Isaías

Isaías 59 – As transgressões dos filhos de Israel

Isaías 59 – As transgressões dos filhos de Israel

O capítulo 59 de Isaías aplica-se aos filhos de Israel, e não a igreja.


As transgressões dos filhos de Israel

“… os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (Isaías 59:2).

Introdução

Neste capítulo o profeta Isaías denuncia as transgressões dos filhos de Israel, e para isso, utiliza diversas figuras.

Para compreender as figuras e, consequentemente, a mensagem, será necessário analisar outras passagens bíblicas e compará-las.

Apesar da religiosidade dos filhos de Israel, o capítulo 59 do Livro de Isaías destaca a apostasia da nação, e por fim, o profeta apresenta uma promessa de redenção.

 

Mãos estendidas para salvar

“EIS que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.” (Isaías 59:1 -2).

Deus escolheu os filhos de Israel como seu povo dentre todas as nações que havia sobre a terra, isso em função da promessa feita aos pais (Deuteronômio 7:7 -8).

Por causa da promessa feita a Abraão (Gênesis 15:13 -16), Deus resgatou os filhos de Israel do Egito com mão poderosa (Êxodo 6:1), e fez o seu nome conhecido em toda terra (Êxodo 9:16).

Como Deus é imutável, desde que os filhos de Israel foram resgatados da servidão, a mão de Deus continuou estendida para salvar. Mas, por que se fez necessário o profeta Isaías enfatizar que as mãos de Deus não estavam encolhidas? E nem agravado os seus ouvidos? (v. 1). Porque os filhos de Israel não estavam invocando a Deus!

“Não terão conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo, como se comessem pão, e não invocam ao SENHOR?” (Salmos 14:4).

O que foi dito por Moisés se confirmou: os filhos de Israel não tinha conhecimento (Deuteronômio 32:28), e não invocavam a Deus (Salmo 53:4).

Ora, o Senhor é rico para com todos os que O invocam (Salmo 86:5; Romanos 10:12), desde que O invoquem em verdade (Salmo 145:18). Se os ouvidos de Deus não estão agravados, o problema está em quem invoca.

“Contudo tu não me invocaste a mim, ó Jacó, mas te cansaste de mim, ó Israel.” (Isaías 43:22).

Por causa da relutância dos filhos de Israel em invocar ao Senhor, o resultado se viu na deportação para a Babilônia.

“Passou a sega, findou o verão, e nós não estamos salvos.” (Jeremias 8:20).

As transgressões dos filhos de Israel era uma barreira que não permitia terem comunhão com Deus. O resplendor do rosto do Senhor é misericórdia, mas os pecados dos filhos de Israel faziam com que Deus escondesse o seu rosto, e assim não eram atendidos (v. 2).

“O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;” (Números 6:25);

“E disse: Esconderei o meu rosto deles, verei qual será o seu fim; porque são geração perversa, filhos em quem não há lealdade.” (Deuteronômio 32:20).

 

Violência e falsidade

“Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniquidade; os vossos lábios falam falsidade, a vossa língua pronuncia perversidade. Ninguém há que clame pela justiça, nem ninguém que compareça em juízo pela verdade; confiam na vaidade, e falam mentiras; concebem o mal, e dão à luz a iniquidade. Chocam ovos de basilisco, e tecem teias de aranha; o que comer dos ovos deles, morrerá; e, quebrando-os, sairá uma víbora.” (Isaías 59:3 -5)

Qual o significado de ter as mãos manchadas de sangue? Deus estava acusando-os de homicidas? Não!

As ‘mãos contaminadas de sangue’ é uma figura que se refere aos sacrifícios que continuamente os filhos de Israel traziam. Para compreender essa figura, se faz necessário recordar o primeiro capítulo do Livro de Isaías, quando Deus abertamente diz que de nada serve a multidão dos sacrifícios, e que já estava farto dos holocaustos e nem se agradava do sangue de bezerros (Isaías 1:11).

As ofertas eram vãs, o incenso, as luas novas, os sábados e a convocação das assembleias eram abominação (Isaías 1:12), bem como as luas novas e as solenidades Deus as odiava (Isaías 1:14), de modo que quando estendiam as mãos pedindo socorro, Deus escondia o seu rosto. Quando oravam, Deus não ouvia, pois as mãos deles estavam contaminadas de sangue.

“Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue.” (Isaías 1:15)

O problema não estava nas mãos de Deus e nem em seus ouvidos (Isaías 59:1), e sim, nas mãos de quem esperava ser atendido por Deus. Com base no verso 15, do capítulo 1, do Livro de Isaías, bem como o contexto, certo é que as ‘mãos manchadas de sangue’ referem-se aos sacrifícios.

Observe o que Deus diz acercados sacrifícios:

“Quanto aos sacrifícios das minhas ofertas, sacrificam carne, e a comem, mas o SENHOR não as aceita; agora se lembrará da sua iniquidade, e punirá os seus pecados; eles voltarão para o Egito.” (Oseias 8:13);

“Porque nunca falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios.” (Jeremias 7:22);

“Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de terras remotas? Vossos holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossos sacrifícios.” (Jeremias 6:20);

“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes.” (Isaías 1:11);

“Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros.” (1 Samuel 15:22).

Através do profeta Isaías, Deus compara quem sacrifica um boi a quem mata um homem, ou quem sacrifica um cordeiro como quem degola um cão. Quem oferece uma oblação a quem oferece sangue de porco, e quem queima incenso a quem bendiz um ídolo, o que demonstra a iniquidade nos dedos dos filhos de Israel.

“Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro é como o que degola um cão; quem oferece uma oblação é como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso em memorial é como o que bendiz a um ídolo; também estes escolhem os seus próprios caminhos, e a sua alma se deleita nas suas abominações.” (Isaías 66:3).

Como Deus nunca ordenou nada acerca de sacrifícios, antes regulamentou como deveriam ser oferecidos caso alguém desejasse (Levítico 1:2), certo é que os filhos de Israel preferiam oferecer sacrifícios a obedecer a Deus, ou seja, seguiam os seus corações enganosos.

Como era possível aos filhos de Israel falar falsidade e perversidade, se tinha a lei à disposição?

Ora, a boca fala o que há em abundância no coração (Mateus 12:34), e ser circuncidado na carne, no prepúcio, não muda o coração de ninguém. Para falarem a verdade, os filhos de Israel deveriam ser circuncidados por Deus, pois Deus circuncida o coração, de modo que o velho homem morre e é criado um novo homem (Deuteronômio 10:16).

Quando há a circuncisão do coração, o coração velho é lançado fora, bem como toda a carne, e Deus dá um novo coração e um novo espírito (Ezequiel 36:25 -27; Ezequiel 18:31). Com um coração novo, o homem se torna bom, o que torna possível ao homem bom do bom tesouro do seu coração falar coisas boas: a verdade.

“O homem bom tira boas coisas do bom tesouro do seu coração, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más.” (Mateus 12:35).

Mas, como os filhos de Israel poderiam falar a verdade, se permaneciam com o mesmo coração que vieram ao mundo?

“Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras.” (Salmo 58:3).

O Salmo 12 descreve uma realidade funesta: faltava homens bons, bem nascidos, nobres (Salmo 12:1). Em lugar de falar a verdade ao seu próximo, os homens falavam a falsidade, com lisonjas e coração dobre. Por toda parte havia ímpios, isto porque os mais vis, ou seja, baixo, inferior, ralé (Salmo 12:8), eram exaltados.

Só é bem nascido aquele que é nascido da semente incorruptível, que é a palavra de Deus, pois todos os nascidos segundo a carne e o sangue são vis, maus (João 1:12 -13).

Não havia em Israel quem clamasse pela justiça? Ninguém que defendesse a verdade?

O profeta Jeremias deixa claro que não:

“DAI voltas às ruas de Jerusalém, e vede agora; e informai-vos, e buscai pelas suas praças, a ver se achais alguém, ou se há homem que pratique a justiça ou busque a verdade; e eu lhe perdoarei a esta cidade.” (Jeremias 5:1).

Um que praticasse a justiça e buscasse a verdade já era suficiente para Deus poupar a cidade de Jerusalém, o que demonstra que estava em condição pior que as cidades de Sodoma e Gomorra, que precisavam de dez justos (Gênesis 18:32).

É em função desta condição funesta que o profeta Isaías, em consonância com o que profetizou Moisés, nomeou os filhos de Israel de povo de Gomorra, e o seus líderes como ‘poderosos’ de Sodoma (Isaías 1:9), pois a colheita pela rebeldia seria destruição.

“Porque a sua vinha é a vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, cachos amargos têm. O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras.” (Deuteronômio 32:32 -33).

Os filhos de Israel confiavam no que era vão: em si mesmos, nas alianças com os povos vizinhos, nas obras da lei, em mandamentos de homens, e como não falavam a palavra de Deus, falavam mentiras.

“Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.” (Mateus 12:34).

É em razão do profetizado por Moisés que Jesus nomeia os escribas e fariseus de raça de víboras, pois o vinho que produziam era proveniente das vinhas de Sodoma. Vinho é símbolo de aliança, e a aliança que tinham era com a morte.

“Porquanto dizeis: Fizemos aliança com a morte, e com o inferno fizemos acordo; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós, porque pusemos a mentira por nosso refúgio, e debaixo da falsidade nos escondemos.” (Isaías 28:15).

O que é clamar pela justiça? Não havia quem defendesse causas sociais? Não havia tribunais humanos que distribua a justiça a quem precisasse? Ora, a Bíblia não fala de questões humanas, e sim da justiça de Deus.

O que era justiça para os judeus? Segundo o profeta Moisés, cumprir todas as ordenanças de Deus seria justiça:

“E será para nós justiça, quando tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o SENHOR nosso Deus, como nos tem ordenado.” (Deuteronômio 6:25).

Se ninguém compareceu em juízo pela ‘verdade’, isto significa que ninguém se sujeitou as ordenanças estabelecidas por Deus. Em vez de obedecerem às ordenanças de Deus, confiaram na vaidade. E o que seria vaidade, ou a mentira que proferiam? Mandamentos de homens!

“Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído;” (Isaías 29:13).

A vaidade que confiavam e a mentira que propagavam referem-se aos mandamentos de homens. Quem ouvia o que os filhos de Israel dizia, tinha a impressão que honravam a Deus, porém, o temor (mandamento) para com Deus não passava de regras e preceitos de homens.

Como não eram filhos de Deus, mas uma mancha, os filhos de Jacó concebiam o mal e só produziam iniquidade. Como eram comparáveis as áspides, chocavam ovos de basilisco (cobra, áspide) quando buscavam fazer um prosélito, e as vestimentas eram semelhantes a teias de aranha, o seja, não servia para se cobrir.

Quem se alimentasse da doutrina deles, permanecia na morte, mas se alguém se tornasse adepto da doutrina, ou seja, o ovo ‘vinga-se’, mais uma víbora viria ao mundo. Por isso e dito:

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que percorreis o mar e a terra para fazer um prosélito; e, depois de o terdes feito, o fazeis filho do inferno duas vezes mais do que vós.” (Mateus 23:15).

Toda palavra que Deus não falou é tida por vaidade, efêmera, vã, pois a única palavra que permanece para sempre é a palavra de Deus (Isaías 40:8).

“Porventura não tivestes visão de vaidade, e não falastes adivinhação mentirosa, quando dissestes: O SENHOR diz, sendo que eu tal não falei?” (Ezequiel 13:7).

 

Trapos de imundície

“As suas teias não prestam para vestes nem se poderão cobrir com as suas obras; as suas obras são obras de iniquidade, e obra de violência há nas suas mãos. Os seus pés correm para o mal, e se apressam para derramarem o sangue inocente; os seus pensamentos são pensamentos de iniquidade; destruição e quebrantamento há nas suas estradas.” (Isaías 56:6 -7).

Adão e Eva após a queda confeccionaram aventais de folhas de figueiras (Gênesis 3:7), e Deus lhes preparou túnicas de peles antes de expulsá-los do jardim (Gênesis 3:21). Neste verso, Deus repreende os filhos de Israel por tentarem se cobrir com suas obras, e não com a palavra de Deus. Como as obras dos filhos de Israel eram feitas em cumprimento de mandamento de homens, não passava de obras de iniquidade, obras de violência.

“AI dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado;” (Isaías 30:1);

“E respondeu-me, dizendo: Esta é a palavra do SENHOR a Zorobabel, dizendo: Não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos.” (Zacarias 4:6).

O espírito do Senhor é proteção, cobertura, mas força e violência, decorrente de mandamentos de homens, são trapos de imundície, não passam de teias de aranha. As ‘teias de aranha’ são o mesmo que ‘trapos de imundície’, os panos utilizados pelas mulheres no período de menstruação:

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam.” (Isaías 64:6).

Como os filhos de Israel não eram sujeitos à lei de Deus, mas inclinados a obedecerem a mandamentos de homens, o profeta os descreve como velozes para o mal, e apressados a derramarem sangue inocente, ou seja, se ocupavam em oferecer sacrifícios.

“Eu publicarei a tua justiça, e as tuas obras, que não te aproveitarão.” (Isaías 57:12)

O Pregado também descreve os filhos de Israel nos mesmos termos:

“Não entres pela vereda dos ímpios, nem andes no caminho dos maus. Evita-o; não passes por ele; desvia-te dele e passa de largo. Pois não dormem, se não fizerem mal, e foge deles o sono se não fizerem alguém tropeçar. Porque comem o pão da impiedade, e bebem o vinho da violência.” (Provérbios 4:14 -17).

O Livro dos Provérbios aponta os habitantes de Jerusalém como ímpios, e a cidade de Jerusalém como uma mulher adúltera, que deixou o guia da sua mocidade e se esqueceu da aliança com o seu Deus:

“O bom siso te guardará e a inteligência te conservará; Para te afastar do mau caminho, e do homem que fala coisas perversas; Dos que deixam as veredas da retidão, para andarem pelos caminhos escusos; Que se alegram de fazer mal, e folgam com as perversidades dos maus, Cujas veredas são tortuosas e que se desviam nos seus caminhos; Para te afastar da mulher estranha, sim da estranha que lisonjeia com suas palavras; Que deixa o guia da sua mocidade e se esquece da aliança do seu Deus; Porque a sua casa se inclina para a morte, e as suas veredas para os mortos. Todos os que se dirigem a ela não voltarão e não atinarão com as veredas da vida.” (Provérbios 2:11 -19).

A casa de Israel se inclina para a morte, e os seus caminhos para os mortos, e todos que se dirigem à nação não compreendem as veredas da vida, de modo que há destruição e quebrantamento nas suas estradas (Isaías 59:7).

E qual o artificio utilizado pela nação para enganar os incautos? ‘Já paguei os meus votos’, assim como é descrito o comportamento da mulher adúltera, que representa a nação:

“E eis que uma mulher lhe saiu ao encontro com enfeites de prostituta, e astúcia de coração. Estava alvoroçada e irriquieta; não paravam em sua casa os seus pés. Foi para fora, depois pelas ruas, e ia espreitando por todos os cantos; E chegou-se para ele e o beijou. Com face impudente lhe disse: Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos. Por isto saí ao teu encontro a buscar diligentemente a tua face, e te achei. Já cobri a minha cama com cobertas de tapeçaria, com obras lavradas, com linho fino do Egito. Já perfumei o meu leito com mirra, aloés e canela. Vem, saciemo-nos de amores até à manhã; alegremo-nos com amores. Porque o marido não está em casa; foi fazer uma longa viagem;” (Provérbios 7:10 -19).

Tropeçam ao meio dia

“Não conhecem o caminho da paz, nem há justiça nos seus passos; fizeram para si veredas tortuosas; todo aquele que anda por elas não tem conhecimento da paz. Por isso o juízo está longe de nós, e a justiça não nos alcança; esperamos pela luz, e eis que só há trevas; pelo resplendor, mas andamos em escuridão. Apalpamos as paredes como cegos, e como os que não têm olhos andamos apalpando; tropeçamos ao meio-dia como nas trevas, e nos lugares escuros como mortos. Todos nós bramamos como ursos, e continuamente gememos como pombas; esperamos pelo juízo, e não o há; pela salvação, e está longe de nós.” (Isaías 59:8 -11).

Como os filhos de Israel eram faltos de entendimento e sem bom senso, loucos (Deuteronômio 32:28), não atinavam acerca do caminho da paz. A paz em questão diz da paz com Deus, e, pois não ordenavam os seus passos segundo o mandamento de Deus, que é justiça.

Como andavam após a dureza do coração maligno, e não davam ouvidos às palavras de Deus, estabeleceram veredas tortuosas, e os que trilhavam tais caminhos eram faltos de conhecimento.

“Este povo maligno, que recusa ouvir as minhas palavras, que caminha segundo a dureza do seu coração, e anda após deuses alheios, para servi-los, e inclinar-se diante deles, será tal como este cinto, que para nada presta.” (Jeremias 13:10).

Enganados que estavam em seus próprios pensamentos, recusavam ter comunhão com Deus (Jeremias 4:22).

“A tua habitação está no meio do engano; pelo engano recusam conhecer-me, diz o SENHOR.” (Jeremias 9:6).

Por estarem no engano, nutriam falsas esperanças, pois se espera luz e só há trevas, querem gloria, mas só há trevas. O profeta descreve a nação como cegos, que procuram se orientar tateando (Jeremias 5:21). Mesmo quando a claridade do dia está em seu ponto mais alto, ao meio-dia, tropeçam.

Em função desta realidade, Jesus alertou os judeus dizendo:

“Disse-lhes, pois, Jesus: A luz ainda está convosco por um pouco de tempo. Andai enquanto tendes luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.” (João 12:35).

Jesus Cristo é o sol nascente das alturas para dirigir os passos dos homens pelas veredas da paz (Lucas 1:78 -79), mas mesmo assim tropeçaram na ‘pedra angular’, a ‘pedra de esquina’ como que ao meio-dia.

Mas, que creu na previsão de Moisés?

“E apalparás ao meio dia, como o cego apalpa na escuridão, e não prosperarás nos teus caminhos; porém somente serás oprimido e roubado todos os dias, e não haverá quem te salve.” (Deuteronômio 28:29).

Embora os filhos de Israel soltassem a voz clamando por salvação assim como os ursos bramam, não havia resposta, pois as iniquidades encobria o favor de Deus, de modo que não eram ouvidos (Isaías 59:2).

 

Confissão

“Porque as nossas transgressões se multiplicaram perante ti, e os nossos pecados testificam contra nós; porque as nossas transgressões estão conosco, e conhecemos as nossas iniquidades; Como o prevaricar, e mentir contra o SENHOR, e o desviarmo-nos do nosso Deus, o falar de opressão e rebelião, o conceber e proferir do coração palavras de falsidade. Por isso o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs de longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a equidade não pode entrar.” (Isaías 59:12 – 14).

Desde o versículo 9, o profeta Isaías se inclui na descrição do povo de Israel, e no versículo 12 fica evidente o motivo: admissão de culpa, confissão de pecado.

Assim como o profeta Daniel, Isaías reconhece as transgressões dos filhos de Israel, e que os pecados dos filhos de Jacó pesavam em desfavor de todos eles.

“E orei ao SENHOR meu Deus, e confessei, e disse: Ah! Senhor! Deus grande e tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os teus mandamentos; Pecamos, e cometemos iniquidades, e procedemos impiamente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus mandamentos e dos teus juízos;” (Daniel 9:4 -5).

Mas, os judeus à época de Jesus, em lugar de admitirem que eram pecadores e sujeitos ao pecado, assim como fez Isaías e Daniel, alegaram que, por serem descendência de Abraão nunca foram escravos de ninguém.

“Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” (João 8:33).

 

O braço do Senhor

“Sim, a verdade desfalece, e quem se desvia do mal arrisca-se a ser despojado; e o SENHOR viu, e pareceu mal aos seus olhos que não houvesse justiça. E vendo que ninguém havia, maravilhou-se de que não houvesse um intercessor; por isso o seu próprio braço lhe trouxe a salvação, e a sua própria justiça o susteve. Pois vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na sua cabeça, e por vestidura pôs sobre si vestes de vingança, e cobriu-se de zelo, como de um manto.” (Isaías 59:15 -17).

A verdade em Israel estava agonizante, e qualquer que buscasse se desviar do mal corria o risco de ser saqueado. Como seria possível alguém servir a Deus, se o que faziam era guardar mandamento de homens, e impor os seus rituais, legalismos e moralismo aos homens?

Jesus se opôs aos seus compatriotas, e arrebataram-Lhe a vida, de modo que os inimigos do Filho do homem foram os de sua própria casa (Miquéias 7:6).

Mas, apesar da apostasia dos filhos de Israel, Deus observou e pareceu mal que não houvesse justiça, vez que não havia ninguém que tivesse conhecimento e buscasse a Deus (Salmo 53:2). Como não havia que lutasse pela causa de Deus, nem mesmo um intercessor, o Seu próprio braço suscitou salvação, e a sua própria justiça O susteve.

Quem é o braço do Senhor? Cristo é o braço, a força e a salvação do Senhor.

Vários versículos fazem referencia a Cristo como o braço do Senhor:

“Eis que o Senhor DEUS virá com poder e seu braço dominará por ele; eis que o seu galardão está com ele, e o seu salário diante da sua face.” (Isaías 40:10);

“Perto está a minha justiça, vem saindo a minha salvação, e os meus braços julgarão os povos; as ilhas me aguardarão, e no meu braço esperarão.” (Isaías 51:5);

“O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus.” (Isaías 52:10);

“QUEM deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do SENHOR?” (Isaías 53:1).

Cristo, a salvação de Deus, foi manifesto a todas as gentes, pois essa foi a promessa feita a Abraão: ‘em ti serão benditas todas as famílias da terra’ (Gênesis 12:3; Atos 3:25).

Cristo saiu em defesa da justiça, e para isso vestiu-se de justiça, como que de uma couraça. Pôs por capacete da sua cabeça a salvação de Deus. Cobriu-se de zelo pelas coisas do Pai “Pois o zelo da tua casa me devorou, e as afrontas dos que te afrontam caíram sobre mim.” (Salmos 69:9; Salmo 119:139), e vestiu-se de vestes de vingança (Isaías 63:3). Cristo estava protegido pela palavra de Deus, como que por uma armadura, sendo a palavra de Deus (fidelidade) escudo e broquel (Salmo 91:4).

“Regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas joias.” (Isaías 61:10).

Cristo é o renovo justo prometido a Davi, que brotou do tronco de Jessé, e sobre Ele repousou a palavra do Senhor que produz justiça sobre a terra (Isaías 11:1 -3). Com o seu conhecimento, o Cristo justificou a muitos (Isaías 53:11).

“E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins.” (Isaías 11:5).

 

Retribuição segundo as obras

“Conforme forem as obras deles, assim será a sua retribuição, furor aos seus adversários, e recompensa aos seus inimigos; às ilhas dará ele a sua recompensa. Então temerão o nome do SENHOR desde o poente, e a sua glória desde o nascente do sol; vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito do SENHOR arvorará contra ele a sua bandeira. E virá um Redentor a Sião e aos que em Jacó se converterem da transgressão, diz o SENHOR. Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o SENHOR: o meu espírito, que está sobre ti, e as minhas palavras, que pus na tua boca, não se desviarão da tua boca nem da boca da tua descendência, nem da boca da descendência da tua descendência, diz o SENHOR, desde agora e para todo o sempre.” (Isaías 59:18 -21).

Cristo há de recompensar os seus adversários conforme as suas obras:

“O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade;” (Romanos 2:6 -8).

Todos os povos igualmente serão recompensados por Cristo, de modo que temerão o Cristo por todos os termos da terra.

Se o inimigo vier como que a inundação de águas, Cristo arvorará a sua bandeira e pelejará.

A promessa feita por intermédio de Isaías diz do futuro dos filhos de Israel, quando Cristo virá a Jerusalém como Redentor para os que se desviarem das transgressões (Isaías 59:20).

Neste tempo será estabelecida uma nova aliança: as palavras de Deus que estavam sobre o profeta Isaías será igualmente dada a todos em Israel, de modo que perpetuamente não se desviarão dela.

“Eis que dias vêm, diz o SENHOR, em que farei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porque eles invalidaram a minha aliança apesar de eu os haver desposado, diz o SENHOR. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” (Jeremias 31:31 -33).

 

Aplicação prática

De tudo que analisamos no capítulo 59 de Isaías, resta para Igreja entender que tudo o que foi escrito, para nossa instrução foi escrito, para que não incorramos no mesmo exemplo de desobediência, ou que não haja em nos um coração perverso de incredulidade que nos afaste do Deus vivo.

“E estas coisas foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram.” (1 Coríntios 10:6).

“Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo. Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;” (Hebreus 3:12 -13).

O capítulo 59 de Isaías aplica-se aos filhos de Israel, e não a igreja. É certo que as mãos de Deus não estão encolhidas para salvar, e que hoje, a salvação se dá através da verdade do evangelho.

O protesto contra Israel se deu porque permaneciam no pecado, mas para a Igreja o texto não se aplica, visto que para a Igreja não há mais condenação (Romanos 8:1). Todos que invocaram a Cristo como Senhor em seus corações, e confessam que Deus o ressuscitou dentre os mortos estão salvos, e já contemplaram a glória de Deus na face de Cristo (Hebreus 1:3).

Não há mais barreira de iniquidade que faça separação entre os crentes em Cristo e Deus, antes os cristãos gozam de plena comunhão com o Pai e o Filho, uma vez que já entraram no descanso prometido (Hebreus 4:3).

Por crer em Cristo, nos fomos vivificados juntamente com Cristo, de modo que todas as nossas ofensas foram perdoadas, de modo que os crentes em Cristo não são mais acusados de pecado (Filipenses 2:13).

Os crentes em Cristo não se vestem com trapos de imundície, antes são vestes de louvor, vestes de justiça, pois Deus é glorificado em que se dê muito fruto (João 15:8), o fruto dos lábios que confessam a Cristo (Hebreus 13:15), de modo que não nos socorremos de sacrifícios para nos aproximar de Deus como faziam os filhos de Israel.

“GUARDA o teu pé, quando entrares na casa de Deus; porque chegar-se para ouvir é melhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que fazem mal.” (Eclesiastes 5:1).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

2 thoughts on “Isaías 59 – As transgressões dos filhos de Israel

  • Me perdoa Senhor pois tenho feita às coisas sobre minha vontade próprio e deixei de acreditar na sua justiça

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  • Deus seja louvado,que estudo tremendo fui muito edificado com esse estudo glórias a Deus e que você meu irmão que produzio esse estudo seja muito abençoado cada dia mais que Deus derrame toda sorte de bênção sobre a sua vida e a sua família em nome de Jesus

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