Salvação

Poder de Deus para salvação

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O evangelho é poder de Deus para salvação, porém, a salvação é concedida por Deus somente àqueles que creem.


Poder de Deus para salvação

“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Romanos 1:16).

Introdução

Abordaremos neste artigo a doutrina paulina da salvação pela graça por meio da fé e evidenciaremos erros do monergismo, doutrina calvinista que aduz que a regeneração diz de um poder sobrenatural de Deus que capacita o pecador a crer em Cristo.

Para contrapor a doutrina monergista ao evangelho de Cristo, utilizaremos como base a definição paulina de que o evangelho é poder de Deus para salvação, conforme expresso aos cristãos em Roma, e uma artigo do Dr. Bruce A. McDowell, presidente do Seminário Teológico em Santiago, da República Dominicana, cujo título é “Salvação pela Graça mediante a Fé”.

 

Poder de Deus para salvação

Ao escrever aos romanos, o Apóstolo Paulo define que o evangelho de Cristo é poder de Deus para salvação (Romanos 1:16). Nesse sentido, ao escrever aos cristãos de Éfeso, o apóstolo dos gentios deixa claro que a salvação decorre do evangelho, a palavra da verdade.

“Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa.” (Efésios 1:13).

Ao aconselhar Timóteo, o apóstolo Paulo assevera para que o seu filho amado se envergonhasse do testemunho de Cristo, e nem do próprio apóstolo, vez que estava em cadeias, mas era um prisioneiro de Cristo.

Timóteo devia ser participante das aflições do evangelho, pois essa é uma das vicissitudes a que está sujeito os bem-aventurados (Mateus 5:10-12; 1 Pedro 5:9). Passar por aflições é indissociável do poder de Deus (evangelho) para salvação.

“Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.” (1 Coríntios 1:18);

“Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e sabedoria de Deus.” (1 Coríntios 1:24).

O apóstolo Paulo deixa claro que tanto ele quanto Timóteo foram salvos segundo o poder de Deus, ou seja, pelo evangelho. É pelo evangelho, que é poder de Deus, que é concedido aos homens luz, vida e incorrupção.

“Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso SENHOR, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes participa das aflições do evangelho segundo o poder de Deus, que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos; e que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho;” (2 Timóteo 1:8-10).

A relevância do evangelho para salvação é tamanha que o apóstolo Paulo instou os cristãos da cidade de Filipenses a se portarem dignamente conforme o evangelho e em unidade de espírito batalharem pela fé do evangelho. O apóstolo enfatiza que, para os que se opõe ao evangelho, é indício de perdição, mas para os cristãos, o evangelho é indício de salvação.

“Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de Cristo, para que, quer vá e vos veja, quer esteja ausente, ouça acerca de vós que estais num mesmo espírito, combatendo juntamente com o mesmo ânimo pela fé do evangelho. E em nada vos espanteis dos que resistem, o que para eles, na verdade, é indício de perdição, mas para vós de salvação, e isto de Deus.” (Filipenses 1:27-28).

 

Todo aquele que crê

O evangelho é poder de Deus para salvação, porém, a salvação é concedida por Deus somente àqueles que creem. Há alguma diferença relativo àqueles que creem? Não! Não importa se judeu ou gentio, desde que a pessoa creia no evangelho, que é poder de Deus, terá salvação.

É por isso que Jesus disse:

Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Marcos 16:16);

Quem crê em mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre.” (João 7:38).

E o que as Escrituras dizem acerca do Cristo?

Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido.” (1 Pedro 2:6).

Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque todo aquele que invocar o nome do SENHOR será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas. Mas nem todos têm obedecido ao evangelho; pois Isaías diz: SENHOR, quem creu na nossa pregação?” (1 Coríntios 10:11-16).

É por isso que o apóstolo Paulo e Silas disseram ao carcereiro:

“E eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” (Atos 16:31).

A necessidade de crer é indispensável à salvação, conforme Jesus ensinou Nicodemos:

“E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (João 3:14-18).

 

Evangelho e crer

Dois requisitos são imprescindíveis à salvação: evangelho e crer! Para salvação se faz necessário o poder de Deus, que é mandamento, e por conseguinte, cabe da parte do homem uma resposta, obedecer, que se constitui crer.

“Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo.) Ou: Quem descerá ao abismo? (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido.” (Romanos 10:6-11).

O apóstolo Paulo explica como a justiça pela fé foi apresentada na Antiga Aliança citando Deuteronômio:

“Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos?” (Deuteronômio 30:12-13).

O apóstolo especifica que a justiça pela fé prevista por Moisés diz da ‘palavra’, que, ‘está junto de ti, na tua boca e no teu coração’ (Deuteronômio 30:14), ficando evidente que a justiça da fé se dá por meio do evangelho, ou seja, a palavra da fé anunciada pelos apóstolos.

Cristo encarnado e ressurreto (Quem subirá ao céu? Isto é, a trazer do alto a Cristo. Ou: Quem descerá ao abismo? Isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo.) são eventos próprios à justiça da fé, pois ambos decorrem do poder de Deus!

Com base no evento da encarnação e ressurreição é apregoada a palavra da fé (evangelho), tendo como premissa que se deve confessar (admitir) que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e crer que Deus O ressuscitou dentre os mortos.

“Acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor,” (Romanos 1:3-4).

É desses dois eventos que o apóstolo Paulo afirma veementemente que não se envergonha, pois são evidencias do poder de Deus que proporciona salvação.

Qualquer pessoa, quer seja judia ou grega, que admita com a boca que Cristo nasceu da descendência de Davi e acredita que Deus o ressuscitou dentre os mortos será salvo (Romanos 10:9).

Ao entregar o seu Filho unigênito, Deus amou o mundo dando um mandamento com promessa de salvação, e todos que obedecem ao mandamento se fazem servos e realizam a obra de Deus.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (João 6:29);

“Sê tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza.” (Salmos 71:3).

Deus deu o seu filho para estabelecer um novo mandamento, pois a misericórdia de Deus só é concedida para os que O amam, ou seja, que obedecem aos seus mandamentos (Êxodo 20:6).

“Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé;” (Romanos 16:26).

O evangelho constitui o mandamento de Deus dado a todos os homens para que obedeçam a fé. Que ‘fé’ é essa que as nações devem obedecer? A verdade do evangelho, ou seja, a pregação da fé.

A fé que as nações devem obedecer diz do mistério que esteve oculto e, que ‘agora’ se manifestou. Ao escrever aos Gálatas, o apóstolo Paulo evidencia que a fé que se deve obedecer diz de Cristo.

“Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” (Gálatas 3:23-24).

 

Evangelho para crer

Com base em todas as citações bíblicas apresentadas até aqui é possível afirmar com segurança que o evangelho recebe diversos nomes ao longo das epístolas do Novo Testamento, podendo ser nomeado: poder de Deus, fé, testemunho do Senhor, palavra, palavra da verdade, mandamento do Deus eterno, etc. Já com relação a crer, temos vários termos utilizados no Novo Testamento, como: acreditar, fé, vossa fé, fé mutua, obedecer, descansar, invocar, etc.

Neste ponto sou instado a apontar algumas considerações de McDowell, que diz:

Embora a fé para crer seja um dom da parte de Deus, ela é algo que somos instados a usar diligentemente ao buscá-lo. (Hb 11:6)”; McDowell, Bruce A, Salvação pela Graça mediante a Fé < http://www.monergismo.com/textos/doutrina_graca/salvacao-graca-fe_mcdowell.pdf > Consultado em 27/05/23.

“Mesmo a capacidade de crer em Cristo pela fé é um dom gratuito de Deus. Como pecadores não-regenerados não podemos fazer isso à parte da obra do Espírito de Deus em nós (cf. 1Co. 2:14; Tito 3:5).” Idem.

Não posso me furtar a algumas perguntas: O que seria ‘fé para crer’ que McDowell afirma ser um dom da parte de Deus e que é algo para ‘usar diligentemente ao busca-lo’? O que seria essa ‘capacidade de crer em Cristo’, que McDowell afirma que é dom gratuito Deus?

Segundo o pensamento abraçado por McDowell, a fé como dom de Deus que capacita o homem crer diz de uma graça irresistível decorrente da regeneração. Esse ‘dom’ seria uma atração irresistível que Deus concede as pessoas que foram eleitas para serem salvas, e por isso, agraciadas com a capacidade de crer em Cristo pela fé.

Esse pensamento deriva da tentativa de os calvinistas tentarem justificar a fé (sistema doutrinário) deles, e para isso fazem uma leitura equivocada do versículo 9, da segunda epístola aos Efésios:

“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios. 2:8- 9).

O que seria ser salvo pela graça? Segundo o apóstolo Paulo ser salvo pela graça se dá nos seguintes termos:

“Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa. Porque, se pela ofensa de um morreram muitos, muito mais a graça de Deus, e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos. E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou. Porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. Porque, se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça, e do dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.” (Romanos 5:15-17).

A graça de Deus decorre da sua benignidade evidenciada em Cristo (Efésios 2:7), e o dom pela graça é vivificar os mortos (pecadores) por intermédio de Cristo.

“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos),” (Efésios 2:5);

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens,” (Tito 2:11).

Salvação decorre da benignidade de Deus que a concede gratuitamente, por isso, é dito ‘pela graça sois salvos’. Cristo é a graça de Deus manifesta que concede salvação a todas famílias da terra, segundo a promessa feita a Abraão (Genesis 12:3).

“Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti.” (Gálatas 3:8).

A graça de Deus além de ser personificada, pois se revelada em Cristo, também é uma doutrina (querigma), pois ensina que se deve renunciar a impiedade e as concupiscências mundanas e aguardar a volta de Cristo.

Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente,” (Tito 2:12).

Mas, como Deus opera a salvação de pecadores, de modo que Ele seja justo e, concomitantemente, justificador?

“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus.” (Romanos 3:26).

A resposta é o evangelho! É no evangelho que se descobre a justiça de Deus, de modo que, através de Cristo, Deus justo executa a justiça: o pecador é crucificado, morto e sepultado com Cristo. Pela sua graça, Deus ressuscita (regeneração) aquele que foi sepultado e o justifica (declara justo) gratuitamente.

A salvação é pela graça e, por meio da fé do evangelho (Filipenses 1:27). A fé do evangelho não é proveniente dos homens, mas de Deus, por isso é dito: isto não vem de vós, é dom de Deus!

Cristo é a graça de Deus evidenciada, e a vida eterna o dom gratuito de Deus por Cristo Jesus. No evangelho está contido as riquezas da graça (Efésios 2:7), pois os cristãos são enriquecidos em Cristo, em toda palavra e conhecimento, ou seja, no evangelho, o testemunho de Cristo, e por isso, nenhum dom falta.

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.” (Romanos 6:23);

“Sempre dou graças ao meu Deus por vós pela graça de Deus que vos foi dada em Jesus Cristo. Porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda a palavra e em todo o conhecimento (Como o testemunho de Cristo foi mesmo confirmado entre vós). De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo,” (1 Coríntios 1:4-7).

A fé (evangelho) foi dada aos homens para crer, ou seja, o que se exige é a obediência da fé, segundo o mandamento de Deus. A fé que é dom de Deus diz do poder de Deus na qual a crença (vossa fé) dos cristãos tem por supedâneo.

“Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.” (1 Coríntios 2:5; 1 Pedro 5:9 e 12).

Enquanto a religião judaica se apoiava em sabedoria dos homens, visto que o mandamento que seguiam era doutrinas de homens, o evangelho é poder de Deus.

“Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens.” (Marcos 7:7).

‘Fé’ para crer é uma falácia, antes a fé (evangelho) foi dada para crer. A Bíblia insta os cristãos permanecerem fundados e firme na fé (evangelho), e não fundados e firme em crer. Permanecer fundado e firme na fé é não se demover da esperança do evangelho, o que não significa estar firmado em convicções próprias.

“No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro.” (Colossenses 1:23).

Crer em Cristo e possível pela pregação da fé, o dom gratuito de Deus, diferentemente da ideia de McDowell de que crer decorre de uma fé que é obra do Espírito Santo.

Crer não é resultado de uma fé, antes crer é consequência da fidelidade de Deus. A palavra de Deus é fiel e digna de total aceitação, portanto, qualquer que ouve a palavra de Deus deve se resignar a crer.

“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.” (1 Timóteo 1:15).

Após crer, o cristão deve reter firme a sua confissão, e o motivo é claro: porque é fiel aquele que prometeu!

“Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” (Hebreus 10:23).

O evangelho é o que permite ao homem agradar a Deus, por isso é dito que sem fé é impossível agradá-lo. A fé que permite ao homem agradar a Deus diz do ‘firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem’ (Hebreus 11:1).

A crença do homem jamais poderia ser o firme fundamento, pois o maior crente pode mergulhar em dúvidas, porém, o ‘firme fundamento’ ou a ‘prova’ permanece para sempre. A crença de João Batista não era o firme fundamento, mas Cristo é o ‘firme fundamento’ e a ‘prova’, pois Ele é a fé que havia de se manifestar (Gálatas 3:23).

“No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (João 1:29);

“Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele.” (Mateus 11:11);

“E João, chamando dois dos seus discípulos, enviou-os a Jesus, dizendo: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” (Lucas 7:19).

 

Espírito versus carne

O evangelho possui diversas características, dentre elas destacamos a promessa feita a Abraão (Gálatas 3:8), era um mistério (Romanos 16:25; 1 Coríntios 4:1), é um mandamento (Romanos 16:26), revela a justiça de Deus (Romanos 1:17), é poder de Deus para salvação (Romanos 1:16), e contrasta com a lei, pois a lei foi dada sob maldição e o evangelho sob promessa.

“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. (…) Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito.” (Gálatas 3:10 e 14).

Na lei, para alguém ser aceito por Deus, tinha que cumprir todos os mandamentos sem tropeçar em nenhum ponto, e por isso é dito que ninguém é justificado diante de Deus pela lei (Gálata 3:11 e 21; Tiago 2:10).

No evangelho, para alguém ser aceito por Deus, deve obedecer a palavra de Deus, e por isso é dito que o justo viverá da fé, ou seja, da palavra de Deus (Deuteronômio 8:3). A benção de Abraão chegou aos gentios por meio de Cristo, de modo que pela palavra (fé) anunciada a Abraão, os cristãos recebessem a promessa do espírito (Gálatas 3:14).

Ao escrever aos Gálatas e aos cristãos em Éfeso, o apóstolo Paulo não estava pensando nas religiões mundanas, ou que alguém pensava que era possível merecer a salvação por fazer algo.

Quando escreveu, o apostolo Paulo não estava pensando em questões da história recente da igreja católica como as indulgências, sacrifícios, ofertas, dogmas, ritualismo, lealismo, etc., antes foi abordado perigos que rondavam os cristãos da época.

As cartas tinham o condão de combater a religião judaica, e por isso é perguntado aos Gálatas: recebeste o espírito (evangelho) pelas obras da lei ou pela pregação da fé? Eram tão insensatos que começara pelo espírito (evangelho) e agora estavam voltando a carne (doutrina de homens).

Nas duas cartas, o apóstolo Paulo em momento algum aborda a questão merecer a salvação. Na verdade, ele destaca duas coisas:

  1. Os cristãos haviam recebido as palavras de Cristo, a ‘pregação da fé’, que é espírito e vida (João 6:63);
  2. Os judeus seguiam as ordenanças da carne, ou seja, eles acreditavam que eram salvos por descenderem da carne de Abraão, ou seja, faziam da carne (de Abraão) o seu braço (Jeremias 17:5).

Os cristãos obedecem a Deus crendo em Cristo, já os judeus achavam que obedeciam a Deus por serem descendentes de Abraão. Qualquer que quisesse ser um seguidor do judaísmo, primeiro tinha que se circuncidar, e depois seguir os ritos da lei.

Confiar na carne é uma referencia ao sistema doutrinário judaico, diferente dos cristãos que servem a Deus no espírito (evangelho):

“Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne. Ainda que também podia confiar na carne; se algum outro cuida que pode confiar na carne, ainda mais eu: Circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; segundo a lei, fui fariseu; Segundo o zelo, perseguidor da igreja, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.” (Filipenses 3:3-7).

Observe que o apóstolo Paulo destaca que os cristãos servem a Deus no espírito e também se gloriam em Jesus Cristo (Isaías 41:16), e o seguidores do judaísmo confiavam na carne (João 8:33; Mateus 3:9).

Quando o apóstolo Paulo destaca aos Efésios que a salvação se dá por meio da fé (evangelho) e não vem das obras (Efésios 2:9), ele está destacando as obras da lei, que consistia em ordenanças (Efésios 2:15).

 

Excluída a jactância

Quando é dito que a salvação é por meio da fé (efésios 2:8), ou que os gentios são co-herdeiros, participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Efésios 3:6), o apóstolo estava cortando ocasião àqueles que se gloriavam da carne (para que ninguém se glorie).

“Para que nenhuma carne se glorie perante ele.”  (1 Coríntios 1:29).

Que carne ousava se gloriar? Os judeus! É por isso que Deus escolheu as coisas vis deste mundo, ou seja, os gentios (1COrintios 1:28).

“Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; (…) Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?” (Romanos 2:17 e 23).

Os judeus se gloriavam da carne, mas Abraão, que era pai dos judeus segundo a carne, nada alcançou segundo a carne, portanto, não teve como se jactar da sua carne (Romanos 4:1). Isto significa que ser descendente da carne de Abraão não é motivo para se gloriar como faziam os seguidores do judaísmo.

Abraão também não foi justificado pelas obras, portanto, não tinha como se gloriar diante de Deus (Romanos 4:2). O apóstolo só destaca ‘obras’ porque ainda não existia lei à época de Abraão, se não seria dito ‘obras da lei’.

Como Abraão foi justificado? Primeiramente Deus anunciou a Abraão que Eliézer não seria o seu descendente, e que a descendência de Abraão seria numerosa como as estrelas do céu (Gênesis 15:4-5). Com base na palavra anunciada por Deus, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi por justiça (Gênesis 15:6).

Abraão realizou alguma obra? Não! Antes gratuitamente Deus lhe fez uma promessa.

“Porque, se a herança provém da lei, já não provém da promessa; mas Deus pela promessa a deu gratuitamente a Abraão.” (Gálatas 3:18).

A leitura de Efésios 2, verso 8, deve ser contextualizado segundo essas premissas:

“Porque a lei opera a ira. Porque onde não há lei também não há transgressão. Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós,” (Romanos 4:15-16).

Quando é dito que é pela fé, o apóstolo dos gentios aponta para a promessa firme e imutável dada graciosamente a Abraão que se estende a sua posteridade. Ora, essa fé se estende a posteridade que era da lei e, também, a posteridade que é da promessa pela justiça da fé, de modo que Abraão é pai de todos os que creem, tanto os da circuncisão quantos os da incircuncisão (Romanos 4:10-13).

A lei exige obras, mas as obras realizadas pelos filhos de Israel tinham por base mandamentos de homens. A promessa de Deus feita a Abraão também exige obra, a obra da fé, que é crer no enviado de Deus. Qualquer que crê no Filho de Deus se faz servo de Deus, logo a jactância é excluída. Como alguém que se sujeita a um senhor pode se jactar de ter se humilhado?

“Onde está logo a jactância? É excluída. Por qual lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.” (Romanos 3:27).

Outro erro de McDowell é afirmar que ser justificado significa “que somos feitos justos em nosso relacionamento com Deus, onde ele não mais olha para o nosso pecado, através da justiça de Cristo que é aplicada em nós mediante a nossa fé.”. Ser feito justo refere-se a nova natureza do cristão, que resulta em comunhão com Deus, isto significa que não é o relacionamento que é feito justo ou que Deus não olha para os pecados do cristão.

A justificação envolve dois aspectos: a) morrer (justificado) para o pecado, onde o homem fica livre do seu antigo senhor; b) ressurge uma nova criatura, que é declarada justa (justificação).

“Porque aquele que está morto está justificado do pecado.” (Romanos 6:7);

“O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” (Romanos 4:25).

O posicionamento de McDowell evidencia o equívoco calvinista de entender que a justificação envolve transação moral, ou que Deus trata[1] o pecador como se fosse justo sem torna-lo justo.

O evangelho é poder de Deus para salvação justamente porque estabelece a justiça de Deus, vez que o pecado é apenado com a morte ao morrer com Cristo (justificado), e declarado justo (justificação) quando ressurge com Cristo uma nova criatura (1 Pedro 1:3), de modo que é possível conciliar o atributo divino justo com o ato de justificar o pecador.

A justiça que é aplicada nos que creem é a justiça da fé (evangelho), e não a justiça da nossa fé (crer). É um equívoco pensar que Deus olha para o pecador através da justiça de Cristo, pois na verdade, efetivamente Deus olha para os que creem porque são novas criaturas sem nenhuma condenação (Romanos 8:1).

Diante do exposto, conclui-se que quando o carcereiro de Filipo perguntou aos prisioneiros Paulo e Silas: – “Senhores, que devo fazer para que seja salvo?”, e eles responderam: – “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (Atos 16:30-31), isto porque a palavra anunciada ‘crê no Senhor Jesus será salvo’ é firme, portanto, digna de toda aceitação.

Ao crer na verdade do evangelho, o crente crê naquele que é fiel e imutável, consequentemente, Deus cria um novo homem em verdadeira justiça e santidade (Efésios 4:24; 1 Pedro 1:3). A pessoa não é regenerada para alcançar uma capacidade de crer, antes ela crê no evangelho digno de aceitação pelos que ouvem, e é salva pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo (Tito 3:5).

“Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado.” (João 15:3).

Sem obediência a palavra da verdade não há purificação, ou seja, sem crer no evangelho não há como Deus promover a regeneração (1 Pedro 1:22). Conforme a resposta do apóstolo Paulo e Silas ao carcereiro de Filipo, o homem tem que fazer algo para ser salvo: se fazer servo de Deus realizando a sua obra, que é crer em Cristo, ou seja, ser obediente a palavra da verdade.

“Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.” (João 6:29);

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento.” (1 João 3:23).

 

 

[1]  ‘não é uma questão de tornar a pessoa justa ou de alterar a sua condição espiritual’ Erickson, Introdução a Teologia Sistemática, p. 409.

‘o pecador crente é justificado, isto é, tratado como justo (…) A justificação é um ato de reconhecimento divino e não significa tornar uma pessoa justa…’ Scofield, Bíblia de Scofield com referências, Rm 3:28, p. 1147.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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