Se o homem tem Cristo, o tal é conhecido de Deus, uma vez que é de novo criado na condição de filho de Deus. Não é o comportamento do homem que concede a filiação divina, mas sim o nascer da água e do Espírito.
Salmo 1 – Bem-aventurança
Conteúdo do artigo
1- Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
2 – Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
3 – Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.
4 – Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha.
5 – Por isso os ímpios não subsistirão no juízo, nem os pecadores na congregação dos justos.
6 – Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.
As profecias
Este salmo é a primeira profecia que compõe os salmos.
Antes de se lançar a recitar este cântico hebraico é bom considerar que os salmos são composições proféticas. Para analisa-lo e compreende-lo, se faz necessário considerar também que, quando o rei e profeta Davi separou alguns homens para o ministério dos cânticos, os designou para profetizarem ao som de instrumentos musicais ( 1Cr 25:1 -3).
O rei Davi era profeta ( At 2:30 ), e grande parte das suas previsões tinha por tema o Cristo ( At 2:31 ). As previsões de Davi e dos seus ministros abordaram vários aspectos da vida de Cristo. Os salmos apresentam Cristo em seus vários aspectos: o filho do homem, o filho de Davi, o Senhor que criou os céus e a terra, o servo do Senhor, o Grande Rei, etc.
A leitura dos salmos, se feita meticulosamente comparando coisas espirituais com as espirituais, nos leva a uma interpretação segura como a que os apóstolos apresentam em suas exposições em todo o Novo Testamento.
Salmo Primeiro
O Salmo primeiro é o salmo da bem-aventurança, da alegria, do regozijo, da felicidade, porém, chama-nos a atenção o fato de o rei Davi apresentar a bem-aventurança apontando para um único homem: “Bem-aventurado o homem…” (v. 1).
Por que o salmista não disse ‘bem-aventurados os homens’? Ora, nas escrituras temos várias passagens que enfatizam a bem-aventurança de todos quantos confiam em Deus. Ex:
“Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam” ( Sl 2:12 );
“Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração” ( Sl 119:2 ).
O que distingue o homem do Salmo primeiro, verso 1, dos homens do verso 12, do Salmo segundo? A distinção está no fato de o homem ditoso (bem-aventurado) não andar segundo o conselho dos ímpios.
Qual é o conselho dos ímpios? Ora, o conselho dos ímpios tem por base o engano, a mentira, a falsidade, e não a palavra de Deus, que é a verdade “Os pensamentos dos justos são retos, mas os conselhos dos ímpios, engano” ( Pv 12:5 ).
O conselho dos ímpios é formado pelos religiosos em Israel, que utilizavam a lei por pretexto, porém, seguiam os desvarios dos seus corações enganosos. Diz dos homens que honram a Deus com os lábios, mas que o coração está longe ( Is 29:13 ).
O salmo 12 apresenta a essência do conselho dos ímpios:
“Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado. O SENHOR cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente. Pois dizem: Com a nossa língua prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é SENHOR sobre nós?” ( Sl 12:2 -4).
Com coração enganoso, os fariseus falavam entre si e, diante do Cristo, o enviado de Deus, declaravam: Quem é o Senhor sobre nós? Ninguém entre os religiosos judeus falava a verdade, antes com a língua destilavam veneno semelhante ao da serpente (Sl 58:1 4).
Cristo não trilhou pelo conselho dos ímpios porque obedeceu a palavra de Deus em verdade, e nunca houve engano em sua boca.
“Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor” ( Sl 17:4 ).
A impiedade é condição que decorre de nascimento, e não de comportamento. Os homens alienam-se de Deus desde o ventre, e no ventre se tornam ímpios em função da condenação ocorrida no Éden ( Sl 58:3 ).
O Salmo 1 apresenta um conselho formado por ímpios, homens oriundos e um geração má e que nunca se lavaram da imundície herdade de Adão ( Pv 30:11 -12). Os ímpios falam mentiras desde que nascem, porém, há o conselho dos ímpios: homens que se organizam entorno de uma doutrina, um pensamento, uma religiosidade, e impõe-na aos outros.
A mentira do conselho dos ímpios procede do coração enganoso que receberam quando do nascimento natural ( Jr 17:9 ). É em função deste coração enganoso que Jesus alertou os escribas e fariseus, dizendo:
“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca“ ( Mt 12:34 ).
É por causa desta ‘mentira’ que o apóstolo Paulo diz:
“De maneira nenhuma; sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, E venças quando fores julgado” ( Rm 3:4 ).
De todos os homens que vieram ao mundo, Cristo é o bem-aventurado de Deus, pois nunca se achou engano na sua boca, pois somente Ele não foi gerado segundo o sangue, a vontade da carne e a vontade do varão ( Jo 1:12 -13 ; 1Pe 2:22 ).
Dele, em espírito, disse Davi:
“JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade (…) Mas eu ando na minha sinceridade” ( Sl 26:1 e 11).
Ora, todos os outros homens quando nascem, alienam-se desde o ventre da mãe, andam errados e proferindo mentiras.
“Porque não há retidão na boca deles; as suas entranhas são verdadeiras maldades, a sua garganta é um sepulcro aberto; lisonjeiam com a sua língua” ( Sl 5:9 ; Sl 51:5 ; Sl 58:3 : Sl 53:3 ; Is 48:8 ).
Com Cristo não ocorreu o que ocorre com a humanidade, pois Ele foi lançado na madre por Deus, e não por um homem vendido ao pecado como escravo ( Sl 22:10 ).
No salmo 38, o salmista descreve a ação do conselho dos ímpios:
“Também os que buscam a minha vida me armam laços e os que procuram o meu mal falam coisas que danificam, e imaginam astúcias todo o dia. Mas eu, como surdo, não ouvia, e era como mudo, que não abre a boca. Assim eu sou como homem que não ouve, e em cuja boca não há reprovação” ( Sl 38:12 – 14).
Quando entrou no mundo, Cristo não seguiu o ‘conselho’ vão dos ímpios “Não me tenho assentado com homens vãos, nem converso com os homens dissimulados. Tenho odiado a congregação de malfeitores; nem me ajunto com os ímpios” ( Sl 26: 4- 5). Jesus não se assentou com os escribas e fariseus para compartilhar da doutrina (pão) que se alimentavam “Então compreenderam que não dissera que se guardassem do fermento do pão, mas da doutrina dos fariseus” ( Mt 16:12 ).
Cristo é o rebento do tronco de Jessé, o renovo justo prometido a Davi, a verdade que brotou: “PORQUE brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará” ( Is 11:1 ); “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, e praticará o juízo e a justiça na terra” ( Jr 23:5 ); “A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus” ( Sl 85:11 ).
O caminho dos pecadores é pertinente a todos os homens gerados da carne de Adão, porém, dentre os pecadores há os ímpios e os escarnecedores. Os ímpios são aqueles que tropeçam na pedra eleita e preciosa, que é Cristo “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam” ( Pv 4:19 ). Os escarnecedores, por sua vez, são aqueles que, apesar do alerta das Escrituras, nem mesmo investigam a possibilidade o Cristo ser o servo do Senhor.
O caminho dos pecadores decorre da porta larga por onde todos os homens entram ao ‘abrir’ a madre. É na madre que todos os homens juntamente se desviam e alienam-se de Deus ( Sl 58:3 ; Sl 53:3 ). É na madre que todos os homens juntamente se desviam, aliena-se e tornam-se imundos!
Os ímpios que compõe o conselho do verso 1 são os loucos, os néscios, os filhos de Jacó, homens a que a palavra de Deus lhes foi confiado, que honram a Deus com a boca, porém, o coração está longe de Deus. Tudo o que dizem reflete impiedade e o desvairo de seus corações impenitentes. Os ímpios são aqueles que tomam o nome de Deus em vão, que o invocam, mas não em justiça e nem em verdade ( Rm 3:2 ; Rm 2:20 ; Is 48:1 ; Sl 139:19 -20).
Os ímpios são homens de violência, ou seja, que não confiam em Deus, antes confiam na força dos seus braços, confiam na carne, pois se declaram filhos de Deus por serem descendentes da carne de Abraão.
Os salmos geralmente vaticinam que os ímpios são homens maus, violentos, e o conselho deles continuamente são de guerra, pois haveriam de espreitar o Ungido de Deus com suas línguas afiadas e, continuamente, espreitariam o Cristo para verem se o pegavam nalguma contradição.
“Aguçaram as línguas como a serpente; o veneno das víboras está debaixo dos seus lábios. (Selá.) Guarda-me, ó SENHOR, das mãos do ímpio; guarda-me do homem violento; os quais se propuseram transtornar os meus passos. Os soberbos armaram-me laços e cordas; estenderam a rede ao lado do caminho; armaram-me laços corrediços” ( Sl 140:2- 5).
Deleite
O bem-aventurado tem o seu prazer na lei do Senhor! O único homem que assim se portou foi Cristo, pois Ele mesmo disse:
“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” ( Jo 6:38 ).
O deleite, a comida, a satisfação de Cristo estava em fazer a vontade do Pai.
“Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra” ( Jo 4:34 ).
Enquanto os homens se deleitam (fartam) com o engano proveniente dos seus corações enganosos (fruto dos seus ventres) , o prazer de Cristo estava em cumprir a lei do Senhor.
“Do fruto da boca de cada um se fartará o seu ventre; dos renovos dos seus lábios ficará satisfeito” ( Pv 18:20 )
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” ( Mt 5:17 ).
Sobre meditar de dia e de noite na lei do Senhor, o salmista Davi predisse:
“Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até os meus rins me ensinam de noite. Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei. Portanto está alegre o meu coração e se regozija a minha glória; também a minha carne repousará segura. Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção” ( Sl 16:7 -10).
O profeta Isaías vaticinou que o Messias teria língua erudita e que teria os ouvidos despertos para ser instruído pelo Senhor ( Is 50:4 ). Ao realizar a vontade do Pai, Jesus voltou a sua atenção para as palavras das profecias e nela meditava de dia e de noite.
Como resultado, Cristo é comparável a uma árvore plantada junto a ribeiros e águas, pois deu o seu fruto ao seu tempo. Cristo é a videira verdadeira ( Jo 15:1 ), e os que creem são as varas ( Jo 15:5 ). As palavras de Cristo são fruto de vida, palavras de vida eterna ( Jo 6:68 ); “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio” ( Pv 11:30 ).
Tudo quanto Cristo fez prosperou, pois Deus mesmo disse: “Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” ( Is 55:11 ). Cristo é o Verbo encarnado que fez o que era aprazível a Deus. Tudo quanto fez prosperou, pois conduziu muitos filhos à glória de Deus.
“Eu, eu o tenho falado; também já o chamei, e o trarei, e farei próspero o seu caminho” ( Is 48:15 ).
O homem ditoso do Salmo primeiro é Cristo, o Servo do Senhor, o Justo.
“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” ( Is 53:11 ).
Como alcançar a ditosa alegria (bem-aventurança)
Para entender plenamente os conceitos que este Salmo apresenta, necessário é analisar outros capítulos que compõe os livros dos Salmos, complementando a análise com o conhecimento que há no Evangelho de Cristo.
O evangelho demonstra que homem algum será salvo por intermédio de suas realizações e condutas pessoais, ou seja, a salvação de Deus é alcançada somente através de Cristo, a fé que se manifestou ( Gl 3:23 ).
O conhecimento prévio da verdade do evangelho e a analise de outras passagens dos salmos faz com que a leitura do Salmo Primeiro seja esclarecedora. Observe:
- “Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto” ( Sl 32:1 );
- “Bem-aventurado o homem a quem o SENHOR não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano” ( Sl 32:2 );
- “…bem-aventurado o homem que nele confia” ( Sl 34:8 );
- “Bem-aventurado o homem que põe no SENHOR a sua confiança, e que não respeita os soberbos nem os que se desviam para a mentira” ( Sl 40:4 );
- “Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios” ( Sl 65:4 );
- “Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados” ( Sl 84:5 ).
Há um padrão de ideia específico nos versículos acima que torna o Salmo Primeiro diferente dos outros salmos. Enquanto o Salmo Primeiro demonstra que o bem-aventurado é aquele que não anda segundo o conselho dos ímpios, os outros salmos demonstram que só os que confiam em Deus são acolhidos por bem-aventurados.
É contra senso entender que o Salmo Primeiro destaca que a bem-aventurança decorre de questões comportamentais como:
a) não andar em uma mesma estrada com pessoas que não comungam de uma mesma religião;
b) não se assentar em uma mesa com homens que não possuem os mesmos costumes, e;
c) não parar em uma roda de pessoas que não pertencem a um mesmo povo.
Os judeus tinha um cuidado extremo com relação às questões da contaminação, pois se mantinham separados dos outros povos em tudo, pensando que através desta prática estavam cumprindo o estipulado no Salmo primeiro.
Mas, sobre este aspecto, o apóstolo Paulo assevera:
“Isto não quer dizer absolutamente com os devassos deste mundo, ou com os avarentos, ou com os roubadores, ou com os idólatras; porque então vos seria necessário sair do mundo” ( 1Co 5:10 ).
Conforme Paulo demonstra, se a bem-aventurança é alcançada através de questões comportamentais, necessariamente o bem-aventurado não mais estaria no mundo. Porém, Jesus mesmo disse: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” ( Jo 17:15 ).
A bem-aventurança não é proveniente de questões comportamentais tais como não entrar na casa de pecadores; não andar com eles em um mesmo caminho ou, assentar-se com eles para comer. Os escribas e fariseus seguiram esta linha de interpretação comportamental e tropeçaram na pedra de esquina, pois não analisaram o Messias segundo as Escrituras, e sim com base em uma carnal compreensão.
Quem é bem-aventurado? A resposta sobre quem é bem-aventurado encontra-se no último versículo do Salmo Primeiro, a saber: somente é bem-aventurado aquele que tem o seu caminho conhecido pelo Senhor! (v. 6a).
“Pois o Senhor conhece o caminho dos justos” ( Sl 1:6 ).
O que realmente torna o caminho do homem conhecido de Deus? Quando é que os homens tornam-se bem-aventurados? Quando:
- A transgressão é perdoada por Deus;
- O pecado é encoberto por Deus;
- Não é imputada a maldade;
- Confia-se em Deus, etc.
Para ter o caminho ‘conhecido por Deus’, o homem não pode estar firmado em argumentos pobres e fracos tais como: “Não toques, não proves, não manuseies?” ( Cl 2:21 -23). Isto porque os princípios ou argumentos que decorrem de questões comportamentais são fracos e pobres diante de Deus “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ).
Aquele que tem o caminho conhecido pelo Senhor, este é justo diante d’Ele, pois o caminho conhecido pelo Senhor é Cristo. Somente é justo perante Deus quem entra pela porta estreita. Quem entra pela porta estreita tem o seu caminho aplainado por Deus. Para alcançar tal bênção é preciso confiar em Deus. Só é justo quem obteve o perdão das transgressões. Somente aqueles que preenchem os quesitos anteriores são verdadeiramente ‘conhecidos’ do Senhor, ou seja, possuem comunhão plena.
As poesias hebraicas trabalham ideias, o que substitui o ritmo e a rima, características essenciais as poesias da nossa cultura. É por causa dessa construção do texto poético (paralelismo) que a última frase da poesia complementa a ideia da introdução do salmo.
A ideia que o salmo primeiro enfatiza é: o homem somente é bem-aventurado quando trilha o caminho conhecido pelo Senhor. Ora, para que o homem seja bem-aventurado é necessário nascer de novo, entrando por Cristo, que é o caminho pelo qual os justo entram ( Sl 118:20 ). Todos os que entram por Cristo passam a trilhar o caminho que o conduz a Deus. A semelhança de Cristo tal homem é feito santo e justo, portanto, bem-aventurado! Aleluia!
Já o caminho dos ímpios perecerá como consequência de Deus não ‘conhecer’ o caminho deles. Não há comunhão entre a luz e as trevas.
A ideia que a palavra ‘conhecer’ transmite neste verso é a ideia de união plena, de comunhão intima, é o mesmo que se tornar um só corpo. Transmite a ideia de que Deus uniu-se ao homem e o homem uniu-se a Deus ( IJo 4:15 -16). Somente aqueles que foram gerados de Deus por intermédio do evangelho, trilham o caminho conhecido pelo Senhor.
Os ímpios perecerão, mas não em consequência de terem se assentado em rodas de beberrões para contar anedotas. Não é porque frequentam lugares reprováveis pela moral humana que os ímpios estão perdidos. Eles perecerão porque Deus não conhece o caminho deles! Perecerão porque Deus não está neles, e vice-versa. Perecerão porque trilham um caminho errôneo desde que nascem. Perecerão porque entram pela porta larga, que é Adão e seguem por um caminho que os conduz à perdição.
Embora os fariseus e os escribas mantivessem uma vida regrada, frequentando as sinagogas e o templo, eram ímpios. Eles formavam o conselho dos ímpios, e juntamente estavam em um caminho que os conduziam à perdição.
Observe que o salmo faz referência a um caminho, e não a vários caminhos: “Porque o SENHOR conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá” (v 6). Ora, sabemos que só há dois caminhos, o largo e o estreito ( Mt 7:13 ).
Os homens sem Cristo não subsistirão no juízo em decorrência do caminho que estão, e não por questões comportamentais e morais. Isto porque, antes mesmo de comparecerem perante o Tribunal do Grande Trono Branco, todos eles já estão condenados e as suas obras não lhes aproveitarão ( Jo 3:18 ).
O que levou a humanidade à condenação foi a queda de Adão ( Rm 5:19 ). Lá no Éden os homens juntamente se desviaram e tomaram um caminho ‘desconhecido’ por Deus ( Sl 53:3 ).
Haverá um dia em que os ímpios estarão excluídos do ajuntamento solene, visto que, os justos terão um lugar separado dos ímpios. Este trecho não se refere aos nossos dias! Acaso, hoje, não existem ímpios em nossas reuniões solenes?
Quando o homem crê em Cristo é criado de novo e passa a condição de filho de Deus, e tudo quanto se refere a Cristo torna-se válido aos que creem.
1º ) “Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará!” (v. 3) – Aquele que crê em Cristo passa a ser conhecido do Senhor, e é COMO uma árvore plantada junto a ribeiros de águas. É planta plantada pelo Pai ( Mt 15:13 ), árvore de justiça. Os que creem produzem seu fruto na estação certa porque está ligado à videira verdadeira, e é dela que vem o fruto. A união entre o homem e Cristo faz com que produzamos bons frutos à seu tempo ( Jo 15:2 ), pois tudo o que produzirmos será segundo a natureza de Cristo. Não há como uma árvore boa produzir frutos maus, assim como é impossível uma árvore má produzir bons frutos.
2º ) “Não são assim os ímpios; mas são como a moinha que o vento espalha” (v. 4). – Enquanto o justo está edificado sobre a pedra de esquina, os ímpios são comparados à moinha levada pelo vento. Não tem um local fixo.
Por fim, compare:
“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite” ( Sl 1:1 -2).
“Porque o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (v. 6).
Observe os dois versículos acima e perceba que existem vários ímpios, mas só um ‘conselho’. Existem vários pecadores, mas só um ‘caminho’. Existem inúmeros escarnecedores, mas uma só ‘roda’.
Semelhantemente, existem vários justos, mas só um caminho é conhecido pelo Senhor. Muitos ímpios perecerão, mas o caminho deles é único, o caminho espaçoso que leva à perdição.
A diferença entre justos e ímpios está no caminho em que estão trilhando, e não em questões comportamentais. É por isso que Jesus disse que há dois caminhos: o caminho estreito e o caminho largo “Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” ( Mt 7:13 ).
Alguém pode questionar: Por que não é o comportamento que faz diferença entre quem é justo ou ímpio?
Analise: há pessoas não crentes (pessoas que não conhecem a Cristo) que são sinceras, regradas e fiéis no trato, mas que não alcançam salvação. O comportamento destas pessoas interessa a elas e a sociedade em que convivem, mas para a salvação, o comportamento social delas não é de valor algum.
O apóstolo João evidencia esta verdade: “Quem tem o Filho tem a vida, mas quem não tem o Filho de Deus não tem vida” ( 1Jo 4:12 ). Para ser salvo é preciso ter a Cristo, pois boas ações não salva o homem. Como ter o Filho? Basta recebê-lo, ou seja, crendo n’Ele ( Jo 1:12 ). Quem tem bom comportamento e goza de uma boa moral na sociedade necessita de Cristo, visto que ainda não tem vida em si mesmo ( Ef 2:1 ).
Se o homem tem Cristo, o tal é conhecido de Deus, uma vez que é de novo criado na condição de filho de Deus. Não é o comportamento do homem que concede a filiação divina, mas sim o nascer da água e do Espírito.
“Não é aquilo que o homem faz, ou que deixa de fazer (ação ou omissão) que lhe dará direito à vida eterna, mas sim, ter o caminho conhecido pelo Senhor. Para ter o caminho conhecido pelo Senhor é necessário entrar pela porta estreita, que é Cristo. Este verdadeiramente é bem-aventurado, pois aprendeu com aquele que é humilde e manso de coração”
Os bem-aventurados são aqueles que têm o caminho ‘conhecido’ pelo Senhor, ou seja, que contemplam o Senhor na beleza da sua santidade. Os benditos do Senhor, além de serem agradáveis a Deus por Jesus Cristo, portam-se de modo a não dar escândalo aos judeus, aos gregos e à igreja de Deus, pois transformam o seu entendimento e gozam da liberdade concedida por Deus de modo diferenciado dos homens devassos deste mundo.
Porém, vale destacar que não é o comportamento diferenciado daqueles que alcançaram a bem-aventurança que lhes deu o direito à condição de alegria verdadeira e permanente em Deus. O que lhes garantiu tal condição é a fé (Cristo) que opera pelo amor (obediência).