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Deus deseja que todos os homens se salvem, e na sua palavra está expressa a Sua justiça e o modo pela qual os homens podem ser salvos.


Deus é obrigado a salvar a todos?

Li a seguinte premissa, derivada de uma lógica simplista: “Por salvar a alguns, Deus não é obrigado a salvar a todos.” Não pude me abster de fazer um comentário a respeito.

Essa premissa foi extraída da seguinte argumentação:

“Se a salvação é uma questão de justiça, algo que o homem tem o direito de reivindicar perante Deus, já não é mais graça – favor imerecido. Deus não deve nada a ninguém. Não devemos ficar admirados de Deus não salvar a todos, mas de salvar a alguns…” Rev. Antônio Carlos Costa, pastor da Igreja Presbiteriana da Barra.

A lógica dessa premissa é ardilosa, pois, embora aparente ser verdadeira, contraria a equidade de Deus.

O que a Bíblia diz?

Deus não deve nada a ninguém (Jó 41:11), mas essa verdade não valida a argumentação mencionada. Afinal, em Deus os homens existem, e tudo é sustentado por Ele e para Ele (Atos 17:28; Hebreus 2:10).

Antes mesmo de o mundo existir, Deus se comprometeu a conceder vida eterna aos homens, empenhando Sua palavra, apesar de não dever nada às Suas criaturas.

“Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos” (Tito 1:2).

Diferente dos homens, Deus é fiel e verdadeiro, pois vela sobre Sua palavra para cumpri-la. Ou seja, Deus se obriga a cumprir Sua palavra, apesar de Sua soberania (Jeremias 1:12).

Deus anunciou que Abraão teria um filho proveniente de suas entranhas e que sua descendência seria incontável como as estrelas do céu. Mesmo sendo sua esposa estéril, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça (Gênesis 15:6).

Deus não devia nada a Abraão, mas, quando prometeu graciosamente conceder-lhe um herdeiro e uma descendência numerosa, Deus se obrigou a cumprir Sua palavra. Abraão não fez nada que merecesse a promessa, mas a promessa de Deus jamais voltaria atrás (Romanos 11:29).

Além de se obrigar a cumprir Sua palavra (Hebreus 6:18), Deus não faz acepção de pessoas (Deuteronômio 10:17).

O apóstolo Pedro, ao ver Deus agraciando os gentios com o dom do Espírito, chegou à seguinte conclusão:

“Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas…” (Atos 10:34).

Embora “Deus não seja obrigado a salvar a todos,” Ele se comprometeu a salvar todos que creem no nome do Seu Filho por dois motivos: a) Ele prometeu vida eterna antes dos tempos eternos, e b) Ele não faz acepção de pessoas.

Ao ver os gentios sendo agraciados por Deus, o apóstolo Pedro concluiu que:

“… mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (Atos 10:35).

Deus aceitou o gentio Abraão porque ele creu, e isso lhe foi imputado como justiça. Da mesma forma, Deus se compromete a aceitar qualquer pessoa, de qualquer nação, que O teme e faz o que é justo, assim como Abraão. Nele, não há acepção de pessoas, pois Deus não julga com dois pesos e duas medidas.

Embora Deus não tenha recebido nada de ninguém primeiramente (Jó 41:11), Ele, por não fazer acepção de pessoas, se comprometeu a salvar todos os homens que têm a mesma fé que Abraão (Gálatas 3:9). Deus não deve nada a ninguém, mas qualquer crente, como Abraão, é bem-aventurado. Isso porque Deus não é devedor ao homem, mas à Sua palavra.

Para ser um dom gratuito, a salvação precisa ser incondicional? Quem estabeleceu que, para ser um dom de Deus, a salvação deve necessariamente ser incondicional? A condição é clara: “Ouvi, e a vossa alma viverá” (Isaías 55:3); “Olhai para mim e sereis salvos” (Isaías 45:22). Nessa condição, não há mérito algum. Qual é o mérito em ouvir? Qual é o mérito em olhar? Não é esse o objetivo da palavra da fé, que os homens obedeçam à sua palavra?

“E pela fé no seu nome fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde” (Atos 3:16).

O modelo de predestinação proposto durante a Reforma estabelece que Deus escolheu e predestinou alguns homens para serem salvos, o que implicaria que Deus vigiasse o homem para salvá-lo. No entanto, a promessa divina é diferente, pois Deus vela não pelo homem, mas pela Sua palavra para cumpri-la:

“… Eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” (Jeremias 1:12).

Deus não decretou a salvação de quem Ele anteviu, nem decretou que alguns homens seriam salvos por ser Soberano. Por quê? Porque Deus não faz acepção de pessoas! Para Deus, nenhum homem é diferente: os gerados segundo a carne de Adão são rejeitados, e os gerados de novo, segundo Cristo, são aceitos.

A salvação é operada segundo a promessa que Deus fez a Abraão e reflete a imparcialidade de Deus e o compromisso com a Sua palavra, destacando que a salvação não é uma questão de predestinação arbitrária, mas de fé e obediência à Sua palavra.

  • Por não fazer acepção de pessoas Deus deseja que todos se salvem “Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4);
  • Por não fazer acepção de pessoas Deus amou o mundo “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16);
  • Por não fazer acepção de pessoas, Deus a todos encerrou debaixo da desobediência de Adão para que Ele pudesse usar de misericórdia com todos através da obediência de Cristo, o último Adão “Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela fé em Jesus Cristo fosse dada aos crentes” (Gálatas 3:22; Romanos 11:32);
  • Por não fazer acepção de pessoas, Deus soberano roga aos pecadores que se reconciliem “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus.” (2 Coríntios 5:20);
  • Por não fazer acepção de pessoas, Deus não faz distinção entre os membros do corpo de Cristo “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

A base da salvação não é a eleição nem a predestinação, mas sim a palavra de Deus. Desde Abel, a salvação ocorre por meio da palavra que concede vida aos homens (Deuteronômio 8:3). Assim como Deus, na velha aliança, disse que o homem viveria pela palavra da Sua boca, na nova aliança quem dá vida é o pão vivo que desceu do céu.

Jesus, o pão vivo, afirmou: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre” (João 6:51). Portanto, a salvação se fundamenta na palavra de Deus e na fé em Cristo, que é a personificação dessa palavra e a fonte de vida eterna.

“Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido” (Romanos 9:33).

Por ter salvo Abraão porque ele creu em Sua palavra, Deus se obriga a salvar todos que tenham a mesma confiança que teve o crente Abraão. Deus é justo, e a salvação é uma questão de justiça proveniente de um direito.

Assim como Abraão foi justificado pela fé, todos que compartilham dessa mesma fé têm a garantia da salvação. A justiça de Deus se manifesta em Sua fidelidade à Sua palavra e em Seu tratamento imparcial para com todos os que creem. Portanto, a salvação é assegurada a todos que, como Abraão, colocam sua confiança na promessa de Deus.

“E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá cem vezes tanto, e herdará a vida eterna” (Mateus 19:29).

Qualquer que deixar casa, irmãos, irmãs, pai e mãe tem o direito à vida eterna, e a aplicabilidade universal da promessa é o que se denomina equidade. Jesus afirmou: “E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos por minha causa, receberá cem vezes mais e herdará a vida eterna” (Mateus 19:29). Essa promessa sublinha a justiça de Deus, que não faz acepção de pessoas e oferece a mesma oportunidade de salvação a todos que escolhem segui-Lo, demonstrando a equidade divina.

“Por isso, o SENHOR esperará, para ter misericórdia de vós; e por isso se levantará, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é um Deus de equidade; bem-aventurados todos os que nele esperam” (Isaías 30:18).

Como Deus é Deus de equidade, somente aqueles que Nele esperam são bem-aventurados, ou seja, aqueles que ouvem e creem na palavra de Deus: “Porque assim diz o Senhor DEUS, o Santo de Israel: Voltando e descansando sereis salvos; no sossego e na confiança estaria a vossa força, mas não quisestes” (Isaías 30:15). Haveria algum mérito por parte do homem em voltar e descansar? Estar sossegado e confiante é meritório? Não! Estar sossegado e descansado é o exercício da confiança na palavra da fé somente.

A teologia reformada, ao tratar de eleição e predestinação, não considera a equidade de Deus, pois estabelece, sem critérios claros, o tratamento que Deus dispensa a Suas criaturas. Equidade é justiça e igualdade! Deus faz justiça a todos os homens sem distinção alguma.

Deus julga em equidade, e não apenas segundo Sua soberania. Ele estabeleceu Sua palavra como parâmetro de justiça e vela sobre ela para cumpri-la. A equidade de Deus garante que todos que creem e confiam em Sua palavra serão salvos, sem acepção de pessoas.

Deus julga com equidade porque, como legislador e juiz, Ele se submete à Sua palavra. A própria palavra de Deus é o padrão de justiça pelo qual Ele governa e julga o mundo. Sua fidelidade à Sua palavra garante que Seu julgamento seja imparcial e justo, sem favorecimentos ou parcialidades. Portanto, a equidade de Deus é intrínseca à Sua natureza e à Sua relação com Sua palavra.

“Inclinar-me-ei para o teu santo templo, e louvarei o teu nome pela tua benignidade, e pela tua verdade; pois engrandeceste a tua palavra acima de todo o teu nome” (Salmos 138:2).

Em Deus salvar somente alguns não há o que admirar, se consideramos o argumento do Rev. Antônio Carlos Costa. É verdadeiramente admirável que Deus, tendo todo o poder nos céus e na terra, deseje que todos os homens se salvem. Ainda mais admirável é o fato de Ele, sem violar Sua própria palavra, salvar apenas aqueles que creem nela. É uma prova notável de Sua misericórdia e justiça que Ele resista à Sua própria vontade, desejando a salvação de todos, mas respeitando o livre-arbítrio humano e o requisito de fé para a salvação (1 Timóteo 2:4). A liberdade é um dom divino, concedido pelo Espírito de Deus, que permite aos homens escolherem aceitar ou rejeitar a verdade que conduz à salvação.

É igualmente notável que Deus tenha providenciado uma poderosa salvação para todos os homens, como afirmado em Tito 2:11:

“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens.” Mesmo sendo onipotente, Ele apela, por meio de Seus embaixadores, para que os homens se reconciliem com Ele. Isso demonstra Sua infinita graça e amor, que buscam ativamente a restauração e a redenção de toda a humanidade.

“De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus” (2 Coríntios 5:20).

Deus não é obrigado a salvar a todos, mas se obrigou a salvar os crentes pela loucura da pregação “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” ( 1Co 1:21 ). É admirável que Deus se obrigue a salvar a todos que n’Ele crê, sem fazer acepção alguma.

Apontar a soberania de Deus para justificar a afirmação de que Deus salva alguns em detrimento de outros, fere a perfeição de Deus pois, apesar de ser soberano:

  • Deus não nega a si mesmo ( 2Tm 2:13 );
  • Deus não pode mentir ( Tg 1:12 );
  • Deus a ninguém oprime ( Jó 37:23);
  • A ninguém tenta ( Tg 1:13 );
  • Deus não aceita suborno ( 2Cr 19:7 );
  • Deus não faz acepção de pessoas ( 2Cr 19:7 );
  • Deus não pode deixar de fazer justiça, e ( Lc 18:7 );
  • Deus não atende pedidos que contrarie a sua natureza ( Ex 32:32 ).

Apesar de ter vontade de salvar todos os homens e ser poderoso para fazê-lo, por ser justo e equânime Deus salvará somente os que O amam.

“E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos” ( Ex 20:6 ).

Basta aprender o significado de “Misericórdia quero, e não sacrifício” ( Mt 9:13 ), que se compreenderá a palavra que diz: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia” ( Ex 33:19 ), pois Deus faz misericórdia aos que tem misericórdia ( Os 6:4 -6).

Por causa da promessa de vida eterna que é anterior aos tempos dos séculos, Deus se obrigou a salvar todos quantos creem ( Tt 1:2 ), pois terá misericórdia dos misericordiosos ( Mt 5:7 ).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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