Evangelho Lucas

As boas novas do anjo Gabriel

O arauto do Senhor foi anunciado pelo anjo como grande, porém, andava vestido de vestes de pelos de camelo, um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Que se dirá do Filho de Davi que foi chamado profeticamente de Senhor pelo seu pai ( Sl 110:1 ; Mt 22:41 -45), mas ele não possuía um lugar para repousar a cabeça?


O médico Lucas iniciou a escrita da narrativa do seu evangelho informando a Teófilo como se deu o anúncio e nascimento de João Batista.

À época do evangelista, muitos se empenharam em registrar os eventos que envolveram a pessoa de Cristo conforme a narrativa das pessoas que presenciaram Suas ações e ouviram a Sua mensagem ( Lc 1:1- 4).

Ao fazer referência ao rei da Judeia, Herodes, o evangelista situa a história no tempo.

Ele informa que houve um sacerdote da ordem de Abias, de nome Zacarias, da descendência de Arão, cuja mulher era Isabel ( Lc 1:5 ).

Lucas enfatiza que ambos, Zacarias e Isabel eram justos perante Deus porque se submeterem aos mandamentos e preceitos do Senhor. É importante notar o fato de o evangelista não ter destacado que eles eram justos por cumprirem os preceitos e mandamentos da lei e sim, os preceitos e mandamentos do Senhor ( Lc 1:6 ); “E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá da fé” ( Gl 3:11 ).

Assim como Abraão cumpriu todos os mandamentos e as leis de Deus antes mesmo de ser entregue a lei mosaica, como se lê: “Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis” ( Gn 26:5 ), o sacerdote Zacarias e sua mulher Isabel eram justos diante de Deus pelo mesmo motivo que Abraão.

Qualquer que obedece à voz de Deus, que é crer em sua promessa, é justificado como o crente Abraão “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça” ( Rm 4:3 ).

Aquele que obedece à voz (palavra) de Deus cumpre cabalmente o mandado, os preceitos, os estatutos e as leis de Deus. Tudo isso Abraão cumpriu quando creu que, através do seu Descendente, Deus havia de fazer todas as famílias da terra bem-aventuradas ( Gl 3:6 ; Gn 12:3 ).

O evangelista destaca que o casal não tinha filhos porque Isabel era estéril, e que ambos eram avançados em idade ( Lc 1:7 ). Tudo o que o médico Lucas destaca constitui-se pano de fundo para os eventos que se seguiram: “E aconteceu que, exercendo ele o sacerdócio diante de Deus, na ordem da sua turma, segundo o costume sacerdotal, coube-lhe em sorte entrar no templo do Senhor para oferecer o incenso. E toda a multidão do povo estava fora, orando, à hora do incenso” ( Lc 1:8 -10).

Pela narrativa, fica explícito que Zacarias foi sorteado para adentrar naquele ano no Santo dos santos ( Lv 16:34 ; Hb 9:7 ). Para exercer tal oficio, teve que seguir todas as prescrições contidas no livro de Levítico, no capítulo 16, pois ofereceria sacrifícios por si e pelo povo.

Através de uma analise do livro de Levítico, é possível determinar que o sumo sacerdote Zacarias já havia oferecido o novilho da expiação por si e pela sua casa ( Lv 16:11 ), quando adentrou além do véu levando o incensário cheio de brasas ( Lv 16:12 ).

Ao entrar no Santo dos Santos Zacarias viu um anjo do Senhor e ao vê-lo, sentiu forte comoção e ficou com medo (v. 12). Foi quando o anjo lhe disse: “Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe. E converterá muitos dos filhos de Israel ao SENHOR seu Deus, E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” ( Lc 1:13 -17).

Após acalmar o sacerdote, o anjo informou a Zacarias que sua oração fora ouvida, e que Isabel daria à luz um filho e que deveria dar-lhe o nome de João.

O anjo informou ainda que, o filho que Isabel teria, daria prazer e alegria ao sacerdote. Além do mais, muitos também se alegrariam no nascimento do descendente de Zacarias. A alegria seria decorrente do fato deste filho ser grande diante do Senhor, nazireu e cheio do Espírito Santo desde o ventre de Isabel ( Nm 6:1 -4).

O filho de Zacarias seria grande diante do Senhor, não conforme a concepção dos homens. Mas a grandeza do filho de Zacarias consistia em converter muitos dos filhos de Israel ao Senhor seu Deus.

Para desempenhar a missão de converter os filhos de Israel ao Senhor que escondeu o seu rosto da casa de Israel, o Emanuel ( Is 8:17 ), o Filho de Deus ( Is 49:2 ; Sl 127:5 ; Pv 30:3 ), João Batista teve que ter adiante dele o Espírito e a virtude de Elias “Sucedeu que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” ( 2Rs 2:9 ), pois a conversão de homens se dá por meio de palavras (espírito) de poder (virtude) ( 1Co 2:4 ).

Ao falar com Zacarias, o anjo enviado não traz informação diferente das Escrituras, antes fez uma citação do profeta Malaquias: “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição” ( Ml 4:6 ; Jo 1:19 -23), trazendo à lume o fato da nação escolhida ter se desviado de Deus “Porque ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e pôs uma lei em Israel, a qual deu aos nossos pais para que a fizessem conhecer a seus filhos” ( Sl 78:5 ); “E disse-me: Filho do homem, eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se rebelaram contra mim; eles e seus pais transgrediram contra mim até este mesmo dia” ( Ez 2:3 ).

A doutrina da reencarnação não encontra suporte na mensagem anunciada pelo anjo, que diz: “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias…”, visto que Eliseu pediu porção dobrada do espírito que estava sobre Elias, e recebeu. Ademais, a Bíblia não diz que Elias tenha morrido, o que vetaria a dita ‘reencarnação’. Elias foi arrebatado aos céus em um redemoinho, portando, impossível ‘reencarnar’ segundo a doutrina espírita, pois a Bíblia não afirma que ele tenha morrido ( 2Rs 2:11 ).

As palavras de Elias é o que se denomina espírito, do mesmo modo que Jesus alertou: “… as palavras que eu vos disse são espírito e vida” ( Jo 6:63 compare 1Co 2:4 ). Eliseu não pediu uma ‘reencarnação’, antes pediu a Elias que a sua palavra tivesse o dobro de virtude se comparado com a palavra de Elias.

O que entender por ‘converter o coração dos pais aos filhos’ e ‘converter o coração dos filhos aos pais’? Para compreendermos a abordagem do profeta Miqueias, temos que lembrar que Deus havia dado aos pais estatutos e leis, e que lhes falou por intermédio dos seus profetas ( Hb 1:1 ), e que agora, tudo o que havia sido predito cumpria-se na pessoa de Cristo.

Quando se lê ‘converter o coração dos pais aos filhos’ deve-se compreender que o predito acerca do Cristo aos pais estava se cumprindo na pessoa de Cristo diante dos filhos na plenitude dos tempos, de modo que os filhos deveriam crer nele. Ou quando se lê ‘converter o coração dos filhos aos pais’, deve-se compreender que tudo que os filhos ouviram do Filho de Deus em suma era o que foi anunciado por Deus aos pais ( Hb 1:1 -2).

Por intermédio das palavras do profeta Elias milagres extraordinários aconteceram, porém, tais milagres eram para dar a entender, tanto a casa de Acabe quanto ao povo de Israel, que deviam se converter de Baal ao Senhor dos exércitos ( 1Rs 16:33 ; 1Rs 16:31 ; 1Rs 18:36 -39). Porém, os sinais serviram somente para acrescentar ‘ais’ sobre Israel ( Mt 11:20 -22).

A palavra de João Batista, o arauto do Senhor, firmava-se no espírito e poder de Elias. Como isto ocorreu se não lemos que João Batista tenha operado sinais e maravilhas da parte do Senhor?

João possuía a mesma virtude, porque ao anunciar o reino dos céus o milagre da conversão acontecia e muitos vinham ao batismo ( Mt 3:5 -6). Ele possuía o mesmo poder e virtude de Elias porque se opôs ao erro dos religiosos da época, assim como Elias se opôs à casa de Acabe que fazia o povo transgredir “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto” ( Lc 1:17 ).

O espírito e virtude de Elias operavam sinais e maravilhas da parte do Senhor e, o mesmo espírito e poder estava sobre João Batista para que os homens se convertessem a Deus. A palavra que opera milagres é a mesma que opera o perdão dos pecados, como se lê: “Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico); A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa” ( Mc 2:10 ).

Porém, do mesmo modo que o povo de Israel ficou impassível diante dos milagres operados por Elias e Eliseu, o povo de Israel não se converteu ao Senhor Jesus apesar dos muitos milagres operado, ao que Ele vaticinou: “Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operou a maior parte dos seus prodígios o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de ti, Corazim! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido, com saco e com cinza. Por isso eu vos digo que haverá menos rigor para Tiro e Sidom, no dia do juízo, do que para vós” ( Mt 11:20 -22).

O povo rebelde devia aprender a prudência dos justos, ou seja, aprender com o Mensageiro da Aliança, o Cristo “EIS que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos” ( Ml 4:1 ; Mt 11:28 ). Cristo, o mediador entre Deus e os homens, veio ensinar a prudência dos justos e João Batista foi o seu predecessor ( Lc 1:77 ).

Zacarias duvidou da promessa de que teria um filho, pois se ateve ao fato d’Ele e a sua mulher serem de avançada idade “Disse então Zacarias ao anjo: Como saberei isto? pois eu já sou velho, e minha mulher avançada em idade” ( Lc 1:18 ).

Para dar uma prova do que havia anunciado, o anjo identificou-se a Zacarias como Gabriel “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado a falar-te e dar-te estas alegres novas” ( Lc 1:19 ). O sinal que o anjo deu tinha um período predeterminado para acabar: desde aquele instante Zacarias ficou mudo até o dia em que a criança nasceu “E eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que à seu tempo se hão de cumprir” ( Lc 1:20 ).

O povo estava aguardando o sacerdote e ficou maravilhado pelo fato de Zacarias demorar-se no interior do templo

O dia de expiação era um dia de descanso (sábado) e o povo devia afligir a alma ( Lv 16:29 ). Ora, as prescrições em Levíticos eram figuras que apontavam para a realidade, que é Cristo. Por causa da recomendação na lei, o povo estava em jejum físico e descasavam dos seus afazeres diários, pois confundiam a figura com o essencial ( Zc 7:4 -7; Is 58:6 ).

Deus não estava à busca de um estomago ‘contristado’, e sim de corações. Deus não aceita estomago contrito e sim coração ( Sl 51:17 ). Os sacrifícios aceitos pelo Senhor são os oriundos de um coração contrito, pois primeiro Deus aceita o ofertante para depois aceitar a oferta ( Sl 51:17 e 18 ; Gn 4:4 ). Tudo o que faziam era para eles mesmos ( Zc 7:3 e 6).

João Batista, o menino que estava por nascer, seria o arauto daquele de quem o salmista escreveu no salmo 34. João Batista foi o arauto do Justo, o aflito do Senhor, aquele que não teve nenhum dos seus ossos quebrados ( Sl 3419 -20).

O arauto precederia aquele que disse: ‘Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração…’ ( Mt 11:29 ), de modo que todos quantos ouvissem a mensagem do seu Senhor seriam iluminados ( Sl 34:5 ), e salvos ( Sl 34:2 ).

Alegria e salvação são termos intercambiáveis, pois a alegria do Senhor é a força, a salvação. O salmista esperava em Deus, pois Ele é salvação (auxilio e escudo), ou seja, alegria, força “Pois nele se alegra o nosso coração; porquanto temos confiado no seu santo nome” ( Sl 33:21). Quando a Bíblia diz que Cristo é a nossa alegria, isto significa que Ele é a nossa salvação ( Ne 8:10 ). O que o Senhor fez pelos homens que os deixa alegres? Providenciou salvação “Grandes coisas fez o SENHOR por nós, pelas quais estamos alegres” ( Sl 126:3 ).

João Batista veio preparar o povo para que pudessem ser ensinados pelo Senhor ( Is 54:13 ; Jo 6:45 ), de modo que todos os que o obedecessem estariam sob proteção do Onipresente Anjo do Senhor, Cristo ( Sl 34:7 ). Cristo é o bom pastor ( Sl 34:8 ), pois provê de bens eternos os que atentam para o seu ensino ( Sl 34:11 ).

O precursor veio anunciar o Senhor que está perto dos contritos, dos que circuncidaram o coração ( Sl 34:18 ), de modo que contristaram o espírito, e não o corpo físico. Qualquer que atenta para Cristo, aparta-se do mal e faz o bem. Este encontrou o príncipe da paz e segue os seus preceitos ( Sl 34:14 ).

Quando Zacarias deixou o templo não podia falar ao povo, e passou a falar por acenos, porém, entenderam que o sacerdote tivera uma visão ( Lc 1:22 ).

Logo em seguida Isabel, a mulher de Zacarias concebeu, mas ocultou a sua gravidez por cinco meses “E, depois daqueles dias, Isabel, sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo: Assim me fez o Senhor, nos dias em que atentou em mim, para destruir o meu opróbrio entre os homens” ( lc 1:24 -25).

Este foi o prenuncio do nascimento do Sol da justiça que iluminaria todos os homens ( Ml 4:2 ; Lc 1:32 ). O Sol nascente da justiça estava vindo para iluminar os que estavam mortos e habitavam nas regiões da morte “Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados; Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou; Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” ( Lc 1:77 -79 ; Is 9:2 ).

O arauto do Senhor foi anunciado pelo anjo como grande, porém, andava vestido de vestes de pelos de camelo, um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Que se dirá do Filho de Davi que foi chamado profeticamente de Senhor pelo seu pai ( Sl 110:1 ; Mt 22:41 -45), mas ele não possuía um lugar para repousar a cabeça? “E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” ( Lc 9:58).

A grandeza de João Batista estava no fato de preceder o Messias como arauto “E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui” ( Lc 12:15 ), e a grandeza da igreja consiste em que cada membro do corpo de Cristo está assentado com Ele nas regiões celestiais “E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” ( Ef 2:6 ); “Os meus olhos estarão sobre os fiéis da terra, para que se assentem comigo; o que anda num caminho reto, esse me servirá” ( Sl 101:6 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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