme a profecia que previa Sua permanência no “seio da terra” por três dias antes da ressurreição (Mateus 12:40).
“Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro, O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o SENHOR teu Deus te dá em herança” (Deuteronômio 22:22 -33).
Portanto, a determinação da lei em Deuteronômio não apenas regulava as punições daquele tempo, mas apontava diretamente para a obra redentora de Cristo, que não poderia permanecer na cruz após a Sua morte, pois Sua missão incluía Sua ressurreição ao terceiro dia. O corpo de Cristo precisava ser sepultado no mesmo dia, como forma de cumprir integralmente o plano de Deus e as profecias que anunciavam Sua vitória sobre a morte.
Em resumo, a maldição que Cristo assumiu foi a maldição que se originou da desobediência de Adão no Éden, a mesma maldição que passou a toda a humanidade. Cristo nos libertou dessa maldição ao se tornar maldição por nós na cruz, não porque Deus o amaldiçoou, mas porque Ele tomou sobre Si as consequências do pecado humano, trazendo redenção e vida eterna àqueles que crêem.
A análise apresentada reforça o entendimento de que Cristo, ao ser pendurado no madeiro, não estava sofrendo uma maldição proferida por Deus, mas sim assumindo voluntariamente a maldição imposta pela transgressão da humanidade.
A Lei foi dada por causa dos transgressores, mas Cristo, sendo perfeito e sem pecado, foi contado entre os transgressores para tomar sobre si a maldição que nos pertencia. Conforme Gálatas 3:13, “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós.” No entanto, essa maldição não se origina de Deus, mas é uma consequência direta da transgressão da humanidade, iniciada em Adão.
Mas por que Cristo foi levado ao madeiro? A resposta encontra-se no Salmo 22: porque, como servo do Senhor, Jesus se fez “verme”, oprimido pelos homens e ferido por Deus.
Cristo não foi amaldiçoado por Deus, e Sua crucificação não significa que Deus tenha proferido maldição sobre Seu Filho. Pelo contrário, Jesus foi crucificado em decorrência da transgressão da humanidade, uma consequência da maldição que Adão trouxe ao mundo ao desobedecer a Deus no Éden. A maldição, portanto, é o resultado da desobediência, e Cristo, sendo sem pecado, assumiu essa maldição em nosso lugar, sem jamais ter transgredido. “Mas é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa” (João 15:25) expressa essa verdade, pois Cristo foi rejeitado pelos seus e odiado injustamente.
No Éden, todos os homens foram colocados sob a maldição da desobediência, mesmo aqueles que receberam a lei. Como a Lei determinava que apenas quem cumprisse todas as suas disposições poderia viver por ela, mas ninguém conseguiu cumprir toda a Lei, a maldição permaneceu sobre todos. Gálatas 3:10 nos diz: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição.” Essa condição permanece até que Cristo, o único obediente, tome sobre Si essa maldição ao se deixar crucificar em obediência ao Pai.
Quando Jesus veio, veio na condição de Filho amado, sem pecado, e não era digno de morte (Mateus 5:17). Ele não tinha parte na condenação da humanidade, pois nasceu livre do pecado, sem a condenação e a maldição que pesava sobre os homens. Quando Cristo se entregou à morte, e morte de cruz, Ele não foi pendurado como maldito por ser transgressor, mas por obediência:
“E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8).
Ele não foi crucificado como transgressor, mas assumiu a cruz por obediência, sujeitando-se à morte para que pudesse resgatar a humanidade. A maldição que Cristo carregou não foi fruto de sua própria desobediência, mas Ele, em obediência, tomou a cruz e assumiu nossa condição para nos livrar da maldição que Adão trouxe ao mundo. Ele se submeteu a essa condição em obediência Àquele que tinha poder de livrá-Lo (Hebreus 10:9-12). Sua obediência contrastou diretamente com a desobediência de Adão, como diz Romanos 5:19:
“Pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um, muitos serão feitos justos.”
Pela desobediência de um só homem, Adão, muitos foram feitos malditos; porém, pela obediência do Filho do homem, que se sujeitou à morte na cruz, humilhando-se a Si mesmo, muitos foram feitos justos (Romanos 5:19).
Os transgressores eram conduzidos ao madeiro como resultado de seus próprios crimes, permanecendo sob a maldição herdada da transgressão de Adão. No entanto, quando um obediente sem pecado se sujeitou a tomar a cruz e seguir ao Calvário, Ele reuniu os elementos necessários para o resgate da humanidade — de todos os que n’Ele crerem.
Cristo foi visto como maldito pelos homens por causa da cruz, mas, na realidade, Ele era o Cordeiro de Deus, enviado para tomar sobre Si o pecado do mundo. O que os homens consideravam maldito era, na verdade, o Santo de Deus, o único capaz de nos redimir. Ele foi “maldito de Deus” (Deuteronômio 21:22-23), mas isso não significa que Ele foi amaldiçoado por Deus. A maldição só vem por causa da transgressão, e Cristo, sendo sem pecado, estava tomando sobre Si a consequência do pecado em nosso lugar.
Todos os homens, ao nascerem, entram no mundo através de Adão, a “porta larga” que conduz à perdição. Sem Cristo, todos estão destinados à separação eterna de Deus. Morrer sem Cristo significa permanecer sob a maldição do pecado, que leva à perdição eterna. A cruz, que representava a maldição para os que estavam sem Deus, foi o meio pelo qual Cristo trouxe redenção à humanidade. Ele, sem pecado, se fez maldição por nós para que pudéssemos ser reconciliados com Deus.
Morrer sem Cristo, sem nascer de novo pela fé no Descendente prometido, é caminhar para a perdição eterna. Assim, qualquer um que fosse pendurado no madeiro, sofrendo a morte física, era considerado maldito, pois morria sob maldição. Cristo, ao ser pendurado no madeiro, se fez maldição pela humanidade, mas Ele era sem pecado. Ele não foi gerado segundo a carne, o sangue ou a vontade humana, mas pelo Espírito de Deus no ventre de Maria:
“Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe” (Salmo 22:10).
Embora tenha sofrido a morte de cruz, o pecado não teve domínio sobre Ele, pois Ele não foi gerado pela semente de Adão, mas foi formado por Deus no ventre de Maria. Como Filho de Deus, Ele não estava sob o poder da morte, pois não era herdeiro do pecado de Adão. Somente aqueles que são descendentes de Adão, nascidos da carne, estão sob a condenação da morte, conforme a sentença dada a Adão no Éden: “Certamente morrerás.” Porém, Cristo, sendo gerado pelo Espírito Santo, não foi sujeito à morte da mesma forma que os descendentes de Adão.
Por não ser pecador, a morte não pôde dominar Cristo. A morte só tem poder sobre aqueles a quem a Lei se aplica: “Certamente morrerás.” Essa sentença recai sobre todos os descendentes de Adão. No entanto, Cristo, não sendo descendente de Adão, mas gerado pelo Espírito, venceu a morte e cumpriu plenamente a justiça de Deus. A Lei, santa, justa e boa, serviu para mostrar a separação causada pela desobediência de Adão, mas Cristo, o segundo Adão, trouxe reconciliação e vida eterna àqueles que creem.
Portanto, ao ser pendurado no madeiro, Cristo tomou sobre Si a maldição da humanidade, mas Ele mesmo não era merecedor dessa maldição. Sua obediência até a morte de cruz foi o ato redentor pelo qual nos trouxe vida, derrotando a morte e o pecado que haviam reinado desde Adão. A lei santa, justa e boa, que deu ocasião à separação de Deus em função da desobediência, foi cumprida plenamente em Cristo, e Ele nos libertou do poder da maldição, trazendo-nos para a vida eterna com Deus.
O pecado, por si só, não tinha poder, mas buscou na lei — que diz: “Certamente morrerás” — a força necessária para aprisionar a humanidade. Foi através da sentença de morte, oriunda da força da lei, que o pecado escravizou os homens. Contudo, isso foi impossível com Cristo. A morte não pôde detê-lo! Uma vez soltas as ânsias da morte, Jesus ressuscitou para a glória de Deus Pai.
Assim, ao oferecer-se no madeiro, Jesus estabeleceu um novo e vivo caminho, por meio do sacrifício de Seu corpo, permitindo que a humanidade voltasse a ter acesso a Deus. E como se dá esse acesso? Os homens devem tomar cada um sua própria cruz e seguir a Cristo. Devem ser crucificados, mortos e sepultados no batismo da morte de Cristo, para então serem regenerados como novas criaturas, em verdadeira justiça e santidade, em comunhão com Deus.
Portanto, a morte física de Cristo foi substitutiva. Qualquer homem que experimentasse a morte física estaria eternamente perdido. Porém, como Cristo morreu no lugar da humanidade, ninguém que crê n’Ele precisa temer o pecado ou a morte. Não há razão para temer o madeiro e os sofrimentos que dele decorrem! Pelo contrário, cada um deve tomar sua própria cruz e seguir a Cristo até o Calvário. Deve-se morrer com Cristo, pois a lei que declara: “A alma que pecar, essa morrerá.” (Ezequiel 18:4) não foi abolida com a morte de Cristo. Ele, no entanto, providenciou um meio para que o homem morra espiritualmente sem precisar provar a morte física e seja glorificado sem descer à sepultura (Romanos 6:3-8; Colossenses 3:1).
A penalidade imposta pela lei no Éden não passa da pessoa do transgressor. Como todos pecaram, todos devem morrer. No entanto, morrer fisicamente sem Cristo é condenação eterna. Mas se alguém morre com Cristo, conforme Ele nos convida a tomar nossa própria cruz, então, quando experimentar a morte física, essa morte já não terá domínio sobre ele. Isso porque, espiritualmente, essa pessoa já ressuscitou com Cristo e se tornou uma nova criatura.
Cristo derramou sua alma na morte e foi contado entre os transgressores para levar sobre si o pecado de muitos (Hebreus 2:9,14). Ele fez isso pelo prêmio que estava diante d’Ele:
“Por isso, eu lhe darei a parte de muitos, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos e intercedeu pelos transgressores” (Isaías 53:12; Hebreus 12:2).
A morte física de Jesus foi substitutiva (Isaías 53:6), mas, para que o homem seja digno d’Ele, é necessário que tome sua cruz, vá ao Calvário, morra com Cristo, seja sepultado pelo batismo na morte de Cristo (Romanos 6:3) e ressuscite dentre os mortos como mais um dos irmãos do Primogênito (Jesus) dentre os mortos.
“E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.” (Mateus 10:38).
Hoje, os crentes se gloriam na ressurreição! Quando ainda não crentes, foi necessário aproximar-se de Cristo na morte. Agora, por estarem em Cristo, exultam na ressurreição, pois foram “plantados” na semelhança de Sua morte e ressurgem à semelhança de Sua ressurreição.
A morte de Cristo não é a morte de Deus
A reflexão sobre a natureza de Deus e a mortalidade do homem revela uma distinção fundamental: Deus é eterno (Hebreus 1:11), enquanto o homem, por possuir um corpo material, é mortal.
O Salmo 8:4 ressalta a fragilidade do ser humano: “Que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?” Da mesma forma, Isaías 51:12 afirma: “Eu, eu sou aquele que vos consola; quem, pois, és tu para que temas o homem que é mortal, ou o filho do homem, que se tornará em erva?”
Deus, sendo eterno, transcende todo e qualquer conceito de morte. Não há possibilidade de morte em relação à divindade, porque Deus, por definição, é imutável e incorruptível.
Em primeiro lugar, Ele não pode alienar-se de Si mesmo, ou seja, não pode pecar, o que significa que Deus não pode experimentar a “morte espiritual” ou alienação. Como diz Hebreus 6:18: “Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta”. Em segundo lugar, Deus não pode morrer fisicamente, pois Ele é Espírito (João 4:24) e a morte física está ligada à natureza material, algo que não se aplica a Deus.
Portanto, ao contemplarmos a cruz de Cristo, não podemos afirmar que “Deus morreu”; o correto é dizer que Jesus Cristo, em Sua natureza humana, morreu. Sabemos que, por causa da sua humanidade, Jesus experimentou a morte física, o que não permite dizer que a divindade, sendo imortal e eterna, tenha sofrido a morte.
O ser humano está sujeito à morte física, mas possui um espírito imortal. O mesmo princípio se aplica a Cristo: como o Verbo Eterno, Sua divindade permaneceu intocada pela morte. No entanto, ao se esvaziar de Sua glória e poder para assumir a condição humana, Ele experimentou o sofrimento e a morte física na cruz.
A morte alcançou apenas o corpo físico de Jesus Cristo em sua humanidade, de modo que não se pode falar em “morte de Deus”. A essência da divindade reside na pessoa do Verbo eterno, que jamais pode ser tocado pela morte. Quando Jesus é apresentado como Deus, isso se refere à Sua essência divina anterior à encarnação, razão pela qual Ele é plenamente digno de adoração. No entanto, enquanto encarnado, Ele foi plenamente humano, vivendo como cem por cento homem.
Lançar mão da doutrina dos Calcedônios, por mais ortodoxa que se entenda ser, para forjar um paradoxo, é leviano. Observe o primeiro exemplo de Piper:
‘Por exemplo, sendo que Jesus Cristo é homem e Deus em uma única pessoa, sua morte foi a morte de Deus? Para responder a essa questão, precisamos falar das duas naturezas de Cristo, uma divina e uma humana. Desde 451 AD, a definição calcedônica das duas naturezas de Cristo em uma pessoa tem sido aceita como o ensino ortodoxo das Escrituras.’ ( Idem).
Segundo as Escrituras, entendemos que Deus se manifesta em três pessoas distintas, porém coeternas, unidas pelo vínculo da perfeição. Também aprendemos, através delas, que uma das pessoas da Trindade voluntariamente deixou sua condição divina, despindo-se de sua glória, e tornou-se verdadeiramente homem.
É com base nesta verdade revelada nas Escrituras que compreendemos que o Senhor Jesus Cristo era ao mesmo tempo Deus e homem:
“Portanto, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel” (Isaías 7:14).
Ou seja, na eternidade, a segunda pessoa da Trindade, o Verbo eterno, esvaziou-se da glória que lhe pertencia e encarnou no ventre de Maria.
Sobre essa realidade, o apóstolo Paulo comenta:
“Que, sendo em forma de Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte, e morte de cruz.” (Filipenses 2:6-8).
Embora na eternidade fosse uma das pessoas da divindade, conforme atestado pelas Escrituras, ao tornar-se homem, Jesus foi plenamente humano, esvaziado totalmente dos seus atributos divinos. Em outras palavras, quando encanado, Jesus foi 100% homem, ou seja, Ele esvaziou 100% a si mesmo dos seus atributos divinos.
Antes de sua encarnação, Cristo era onisciente, onipresente e onipotente (João 1:30); criou todas as coisas e nada foi feito sem Ele (João 1:3). Mas, para ser homem, Ele teve que abrir mão completamente de sua divindade. Assim, Cristo se fez semelhante aos homens em tudo, inclusive tornando-se sujeito à morte.
“Por isso, convinha que em tudo fosse feito semelhante a seus irmãos, para que fosse misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus, para expiar os pecados do povo” (Hebreus 2:17);
“Mas, por causa do sofrimento da morte, Ele foi feito um pouco menor que os anjos, para que, pela graça de Deus, experimentasse a morte por todos” (Hebreus 2:9).
Portanto, antes da encarnação, Cristo possuía todos os atributos divinos, mas, como homem, Ele se esvaziou de todos esses atributos. Ele participou da carne e do sangue, sujeitando-se às mesmas fraquezas dos homens, inclusive à morte, porém sem pecado (Hebreus 4:15).
Cristo esvaziou-se totalmente de sua glória e assumiu a natureza humana. Ele morreu por ser plenamente homem, mas ressuscitou glorificado, recuperando a plenitude do poder que possuía antes da encarnação. Para não restar dúvidas, Cristo despiu-se 100% da sua glória e assumiu a natureza humana. Ele morreu por ser 100% homem, e ressurgiu dentre os mortos glorificado com 100% do poder que possuía antes de ser encarnado.
“Agora, Pai, glorifica-me junto a ti, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse” (João 17:5).
De acordo com a linguagem bíblica, Deus fez o homem à Sua imagem (Gênesis 1:27). Ao esvaziar-se de seus atributos, Cristo assumiu essa mesma figura, a imagem concedida a Adão.
“No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é figura daquele que havia de vir” (Romanos 5:14).
Cristo, ao ressurgir dentre os mortos, tornou-se a expressa imagem do Deus invisível (Hebreus 1:3) e compartilhou essa condição com a Igreja. Deus esvaziado de seus atributos não assumiu a condição de um ser angelical, ou de qualquer outra criatura, antes assumiu a figura da imagem que concedera a Adão
“E todos nós, com o rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2 Coríntios 3:18; 1 João 3:2).
Ainda que Cristo tenha se despido de sua glória durante a encarnação, sua divindade não foi perdida. O autor de Hebreus afirma claramente que Cristo deve ser adorado.
“E novamente, ao introduzir o primogênito no mundo, diz: Todos os anjos de Deus o adorem” (Hebreus 1:6).
Embora tenha se despojado das prerrogativas divinas ao ser encarnado, antes mesmo de ser morto, Cristo rogou ao Pai que restaurasse a glória que possuía anteriormente.
Mesmo despido de sua glória, Cristo não abriu mão de ser reconhecido como Deus, nem da adoração que lhe era devida, já que o Pai, nas Escrituras, não retirou dele essa prerrogativa. Entre os homens, Jesus identificou-se como o “Eu Sou” e foi adorado.
“Ele disse: Creio, Senhor. E o adorou” (João 9:38; João 8:58).
Se considerarmos as Escrituras de maneira diversa da exposição correta, inevitavelmente corremos o risco de cometer imprecisões teológicas e doutrinárias.
“O mistério da união entre a natureza humana e a divina na experiência da morte não nos é revelado. O que sabemos é que Cristo morreu, e que no mesmo dia ele foi ao paraíso (“Hoje estarás comigo no paraíso,” Lucas 23.43). Sendo assim, parece ter havido consciência na morte, de modo que a união contínua entre a natureza humana e a divina não precisasse ser interrompida, ainda que Cristo tenha morrido somente em sua natureza humana” (Idem) grifo nosso.
Cristo, sendo Deus, esvaziou-se de sua glória e fez-se homem, o que permitiu que Ele estivesse sujeito à morte, que consiste na separação do espírito do corpo físico — uma condição exclusiva da natureza humana. Em sua encarnação, Cristo, que na Sua exaltação é o Rei eterno e imortal, tornou-se mortal para cumprir o plano de redenção. O autor de Hebreus confirma isso ao afirmar:
“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos” (Hebreus 2:9);
“Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único Deus sábio, seja honra e glória para todo o sempre. Amém” (1 Timóteo 1:17; 6:16).
Portanto, Cristo, que é o Rei dos séculos, imortal e a Sabedoria de Deus, deve ser honrado e glorificado para sempre. Na condição de homem, Ele foi gerado no ventre de Maria, cresceu, e na plenitude de seus dias, foi cortado da terra dos viventes, conforme o profeta Isaías descreve.
“Da opressão e do juízo foi tirado; e quem contará o tempo da sua vida? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; pela transgressão do meu povo ele foi atingido” (Isaías 53:8).
As aflições e o terror da morte assombraram o Senhor Jesus, assim como qualquer ser humano sente diante dessa realidade, como o salmista diz:
“Em me vindo o temor, hei de confiar em ti” (Salmo 56:3).
Cristo, tendo se despojado de sua glória, experimentou plenamente a condição humana, conforme havia sido prometido a Abraão, segundo a linhagem de Davi. No Jardim do Getsêmani, vemos a profunda angústia que Ele sofreu, como registrado: “Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse aos discípulos: ‘Sentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar’. E, levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se profundamente. Disse-lhes então: ‘A minha alma está profundamente triste, até à morte; ficai aqui e vigiai comigo’” (Mateus 26:36-37); e em Lucas 22:44: “E, posto em agonia, orava mais intensamente; e o seu suor tornou-se como gotas de sangue, caindo sobre a terra”.
Esses textos evidenciam que Cristo, ao tomar sobre si a nossa humanidade, passou por todos os sofrimentos que são comuns aos homens, inclusive a morte. Contudo, por ser o Cordeiro sem pecado, sua morte foi expiatória e redentora, abrindo caminho para a vida eterna a todos que creem.
Você é um novo Gnóstico! Assim dá para entender quando você diz (as palavras são minhas) “Na cruz morreu só o homem Jesus e o Cristo, o Deus Filho, abandonou o corpo do galileu e mandou-se para o céu, deixando o infeliz para trás!!!”
Olá Luiz.. preciso que aponte o equívoco no texto… Att.