Pecado

Iniquidade é transgressão de qual lei?

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Havia alguma lei a ser guarda pelo gentio Abrão? Não, pois nada havia sido ordenado aos homens! Mas, quando foi dito a Abraão que ele teria uma descendência numerosa sobre a face da terra, mesmo não tendo filhos, Abraão creu, e isto lhe foi imputado por justiça. Observe que não havia lei e nem mesmo a circuncisão.


Iniquidade é transgressão de qual lei?

Ao buscar definir “iniquidade”, muitos começam analisando o termo grego ‘ανομια’ [anomia] (substantivo feminino), que pode significar ‘negação da lei’, ‘ilegalidade’, ‘falta de conformidade com a lei’, ‘violação da lei’, ‘desacato à lei’, ‘iniquidade’, ‘impiedade’, ‘pecado’, entre outros, dependendo do contexto.

O termo ‘ανομος’ [anomos], traduzido como iniquidade, é composto pelo prefixo ‘α’ [a], indicando ausência ou falta, e ‘νομος’ [nomos], que significa “lei”. Assim, “anomia” significa “sem lei” ou “ausência de lei”.

Geralmente, o próximo passo é contar quantas vezes o termo aparece no Novo Testamento, chegando-se à conclusão de que ‘ανομια’ [anomia] é utilizada 15 vezes.

Embora essa análise linguística seja válida, ela não justifica a afirmação de que a lei de Moisés é o meio pelo qual o homem alcança a salvação. A insistência nessa interpretação é uma resistência à verdade do evangelho.

Interpretar “iniquidade” em Mateus 24:12 como simplesmente a não observância da lei mosaica é desconsiderar o contexto mais amplo desse versículo. Jesus alertou no versículo anterior sobre o surgimento de muitos falsos profetas que enganariam muitos (Mt 24:11).

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de quase todos se esfriará” (Mateus 24:12).

A ação desses falsos profetas é apresentar uma mensagem contrária ao mandamento de Deus, que no contexto do Novo Testamento é acreditar no enviado de Deus, Jesus Cristo:

“E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo…” (1 João 3:23).

Com a vinda do Messias, o mandamento de Deus se resume na obra de acreditar em Jesus: “Que creiais naquele que ele enviou” (João 6:29). Aqueles que realizam essa obra, que é crer em Cristo, tornam-se servos de Deus e, assim, cumprem o mandamento divino. Esse é um cumprimento mais profundo e abrangente do que tentar cumprir a lei mosaica, que se assemelha ao cumprimento dos preceitos de Deus por Abraão antes da lei de Moisés.

“Porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos, e as minhas leis” (Gênesis 26:5).

Portanto, a “iniquidade” mencionada em Mateus 24:12 se refere à negação do mandamento de crer em Jesus Cristo, não à falha em observar a lei mosaica. É a rejeição da fé em Cristo que resulta no esfriamento do amor, como advertido por Jesus.

A Lei Mosaica foi dada 430 anos após Abraão ter obedecido à voz de Deus, e Deus deu testemunho de que Abraão, um gentio da cidade de Ur dos Caldeus, guardou todas as Suas leis.

Havia alguma lei a ser guardada pelo gentio Abraão? Não, pois nada havia sido ordenado aos homens! Quando foi dito a Abraão que ele teria uma descendência numerosa sobre a face da terra, mesmo não tendo filhos, ele creu, e isso lhe foi imputado por justiça. Observe que, naquele momento, não havia lei e nem mesmo a circuncisão.

Somente após Abraão crer é que Deus instituiu a circuncisão do prepúcio da carne, como símbolo da aliança firmada entre Deus e Abraão, que os descendentes da carne de Abraão deveriam guardar (Gênesis 17:9). A circuncisão não era a aliança em si; era, sim, o símbolo da aliança estabelecida entre Deus e Abraão.

Quando Abraão fez a circuncisão do prepúcio da carne, ele já era gentio e justo diante de Deus. Daí a pergunta do apóstolo Paulo:

“Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão?” (Romanos 4:9).

Para um judaizante, a bem-aventurança prometida a Abraão só é possível quando o homem circuncida o prepúcio da carne. No entanto, se observarmos a história de Abraão, verifica-se que o selo da circuncisão, simbolo da aliança entre Deus e a descendencia de Abraão (Gênesis 17:10), só foi determinado após ele ter recebido o testemunho das Escrituras de que era justo diante de Deus.

A justiça de Abraão foi atribuída por Deus quando Abrão creu na promessa, não por atos de observância da lei ou rituais como a circuncisão. Deus declarou Abraão justo por causa de sua fé na promessa de uma descendência numerosa, mesmo quando ele ainda não tinha filhos. Este ato de fé, anterior à instituição da circuncisão, demonstra que a bem-aventurança e a justiça diante de Deus são alcançadas pela fé na palavra de Deus e não pela observância de rituais ou leis.

Assim, a circuncisão foi estabelecida como um sinal da aliança entre Deus e a descendencia de Abraão, mas não como o meio pelo qual Abraão alcançou a justiça. O apóstolo Paulo reforça essa ideia ao perguntar: “Vem, pois, esta bem-aventurança sobre a circuncisão somente, ou também sobre a incircuncisão?” (Romanos 4:9). Ele responde que a bem-aventurança vem pela fé, seguindo o exemplo de Abraão, que foi considerado justo antes de qualquer ritual ou lei ter sido estabelecido.

Portanto, a verdadeira bem-aventurança prometida a Abraão e seus descendentes espirituais não se baseia em rituais externos, mas na fé em Deus decorrente da Sua promessa e fidelidade, como exemplificado por Abraão (Gênesis 15:6; 17:24).

Deus não fez promessa a Abraão por intermédio da lei de Moisés, mas por meio da palavra da fé, ou seja, da promessa (Romanos 4:13). Abraão vivia sem lei quando lhe foi feita a seguinte promessa:

“Em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gênesis 12:3).

Essa promessa foi dada a Abraão antes que a lei de Moisés existisse, demonstrando que a bênção e a justiça de Deus são recebidas pela fé, e não pela observância da lei. Abraão creu na palavra de Deus, e isso lhe foi imputado por justiça (Gênesis 15:6). Este é um ponto crucial no entendimento da relação entre fé e lei na Bíblia.

O apóstolo Paulo destaca isso ao afirmar que a promessa a Abraão e à sua descendência não foi por meio da lei, mas pela justiça da fé (Romanos 4:13). A lei, que veio 430 anos depois, não anulou a promessa feita a Abraão. Pelo contrário, a promessa permanece firme para todos os que têm fé, sejam eles circuncisos ou incircuncisos no prepício da carne.

A verdadeira descendência de Abraão, segundo Paulo, são aqueles que têm fé, assim como Abraão teve. Portanto, a bem-aventurança prometida não depende da observância da lei mosaica, mas da fé no cumprimento da promessa de Deus, culminando em Cristo, que é a semente prometida (Gálatas 3:16).

Dessa forma, a relação de Deus com a humanidade, conforme exemplificada na vida de Abraão, é fundamentada na fé e na promessa, não na lei. Abraão é o pai de todos os que creem, e a justiça vem pela fé na promessa de Deus, independentemente das obras da lei (Romanos 4:11-12).

“E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra” ( Gn 12:3 ).

Se observarmos a mensagem dos judaizantes: “ENTÃO alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos: Se não vos circuncidardes conforme o uso de Moisés, não podeis salvar-vos.” (Atos 15:1), tem-se nesta determinação a fala de um falso profeta, pois diz algo que Deus não falou. Daí a necessidade de observarmos o que disse o apóstolo Paulo:

“Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gálatas 1:9);

“Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” ( Gálatas 5:2 -4).

Quando Jesus disse que surgiriam muitos falsos profetas, Ele se referia a inúmeras pessoas que apareceriam anunciando mensagens em nome de Deus, mas negando a obra realizada por Cristo. Sobre esse assunto, o apóstolo Paulo afirmou: “Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te” (2 Timóteo 3:5).

O que significa ‘piedade’ nesse versículo? Não se refere a “amor e respeito às coisas religiosas; religiosidade; devoção; pena dos males alheios; compaixão, dó, comiseração”. Nesse contexto, piedade é equivalente a ‘evangelho’. Eles têm a aparência do evangelho, mas negam a sua eficácia.

Esse sentido do termo ‘piedade’ pode ser extraído da seguinte passagem bíblica:

“E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado no espírito, visto pelos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido acima na glória” (1 Timóteo 3:16).

Aqui, ‘piedade’ claramente se refere ao evangelho, a revelação de Jesus Cristo. Portanto, quando Paulo fala de pessoas que têm a aparência de piedade, mas negam a eficácia dela, ele está se referindo àqueles que aparentam ser seguidores do evangelho, mas que, na verdade, rejeitam ou distorcem sua verdadeira essência e poder. Eles podem parecer devotos e religiosos, mas não reconhecem a sua eficácia ou negam a pessoa de Cristo.

Assim, devemos nos afastar de tais pessoas, pois embora pareçam seguidoras do evangelho, suas ações e ensinamentos negam a verdadeira eficácia e poder do evangelho de Cristo. O mistério da piedade diz do evangelho de Cristo, por isso, todos quantos quiserem viver segundo a palavra do evangelho sofrerão perseguições (2 Timóteo 3:12).

Mensagens como: “É necessário circuncidar-se”; “É necessário guardar os sábados”; “É necessário abster-se de certos alimentos”; “É necessário abster-se de casar-se” são todas falsas profecias. Qualquer pessoa que dá ouvidos a tais mensagens caiu da graça de Cristo.

Ora, tais mensagens são negações do mandamento de Deus (iniquidade), pois o seu mandamento é:

“Que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo e nos amemos uns aos outros, como ele nos ordenou” (1 João 3:23);

“Quem crer e for batizado será salvo…” (Marcos 16:16).

Quando o foco é desviado da fé em Cristo para a observância de regras e rituais específicos, nega-se a essência do evangelho. A salvação é alcançada pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo, e não pela observância da lei ou por atos religiosos. O apóstolo Paulo adverte fortemente contra isso em sua carta aos Gálatas:

“Estais separados de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gálatas 5:4).

Portanto, qualquer ensino que coloca requisitos adicionais além da fé em Cristo para a salvação é uma forma de iniquidade, pois transtorna o verdadeiro evangelho. Devemos nos apegar à mensagem de Jesus, que nos chama a crer em Cristo e a amar como Ele amou.

Foi Deus que estabeleceu uma Pedra preciosa em Jerusalém, Jesus, o Cristo.

“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido.” (1 Pedro 2:6).

 

 

Ora, por se multiplicar as mensagens de engano, as mensagens dos falsos profetas, a obediência de muitos seria anulada. Ora, o verso: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” ( Mt 24:12 ), foi dito por enigmas, portanto, é uma parábola.

Como é possível aumentar a iniquidade? O que se multiplica é a mensagem de engano, pois surgiriam muitos falsos profetas e anticristos “AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” ( 1Jo 4:1 ). Com o surgimento de muitos falsos profetas a mensagem de engano aumenta, consequentemente, o mandamento contido no evangelho de Cristo deixa de ser anunciado.

Se a necessidade de crer em Cristo não é anunciada, antes outra mensagem é divulgada, tem-se a iniquidade, ou seja, ausência da lei, do mandamento. Sem o mandamento não há amor, pois ama aquele que cumpre o mandamento “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele” ( Jo 14:21 ).

Ou seja, quando Jesus aponta que o amor se esfriará, Ele estava demonstrando que, em virtude da ausência do mandamento verdadeiro (iniquidade), a obediência (amor) diminui, esfria.

É neste sentido que Jesus pergunta: Quando, porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra? O termo fé deve ser compreendido como a mensagem do Filho do homem. Cristo é a Fé, a fé que havia de se manifestar, portanto, sem a sua mensagem não há fé, pois a Fé que a Bíblia faz alusão tem a capacidade de residir nos homens ( Gl 3:23 ; 2Tm 1:5 ). A Fé que Jesus faz menção refere-se ao fundamento de Deus, que é firme e faz o homem agradável a Deus ( 2Tm 2:19 : Hb 11:1 ).

Ao escrever a Timóteo, o apóstolo Paulo alerta quanto às falsas doutrinas “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina, nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé; assim o faço agora” ( 1Tm 1:3 -4 ).

Quando se ensina outra doutrina, instala-se a iniquidade, pois transtorna o mandamento de Deus. A edificação em Deus consiste na fé, no firme fundamento estabelecido por Ele, que é firme e permanente.

Ora, sabemos que hoje estamos mais próximo do fim ( Rm 13:11 ), porém, o que se observa é que as pessoas tem-se tornado mais crédulas, visto que muitos dizem acreditar em Deus, no impossível, em milagres, no impossível, etc. Mas, a questão é: quando o Filho do homem voltar, a sua mensagem, a palavra da fé estará sendo anunciada ao mundo?

O que foi manifesto aos homens? Cristo foi manifesto, portanto, foi manifesto a palavra, ou seja, a fé: “Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador” ( Tt 1:3 ); “Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei, e encerrados para aquela fé que se havia de manifestar” ( Gl 3:23 ).

Dai a explicação: “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” ( 1Tm 1:5 -7).

Neste verso o apóstolo aponta qual é o objetivo do mandamento de Deus: a obediência de um coração puro que abraça uma fé genuína. O mandamento neste verso diz do evangelho de Cristo, e não da lei mosaica. Quando se ensina a doutrina de Cristo, temos um mandamento que demanda obediência, ou seja, é preciso crer no enviado de Deus.

O objetivo, a finalidade do mandamento de Cristo é a obediência de coração, o que trás uma boa consciência e uma crença genuína. Mas, quando há a distorção, o desvio da verdade, surge a ‘contenda’. É o que o apóstolo Paulo nomeia de ‘vinho da contenda’, do qual o cristão deve se abster, ou seja, do ensinamento dos judaizantes “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas, e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs” ( Tt 3:9 ).

Perceba que ‘contenda’ é uma FIGURA utilizada para fazer referência à doutrina dos judaizantes “Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas” ( 1Tm 1:6 ). A doutrina dos judaizantes é o ardente vinho de serpentes “O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras” ( Dt 32:33 ; Ef 5:18 ).

O mandamento de Deus é: creiam no nome do meu Filho ( 1Jo 3:23 ). Qualquer que não crê nunca conheceu o Pai e nem o Filho, de modo que naquele dia ouvirá: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” ( Mt 7:23 ). Ora, os judaizantes confessam com a boca que amam a Deus, porém, negam-No com as suas obras. Estes verdadeiramente negam a lei de Deus! “Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai que me enviou” ( Jo 14:24 ).

Os judaizantes estão em iniquidade porque dizem amar a Deus, mas se negam obedecer ao mandamento de Deus, que é crer em Cristo. Ora, quem confessa que Jesus é o Cristo, está em Deus e Deus nele ( 1Jo 4:15 ), de modo que conheceu a Deus ( 1Jo 4:7 ), pois para ser nascido de Deus é necessário receber poder ( Jo 1:12 ), o que é concedido aos que creem em Cristo.

Mas, a qualquer que conhece a Deus, ou seja, que creu em Cristo, jamais deve voltar aos argumentos fracos da lei que tem por base questões de ordem moral e severidade com o corpo “Mas agora, conhecendo a Deus, ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como tornais outra vez a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir?” ( Gl 4:9 ).

Os judaizantes dos nossos dias geralmente lançam mão do seguinte verso para expor a ideia de que é necessário guardar a lei: “Qualquer que comete pecado transgride a lei, pois o pecado é a transgressão da lei” ( 1Jo 3:4 ).

O termo ‘mandamento’ é utilizado por diversas vezes na epístola joanina, porém, somente neste verso o tradutor sentiu-se à vontade para traduzir o mesmo termo por ‘lei’, o que constrói a ideia de que se trata de um código escrito.

No inicio da carta o apóstolo diz: “E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos o seu mandamento” ( 1Jo 2:3 ). Já no verso 23 de 1João 3, temos: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu Filho Jesus Cristo …”. O correto é traduzir o verso 4 do capítulo 3 da epístola utilizando o termo mandamento: “Qualquer que comente pecado transgride o mandamento, pois o pecado é a transgressão do mandamento” ( 1Jo 3:4 ).

Dai a pergunta: que ‘mandamento’ quando transgredido, ou ‘lei’ quando transgredida é pecado? Seria a lei de Moisés? É certo que não, pois antes de ser entregue a lei mosaica já havia pecadores no mundo “Porque até à lei estava o pecado no mundo…” ( Rm 5:13 ).

Ora, os fariseus cumpriam o que entendiam da lei, porém, Jesus Lhes disse: “Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados” ( Jo 8:24 ). Os fariseus achavam que cumpriam a lei, porém, Jesus lhes disse: “Não vos deu Moisés a lei? e nenhum de vós observa a lei. Por que procurais matar-me?” ( Jo 7:19 ).

Ora, crer em Cristo é a lei da liberdade. Crer em Cristo é o mandamento, e qualquer que n’Ele não crê, transgrede a lei. A lei que transgredida é pecado e que o evangelista João faz referência não tem por base regras tais como: “Não toques, não proves, não manuseies?” ( Cl 2:21 ).

Entender que a lei de Moisés é eterna e perfeita é desconsiderar o que disse o escritor aos Hebreus: “Dizendo Nova aliança, envelheceu a primeira. Ora, o que foi tornado velho, e se envelhece, perto está de acabar” ( Hb 8:13 ).

A lei foi dada para conduzir os descendentes de Jacó a Cristo, demonstrando que eles eram pecadores, apesar de serem descendentes da carne de Abraão. A lei foi dada aos descendentes da carne de Abraão para demonstrar que todos os homens estavam em igual condição diante de Deus “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” ( Rm 3:19 -20 ).

Antes de chegar a esta conclusão, o apóstolo cita várias passagens da lei e dos salmos que protestavam contras os judeus “Deus olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos, e juntamente se fizeram imundos; não há quem faça o bem, não, nem sequer um. Acaso não têm conhecimento os que praticam a iniquidade, os quais comem o meu povo como se comessem pão? Eles não invocaram a Deus” ( Sl 53:2 -4).

Observe que o salmista aponta que não há um justo se quer, e que ninguém buscava a Deus, embora houvesse o povo de Israel na terra. Em um dos salmos citados pelo apóstolo, o salmista faz um protesto contra os obreiros fraudulentos, que se alimentavam de Israel como se fosse pão, porém, não lhes dava a palavra que alimenta “Pois quê? Somos nós mais excelentes? De maneira nenhuma, pois já dantes demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado” ( Rm 3:9 ).

Tais obreiros eram obreiros da iniquidade, ou seja, obreiros que violavam a lei. Eram semelhantes ao juiz iníquo, que apesar de existir um código de leis a serem seguidas, era avesso ao seu dever. Por que ele era um juiz iníquo? Porque não existia lei? Não! Antes, o iníquo é aquele que não observa o prescrito.

Outro equivoco dos judaizantes está em considerar que Cristo veio cumprir a lei aos moldes daquilo que os judeus executavam, e isto pela seguinte passagem: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir” ( Mt 5:17 ).

A multidão enquanto ouvia o discurso de Jesus poderia pensar que Ele estava destruindo o que constava na lei e nos profetas. Antes que chegassem a tal entendimento, Jesus se antecipa e afirma categoricamente que não veio anular o que estava posto, antes que Ele era o próprio cumprimento do que os profetas anunciaram. Em outras palavras, Cristo estava demonstrando que tudo o que estava previsto na lei e nos profetas estava cumprindo-se n’Ele.

Enquanto a lei era sombra, Cristo é a realidade, de modo que Ele não viveu segundo os rudimentos frágeis e pobres dos filhos de Jacó. Tudo o que foi predito acerca de Cristo foi cumprido, de modo que não foi omitido ‘nem um jota ou um til’, pois Cristo é o cumprimento da lei.

Diferente dos demais, Jesus entrava na casa dos pecadores e dos cobradores de impostos para comer ( Lc 5:30 ). Não jejuava aos moldes dos fariseus e escribas, antes praticava o verdadeiro jejum apregoado por Isaías ( Is 58:6 ; Mt 9:14 ). Jesus não guardava o sábado aos moldes dos seus acusadores “E alguns dos fariseus lhes disseram: Por que fazeis o que não é lícito fazer nos sábados?” ( Lc 6:2 ). Foi tido por comilão e beberão “Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos” ( Mt 11:19 ).

Quando lemos que o apóstolo Paulo utilizava a lei e os profetas para persuadir os seus ouvintes ao evangelho, isto não quer dizer que ele estava impondo aos seus ouvintes os preceitos da lei mosaica. Ele se utilizava da lei e dos profetas para demonstrar que, o Jesus de Nazaré que crucificaram a pretexto de um a lei, na verdade era o Cristo de Deus “…procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde” ( At 28:23 ); “Porventura o trono de iniquidade te acompanha, o qual forja o mal por uma lei?” ( Sl 94:20 ).

Esta também foi a tônica da mensagem do apóstolo Pedro, que lanço mão dos salmos para demonstrar que seus compatriotas haviam crucificado o Autor da vida ( At 2:36 ). O apóstolo Pedro não expôs aos seus irmãos segundo a carne a lei mosaica, antes apresentou-lhes o Cristo, que é a justiça eterna, ou seja, o caminho, a verdade e a vida “A tua justiça é uma justiça eterna, e a tua lei é a verdade” ( Sl 119:142 ).

É temerário utilizar um termo e o seu significado isolado para emitir opinião acerca de uma verdade. Lançar mão do termo ανομος [anomos] para argumentar que a não observância da lei mosaica é iniquidade é argumento frágil, pois ‘ler’ Moisés não é cumprir a lei “E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará” ( 2Co 3:15 -16).

Semelhantemente, cumprir um quesito da lei, não é guardar a lei mosaica, pois qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, é culpado “E de novo protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei” ( Gl 5:3 ); “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo” ( Gl 6:12 ).

Portanto, quando lemos que: “A circuncisão é nada e a incircuncisão nada é, mas, sim, a observância dos mandamentos de Deus” ( 1Co 7:19 ), não podemos concluir que os mandamentos de Deus refere-se a lei de Moisés, antes se faz necessário comparar a passagem com outros versos, e aí teremos o seguinte quadro: “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor” ( Gl 5:6 ).

A fé que opera pelo amor é o mesmo que observância dos mandamentos, de modo que ‘fé’ diz do mandamento em Cristo: crer naquele que Deus enviou, e o ‘amor’ diz da obediência exigida. Em outras palavras, o mandamento de Deus é a obediência da fé “Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé” ( Rm 16:26 ; Rm 1:5 ).

Daí a advertência: “Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão” ( Tt 1:10 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

4 thoughts on “Iniquidade é transgressão de qual lei?

  • Amigo vá estudar a bíblia! A lei não tem validade alguma? Então porque vc não sai por aí blasfemando contra Deus, matando, roubando, adulterando, cobiçando a mulher de outros, os bens de de outros? Vc pode fazer isso segundo a sua explicação, porque vc é salvo pela fé! Faz me um favor…

    Resposta
    • Olá, Enoque..

      Em momento algum incentivo alguém a sair ‘por aí blasfemando contra Deus, matando, roubando, adulterando, cobiçando a mulher de outros, os bens de de outros’, etc.

      Por outro lado, ninguém será salvo se não blasfemar contra Deus, não matar, não roubar, não adulterar, não cobiçar a mulher ou os bens de de outros, visto que o fariseu que foi ao templo orar não fazia nada disso e não foi justificado, e nem o jovem rico.

      “O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.” (Lucas 18.11-12).

      “Tu sabes os mandamentos: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não defraudarás alguém; honra a teu pai e a tua mãe. Ele, porém, respondendo, lhe disse: Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade.” (Marcos 10.19-20).

      O comentário do artigo visa a premissa desse versículo:

      “Porque o precedente mandamento é ab-rogado por causa da sua fraqueza e inutilidade” (Hebreus 7 : 18)

      A lei tem validade sim, se alguém faz uso dela legitimamente:

      “Sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela usa legitimamente; Sabendo isto, que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, Para os devassos, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros, e para o que for contrário à sã doutrina,” (I Timóteo 1 : 8-10).

      Agora, pergunto: você faz uso legitimamente da lei, ou considera ela ab-rogada por causa da sua fraqueza e inutilidade?

      Se vc utiliza a lei legitimamente, verá que ainda precisa de Cristo, pois o objetivo da lei é Cristo.

      Att.

      Resposta
  • A Lei de Deus, os 10 mandamentos existe desde a eternidade.
    Olha só,o que Lúcifer fez lá no céu?
    Ele cobiçou o lugar de Deus ,e com isso rebelou contra Deus e rastou a terça parte dos anjos.
    E a cobiça não está nos mandamento?
    Os 10 mandamento é o caráter de Deus.
    Simples assim.

    Resposta
    • Olá Helen..

      Não é tão simples.. primeiro porque satanás não quis ser Deus ou tomar o lugar de Deus. O texto é claro e ainda assim muita gente se equivoca. Satanás quis ser semelhante ao Altíssimo, o que é muito diferente de querer ser Deus, algo impossível. Só é possível ser semelhante ao Altíssimo, algo que Deus ao criar o homem disse: façamos o homem conforme a nossa imagem e semelhança.

      “Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo.” (Isaías 14 : 14).

      Em segundo lugar você diz que a lei, os dez mandamentos existiam lá no céu. Não é bem assim e é muito mais simples. No céu não há transgressão, e a lei foi acrescentada por causa da transgressão.

      “Qual era então o propósito da Lei? Foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador.” (Gálatas 3:19).

      Haveria algum propósito da lei no céu? Especificamente os 10 mandamentos?
      A lei foi dada para transgressores, e não para justos. Talvez seja necessário ser considerado estas nuances antes de tentar expandir o alcance da lei mosaica.

      A lei é posterior a promessa, e olha que a promessa foi feita a Abraão, e a li veio 430 anos depois.

      Att.

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