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Não há como rotular um sistema de governo como herético, pois os governos foram instituídos para regular as relações sociais e não para garantir a entrada do homem no céu.


As heresias dos hereges

“À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8.20)

 

Princípio

Quando o profeta Isaías falou com Acaz, rei de Judá, deu-lhe um sinal em nome do Senhor: um menino seria concebido por uma virgem (Isaías 7.14). Enquanto fazia conhecido a Acaz o que haveria de ocorrer com as nações das quais o rei estava com medo, o profeta, mesmo diante da calamidade que se aproximava do seu povo, afirmou que Deus estava com o povo e o nascimento do menino seria o sinal (Isaías 8.10).

Em meio à profecia que versava sobre o destino de Israel e dos seus inimigos, o profeta Isaías anunciou as bases do ministério de Cristo:

“Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro. Então ele vos será por santuário; mas servirá de pedra de tropeço, e rocha de escândalo, às duas casas de Israel; por armadilha e laço aos moradores de Jerusalém. E muitos entre eles tropeçarão, e cairão, e serão quebrantados, e enlaçados, e presos” (Isaías 8.13 -15).

A mesma mensagem anunciada por Isaías foi anunciada pelo apóstolo Pedro, que disse:

“Antes, santificai ao SENHOR Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pedro 3.15).

O Senhor dos exércitos anunciado por Isaías diz de Cristo, o Emanuel (Deus conosco). Para ser “Deus conosco”, primeiro Cristo seria concebido de uma virgem (João 1.14). O menino que nasceria tornar-se-ia santuário de Deus para os homens, de modo que só por meio d’Ele os homens se aproximam de Deus, pois são de novo gerados e passam a pertencer a Deus.

O profeta Isaías alerta o seu povo acerca do Senhor que deveriam ‘santificar’, o menino que havia de nascer, o Emanuel que conduziria os homens a Deus. Para santifica-Lo como Senhor seria necessário crer na sua palavra (temor), obedecendo-a (tremor).

Mas, para os que O rejeitassem, o menino tornar-se-ia pedra de tropeço, rocha de escândalo. Estes seriam enlaçados e presos. Tropeçariam por não crer na salvação providenciada por Deus.

“Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; E quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, A pedra que os edificadores reprovaram, Essa foi a principal da esquina, E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1 Pedro 2.6 -8).

O escritor aos Hebreus, ao falar de Jesus, cita várias passagens bíblicas e dentre elas faz uma citação do texto de Isaías “Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu” (Hebreus 2.12 -13 compare com Isaías 8.16 -18).

Foi neste contexto que Isaías disse: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles (Isaías 8.20). A lei e o testemunho foi selada entre os discípulos do Emanuel “Liga o testemunho, sela a lei entre os meus discípulos” (Isaías 8.16), e qualquer que não falar segundo a palavra selada e ligada entre os discípulos do príncipe da Paz é porque não há luz nele!

 

Distorção

Quando o profeta Isaías falou da palavra que haveria de ser entregue aos discípulos, não fez referência a qualquer sistema religioso, filosófico ou governo. A mensagem não tinha em vista desmascarar e mostrar a fragilidade dos conceitos e das instituições humanas.

Pelo contrário! O profeta vaticinou que o povo que andava em trevas e que habitava as regiões da morte veria uma grande luz. O jugo, o bordão, a vara que pesava sobre estes oprimidos seria despedaçada pelo nascimento de um menino. A vitória deste povo que jazia em trevas é comparada à vitória que Israel obteve sobre os midianitas: uma vitória completa!

Do mesmo modo que Deus prometeu através de Moisés que os midianitas seriam exterminados, com o nascimento do menino, a vitória do povo que habitava as regiões da morte seria idêntica, pois a morte, o pecado e a lei seriam completamente derrotados.

Quem é o menino? O profeta descreve:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9.6).

O menino que nasceu, cresceu pleno de graça, e o Espírito do Senhor estava sobre Ele não veio estabelecer um novo sistema socioeconômico. Cristo não veio fazer política. A sua missão não era sagrar-se rei. Embora a profecia diga que Ele veio trazer justiça e paz, não arrogou para Si a condição de juiz e pacificador dos homens quanto às mazelas sociais, antes veio anunciar boas novas de salvação aos homens.

Em momento algum Cristo se posicionou contra os governos instituídos, não fez referência a qualquer sistemas de governos apontando ser opressor ou não, e nem se posicionou como defensor dos carentes, dos pobres ou descamisados. De igual modo não se posicionou ao lado da classe dos privilegiados e abastados deste mundo, e o seu ministério não dependeu deles. Quando questionado sobre o governo humano disse:

“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20.25).

Diante de uma pessoa que rogou ao Messias que falasse ao seu irmão acerca de uma herdade, Jesus respondeu: “Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?” (Lucas 12.14). Quando alguém se lembrou de beneficiar os pobres, Jesus apontou o estabelecido na lei de Moisés: “Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre” (Mateus 26.11).

Aqueles quem estava preocupado com os seus mortos, Jesus ordenou: “Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos” (Mateus 8.22 ). Com relação à política, disse: “O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (João 18.36).

Diante de Jesus as histórias, os sentimentos, as biografia, os legados, as nacionalidades, as religião, as genealogia, as profissão, etc., das pessoas foram descartadas. A mensagem dele é límpida: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3.3). Outros, apesar de sua condição social desprezível e promíscua, foi ofertado da água que dá direito ao reino dos céus (João 4.10), o que demonstra que a verdade do evangelho não está atrelado aos valores humanos.

O apóstolo Paulo, ciente desta verdade, rejeitou tudo que é de valor para a sua nação, para que pudesse alcançar a Cristo “E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como escória, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3.8).

Embora Cristo tenha se apresentado como manso e humilde de coração, aos que rejeitaram a sua mensagem, foi implacável: “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (João 8.44).

 

Heresias e hereges

As heresias não germinam somente da falta de honestidade ou do preconceito dos homens, antes as heresias também são provenientes de pessoas, às vezes, bem-intencionadas, que se fazem anticristo “Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos” (1 João 2.18).

O Anticristo diz do homem iníquo que há de surgir sobre a terra, porém, o seu espírito opera no mundo desde à época dos apóstolos: mensagens de engano “E todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo” (1 João 4.3).

Além de se tornarem anticristo, tais pessoas são descritas como ‘enganadores’.

“Porque já muitos enganadores entraram no mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Este tal é o enganador e o anticristo” (2 João 1.7).

Quem são os anticristos? Qualquer que diga que Jesus não veio em carne, é enganador e anticristo.

Ora, se a vitória dos que andavam em trevas está no menino que nasceu, negar que ele veio em carne é negar a vitória dos que outrora habitavam as regiões da morte (1 João 4.3).

De igual modo, quem diz que Cristo não é o Filho de Deus, é o anticristo, porque quem nega que o Filho não é Deus, não tem o Pai, pois Deus disse ter um Filho “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? É o anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho” (1 João 2.22 ; Provérbios 30.4 ; 2 Samuel 7.14).

Ora, quem nega que os mortos não ressuscitam, nega que Cristo ressuscitou e torna vã a mensagem do evangelho (1 Coríntios 15.17). Além de falsas testemunhas de Deus, quem nega a ressurreição ainda permanece no pecado.

Quem nega que Jesus voltará e levará para si a sua igreja é o enganador, pois esta é uma verdade que não pode ser conspurcada “Porque, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória? Porventura não o sois vós também diante de nosso Senhor Jesus Cristo em sua vinda?” (1 Tessalonicenses 2:19).

A mensagem é clara: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (João 1.14), e o que Ele prometeu é específico: “E esta é a promessa que ele nos fez: a vida eterna” (1 João 2.25).

 

Anátema

O apóstolo Paulo alertou os cristãos acerca de qualquer que anuncie outro evangelho como sendo maldito (anátema), e quem transtorna a mensagem do evangelho é herege, sendo certo que a mensagem anunciada por um herege é heresia.

“Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” ( Gálatas 1.9 )

Não há como redefinir os termos ‘herege’ e ‘heresia’ dentro do contexto bíblico, pois automaticamente estaríamos transtornando a essência do que é evangelho. Heresia é negar a verdade, e herege refere-se a quem engana, diz do enganador.

Por exemplo: a promessa que há no evangelho de Cristo é concernente à vida eterna (1 João 2.25 ), portanto, qualquer mensagem que em nome de Jesus prometa bens materiais, transtorna a verdade do evangelho, portanto, é heresia.

Não há como rotular um sistema de governo como herético, pois os governos foram instituídos para regular as relações sociais e não para garantir a entrada do homem no céu. Jesus não estabeleceu nenhum governo humano e nem apontou qual o sistema de governo correto, portanto, não há um governo ‘herético’. A ditadura, o nazismo ou fascismo são sistemas de governos completamente diferente do socialismo ou capitalismo, porém, com relação ao evangelho, aqueles não pode ser rotulado como heresia. Não defender os mais frágeis, os menos competentes, os mais indignos, não classifica um governo como herético, por mais pernicioso que se mostre com relação à garantia de direitos das pessoas.

Jesus não levou em conta a história, a biografia e a religião quando descartou a posição e até a própria pessoa do mestre Nicodemos, pois lhe disse abertamente: “Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (João 3.3). Afirmar que descartar elementos como biografia e o legado das pessoas é heresia, é chamar o próprio Cristo de herege, o que é um absurdo, pois heresia é negar o que as Escrituras dizem acerca de Jesus.

Qualquer que não aprende de Cristo não é, e jamais será humilde e manso de coração “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11.29), pois só encontra a vida eterna (vida eterna, ou descanso equivale a promessa da terra do A.T.), os que tomam sobre si o jugo e aprendem de Cristo. Só é humilde e manso de coração aquele que é circuncidado com a circuncisão de Cristo, ou seja, aquele que morreu e ressurgiu uma nova criatura, mesmo que tal indivíduo lance mão de um azorrague e espanque algumas pessoas (Colossenses 2.11).

Humildade, integridade e honestidade referem-se às disposições internas dos indivíduos, quer sejam cristãos ou não, disposições essas que não transtornam a verdade do evangelho. O diálogo amoroso de Jesus resume-se na seguinte frase:

“E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim” (Mateus 10.38).

O jovem rico tinha as suas razões e seguia o que entendia ser o essencial para ter direito a vida eterna, porém, amorosamente Jesus lhe disse:

“Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me” (Mateus 19.21).

Quando Deus exige dos homens que sejam misericordiosos, façam justiça e que andem humildemente com Ele, não estava exigindo uma luta contra sistemas de governo, modelos econômicos, culturas e sociedades. A luta do cristão não é para defender a causa de minorias ou tendências ideológicas “Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o SENHOR pede de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benignidade, e andes humildemente com o teu Deus?” (Miqueias 6.8).

Deus declarou o que é bom ao homem com relação ao perdão dos pecados “Agradar-se-á o SENHOR de milhares de carneiros, ou de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão, o fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?” (Miqueias 6.7).

Enquanto os homens entendiam que Deus se agradava de sacrifícios e holocaustos para obterem o perdão dos pecados, Deus declarou o que é bom: a prática da justiça, a benignidade e a humildade, o que se resume em obedece-Lo.

Como ser justo, benigno e humilde? Aprendendo d’Aquele que é humilde e manso de coração. Tomando sobre si o jugo leve e o fardo suave de Jesus: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados” (1 João 5.3).

É anátema qualquer distorção da verdade do evangelho, pois no evangelho revela-se a justiça de Deus que concede a prometida em-aventurança (Romanos 1.17).

Ser perseguido por sistemas políticos não concede bem-aventurança a ninguém. Só é bem-aventurado aqueles que são perseguidos por causa do evangelho, pois o evangelho é a justiça de Deus que dá direito ao reino dos céus (Mateus 5.10).

Protestar contra políticas públicas de saúde, segurança e educação não dá direito ao reino dos céus. Lutar pelo direito dos pobres, velhos e crianças, até mesmo com greve de fome, não conduz a vida eterna. Levantar uma bandeira a favor ou contra as prostitutas, os homossexuais, os pedófilos, os sem-terra, os sem-casas, as ideologias, etc., nada tem a ver com o Sermão do Monte.

Se você, leitor, ouvir alguém supostamente humilde e misericordioso segundo os padrões humanos, mas que não fala segundo a lei e o testemunho que foi selada entre os discípulos de Deus (João 6.45 ), considere como anátema, pois a luz que nele há não passa de trevas “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8.20 ); “Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mateus 6.23).

“… resistem à verdade, sendo homens corruptos de entendimento e réprobos quanto à fé”  (2 Timóteo 3.8).

Claudio Crispim

É articulista do Portal Estudo Bíblico (https://estudobiblico.org), com mais de 360 artigos publicados e distribuídos gratuitamente na web. Nasceu em Mato Grosso do Sul, Nova Andradina, Brasil, em 1973. Aos 2 anos de idade sua família mudou-se para São Paulo, onde vive até hoje. O pai, ‘in memória’, exerceu o oficio de motorista coletivo e, a mãe, é comerciante, sendo ambos evangélicos. Cursou o Bacharelado em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública na Academia de Policia Militar do Barro Branco, se formando em 2003, e, atualmente, exerce é Capitão da Policia Militar do Estado de São Paulo. Casado com a Sra. Jussara, e pai de dois filhos: Larissa e Vinícius.

One thought on “As heresias dos hereges

  • Olá muito bom seu conteúdo sempre procuro bons artigos para me aprofundar mais na palavra de Deus. Porque precisamos estar prepararados para não sermos enganados pelas armadilhas de satanás. Obrigado e fica na Paz do Senhor…

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