Salmos I

Salmo 17 – Proteção contra os inimigos

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O Senhor Jesus Cristo é o que anda em sinceridade, pratica a justiça e do coração fala a verdade (Sl 15:2). Ele também é descrito por Isaías como o que fala com retidão: “O que anda em justiça e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal” (Is 33:15).


SALMO 17 – Proteção contra os inimigos​

Introdução

A grande maioria dos leitores do Livro dos Salmos ainda veem os Salmos como expressão decorrente do estado emocional dos salmistas. Corroboram com tal pensamento, os títulos introdutórios que muitas Bíblias apresentam e, assim, constituem um obstáculo à boa leitura e compreensão dos Salmos. A interposição de títulos introdutórios, que seria auxilio ao leitor no momento de localizar uma passagem bíblica, serve de obstáculo à compreensão do texto, pois impõem ideias e conceitos divorciados da verdade que o Salmo contém.

Em uma Bíblia na língua portuguesa, encontramos o seguinte título no Salmo 17:

“Davi pede a Deus que o proteja contra os seus inimigos. Davi confia na sua inocência e na justiça de Deus” Oração de Davi.

Além do título, acresce a informação: Oração de Davi.

Seria isso verdadeiro?

Davi mesmo disse que o Espírito de Deus falava por ele, ou seja, que a palavra de Deus estava em sua boca (2Sm 23:2). Os apóstolos nomeavam o salmista Davi de profeta e não de compositor, musicista, levita, etc. (At 2:30).

Jesus, ao fazer referência a um Salmo, nomeou o Salmo de lei e, em outro lugar, disse que tudo o que d’Ele estava escrito na Lei, nos Salmos e nos Profetas, convinha que se cumprisse, evidenciando qual o ‘status’ dos Salmos: profecias “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?” (Jo 10:34); “E disse-lhes: São estas as palavras que vos disse, estando ainda convosco: Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos profetas e nos Salmos” (Lc 24:44).

O rei Davi, quando separou os capitães dos seus exércitos, deu-lhes a missão de profetizarem ao som de instrumentos musicais, portanto, os Salmos são profecias em forma de poesia e canto.

“E DAVI, juntamente com os capitães do exército, separou para o ministério os filhos de Asafe, de Hemã e de Jedutum, para profetizarem com harpas, com címbalos e com saltérios; e este foi o número dos homens aptos para a obra do seu ministério: Dos filhos de Asafe: Zacur, José, Netanias, e Asarela, filhos de Asafe; a cargo de Asafe, que profetizava debaixo das ordens do rei Davi. Quanto a Jedutum, os filhos: Gedalias, Zeri, Jesaías, Hasabias, e Matitias, seis, a cargo de seu pai, Jedutum, o qual profetizava com a harpa, louvando e dando graças ao SENHOR” (1Cr 25:1-3).

A estrutura da poesia hebraica, na qual os Salmos foram produzidos, facilita a exposição de ideias e possui recursos de cunho lógico que impedem alguém de má índole de transtornar a mensagem.

Os Salmistas não buscavam tocar a emoção dos ouvintes, através de ritmos, rimas, melodia, harmonia, etc.

A proposta dos Salmos é tocar o entendimento dos ouvintes, de modo que pudessem conhecer o seu Deus e, por isso, utilizavam o paralelismo[1] para compor ou evidenciar uma ideia que, geralmente, constitui uma instrução, uma profecia, uma repreensão ou um exemplo ao povo de Israel.

 

A Justiça

1 OUVE, SENHOR, a justiça; atende ao meu clamor; dá ouvidos à minha oração, que não é feita com lábios enganosos. 2 Saia a minha sentença de diante do teu rosto; atendam os teus olhos à razão.

O Salmo tem início com um pedido da ‘justiça’ e não do rei Davi. Se o Salmo fosse um pedido, um rogo de Davi, por certo ele diria: – “Ouve, ó Senhor, o teu servo”, no entanto, temos um pedido da própria ‘justiça’.

Não estamos diante de uma oração de Davi mas, sim, diante de uma profecia que aponta para a justiça personificada. Neste verso, a justiça não trata de um conceito abstrato, que deriva de uma perspectiva humana mas, sim, à justiça que vem de Deus, segundo o que profetizou Isaías:

“ASSIM diz o SENHOR: Guardai o juízo e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir e a minha justiça, para se manifestar (Is 56:1)

Da justiça que vem por meio do evangelho foi profetizado:

“Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, para que no-lo traga e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires” (Dt 30:12-14); “Mas a justiça, que é pela fé, diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do alto a Cristo)” (Rm 10:6).

O Senhor Jesus, para os que creem, foi feito justiça: “Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, justiça, santificação e redenção” (1Co 1:30).

O Senhor Jesus, ao interpretar o Salmo 110, demonstra que Davi estava profetizando acerca do Filho do homem, quando disse: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?” (Sl 110:1; Mt 22:43-44).

Davi, no Salmo 17, registra, em espírito, o clamor do Cristo, quando manifesto aos homens. Neste Salmo a justiça diz do Renovo justo, o Filho de Davi, que terá o nome: ‘O Senhor, Nossa Justiça’!

“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, sendo rei, reinará e agirá sabiamente, praticará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias Judá será salvo e Israel habitará seguro; e este será o seu nome, com o qual Deus o chamará: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA” (Jr 23:5-6).

Algumas traduções vertem o Salmo 17, verso 1 desta forma: ‘Ouve, ó Senhor, a minha causa justa’, o que remete o leitor à pessoa do rei Davi, sendo que o que está sendo dito refere-se ao Descendente prometido a Davi.

Certo homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, quando leu uma profecia no Livro de Isaías, tinha a seguinte dúvida: – “Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro?” (At 8:34). O eunuco lia: “Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra” (At 8:32-33) e não conseguia entender quem ‘foi levado como a ovelha para o matadouro’. Seria o profeta Isaías que estava sendo levado? Ou seria alguma outra pessoa?

De quem é a boca que fez a oração deste Salmo, cujos lábios não são enganosos? O único homem que nunca houve engano em sua boca foi Jesus, portanto, claro está que este clamor não diz do salmista Davi “E puseram a sua sepultura com os ímpios e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca” (Is 53:9); “O SENHOR julgará os povos; julga-me, SENHOR, conforme a minha justiça e conforme a integridade que há em mim” (Sl 7:8).

O Salmo 15 também faz referência a Cristo como Aquele que anda em sinceridade, pratica a justiça e do coração fala a verdade (Sl 15:2). Ele também é descrito por Isaías como o que fala com retidão: “O que anda em justiça e o que fala com retidão; o que rejeita o ganho da opressão, o que sacode das suas mãos todo o presente; o que tapa os seus ouvidos para não ouvir falar de derramamento de sangue e fecha os seus olhos para não ver o mal” (Is 33:15).

Se dentre os homens não há ninguém que faça o bem; Se todos juntamente se desviaram e se fizeram imundos (Sl 14:1-3); Se os ímpios falam mentiras desde que nascem (Sl 58:3), certo é que ninguém havia entre os filhos dos homens tivesse os lábios puros, pois como todos foram formados em iniquidades (Sl 51:5), todos herdaram coração imundo.

Qualquer homem, em sã consciência, e conhecedor da sua condição miserável, clamará por misericórdia, e não por uma sentença segundo a sua justiça, equidade, retidão (מֵישָׁרִים)[2] “JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho confiado também no SENHOR; não vacilarei” (Sl 26:1; Sl 7:3-5).

Davi não possuía esses predicativos, antes quando errou confiou na misericórdia de Deus, atitude que por si só demonstra que jamais Davi pleitearia algo a Deus com base em sua retidão e justiça “Então disse Davi a Gade: Estou em grande angústia; porém caiamos nas mãos do SENHOR, porque muitas são as suas misericórdias; mas nas mãos dos homens não caia eu” (2Sm 24:14).

Há um titulo introdutório nas Bíblias para o Salmo 26 que diz: “Davi recorre a Deus, confiando na sua própria integridade”. Homem algum pode recorrer a Deus confiado em sua própria integridade[3], pois diante de Deus não há homem que seja justo, nem mesmo Davi “Na verdade que não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” (Ec 7:20).

 

Retidão​

3 Provaste o meu coração; visitaste-me de noite; examinaste-me e nada achaste; propus que a minha boca não transgredirá.

Jesus Cristo-homem foi provado, examinado minuciosamente por Deus, e restou confirmado que Ele andou integramente diante de Deus, pois confiou em Deus sem vacilar “JULGA-ME, SENHOR, pois tenho andado em minha sinceridade; tenho confiado também no SENHOR; não vacilarei. Examina-me, SENHOR, e prova-me; esquadrinha os meus rins e o meu coração” (Sl 26:1-2; Sl 139:1 3 e 23; Sl 7:9).

Jesus esteve ao abrigo da sombra protetora de Deus, vez que, a fidelidade de Deus expressa em sua palavra, era como escudo e broquel “Louvarei ao SENHOR que me aconselhou; até o meu coração me ensina de noite” (Sl 16:7; Sl 63:7).

Continuamente, Cristo esteve sob proteção, ao abrigo da sombra das asas de Deus, pois tinha o ‘amor’ de Deus diante dos seus olhos, ou seja, meditava na palavra de Deus, continuamente (de dia e de noite), deste modo, nada de pecaminoso foi achado n’Ele “O SENHOR é quem te guarda; o SENHOR é a tua sombra à tua direita” (Sl 121:5); “Guarda-me como à menina do olho; esconde-me debaixo da sombra das tuas asas” (Sl 17:8; Sl 91:1; Sl 26:3; Sl 1:2).

Este é o testemunho que Deus deu acerca do seu Filho, Jesus Cristo: “E puseram a sua sepultura com os ímpios e com o rico na sua morte; ainda que nunca cometeu injustiça, nem houve engano na sua boca” (Is 53:9); “O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano” (1Pd 2:22).

 

4 Quanto ao trato dos homens, pela palavra dos teus lábios me guardei das veredas do destruidor. 5 Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem.

Ao se pautar pelas palavras de Deus, Jesus permaneceu longe dos caminhos dos transgressores[4] (destruidor) (Sl 1:1; Sl 26:2 -6). Como Servo obediente, Jesus se deixou guiar pela lei do Senhor, de modo que os seus pés não vacilaram: “Tenho posto o SENHOR continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei” (Sl 16:8; Sl 121:3 e 5).

 

6 Eu te invoquei, ó Deus, pois me queres ouvir; inclina para mim os teus ouvidos, e escuta as minhas palavras. 7 Faze maravilhosas as tuas beneficências, ó tu que livras aqueles que em ti confiam dos que se levantam contra a tua destra.

Pela confiança de que o Pai havia de respondê-Lo, é que o Filho invocava (Jo 11:42). E pelo que o Filho clama? Para que Deus estenda as suas misericórdias, ou seja, faça maravilhosa as suas beneficências. Como? Salvando os que buscam refugio em Deus através da sua Destra, ou seja, através de Cristo.

Cristo é a Destra do Senhor desnudada perante os olhos de todos os povos: “O SENHOR desnudou o seu santo braço perante os olhos de todas as nações; e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus” (Is 52:10). Cristo é a firme beneficência prometida a Davi e salvação para todos quantos O invocar: “Inclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi” (Is 55:3). Cristo é o homem que, após ser glorificado, assentou-se à destra da Majestade nas alturas: “Seja a tua mão sobre o homem da tua destra, sobre o filho do homem, que fortificaste para ti” (Sl 80:17).

Mas, apesar das beneficências prometidas por Deus em Cristo, haveria homens ímpios que se levantariam contra a Destra do Altíssimo.

 

Adversários

8 Guarda-me como à menina do olho; esconde-me debaixo da sombra das tuas asas, 9 Dos ímpios que me oprimem, dos meus inimigos mortais que me andam cercando. 10 Na sua gordura se encerram, com a boca falam soberbamente. 11 Têm-nos cercado agora os nossos passos; e baixaram os seus olhos para a terra;12 Parecem-se com o leão que deseja arrebatar a sua presa, e com o leãozinho que se põe em esconderijos.

Por causa da oposição dos pecadores, nesta previsão, Jesus roga a Deus que O proteja como os homens protegem as meninas dos olhos. Cristo espera em Deus que O proteja debaixo de suas asas (Sl 20:6).

O pedido é para que Deus livrasse o Cristo dos ímpios, homens que O oprimiriam. Estes homens seriam seus inimigos mortais, pois procurariam saqueá-Lo e, por fim, apoderarem-se da sua alma.

Quem eram esses inimigos de Jesus? Os escribas, fariseus, sacerdotes, príncipes, etc., homens que honravam a Deus com a boca, porém, os seus corações estavam longe de Deus “Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15:8).

Como estava predito: “Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa” (Mq 7:6), Jesus veio para os que eram seus e os seus não O receberam (Jo 1:12) e foi rejeitado pelos seus concidadãos.

Os líderes da religião se colocavam à espreita buscando pegar Jesus nalguma contradição: “E, observando-o, mandaram espias, que se fingissem justos, para o apanharem nalguma palavra e o entregarem à jurisdição e poder do presidente” (Lc 20:20; Lc 10:25; Mt 22:15), e assim cumpriu-se neles o provérbio que diz: “No entanto estes armam ciladas contra o seu próprio sangue; e espreitam suas próprias vidas” (Pv 1:18).

O ‘laço do passarinheiro’ predito no Salmo 91 refere-se às armadilhas dos escribas e fariseus que buscavam pegar Jesus nalguma contradição (Sl 91:3). Homens, cujas línguas comparam-se a da serpente, pois veneno (engano) procedem dos seus lábios (Sl 140:3). Lábios mentirosos que se propuseram a desviar o Cristo das veredas de justiça estabelecida pelo Pai. Através de laços e cordas (armadilhas), estendem uma rede, na intenção de terem do que acusar o Cristo (Sl 140:4-5).

Sobre esses homens profetizou Jeremias:

“Porque ímpios se acham entre o meu povo; andam espiando, como quem arma laços; põem armadilhas, com que prendem os homens. Como uma gaiola está cheia de pássaros, assim, as suas casas estão cheias de engano; por isso, se engrandeceram e enriqueceram” (Jr 5:26-27).

Jeremias protesta contra os filhos de Israel, visto que os profetas profetizavam falsidades, os sacerdotes estavam em conluio com os profetas e o povo se deleitava no engano, pois, não gostavam da palavra de Deus (Jr 5:31 e Jr 6:10).

Por estarem tão seguros na mentira e no erro dos seus corações enganosos (Jr 17:9), rejeitaram o profeta que Deus avisou, por intermédio de Moisés, que seria levantado dentre os seus irmãos: “Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar” (Dt 18:18). Tendo por pretexto a lei, se mancomunaram contra o Cristo e condenaram sangue inocente “Porventura o trono de iniquidade te acompanha, o qual forja o mal por uma lei? Eles se ajuntam contra a alma do justo e condenam o sangue inocente. Mas o SENHOR é a minha defesa; e o meu Deus é a rocha do meu refúgio. E trará sobre eles a sua própria iniquidade; e os destruirá na sua própria malícia; o SENHOR nosso Deus os destruirá” (Sl 94:20-23).

Os escribas e fariseus assemelhavam-se aos leões que ficam a espreita da presa, ou como o filho do leão que caça por emboscada. Por causa de um coração incrédulo, repeliram a piedade de Deus revelada em Cristo e falaram arrogantemente, segundo os seus corações malignos: “Pois a boca do ímpio e a boca do enganador estão abertas contra mim. Têm falado contra mim com uma língua mentirosa” (Sl 109:2).

 

Homens, cuja porção está nesta vida

13 Levanta-te, SENHOR, detém-no, derriba-o, livra a minha alma do ímpio, com a tua espada; 14 Dos homens com a tua mão, SENHOR, dos homens do mundo, cuja porção está nesta vida, e cujo ventre enches do teu tesouro oculto. Estão fartos de filhos e dão os seus sobejos às suas crianças.

Em espírito, o profeta Davi nesta previsão antecipa a oração do Cristo, para que Deus detenha e livre a sua alma dos ímpios. No verso 14 o Salmista deixa uma descrição dos ímpios: Homens do mundo cuja porção está nesta vida!

O apóstolo Paulo faz uso deste verso ao falar dos inimigos do evangelho: “Porque muitos há, dos quais muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas” (Fl 3:18-19).

Os homens do mundo se satisfazem com o que proferem as suas bocas, ou seja, fartam os seus ventres com o que há em seus corações malignos, pois do que o coração está cheio, disso fala a boca “Do fruto da boca de cada um se fartará o seu ventre; dos renovos dos seus lábios ficará satisfeito” (Pv 18:20); “Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34; Sl 7:14).

Deus há de retribuir os homens segundo as suas obras, de modo que aquele que tem um coração impenitente, ou seja, que não creu no testemunho que Deus deu acerca do Seu Filho, receberá a ira de Deus: “Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus” (Rm 2:5); “Se eu afiar a minha espada reluzente, e se a minha mão travar o juízo, retribuirei a vingança sobre os meus adversários e recompensarei aos que me odeiam” (Dt 32:41; Jr 17:10).

Sobre os fim dos ímpios profetizou Jeremias:

“JUSTO serias, ó SENHOR, ainda que eu entrasse contigo num pleito; contudo falarei contigo dos teus juízos. Por que prospera o caminho dos ímpios, e vivem em paz todos os que procedem aleivosamente? Plantaste-os, e eles se arraigaram; crescem, dão também fruto; chegado estás à sua boca, porém longe dos seus rins” (Jr 12:1 -2).

Os ímpios descritos por Jeremias são homem que tem Deus nos lábios, mas longe do coração (Is 29:13). Aos olhos dos homens, os religiosos em Israel prosperavam e viviam em paz. Foram plantados por Deus, mas desviaram-se e se firmaram nas suas conquistas decorrentes da força do seu próprio braço e se esqueceram do Senhor. Multiplicaram e cresceram, mas não viam a ruina que se avizinhava (Jr 12:3).

Os ímpios só podem ser combatidos através da espada de Deus, ou seja, com a palavra do evangelho (Ef 6:17), mas se não se converterem, sofrerão a ira de Deus (Sl 7:12; Rm 2:16).

Como se multiplicaram e cresceram, fartos estão de filhos e dão dos seus sobejos (doutrina) aos seus rebentos. Os filhos de Israel se fartavam das regras e mandamentos, que por tradição herdavam de seus pais (Mc 7:8-9), uma herança que dava a falsa sensação de que eram ricos, fartos, diante de Deus.

 

Anseio pela glorificação

15 Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar.

O Salmo é encerrado com uma confissão admirável: – “Quanto a mim, por minha integridade, contemplarei a Tua face”. Diferentemente de todos os outros homens, que a revelação da face do Senhor significa misericórdia, o Salmo descreve o Messias pleiteando a sua causa com base na sua retidão.

Enquanto o Salmo 80 relata o arrependimento dos filhos de Israel clamando por misericórdia, no Salmo 17 o Salmista descreve Aquele que se manteve integro e que nunca se achou engano e sua boca “O SENHOR julgará os povos; julga-me, SENHOR, conforme a minha justiça, e conforme a integridade que há em mim” (Sl 7:8).

“Faze-nos voltar, ó Deus, e faze resplandecer o teu rosto e seremos salvos. Ó SENHOR Deus dos Exércitos, até quando te indignarás contra a oração do teu povo? Tu os sustentas com pão de lágrimas, e lhes dás a beber lágrimas com abundância. Tu nos pões em contendas com os nossos vizinhos, e os nossos inimigos zombam de nós entre si. Faze-nos voltar, ó Deus dos Exércitos, e faze resplandecer o teu rosto, e seremos salvos” (Sl 80:3 -7)

O final do Salmo 17 aborda a morte e a ressurreição de Cristo. Como Cristo andou firme em Deus, a sua alma não foi deixada na morte, soltas as ânsias da morte: “Ao qual, Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela” (At 2:24).

O Salmo 16 aponta para Cristo, sendo que o corpo de Cristo ficaria em repouso e seguro na sepultura. O Pai prometeu que o Filho não seria deixado na sepultura e que nem experimentaria a corrupção (Sl 16:9 -10; At 2:25).

Sobre a morte de Cristo, temos essa predição: “Atenta para mim, ouve-me, ó Senhor, meu Deus. Ilumina-me os olhos para que eu não adormeça na morte” (Sl 13:3).

No Salmo 138, verso 7 temos uma expressão de confiança do Cristo em Deus, pois mesmo na angustia o Pai estaria com Ele. A certeza de que invocaria e seria atendido decorre da promessa:

“Andando eu no meio da angústia, tu me reviverás; estenderás a tua mão contra a ira dos meus inimigos e a tua destra me salvará” (Sl 138:7);

“Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia; dela o retirarei, e o glorificarei. Fartá-lo-ei com longura de dias, e lhe mostrarei a minha salvação” (Sl 91:15 -16).

Quando introduzido no mundo, Jesus se fez, em tudo, semelhante aos homens, sendo participante de carne e sangue (Hb 2:14 e 17). O Verbo Eterno despiu-se da sua glória e se fez carne e passou a habitar entre os homens como o Unigênito de Deus (Fl 2:7-8).

Após ser achado na forma de homem, se fez Servo e foi obediente até a morte, e morte de cruz: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz” (Fl 2:8).

A parte ‘b’ do versículo 15, do Salmo 17, faz referência à condição do Cristo ressurreto. Enquanto no mundo, tinha a forma de homem e, quando ressurreto, herdou a Semelhança do Altíssimo, ou seja, tornou-se a expressa imagem do Deus invisível, o primogênito dentre os mortos, pois todos os que creem ressurgem com Ele e são feitos semelhantes a Ele “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15; 1Jo 3:1-3).

Enquanto na carne (homem), Jesus era o Unigênito de Deus, depois de glorificado, tornou-se a expressa imagem do Deus invisível, o resplendor da sua glória “O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas” (Hb 1:3).

Quando Deus criou o mundo expressou a sua vontade de dar à sua imagem e semelhança ao homem (Gn 1:26). Adão foi criado à imagem de Cristo homem, a imagem daquele que havia de vir, e não a expressa imagem e semelhança do Deus invisível.

A vontade de Deus expressa no Gênesis foi levada a efeito, quando Cristo ressurgiu dentre os mortos com um corpo glorificado: o homem a expressa imagem do Deus invisível. Todos quantos n’Ele creem ressurgem uma nova criatura semelhante a Ele, para que Ele seja primogênito entre muitos irmãos.

Quando o querubim da guarda ungido se insurgiu contra o Criador, a intenção não era tomar o lugar de Deus, antes era alcançar a posição que foi dada a Cristo e ao seu corpo (Igreja): a semelhança do Altíssimo “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14:14).

O propósito de Deus, estabelecido em Cristo, esteve oculto em Deus, mas, através da igreja, a multiforme sabedoria de Deus se tornou conhecida das potestades e principados nas regiões celestiais. Através da igreja, que é o seu corpo, Cristo agora tem a preeminência em tudo (Cl 1:18).

 


[1] Os diversos tipos de paralelismos são utilizados: a) Paralelismo Sinônimo – A segunda asserção repete o pensamento da primeira, porém, utiliza-se de termos diferentes. Ex: “Ao SENHOR pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” ( Salmo 24.1 ); b) Paralelismo Antitético – A segunda asserção contrasta a ideia da primeira. Ex: “Pois o Senhor conhece o caminho dos justos; mas o caminho dos ímpios perecerá” (Sl 1:6 ); c) Paralelismo Sintético – A segunda asserção enfatiza o estipulado pela primeira. Ex: “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando na tua mão o poder de fazê-lo” (Pv 3:27 ); d) Paralelismo Climático – A segunda asserção faz uso de palavras da primeira asserção e complementa a ideia. Ex: “Tributai ao SENHOR, filhos de Deus, tributai ao SENHOR glória e força” (Sl 29:1); e) Paralelismo Emblemático – A primeira asserção estabelece um comparativo que ilustra a segunda asserção. Ex: “Como água fria para o sedento, tais são as boas-novas vindas de um país remoto” (Pv 25:25).

[2] “04339 meyshar procedente de 3474; DITAT – 930e; n m 1) igualdade, honestidade, retidão, equidade 1a) igualdade, plano, suavidade 1b) retidão, equidade 1c) corretamente (como advérbio)” Dicionário Strong.

[3] “O clamor do salmista para que Deus ouça a sua oração baseia-se não somente na misericórdia e graça de Deus, mas também na sua continua fidelidade nos caminhos do Senhor (vv. 1-5). Deus sondou seu coração e viu que no seu esforço para agradá-lo não havia fingimento (cf. 1Jo 3:18-21). O fato de Davi orar a Deus com base na sua própria fidelidade pessoal expressa a verdade fundamental que Deus promete ouvir as orações dos que o amam e o honram” Comentário de Nota de Rodapé da Bíblia de Estudo Pentecostal, Editora CPAD.

[4] “06530 פָּרִיץ parits procedente de 6555; DITAT – 1826b; n. m. 1) pessoa violenta, infrator 1a) ladrão, assassino” Dicionário Bíblico Strong.

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

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