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Utilize sempre a mesma tradução bíblica quando estudar e não utilize Bíblias que contenham notas de roda pé. Você está sendo instruído quando lê a Bíblia, portanto, não se socorra da Bíblia para dar base ao que você pensa.


Que tradução bíblica utilizar?

Qual o objetivo de evidenciarmos a natureza da mensagem Bíblia? Demonstrar que não estamos trabalhando com um conhecimento que deriva das razões humanas, antes estamos analisando a mensagem de Deus revelada ao longo dos séculos, que por último foi revelada na pessoa de Cristo Jesus.

Está é uma pergunta difícil de responder, visto que, logo após apontar a predileção por uma tradução, virá a pergunta: – “Por que”?

 

O trabalho dos tradutores

Particularmente prefiro as traduções em português de João Ferreira de Almeida, sejam elas Almeida Revista e Corrigida (ARC), Almeida Corrigida Fiel (ACF), Almeida Edição Contemporânea (AEC), e até mesmo a Almeida Revista e Atualizada (ARA).

Por que prefiro as traduções em português de João Ferreira de Almeida ARC, ACF, AEC e ARA às versões bíblicas Nova Versão Internacional (NVI), Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH), Bíblia Boa Nova (BBN), Bíblia Viva (BV) e O Mais Importante é o Amor (MIA)?

Antes de esclarecer os motivos da minha predileção, tenho que destacar que por mais hábil que seja o tradutor na arte de verter textos de uma língua para outra o resultado será sempre aquém da obra na sua língua original, de modo que nenhuma tradução bíblica é rica como a obra na sua língua original.

Isto significa que Deus não preservou as Escrituras? Ou, as Escrituras deixam de ser inspirada ao ser traduzida para outro idioma? Não! Deus preservou a mensagem a ser transmitida ao longo dos séculos, e as barreiras linguísticas não são intransponíveis à mensagem do evangelho, pois Cristo ordenou que o seu evangelho fosse ensinado a todas as nações e línguas ( Mt 28:19 ; Mc 16:15 ).

Os profetas previram que a palavra do evangelho alcançaria todos os povos, tribos e línguas “E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, Fui manifestado aos que por mim não perguntavam” ( Rm 10:20 ); “Assim por lábios gaguejantes, e por outra língua, falará a este povo” ( Is 28:11 ; 1Co 14:21 ); “Disse mais: Pouco é que sejas o meu servo, para restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” ( Is 49:6 ; At 13:47 ).

Deus confiou as Escrituras a uma nação e, em especial, a homens zelosos que copiaram fidedignamente os textos sagrados. O povo de Israel, ao longo da sua história, teve homens fiéis e capazes, encarregados de copiarem fidedignamente os textos para uso de seus próprios pares.

Devemos considerar que as cópias dos livros bíblicos produzidos pelos escribas eram utilizados nas sinagogas e rotineiramente lidos aos seus compatriotas, o que submeteria o resultado do trabalho dos copistas a uma análise constante do texto, um meio velado de supervisão do trabalho do copista.

Não cabia aos escribas interpretarem os textos, mas reproduzi-los através do contato visual de cada letra, sendo vedado recorrerem à memoria para reproduzir o texto bíblico.

Embora os rolos originais (autógrafos) dos livros escritos pelos profetas não existam mais, temos certeza de que as cópias disponíveis nos dias de hoje contém preservadas a mensagem que Deus transmitiu aos seus santos profetas.

O profeta Moisés foi o responsável por escrever os primeiros livros da lei sob ordem direta de Deus “Então disse o SENHOR a Moisés: Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué; que eu totalmente hei de riscar a memória de Amaleque de debaixo dos céus” ( Ex 17:4 ); “Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR, e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte, e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel” ( Êx 24:4 ).

Por ter sido instruído na condição de filho da filha de Faraó, Moisés teve contato com as técnicas de escrita e controle na produção de cópias dos documentos egípcios, ‘tecnologia’ que foi repassada ao povo hebreu “E, quando o menino já era grande, ela o trouxe à filha de Faraó, a qual o adotou; e chamou-lhe Moisés, e disse: Porque das águas o tenho tirado” ( Êx 2:10 ).

A necessidade de cópias das Escrituras visava atender a determinação divina: “Quando todo o Israel vier a comparecer perante o SENHOR teu Deus, no lugar que ele escolher, lerás esta lei diante de todo o Israel aos seus ouvidos” ( Dt 31:11 ); “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si num livro, um traslado desta lei, do original que está diante dos sacerdotes levitas” ( Dt 17:18 ; Rm 9:3 -4).

Além do compromisso sagrado dos copistas e dos métodos de controle na produção das cópias, há um ingrediente no registro da mensagem sagrada que dá segurança quando o texto é vertido para um novo idioma. Este elemento é mais evidente nos livros dos Salmos e dos Provérbios e, deriva de uma construção textual lógica que é a base da poesia hebraica.

A poesia hebraica é um exemplo da preservação da mensagem a ser transmitida em qualquer língua, pois o que se traduz é a ideia, e não o ritmo, a rima, ou a estética, etc.

Frequentemente estudiosos se encantam com a conformação poética das sentenças da poesia hebraica, pois observam que entre os membros de um período há certa similaridade, formando um paralelismo de ideias, através de algum tipo de regra.

Ora, a base construtiva dos salmos e dos provérbios é idêntica ao operador lógico proposicional, o que permite ao tradutor verter na nova língua uma progressão de pensamentos que se sustem em travas lógicas, de modo que o período traduzido conterá o mesmo pensamento da língua original. É possível verificar se o segundo argumento do período afirma ou nega a ideia inicial e, se houver alguma dúvida com relação ao significado do termo, o paralelismo existente entre os períodos é suficiente para resolver o problema.

Quando é dito: “Deus é a verdade, e não há nele injustiça” ( Dt 32:4 ), há um elemento lógico na construção do verso que impede que o tradutor mude a ideia contida no segundo elemento do verso ‘… e não há nele injustiça’, sem alterar a primeira parte da sentença: ‘Deus é a verdade….’.

Além da trava lógica existente no verso, a mesma ideia é repetida em outros livros das Escrituras que foram escritos por autores diferentes, lembrando que a Bíblia contém 66 livros escritos ao longo de 16 séculos, por cerca de 40 diferentes autores, nas mais diferentes condições e épocas.

A diversidade de autores, a quantidade de livros, o decurso de tempo e o conjunto harmônico que surgiu através da união de uma coleção de livros demonstra a preservação de uma mensagem única que atravessa todos os livros, o que concede credibilidade a esta maravilhosa coleção.

A mesma mensagem anunciada através do profeta Moisés é apresentada por Cristo por intermédio do apóstolo João: “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: ‘que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas’” ( 1Jo 1:5 ). Compare: “Deus é a verdade, e não há nele injustiça” ( Dt 32:4 ).

Deus é luz e Deus é verdade, de modo que não há n’Ele ‘trevas nenhumas’ e nem ‘injustiça’! Qualquer tentativa de alterar os versículos acima produzirá uma frase contraditória em si mesma por causa da trava lógica existente entre os dois núcleos do versículo, sem falar a contradição que surgiria com a mensagem apresentada nos demais livros: “O SENHOR é a minha luz e a minha salvação” ( Sl 27:1 ); “Porque a Luz de Israel virá a ser como fogo e o seu Santo por labareda, que abrase e consuma os seus espinheiros e as suas sarças num só dia” ( Is 10:17 ).

Outro elemento presente nas passagens bíblicas que auxiliam na preservação da mensagem são as figuras. As figuras geralmente são construídas a partir de elementos do cotidiano do homem, portanto, a figura e o conceito dela decorrente não desaparecem com o tempo, como: as relações na família, a autoridade, o alimento, a semente, o fruto, etc.

“Uma voz diz: Clama; e alguém disse: Que hei de clamar? Toda a carne é erva e toda a sua beleza como a flor do campo” ( Is 40:6 );

“Quanto ao homem, os seus dias são como a erva, como a flor do campo assim floresce” ( Sl 103:15 );

Quando Deus estabeleceu, através do profeta Moisés, que os reis de Israel deveriam cumprir a seguinte determinação: “Porém ele não multiplicará para si cavalos, nem fará voltar o povo ao Egito para multiplicar cavalos; pois o SENHOR vos tem dito: Nunca mais voltareis por este caminho” ( Dt 17:16 ), não expressou uma formula química ou física, antes transmitiu a mensagem de que os reis de Israel não deviam ter muitos cavalos, nem voltar ao Egito para adquirir cavalos, pois também estava vetado ao povo de Israel voltarem ao Egito.

Através do profeta Jeremias, vários anos depois, Deus repete a mesma ordem dada ao povo através de Moisés. Deus não repete a ordem com as mesmas palavras, mas repete a mesma mensagem: “Falou o senhor acerca de vós, ó remanescente de Judá! não entreis no Egito; tende por certo que hoje testifiquei contra vós” ( Jr 42:19 ).

Deus falou novamente por intermédio do profeta Jeremias aos filhos de Israel que escaparam da deportação para a Babilônia e que permaneceram em Jerusalém que não podiam retornar ao Egito para buscar proteção.

Se os remanescentes confiavam em Deus, jamais deveriam perguntar se poderiam voltar ao Egito, e se surgisse um profeta falando em nome do Senhor dizendo para voltarem ao Egito, mesmo que fizesse sinais miraculosos, jamais deveriam segui-lo “E suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; Não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber se amais o SENHOR vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma” ( Dt 13:2 -3)

Deus preservou a sua palavra, não mudou a mensagem, e o núcleo da mensagem por si só está acima de um termo no texto. A mensagem foi preserva e não depende de uma palavra como se o texto bíblico fosse semelhante às invocações de feitiçaria e mágica que se vê nos livros de literatura infantil, em que o encantamento depende de uma frase e de todos os seus termos alinhados com a entonação do mágico.

É imprescindível diferenciarmos o texto com suas estruturas gramaticais e a mensagem ali inserida. O elemento principal a se considerar é a mensagem que se depreende do texto, mas alguns críticos contestam a preservação das Escrituras em função das pequenas diferenças entre os manuscritos, diferenças estas, em grande parte, decorrente de variações ortográficas que não transtornam a mensagem das Escrituras.

Estas variações não depõem contra a preservação e a inspiração das Escrituras, visto que a preservação e a inspiração das Escrituras repousam sobre estes dois elementos:

a) “Certamente o Senhor DEUS não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas” ( Am 3:7 ; Is 48:3 ), e;

b) “E disse-me o SENHOR: Viste bem; porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” ( Jr 1:12 ; Is 55:11 ).

Deus anunciou de antemão o seu eterno propósito e a força da sua salvação e autenticou a sua revelação com o selo da sua imutabilidade e poder ( Tt 1:2 ; Hb 6:17 ).

A Escritura é a revelação de Deus a seus servos, os profetas, e Deus vela sobre a sua palavra para cumpri-la “Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas” ( Ef 4:10 ).

Observe estes dois versículos:

“Pois tu, SENHOR dos Exércitos, Deus de Israel, revelaste aos ouvidos de teu servo, dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Portanto o teu servo se animou para fazer-te esta oração” ( 2Sm 7:27 );

“Porque tu, Deus meu, revelaste ao ouvido de teu servo que lhe edificarias casa; pelo que o teu servo achou confiança para orar em tua presença” ( 1Cr 17:25 ).

Esses versos nos permite constatar que nas Escrituras há diferentes maneiras de registrar uma mesma promessa, e não há alteração no conteúdo da mensagem de modo que a mensagem seja espúria. Com relação aos dois versos citados acima não há aquele mais preservado que o outro, e nem que há mais inspiração em um do que no outro.

Ora, a preservação repousa sobre a mensagem do texto, e a inspiração sobre o fato de Deus ter feito saber de antemão ao rei Davi um segredo que, na plenitude dos tempos, se cumpriu, pois o Verbo eterno foi encarnado, e Cristo, o Filho de Davi, está edificando uma casa espiritual, que é o seu corpo, a igreja “No qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” ( Ef 2:21 ).

Mesmo não existindo nenhum livro originalmente redigido pelos escritores da Bíblia, a mensagem bíblica foi preserva. As traduções que dispomos hoje são produzidas a partir de manuscritos nas línguas originais, resultado do trabalho de zelosos copistas dos livros sagrados produzidos ao longo dos séculos.

É alardeado entre estudiosos da Bíblia que é imprescindível saber ler e escrever nas línguas originais das Escrituras para que se possa compreender a Bíblia. Ora, saber o hebraico, o aramaico e o grego auxiliam na leitura, porém, sabe-las não é garantia de uma boa compreensão.

Os escribas e fariseus à época de Cristo sabiam o hebraico, o aramaico e o grego e foram repreendidos por Cristo por não compreenderem as Escrituras, do que se deduz que saber estas línguas não é garantia de entendimento seguro das Escrituras. A ênfase sempre está em entender a mensagem, o que é possível até mesmo aos analfabetos “Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus” ( At 4:13 ); “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Porventura não errais vós em razão de não saberdes as Escrituras nem o poder de Deus?” ( Mc 12:24); “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” ( Mt 9:13 ; Jo 8:43 ; Mt 13:19 ).

É possível compreender as Escrituras através de uma tradução? Sim! Jesus, os apóstolos e os muitos discípulos se fizeram entender ao povo utilizando o grego koine em suas explanações, bem com os apóstolos ao citarem as Escrituras nas suas cartas traduziram do hebraico para o grego koine passagens do Antigo Testamento.

“Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim” ( Jo 6:45 );

“E todos os teus filhos serão ensinados do SENHOR; e a paz de teus filhos será abundante” ( Is 54:13 ).

 

Posicionamento do tradutor

Motivando a minha predileção por traduções aparentemente conservadoras da Bíblia, também é necessário esclarecer que há quatro linhas mestras que orientam o trabalho dos tradutores e nos auxilia na escolha da tradução que fazemos uso.

Temos a tradução literal, em que o texto é vertido para a nova língua palavra por palavra, sem a preocupação de se ter um estilo linguístico. Estas traduções são denominadas interlineares e é utilizada por pessoas que estudam as línguas dos textos originais, ou por aqueles que estudam especificamente a mensagem das Escrituras.

Há a tradução formal, em que os aspectos da forma do texto fonte são traduzidos quase que mecanicamente para a nova língua, que é o caso da maioria das traduções bíblicas ‘conservadoras’.

Há a tradução dinâmica, em que o tradutor procura a funcionalidade. O que o tradutor entender ser a ênfase que o escritor do texto queria transmitir aos seus leitores, ele tentará reproduzir e estimular no leitor uma reação ao texto que entendeu ser pertinente.

Traduções que seguem este princípio não se propõe traduzir cada palavra da língua original para a nova língua. Este é o princípio utilizado na Nova Tradução na Linguagem de Hoje, em que o tradutor, segundo uma concepção própria, entende que determinadas palavras e expressões da nova língua representa de modo natural a ideia do texto original.

Por ultimo, é necessário alertar quando a paráfrase, tradução livre ou desenvolvida, em que o tradutor coloca a sua função em segundo plano e se aventura a colocar sua concepção no texto, pois entende ser livre para acrescentar ou tirar elementos do texto original e fazer alterações na mensagem.

Não recomendo qualquer tradução que seja uma paráfrase das Escrituras. Uma paráfrase por mais bem intencionada viola uma determinação específica: “Tudo o que eu te ordeno, observarás para fazer; nada lhe acrescentarás nem diminuirás” ( Dt 12:32 ). Jesus, mesmo sendo o Filho, nada acrescentou ou tirou à mensagem das Escrituras: “E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo-o como o Pai mo tem dito” ( Jo 12:50 ).

Nenhum dos princípios representa segurança total para o texto traduzido, pois sempre haverá, mesmo que minimamente, impressões do tradutor no texto. Uma alternativa para minimizar as impressões deixadas pelos tradutores depende da perspicácia do leitor em se familiarizar com a abordagem de um tema em cada livro que compõe a Bíblia, o que permitirá sentir as diferenças linguísticas entre os escritores da Bíblia quando abordam a mesma mensagem ou princípio.

Gosto muito da tradução de João Ferreira de Almeida, pela linguagem clássica, praticamente erudita. Ela também carece de cuidado, apesar de ser uma das melhores na língua portuguesa. Há equívocos por parte do tradutor, porém, não foram introduzidos por dolo, mas por influências doutrinarias de sua época.

 

Exemplos de equívocos

“Antes dai esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo” ( Lc 11:41 ) ACF

O ato de ser generoso e fazer uma doação aos desassistidos financeiramente torna alguém limpo diante de Deus? Se for segundo a concepção da Igreja Católica Apostólica Romana, a ‘esmola’ possui caraterísticas semelhantes a uma transação de ordem jurídica, pois propõe ‘reparar’ o mal praticado pelo homem através de boas ações como persistir em rezar, penitenciar-se, ler, meditar, autoflagelar-se, jejuar, etc.

O ato de dar ‘pequena quantia de dinheiro a um pedinte por caridade’ é palatável a muitos tradutores, pois a ‘esmola’ é um ele elemento forte da religiosidade. Para saber mais acesse: < http://www.estudosbiblicos.org/dar-esmolas-torna-o-homem-limpo-diante-de-deus >.

Qual a tendência de tradução para o termo grego ‘ἐλεημοσύνην’ quando o tradutor se deparar com ele nas Escrituras e, após pesquisar, verificar que os rabinos traduziam por “esmolas” ou “demonstrações de misericórdia” o termo hebraico ‘tsedaqah’ (justiça).

ESMOLA – “eleémosuné (ἐλεημοσύνη), relacionado com eleemon, “misericordioso”, significa: (a) “misericórdia, piedade, particularmente em dar esmolas” (Mt 6.1,2,4; At 10.2; 24.17); (b) o próprio ato de caridade, as “esmolas” — o efeito pela causa (Lc 11.41; 12.33; At 3.2,3,10; 9.36; 10.2,4,31-‘H Nota: Em Mt 6.1, traduzindo dikaiosune, de acordo com os textos mais autênticos, temos “justiça” (ARA)” Dicionário VINE, pág. 613.

“No Antigo Testamento conhecemos o nome Melquisedeque (“rei da justiça”). Significado mais limitado da raiz e encontrado no árabe (um idioma semítico do sul): “veracidade” (de proposições). No hebraico rabínico, o substantivo tsedaqah significa “esmolas” ou “demonstrações de misericórdia” (…) A Septuaginta dá às seguintes traduções: dikaios (“aqueles que são retos, justos, íntegros, que se conformam com as leis de Deus”): dikaiosune (“justiça, retidão”): e eleemosune (“escritura de terra, esmola, doação de caridade”) Dicionário VINE, pág. 163.

Como os fariseus e escribas poderiam atentar para o mais importante da lei, se ainda não compreendia o significado de ‘misericórdia’? “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” ( Mt 23:23 ).

Assistencialismo aos necessitados não era a proposta das Escrituras quando era utilizado o substantivo hebraico tsedaqah (justiça), no sentido de ‘misericórdia’, “demonstrações de misericórdia”, mas os escribas e fariseus por força da religiosidade davam donativos aos pobres.

Como bons religiosos, os fariseus queriam cumprir a determinação de assistir os pobres, porém, as Escrituras evidenciava que ‘pobre’ é qualquer homem, quer abastado financeiramente ou miserável, nobre ou vil, era ‘carente’ da gloria de Deus.

Somente Deus poderia resolver o problema da ‘pobreza’ do homem, pois só Ele poderia ‘espalhar’ e dar aos ‘pobres’ a sua justiça enviando o Cristo “Ele espalhou, deu aos necessitados; a sua justiça permanece para sempre, e a sua força se exaltará em glória” ( Sl 112:9 ; 2Co 9:9 ).

Se os fariseus soubessem que ‘demonstrar misericórdia’ era crer em Cristo, lavariam as suas almas.

Crer em Cristo é ‘exercer misericórdia’ de modo excelente. É obter a justiça que vem do alto, a justiça superior a dos escribas e fariseus. Todo homem está morto por causa do pecado de Adão, mas quando obedece o mandamento de Deus, crendo em Cristo, recebe vida e é justificado por Deus.

Se os fariseus seguissem a Cristo com Senhor e Mestre pondo em prática o mais importante da lei: amar a Deus sobre todas as coisas, seriam limpos interiormente “Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos” ( Mt 19:17 ). Obedecer ao mandamento de Deus é misericórdia e justiça, de modo que, se cumprissem o mandamento que diz: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” ( 1Jo 3:23 ), seriam limpos interiormente.

Crer em Cristo é exercer ‘misericórdia’, pois é justo obedecer ao mandamento de Deus, que retribuiu o homem segundo a sua misericórdia “Porém ele disse: Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do SENHOR diante de ti; e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia, e me compadecerei de quem eu me compadecer” ( Êx 33:19 ).

É Deus que faz misericórdia aos que o amam, ou seja, aos que obedece ao seu mandamento “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” ( Êx 20:6 ), de modo que Deus tem misericórdia dos que o ama, ou seja, dos que obedecem o Seu mandamento.

Quando Jesus disse: “Antes dai esmola do que tiverdes, e eis que tudo vos será limpo” ( Lc 11:41 ), estava ensinado aos escribas e fariseus que deviam obedecer ao mandamento de Deus, crendo em Cristo, que alcançariam misericórdia, ou seja, seriam limpos, pois Deus só tem misericórdia dos que o amam, dos misericordiosos. Para saber mais acesse: < http://www.estudosbiblicos.org/o-significado-biblico-de-misericordia-quero-e-nao-sacrificio >.

Diversas vezes os fariseus leram que o Senhor Deus de Israel haveria de ensinar ao seu povo o que era útil, de modo que teriam justiça e paz abundante “Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia pelo caminho em que deves andar. Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos, então seria a tua paz como o rio, e a tua justiça como as ondas do mar!” ( Is 48:17 ). Mas quando o Senhor de Israel manifestou-se convocando os seus compatriotas a virem aprender, os escribas e fariseus rejeitaram-no “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” ( Mt 11:29 ).

No Sermão da montanha Jesus recomenda aos seus ouvintes: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” ( Mt 6:33 ). Se os fariseus buscassem a justiça que há em Cristo, a luz que raiou nas trevas para todos os povos, não desprezariam o mais importante da lei e alcançariam justiça superior à justiça dos mestres da religião “A luz raia nas trevas para o íntegro, para quem é misericordioso, compassivo e justo” ( Sl 112:4 ).

  • Consideração que para os rabinos ‘justiça’ significava “esmolas” (dar donativos aos pobres), o que para eles era “demonstrações de misericórdia”;
  • Considerando que na Septuaginta verteram ‘esmola’ (ἐλεημοσύνην) por (“escritura de terra, esmola, doação de caridade”);
  • Considerando que os lexicógrafos definem ἐλεημοσύνη, como “misericórdia, piedade, particularmente em dar esmolas”;
  • Considerando que os escribas e fariseus tinham que aprender o significado de ‘misericórdia’ “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes” ( Mt 12:7 ; Mt 9:13 ).

Percebe-se que os rabinos, os escribas e os fariseus não compreendiam o significado de ‘misericórdia’, e nem mesmo o significado de ‘justiça’ estabelecida nas Escrituras.

Ora, a multidão no Sermão do Monte foi orientada por Jesus a não exercerem justiça diante dos homens para serem visto ( Mt 6:1 ). Em seguida, Jesus apontou os hipócritas que faziam os seus donativos aos miseráveis nas sinagogas e ruas, prolongadas orações em pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas e desfiguravam o rosto quando jejuavam.

O motivo da orientação de Cristo é específico: a justiça dos seus ouvintes precisava ser superior à justiça dos escribas e fariseus “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” ( Mt 5:20 ).

Não digo que há dolo por parte dos tradutores, no entanto, gozar de intimidade com a mensagem de Cristo não permitirá que um único termo traga confusão na compreensão da mensagem: O homem se torna limpo única e exclusivamente pela palavra de Deus, e não há ato de justiça que o homem realize que o faça alcançar a limpeza exigida por Deus.

O leitor deve ficar atento, pois terá que analisar os versículos considerando toda a Escritura. O trabalho de considerar toda a Escritura quando se analisa um verso é complexo, mas utilizar uma tradução formal facilita a analise, o que é impossível fazer com uma tradução dinâmica ou parafraseada.

Observe: “Portanto, deem aos pobres o que está dentro dos seus copos e pratos, e assim tudo ficará limpo para vocês” ( Lc 11:41 ) NTLH.

Ora, o tradutor da Bíblia Nova Tradução na Linguagem de Hoje importou para o verso 41 elementos do verso 39: ‘copos e pratos’. Se a analise do versículo demandava certo esforço para o leitor em uma tradução formal, pois teria que analisar o significado do termo ‘esmola’, a tradução dinâmica sob o argumento de ser funcional, torna a interpretação ainda mais difícil, pois o leitor terá os elementos ‘copos e pratos’ para analisar, mas que não constam do versículo.

A Nova Versão Internacional segue a mesma linha: “Mas deem o que está dentro do prato como esmola, e verão que tudo lhes ficará limpo” ( Lc 11:41 ) NVI.

Por que essa associação entre ‘esmola’ e ‘o que está dentro do prato? “Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento” ( Mt 9:13 ).

Os fariseus necessitavam aprender que ‘misericórdia’ não é se ocupar com esmolas, lavar as mãos, lavar os utensílios, etc., pois essas práticas eram decorrentes de mandamentos de homens. Esmolas, lavar as mãos, prolongadas orações, jejuns, etc., não é a justiça exigida nas Escrituras “Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” ( Mc 7:7 ).

O Antigo Testamento era permeado de lições que indicava que a justiça, a misericórdia, o amor ou ἐλεημοσύνην (esmola) é obedecer especificamente ao mandamento de Deus.

A instrução que permeia as Escrituras é:

  1. Melhor é obedecer do que sacrificar ( 1Sm 15:22 );
  2. Melhor é a misericórdia (amor) que o sacrifício ( Os 6:6 ).

O motivo vem expresso nos Provérbios: “Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao SENHOR do que sacrifício” ( Pv 21:3 ).

O paralelismo antitético no verso acima demonstra que fazer ‘justiça e juízo’ é mais aceitável ao Senhor do que sacrifício, do que se conclui que ‘obedecer’ e ‘misericórdia’ é ‘justiça’ e ‘juízo’.

Bastava aos fariseus obedecerem ao mandamento de Deus, que é crer naquele que Ele enviou, que fariam misericórdia, justiça e juízo, que ficariam limpos por dentro e por fora.

Outro problema em ler a NVI ou a NTLH:

“Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes. “Não temam aquilo que eles temem, não fiquem amedrontados.” Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês” ( 1Pe 3:14 -16) NVI.

“Se, de fato, vocês quiserem fazer o bem, quem lhes fará o mal? Como vocês serão felizes se tiverem de sofrer por fazerem o que é certo! Não tenham medo de ninguém, nem fiquem preocupados. Tenham no coração de vocês respeito por Cristo e o tratem como Senhor. Estejam sempre prontos para responder a qualquer pessoa que pedir que expliquem a esperança que vocês têm” ( 1Pe 3:14 -16) NTLH.

Os tradutores da NTLH não destacam que a parte ‘b’ do verso 14 é uma citação do Antigo Testamento, precisamente do profeta Isaías, e em vez de traduzirem a passagem, fizeram uma tradução, como se o apóstolo Pedro estivesse exortando os cristãos a não terem medo e nem ficarem preocupados.

Os tradutores da NVI perceberam tratar-se de uma citação do Antigo Testamento, porém, não compreenderam nem a passagem do Novo Testamento e nem a passagem do Antigo Testamento, pois interpretaram que o apóstolo estivesse recomendando os cristãos a não ficarem amedrontados.

“Mas também, se padecerdes por amor da justiça, sois bem-aventurados. E não temais com medo deles, nem vos turbeis; Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” ( 1Pe 3:14 -16) ACF.

“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurado sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração..” ( 1Pe 3:14 -16) ARA.

Tanto a ARA quanto a ACF não verteram o sentido correto da passagem do Antigo Testamento, porém, como a tradução é formal, visto que os aspectos da forma do texto fonte são traduzidos quase que mecanicamente para a nova língua, é possível lembrar como esta passagem é similar à passagem de Isaías, que diz:

“Não chameis conjuração, a tudo quanto este povo chama conjuração; e não temais o que ele teme, nem tampouco vos assombreis. Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro. Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém” ( Is 8:12 -14) ACF.

“Não chamem conspiração tudo o que esse povo chama conspiração; não temam aquilo que eles temem, nem se apavorem. Ao Senhor dos Exércitos é que vocês devem considerar santo, a ele é que vocês devem temer, dele é que vocês devem ter pavor. Para os dois reinos de Israel ele será um santuário, mas também uma pedra de tropeço, uma rocha que faz cair. E para os habitantes de Jerusalém ele será uma armadilha e um laço” ( Is 8:12 -14) NVI

Deus estava recomendado ao povo de Israel não ter medo? Não!

Para interpretar esta passagem o leitor deve lembrar a seguinte passagem bíblica: “Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído” ( Is 29:13 ).

O termo ‘temor’ no versículo possui o mesmo valor de ‘mandamentos’, de sorte que temor não é medo “Minha aliança com ele foi de vida e de paz, e eu lhas dei para que temesse; então temeu-me, e assombrou-se por causa do meu nome” ( Ml 2:5 ).

Com base nesta equivalência, Deus ordenou através de Isaías que não se devia chamar ‘mandamento’ ao que o povo de Israel chamava ‘mandamento’. Não era para ter como sagrado tudo o que o povo de Israel invocava como mandamento do Senhor, ou dizia ser segundo a aliança. Por quê? Porque não deviam ‘temer’ (honrar) o que o povo de Israel ‘temia’ (obedecia), visto que os líderes de Israel anulavam a palavra de Deus para imporem suas vontades, de modo que o ‘temor’ de Israel consistia em ‘mandamento’ de homens “Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição? Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá. Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim; esse não precisa honrar nem a seu pai nem a sua mãe, E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus” ( Mt 15:3 -6).

O povo não devia ‘obedecer’ o que os líderes de Israel tinha por ‘temor’ e nem ter o ‘temor’ deles por assombro. Porém, era para tremer (obedecer) o ‘temor’ (mandamento) do Senhor dos Exércitos, daí a observação paulina aos cristãos: “De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência, assim também operai a vossa salvação com temor e tremor ( Fl 2:12 ).

É através destas considerações que o apóstolo Pedro recomenda aos que sofrem por causa da justiça, ou seja, por causa de Cristo, que não ‘temam’ a Deus com o ‘temor’ dos que perseguem e difamam os cristãos (ex: judaizantes), antes devem santificar a Cristo como Senhor nos corações sempre prontos a defenderem a razão da esperança ( 1Pe 3:15 ). Para saber mais acesse: < http://www.estudosbiblicos.org/temor-e-tremor >.

Jesus utilizou o verbo grego φοβέομαι (medo) duas vezes em Mateus 10, verso 28, sendo que na primeira citação significa especificamente ‘amedrontar’, ‘ficar com medo’, e na segunda citação do termo, significa obediência, reverencia “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” ( Mt 10:28 ).

“1. phobos (φοβος) primeiramente tinha o significado de “arroubo, fuga”, aquilo que é causado pelo susto; então, “aquilo que pode causar arroubo, fuga”: (a) “medo, pavor, terror”, sempre com este significado nos quatro Evangelhos; também ocorre, por exemplo, em At 2.43; 19.17; 1 Co 2.3; 1 Tm 5.20; Hb 2 .1 5 ; 1 Jo 4 .1 8 ; Ap 11.11; 18.10,15; por metonímia, aquilo que causa “medo” (Rm 13.3). Em 1 Pe 3.14, ‘”não temais com medo deles”, é uma adaptação da Septuaginta de Is 8.12, “não temais o seu temor”; por conseguinte, alguns consideram que significa, em ambas as passagens, “o que eles temem”, mas em vista de, por exemplo, Mt 10.28, parece melhor entender como aquilo que é causado pela intimidação dos adversários” Dicionário VINE, pág. 779.

O apóstolo Paulo exortou os cristãos dizendo que o homem natural não compreende as coisas do espírito, pois elas se discernem espiritualmente, de modo que não basta ao tradutor compreender o pensamento hebreu e a lógica do pensamento grego ( 1Co 2:14 ). O tradutor precisa ser um homem espiritual, de modo que tenha condições de comparar coisas espirituais com as espirituais ( 1Co 2:13 ).

Qual o objetivo de evidenciarmos a natureza da mensagem Bíblia? Demonstrar que não estamos trabalhando com um conhecimento que deriva das razões humanas, antes estamos analisando a mensagem de Deus revelada ao longo dos séculos, que por último foi revelada na pessoa de Cristo Jesus.

O termo ‘temor’ quando aplicado a Deus jamais significa ‘medo’, ‘pavor’, visto que o amor exclui o ‘medo’, o ‘terror’, conforme orientação de Moisés: “E disse Moisés ao povo: Não temais, Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, afim de que não pequeis” ( Ex 20:20 ).

A ordem: ‘Não temais…’ era para que o povo não ficasse com medo, já o motivo: ‘para que o seu temor esteja diante de vós’ refere-se à palavra de Deus, ao seu mandamento, pois só a palavra no coração é que possibilita ao homem não pecar contra Deus ( Sl 34:11 ).

Ora, no verso: “No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor” ( 1Jo 4:18 ), a ideia de ‘reverencia’, ‘obediência’ encontra-se na palavra ‘amor’ e não na palavra ‘temor’.

Como isto é possível? Observe esta colocação de Jesus: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom” ( Mt 6:24 ). No verso em comento, Jesus deixa clara a impossibilidade de o homem ser servo de dois senhores, visto que, odiará um e amará o outro.

Ora, na frase o termo grego ἀγαπάω (agapaó) deixou de representar sentimentos humanos, para expressar a relação senhor e servo, de modo que ‘amar’ equivale a ‘honra’ ou a obediência do servo para com seu senhor e ‘odiar’ equivale a não sujeição do servo ao mando do seu senhor.

É no sentido de ‘honra’, ‘obediência’ que o termo amor foi empregado pelo apóstolo João ao dizer “No amor não há temor…”. A Bíblia apresenta o ‘amor’ incrustrado em um mandamento, demonstrado que o núcleo do termo deixa de lado questões de ordem sentimental, e o termo grego ‘agapaó’ é o que melhor expressa esta ideia, visto que é um termo grego de etimologia incerta, raramente utilizado na literatura grega antes do Novo Testamento, e o seu significado, fraco e variável (descolorida), pois era usada para expressar um ato de gentileza aos estrangeiros, oferecer hospitalidade e ser caridoso ( Lv 19:18 ; Dt 6:5 ).

“Amor (gr. agape) (1 Pe 4.8; Rm 5 .5 ,8 ; 1 Jo 3.1; 4.7,8 ,1 6 ; Jd 21) Esta palavra raramente era usada na literatura grega antes do Novo Testamento. E quando isso acontecia, ela era usada para expressar um ato de gentileza aos estrangeiros, oferecer hospitalidade e ser caridoso” O novo comentário bíblico NT, com recursos adicionais — A Palavra de Deus ao alcance de todos. Editores: Earl Radmacher, Ronald B. Allen e H.Wayne House Rio de Janeiro: 2010, Pág. 701.

“agapaõ, que originalmente significava “honrar” ou “dar boas-vindas”, é, no Gr. clássico, a palavra que tem menos definição específica; frequentemente se emprega como sinônimo de phileõ, sem haver qualquer distinção necessariamente nítida quanto ao significado (…) 4. Não está clara a etimologia de agapaõ e agapè. O vb. agapaõ aparece frequentemente na literatura gr. de Homero em diante, mas o subs. agapè é uma construção que só aparece no Gr. posterior. Foi achada uma só referência fora da Bíblia: ali, a deusa Isis recebe o título de agapè (P. Oxy. 1380, 109; século II d.C.), agapaõ é frequentemente uma palavra descolorida” Dicionário internacional de teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordón Chown]. — 2. ed. — São Paulo ; Vida Nova, 2000 pág. 113 e 114.

Quando é dito: “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida” ( 1Tm 1:5 ), o apóstolo Paulo demonstra que o objetivo do mandamento é a obediência, e em obedecer está a honra devida a Deus “Se me amais, guardai os meus mandamentos” ( Jo 14:15 ).

O apóstolo Paulo utiliza o termo ‘agapé’ para falar do ‘amor que elege’, o que reflete o pensamento do Antigo Testamento, que diz: “Eu amo aos que me amam, e os que cedo me buscarem, me acharão” ( Pv 8:17 ), em outras palavras: “E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” ( Êx 20:6 ).

“Os klètoi (“chamados”) são os agapètoi (“amados”) (Rm 1:7; Cl 3:12). Como no AT, o motivo da eleição é o amor de Deus, que também pode ser chamado eleos ou eleeõ (Misericórdia)”  Idem.

A eleição de Deus não é unilateral, de modo que Ele escolhe quem será alvo do seu amor através de uma regra que os homens desconhecem. A eleição está em que Deus estabeleceu quem será alvo do seu amor: os que O amam!

A Bíblia traz no seu bojo o significado primário das palavras empregadas, porém, influencias externa comprometem a abordagem do tradutor. E o leitor, por sua vez, tem que estar atento.

 

Tradução formal e dinâmica

Ora, se comparado a Bíblia nas línguas hebraicas e gregas, qualquer tradução é deficitária, no entanto, as versões Nova Versão Internacional (NVI), Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH), Bíblia Boa Nova (BBN), Bíblia Viva (BV) e O Mais Importante é o Amor (MIA) são exponencialmente piores.

Não cabe demonizar estas traduções como se elas fossem o resultado de uma ação demoníaca, porém, o risco de se perder a essência da mensagem é enorme, visto que tais versões sob o pretexto de serem ‘claras’, ‘fidedignas’ e com ‘beleza de estilo’, fazem intervenções nos pontos em que o tradutor julga a seu bel prazer ser de difícil compreensão para o leitor comum “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna” ( Mt 5:37 ).

Os tradutores da NVI classificam a tradução como sendo um nível intermediário entre a equivalência formal e a dinâmica, de modo que em certos momentos é utilizada a equivalência formal, e em pontos que o tradutor considera que será difícil o leitor comum entender, adota-se uma tradução mais funcional.

Esta alternância entre equivalência formal e dinâmica, principalmente que a equivalência dinâmica será em pontos que o tradutor entendeu que será de difícil compreensão para o leigo, é que torna a tradução perigosa. Embora os tradutores digam que não são tendenciosos, nestes pontos prevalecerá às tendências dogmáticas e as correntes teológicas.

Nos pontos considerados difíceis, os tradutores utilizam textos históricos e científicos desenvolvidos por rabinos e exegetas, e apontam o posicionamento de alguém versado no hebraico como uma linha de interpretação segura a seguir.

Porém, importar as análises dos rabinos para dentro das Escrituras é pernicioso, pois a interpretações deles era condenada por Deus já no Antigo Testamento. Os profetas denunciava os lideres da religião judaica como prevaricadores “Teu primeiro pai pecou, e os teus intérpretes prevaricaram contra mim” ( Is 43:27 ).

Como aproveitar os estudos e a interpretação das Escrituras feita por homens que foram denunciados da seguinte forma: “Os sacerdotes não disseram: Onde está o SENHOR? E os que tratavam da lei não me conheciam, e os pastores prevaricavam contra mim, e os profetas profetizavam por Baal, e andaram após o que é de nenhum proveito” ( Jr 2:8 ).

Observe quão contraditório eram os seguidores da religião judaica, pois segundo o zelo estavam sempre se perguntado acerca dos direitos da justiça “Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus” ( Is 58:2 ), no entanto, quando Deus respondia, ninguém dava credito, como se lê: “A quem falarei e testemunharei, para que ouça? Eis que os seus ouvidos estão incircuncisos, e não podem ouvir; eis que a palavra do SENHOR é para eles coisa vergonhosa, e não gostam dela” ( Jr 6:10 ).

 

  • Uma tradução boa não é aquela que facilita a leitura, mas aquela que facilita a compreensão;
  • Ao estudar as Escrituras tenha sempre a mão uma Bíblia em papel, pois facilita fazer anotações e a memorização. Não utilize Bíblias digitais para estudar uma passagem bíblica;
  • Utilize sempre a mesma tradução quando for estudar a Bíblia. Você deve se familiarizar com a disposição do texto nas páginas da sua Bíblia e com a linguagem dela;
  • Não utilize Bíblias que contenham notas de roda pé quando estudar a Bíblia;
  • Dúvidas surgirão, mas não tenha pressa. Surgiu uma dúvida, analise o contexto na Bíblia que você sempre lê;
  • Consulte textos que abordem a mesma temática em outros livros da Bíblia;
  • Lembre-se; você está sendo instruído quando lê a Bíblia, portanto, não se socorra da Bíblia para dar base ao que você pensa.

 

“O tolo não tem prazer na sabedoria, mas só em que se manifeste aquilo que agrada o seu coração” ( Pv 18:2 )

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

2 thoughts on “Que tradução bíblica utilizar?

  • O que acha d tradução do novo mundo usada pelas Testemunhas de Jeová?

    Resposta
    • Tendenciosa …

      Manipulada para ser útil a um sistema religioso.

      Att

      Resposta

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